E is aí um título que, decerto, enrugará a testa do leitor. Afinal que contrassenso é este? Vantagem é vantagem, desvantagem é desvantagem. ...

Eis aí um título que, decerto, enrugará a testa do leitor. Afinal que contrassenso é este? Vantagem é vantagem, desvantagem é desvantagem. Nada de misturar as coisas.

Mas vamos à crônica. Está, aqui, uma desvantagem, a desvantagem da perda da visão. Diz, porém, o ditado que o que os olhos não vêem o coração não sente. Quantas vezes, a gente tapa os olhos para não ver uma desgraça! Afinal, quem vê, se compromete.

A vantagem do cego é participar melhor da vida interior, já que as janelas dos olhos estão fechadas. Quem vive o tempo todo de olhos escancarados, pensa pouco. As crianças, que pensam pouco, vêem muito e refletem menos. Se ela for para um canto pensar, todo mundo vai dizer que é anormal, ou está diante de um autista.

Jesus convidou-nos a olhar os lírios do campo e os privados da visão ficaram muito tristes.

Ninguém pensa dormindo. Melhor dizendo: ninguém pensa bem, ou medita de olhos abertos.

Mas vejamos outras vantagens nas desvantagens. A surdez, por exemplo, diminui o barulho. A verdade é que o surdo se livra de muita coisa ruim. O genial Beethoven escreveu sua magistral Nona Sinfonia, completamente surdo. E essa interiorização propiciou-lhe um verdadeiro e profundo diálogo com Deus.

E o ignorante? Ah, esse tem a vantagem de não se inquietar diante da problemática da vida. Ninguém lhe cobra responsabilidade. A vantagem do ignorante é não ter responsabilidade.

A vantagem do sofrimento é ganhar experiência. Já a vantagem do míope, disse Machado de Assis, é ver o que as grandes vistas não vêem.

Outra vantagem de se anotar numa desvantagem. Refiro-me ao rico em anos, isto é, rico de sabedoria. O idoso não precisa mais andar correndo. Primeiro, por que pode cair, segundo porque quem corre não pensa melhor do que quem está sentado. A escultura de Rodin – O Pensador – mostra um homem sentado e refletindo. E outra vantagem de quem tem mais de setenta anos é se aposentar, não entrar em filas, ter lugares preferenciais, gozar de certas regalias como as dos estacionamentos.

Ah, já ia me esquecendo da vantagem dos mudos. Eles não são maledicentes nem tagarelas. Não pecam pela palavra.

E dizem as más línguas que o homem mais feliz foi Adão, porque não teve sogra. Seria outra vantagem?...

F oi um texto do ex-presidente e escritor Fernando Henrique Cardoso que me levou a escrever, hoje, sobre a morte, num livro recém-publicado ...

Foi um texto do ex-presidente e escritor Fernando Henrique Cardoso que me levou a escrever, hoje, sobre a morte, num livro recém-publicado em que ele alude aos seus vem vividos oitenta anos. Mas, aqui para nós, quem mais coragem teve de aludir à problemática da morte foi o nosso Augusto dos Anjos, que apelidou a morte, dentre outros apelidos, de “universitária sanguessuga”.

O extraordinário Paulo de Tarso, em face da reencarnação, interrogou: “Morte, onde está a tua vitória?” E viva a vida além da vida.

Continuemos com a crônica. Lembro que meu irmão Alberto, com apenas quatro anos, costumava ficar junto da nossa mãe, sentado no chão, enquanto ela costurava. E eis que, um dia, ela viu o menino com os olhos molhados de lágrimas. Daí perguntou: “por que está chorando, meu filho?” E ele, quase soluçando, resmungou. “Estou chorando porque, um dia, você vai morrer”. A precocidade do menino foi impressionante.

Mas são poucos os que se lembram que, um dia, não estarão mais aqui no mundo. Meu tio João Augusto, velho agricultor em Alagoa Nova, tinha uma grande consciência da morte. Tanto é assim que, quando alguém aludia à riqueza de alguém, dizendo que “fulano estava muito bem de vida”, ele costumava dizer. “Mas, morre...” Era um cético, que não chegou a se casar, vindo a morrer de câncer.

O grande Marechal Rondon, o desbravador do nosso sertão, dizia. “Morrer, sim, matar nunca”.

Informam que as freiras de um convento, na Espanha, cumprimentam as suas irmãs, toda manhã, lembrando-lhes que morrerão, um dia. E, aqui para nós, não faz mal, vez por outra, a gente se conscientizar dessa realidade. Pois essa conscientização mudará um pouco nosso comportamento.

Lá no cemitério Père Lachaise, em Paris, no túmulo de Allan Kardec, Codificador do Espiritismo, há a seguinte inscrição: “Nascer, morrer, renascer ainda, e progredir sempre, tal é a lei”. Que mensagem otimista, hein?

Voltando a Fernando Henrique, Cardoso, ele disse ainda, em suas declarações sobre a morte: “Não sabemos de onde viemos, não sabemos para onde vamos. Ficamos velhos, porém mais maduros.” Muito bem. A beleza da velhice está na experiência vivida, na madureza. Agora quanto à ignorância, quanto ao nosso destino, eu gostaria que o ex-presidente lesse o extraordinário livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis”. E eu vou mandar o livro para ele.

A verdade é que viver pensando que tudo se reduzirá a cinzas, não deixa de ser um grande martírio. E muita gente procura esquecer a grande realidade, levando uma existência de distração, de alheamento, e não de reflexão. E haja divertimentos, e haja consumismo, e haja diversão, menos reflexão. É preciso lembrar que distração é como aquele ópio quanto à religião, a que se referia Karl Max.

E quanto ao nosso Fernando Henrique, vou enviar para ele, já já, “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, juntamente com o de Léon Denis, que citei acima. Ele merece.

É comum atribuir-se a autoria de certas máximas como sendo da sabedoria popular. Acho que existe aí um engano. O povo, apesar de suas exper...

É comum atribuir-se a autoria de certas máximas como sendo da sabedoria popular. Acho que existe aí um engano. O povo, apesar de suas experiências, não pode ser o autor das sentenças que lhe são atribuídas.

Estou aqui com algumas dessas máximas que qualifico de geniais. Quem são mesmo seus autores? Não sei se há um livro contendo tais provérbios de muita sabedoria, que, decerto, faria inveja aos filósofos, aos sábios. E cá entre nós, como diz a amiga Rose Silveira, se a pessoa seguisse o que determina tais máximas, viveria melhor. Vamos a algumas delas.

“Devagar se vai ao longe”. Sim, para que tanta pressa? A paciência é a maior das virtudes. Paciência significa paz. Nada de fazer tudo correndo. Eu tenho muita pena das pessoas apressadas, logo estressadas. Nada de fazer tudo correndo. A pressa, já diz outro ditado, é inimiga da perfeição. As obras de arte levaram longo tempo para serem concluídas. Portanto, não nos esqueçamos do ditado, equivocadamente, atribuído ao povo: “Devagar se vai ao longe”.

Agora vejamos esta outra máxima: “não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Certíssima a norma. Hoje é o dia, é a oportunidade que deve ser aproveitada. Muita gente é infeliz por que perde as oportunidades.
Prosseguindo, vejamos este provérbio: “quando um não quer, dois não brigam”. Certíssimo. Ninguém briga sozinho. Portanto, deixe o outro com a sua raiva. Cale-se e pronto.

Segue-se outra: “É errando que se aprende”. Sim, a sabedoria é feita de experiências. É vivendo que se aprende. E a vida é a grande mestra. E há uma que me faz rir: “Quem tudo quer saber, mexerico quer fazer”. Discordo em parte, deste provérbio. Querer saber é uma virtude. Sem indagações, seremos ignorantes. Queira saber de tudo. Veja as crianças. Estão sempre perguntando. É por isso que dizem que o filósofo é como a criança.

E me vem esta outra máxima: “É melhor um pássaro na mão do que dois voando”. Mas, prefiro vê-los voando do que presos. E para finalizar, eis mais uma: Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Corretíssima. Viva a tenacidade, a fé, a obstinação.

Vamos a outro provérbio popular: “Dize-me com quem andas e eu te direi quem és”. Concordo em parte. Jesus se acompanhou de muita gente ignorante e má. E quando criticado pelas más companhias, apenas disse: “Os sadios não precisam de médicos”. Jesus foi o grande médico, preocupado em curar mais o espírito que o corpo.

“Boa romaria faz quem em casa vive em paz”. Estou de acordo, em parte, com esta sentença. Tanto é saudável ficar em casa, estudando, lendo, pensando como aprendendo nas viagens. E vale relembrar o ditado: “quem não arrisca, não petisca”. A sabedoria se aprende ganhando experiências, como é o caso de uma viagem, como a que acabamos de empreender recentemente até a Islândia.

Desejo finalizar com este brocardo: “Nada é mais ridículo do que um sujo falando de um mal lavado”. E há tanta gente assim, apontando erros dos outros e esquecendo os seus, sobretudo agora na campanha política.

E vamos cumprir o que diz a sabedoria atribuída ao povo. Finalizo repetindo o provérbio “quem tudo quer saber, mexerico que fazer”, do qual discordo, pois indagar, perquirir, sondar, perguntar e questionar nunca constituiu um mal.

J esus, como é sabido, teve como berço uma manjedoura. Nasceu entre animais, longe do luxo. E essa manjedoura, na noite em que ele nasceu, i...

Jesus, como é sabido, teve como berço uma manjedoura. Nasceu entre animais, longe do luxo. E essa manjedoura, na noite em que ele nasceu, iluminou-se com a forte luz de uma estrela, que descia sobre ela. Nenhum palácio, por mais luxuoso que seja, gozou desse prestígio.

Um famoso escritor italiano, cujo nome se esconde agora na minha memória, disse que os cristãos ricos, aqueles que nasceram em suntuosos palácios, sem dúvida, sentem uma grande vergonha de seu deus ter escolhido lugar tão humilde para nascer. Se fosse num apartamento de alto padrão, numa mansão, ou numa cobertura de luxo...

Outra coisa que os cristãos ricos lamentam: Jesus haver escolhido para mãe uma mulher simples, uma mulher do povo. A mesma coisa em relação ao seu pai, um humilde carpinteiro, que, decerto, fez muitos móveis e, sem dúvida, muitas cruzes. E eu fico na dúvida se entre estas cruzes, não estaria a que Jesus foi pregado, depois de uma longa caminhada sob os açoites da multidão que o acompanhou até o Gólgota, o “monte da caveira”.

Dizem que ele caiu três vezes, pois a cruz era muito pesada, até que um cireneu o ajudou, a pedido da multidão desvairada. Seu rosto sangrava muito devido aos ferimentos da coroa de espinhos que lhe enfiaram na cabeça. E como ele deve ter sofrido uma grande dor, naquele momento... O sangue escorria pelo rosto. Mas, Jesus não deu um gemido. Tudo suportou em silêncio. As mãos, suaves como pétalas, que tantas curas promoveram, ainda sofreriam dolorosas marteladas, perfuradas pelos cravos. Mãos que suavizaram tantas dores... Ele pagava pelo crime de ser bom. O crime de dar vista aos cegos, movimentar paralíticos, limpar leprosos, aliviar obsedados, multiplicar pães para a multidão faminta, pregar o amor, a caridade, a justiça.

Morto de cansado, o suor escorrendo pelo rosto, eis que o pregam na cruz de madeira, com pregos enormes. A cruz que saiu de uma carpintaria. Volta a pensar... Teria sido da carpintaria do pai? Ah, cronista curioso...

E eis Jesus entre dois ladrões. Pediu água para matar a sede e lhe deram vinagre. Mesmo assim, exausto, quase morto, ainda teve ânimo de dizer para os seus algozes: “Pai: perdoa-os porque eles não sabem o que fazem”. Que exemplo de compreensão, sabedoria e amor ao próximo...

F oi Jesus quem disse: “se teus olhos forem bons, todo o teu corpo se iluminará". Vejam que responsabilidade num simples olhar... Temos...

Foi Jesus quem disse: “se teus olhos forem bons, todo o teu corpo se iluminará". Vejam que responsabilidade num simples olhar...

Temos o olhar de amor, de compreensão, de compaixão, de piedade, de inveja, de ódio, de admiração, de tristeza, de alegria, de encantamento. Mas, quando Jesus nos convidou a olhar os lírios do campo, o olhar era de encantamento lírico.

Haverá olhar mais belo do que o de uma mãe para o filho renascido? Eis aí um olhar que ilumina. Jesus, repitamos, disse: “se teus olhos forem bons, todo o teu corpo se iluminará.” Só quem está privado de visão fica livre dessa advertência.

O olhar implica numa grande responsabilidade. Daí a importância que se dá às testemunhas de vista, num processo criminal. E há quem fale em mau olhado. A propósito, quando eu era juiz de Direito de Alagoa Nova , minha terra natal, cultivava em minha residência um belo jardim, onde havia um lindo pé de cróton. Pois bem, um certo cidadão que nos visitava, olhando a linda planta, disse: mas que beleza de cróton! E ficou olhando a planta por muito tempo. O estranho é que, no dia seguinte, o cróton amanheceu murcho, sequinho. Teria sido mau olhado?

Lembrar que há rostos de pedra. Frios. Tenho muita pena daqueles que não sabem olhar, que não se extasiam diante de um por de sol ou de um amanhecer, de uma criança, de um mar sorrindo através de suas ondas... Possuem olhos, mas não vêem. Os olhos parecem bolas de gude. Rostos de estátuas.

A verdade é que somos o que olhamos. Ninguém melhor do que as crianças sabe sorrir. Nunca vi crianças carrancudas. Elas estão sempre encantadas e descobrindo as coisas do mundo. E quem descobre se alegra. Não viu Arquimedes? Quando sentiu que na banheira o corpo ficava mais leve, saiu correndo pela rua gritando: ”Eureka! Eureka!, isto é, achei, achei. Tinha descoberto a lei da hidrostática.

O olhar implica numa descoberta. E que dizer do olhar de compreensão, como aquele de Jesus quando, vendo a multidão que o condenara, disse: ”Pai, perdoa-lhes por que eles não sabem o que fazem”. E o olhar mais sublime é o olhar de compreensão. É da compreensão que vem o amor.

Há e houve muitos olhares. O olhar de uma Madre Tereza de Calcutá e o olhar de um Hitler; o olhar de um pedinte, na rua, e o olhar de indiferença perante o sofrimento alheio.

Há ainda o olhar pra frente, dos indiferentes, sem olhar para o lado, onde está o próximo, ou o olhar pra cima, o olhar da transcendência e o olhar para baixo, o olhar dos pessimistas...

Dizia um poeta paraibano, da fase romântica, que nada mais triste do que o olhar de um defunto fitando uma vela acesa...

Cuidado com o olhar. Lembre que Jesus advertiu: “se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo se iluminará”. Vou, já, já, ao espelho praticar um bom olhar.

E fico pensando. Será que existe alguém que nega esmola a um pedinte cego? A melhor maneira de se compadecer de um deficiente é se colocar no lugar dele. Daí surge a compaixão. Mas, devemos lembrar que compaixão exige ação.

Reflitamos: Todo olhar implica em responsabilidade.

C om Paris molhada e fria, qual a melhor opção? Que tal assistir a um concerto nas Salas Pleyel, Gaveau, ou no Teatro Champs Elysées? Que ta...

Com Paris molhada e fria, qual a melhor opção? Que tal assistir a um concerto nas Salas Pleyel, Gaveau, ou no Teatro Champs Elysées? Que tal um passeio pelo Louvre, pelo Orsay ou uma livraria?... Que tal um restaurante, que aqui na Cidade Luz é o que mais se vê. Gosto de ver as pessoas conversando, sorrindo e comendo nos restaurantes. Se não existisse a boca que seria do turismo? Conquanto sempre se falando baixinho, os idiomas se chocam nas animadas conversas, e, às vezes, até se escuta um “parabéns pra você”. Como somos amigos da velhice a ponto de cantar parabéns para quem completa mais um ano de existência!... As pessoas costumam dizer: “ele completou mais uma primavera”. Por que não um outono ou um inverno?

A verdade é que sem restaurantes não haverá turismo. Chegam até a dizer: “Bacalhau só em Lisboa”. Concordo em parte, pois foi em em Paris que também me deliciei com um gostoso bacalhau, sem falar o delicioso que a nossa chefe de cozinha de Tambaú, sabe muito bem preparar.

Falei em livrarias, museus, salas de concerto e me esqueci da maior casa de espetáculos de Paris, que é a Ópera Garnier, que não se deve conhecer somente por fora. Que beleza de teto, que luxo, que grandiosidade artística em todos os detalhes! E eu com medo de tropeçar nos luxuosos tapetes, já que nossos olhos estavam passeando pelos belos tetos daquele templo da arte.

Essas oportunidades de rever a Ópera sempre devemos ao planejamento cultural do comandante de nosso grupo, meu filho Germano. E sabe qual foi o último cardápio cultural?: “O Anão”, de Zemlinsky e “A criança e os sortilégios”, de Ravel, baseado num conto de Colette. E eu não conseguia tirar o olho do teto pintado por Marc Chagall...

O teatro enorme, chamando a todo instante o nosso olhar de contemplação. Fui me demorando, me demorando e, de repente, não vi mais ninguém. Até os meus familiares já estavam lá fora, quando duas moças recepcionistas, por sinal lindíssimas, muito bem uniformizadas, vieram me chamar, pois a Ópera ia fechar... Eu ainda relutei em ficar, não pelas moças, mas pela paz que reinava naquele belo teatro. Lá fora, meus queridos familiares, já ansiosos, me saudavam com muitas gargalhadas. Ah, Paris...

É este o ritmo da vida. Uma corrida em que as crianças estão subindo e os idosos descendo, tanto é assim que estes costumam usar bengalas p...

É este o ritmo da vida. Uma corrida em que as crianças estão subindo e os idosos descendo, tanto é assim que estes costumam usar bengalas para não caírem. Já os da fase madura vão correndo na vida, sem acidentes.

E viver é isto: subir, correr, descer e pronto. E a grande descida é quando o nosso corpo desce terra a dentro para lágrimas de muitos e alegria dos vermes. Ah, Augusto dos Anjos!..

As árvores não sabem descer. Elas, mal saem das sementes, já começam a subir. E nessa subida tomam banho de sol e de chuva. Tudo isso graças às raízes, que, todos os dias, nos dão lição de humildade. Ninguém as vê, a não ser quando as árvores são arrancadas...

Todo mundo só quer subir. Poucos descem para ajudar os que estão embaixo. Estão aí os políticos tentando subir no “pau de sebo” da política. E o que é pau de sebo? Quando eu era menino, via os garotos subindo num pau todo engraxado atrás de agarrar uma nota de dez mil réis, que ficava lá no alto, como uma tentação. Era quase impossível chegar lá em cima e agarrar o dinheiro. O pau escorregava que era uma beleza. E sabe o que muitos faziam? Melavam a mão de areia, facilitando, assim, a subida. Lembra certos políticos desonestos, que usam meios ilegais para subir.

Deixemos o pau de sebo da política e falemos de outras subidas. Tenho muita pena da chuva. Ela só sabe descer. O mar faz tudo para se verticalizar. Os pássaros sobem que é uma beleza, inclusive o urubu que, de longe, vê a sujeira cá em baixo, graças ao seu benéfico olfato. E a subida do avião, a chamada decolagem, que o português chama descolagem? E ele está certo. De fato, a aeronave se descola da terra. Este é um dos momentos que mais me empolga. Tudo vai ficando pequeno lá em baixo. Já não gosto da aterrissagem, que o português denomina aterragem.

Há também as subidas dos ideais. Vez por outra, estamos ouvindo: ”Fulano subiu na vida”... Mas, como já disse, é preciso também saber descer para ajudar os outros a subirem. Jesus deu o exemplo. Ele veio ao mundo para nos ensinar a ascender. Mas os homens terminaram fazendo-o subir na cruz, onde foi pregado, depois de uma caminhada sob chicotadas, o suor descendo no rosto...

Descem as lágrimas, lentamente. Descem os rios, O lago nem desce, nem sobe. O lago é parado. Descem as cataratas. E é lindo vê-las caindo das montanhas. Ah, as montanhas da Nova Zelândia...

Sobe a pressão, assustando a gente. Os peixes, no mar, só fazem nadar. Nada de subir. Só sobem quando são puxados por um anzol. Que pena...

Jesus desceu e subiu. Desceu para limpar leprosos, levantar paralíticos, dar vista aos cegos. Para pregar o seu primeiro sermão, escolheu uma montanha. Ele subiu aquela tribuna de pedra para que os homens também subissem... Subiu para conversar com o Pai.

E para finalizar, quem vive descendo e subindo, o dia todo, é o elevador. Graças a ele a gente não precisa da escada. Coitado...

Mas a temperatura está subindo e eu estou com vontade de descer até a praia para tomar aquele banho. Mas tudo fica no desejo. E viva a vida!

É uma das árvores que eu mais admiro. Ela não bota flores, mas suas grandes folhas, quando envelhecidas, tornam-se amarelas e belas. A cast...

É uma das árvores que eu mais admiro. Ela não bota flores, mas suas grandes folhas, quando envelhecidas, tornam-se amarelas e belas. A castanhola não tem uma fruta muito apreciada. Apesar de haver quem goste daquelas suas bolotas, que, segundo dizem, são até docinhas, e agradam principalmente aos morcegos e bem-te-vis.

Mas a castanhola dá uma sombra muito acolhedora, que chega a fazer raiva ao sol. Os pardais costumam fazer da castanhola sua casa. Quando começa a escurecer, quando o sol vai deixando a Terra, os pardais não querem outro lugar para se abrigarem. E chegam sempre na maior algazarra. A castanhola vira um edifício de apartamentos...

Mas quando as folhas verdes amarelecem e vão caindo no chão, numa lentidão de lágrima, sinto um nó na garganta. O verde das folhas se tornando amarelo. Aí temos um comovente bailado, o bailado das folhas amarelas. Elas caem no chão e são chutadas, como imprestáveis. Mas, o que fazer? É o bailado da vida. Tudo nasce, tudo morre, tudo renasce. Na verdade, tudo se transforma, como já dizia Lavoisier.

Sempre que apanho uma folha amarela, tenho vontade de beijá-la ou guardá-la. E agora estou me lembrando dos plátanos de Paris, que no outono começam a se despir, e logo ficam todos sem folhas, morrendo de frio. Parecem interrogações. E eu fico desejando a chegada da primavera. Ah, Paris, como me comovem as tuas alamedas cheias de plátanos nus, no inverno... Os plátanos das alamedas do Jardim de Luxemburgo, do cais do rio Sena, da bela e turística avenida Champs Elysées, dos Champs de Mars, ali pertinho da Torre Eiffel, que ficam todos completamente secos

Mas eu vinha falando de castanholas, que decerto já estão com ciúme do cronista. Deixemos os plátanos para os lugares frios. As castanholas são árvores do sol, dos trópicos, do calor. Temos uma linda e frondosa aqui no quintal da nossa casa de Tambaú.

Mas, vamos pingar o ponto final na crônica. E viva a didática das castanholas e dos plátanos que estão sempre nos dando uma lição de vida, de renovação. Tudo na Natureza nos ensina. Eis a grande verdade. O negócio é saber ver. Saber ver e saber pensar. E viva a vida.

M eu filho Germano, que vem apresentando com muito êxito e repercussão, na RCTV, um quadro sobre viagens, no programa Cá Entre Nós, da excel...

Meu filho Germano, que vem apresentando com muito êxito e repercussão, na RCTV, um quadro sobre viagens, no programa Cá Entre Nós, da excelente apresentadora Rose Silveira, a quem substitui, de vez em quando, em entrevistas com ilustres personalidades, achou de ouvir, desta vez, não um executivo, não um artista, não um político, mas um homem da igreja – o sereno e lúcido arcebispo Dom Aldo Pagotto. cuja palavra vale ouro.

Mas Germano é espírita e o Arcebispo é um homem, fundamentalmente católico e muito fiel à sua Igreja, porém, sem fanatismo. E ele, muito antes de ser entrevistado pelo arquiteto e jornalista, já esteve, várias vezes, visitando a Federação Espírita Paraibana, ouvindo as conferências do médium Divaldo Franco. Fato inédito na Paraíba, que jamais aconteceria no bispado de Dom Adauto, cujo jornal “A Imprensa” publicou uma série de artigos, assinados pelo padre Hildon Bandeira, sob o escandaloso título: “Guerra ao Espiritismo”.

Pena que o padre não esteja ainda vivo em carne e osso para testemunhar que um arcebispo foi entrevistado por um espírita, meu Deus do Céu!

Depois da entrevista, o repórter-arquiteto me telefonou encantado com o que disse o nosso Arcebispo, um homem a quem eu seria capaz de me confessar, se tivesse grandes pecados. Dom Aldo não teve papa na língua. Mostrou os erros de sua igreja, condenou a busca por dinheiro por parte de certos seguimentos religiosos, e a desvirtuação de muitos ensinamentos de Jesus.

Vamos ouvir o que disse o simpático prelado, cuja cartilha ensinando-nos a como votar, vai ajudar muito o eleitor, pois a política, cada vez mais, está se deteriorando, tanto na postura, como na agressiva e estúpida propaganda. Ainda bem que gostei de saber que um Marcondes Gadelha vai se candidatar a deputado federal. Um homem de postura digna e muita cultura.

Voltando à entrevista de um arcebispo com um espírita, vale a pena assistir, pois, segundo Germano, a entrevista foi uma “bomba”. Uma bomba contra o preconceito, que, segundo Einstein, “é mais difícil de se desintegrar do que um átomo”. Vale a pena assistir amanhã, às 22 horas, na RCTV, canal 27 da NET, no programa “Cá Entre Nós”.

S im, qual é a maior das tentações a que o homem está sujeito? Não, não é a gula, se bem que pouca gente resiste à tentação de um saboroso ...

Sim, qual é a maior das tentações a que o homem está sujeito? Não, não é a gula, se bem que pouca gente resiste à tentação de um saboroso prato. Estão aí os restaurantes entupidos de gente no mundo inteiro. E faz gosto ver as pessoas comendo. Comendo e bebendo. Bebendo e conversando. E haja garçon com o prato na mão, pra lá e pra cá, num admirável equilíbrio. Vi um no restaurante de um hotel de Londres, que me deixou maravilhado. Ele se multiplicava no serviço. E fazia tudo com sorriso nos lábios. Um autêntico cavalheiro. Feliz daquele que faz tudo com arte. E o danado falava vários idiomas.

Voltemos às tentações. Basicamente, são três: a do Poder - eis aí os políticos sedentos de cargos públicos. Outra tentação (talvez esta seja a maior): o sexo. E não fosse ela que seria da população? Por fim, a tentação do dinheiro. Ah, o dinheiro!...

Chegam até a dizer que dinheiro é como água salgada. Quanto mais se bebe, mais se tem sede... O dinheiro lembra o consumismo. E o consumismo é a grande doença do momento. Ninguém está satisfeito com o que tem. Até rimou. O dinheiro, não há dúvida, é o que mais se deseja neste mundo. Com ele, compra-se tanta coisa. Tanta coisa para fazer inveja aos outros!... O carro novo, último modelo, o apartamento luxuoso, também é de fazer inveja aos outros. Não esquecer que a vaidade se alimenta dessas coisas.

Lembremos que o Eclesiastes chama a vaidade como um sentimento vão. E eu fico pensando: será que não há a boa vaidade? Quando uma mãe diz: “eu me envaideço de meu filho”, por exemplo.

Voltemos ao dinheiro. Que tal esse argumento: o dinheiro pode ser bom ou mau, depende de seu uso. Houve milionários que fizeram muitas coisas boas. Dizem que alguém só é doido mesmo se rasgar dinheiro. E eu soube – faz tempo – de um fato em que um cidadão chegou realmente a rasgar dinheiro.

Não reparei ainda o que disse o Eclesiastes sobre o dinheiro. E os políticos gostam de dinheiro? Que responda o leitor. Disse o Evangelho que é mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Existe também aquela parábola de Lázaro, do mendigo e do homem rico, que se banqueteava, enquanto aquele mendigo morria de fome, comendo as migalhas aos seus pés. Paulo, o apóstolo dos gentios, disse que o amor ao dinheiro é causa de muitos males. Amor como ambição. Pessoas que não vêem nada na vida a não ser o dinheiro.

A verdade é o que dinheiro é atraído por muitas igrejas e religiosos. A Religião virando profissão... A rima até que foi boa.

Diz-se sempre: “Fulano entrou pobre na política e está hoje rico”. E eu me lembrando de José Américo, cuja construção da casa foi financiada pela Caixa Econômica. Não se enriqueceu na política.

Mas longe de mim condenar o dinheiro, consequentemente, a riqueza. A riqueza é uma bênção quando honestamente obtida e usada.

E para os que acreditam na imortalidade do espírito, a indagação, quando deixar este mundo redondo, é: o que fizeste de tua riqueza? De sua resposta depende a paz de consciência, que é o céu dentro de nós. Mas, se você não acredita em outra vida, para que diabo serve esta vidinha nossa de cada dia, que vai do berço ao túmulo?...