V ivemos o século da propaganda. Propaganda em todos lugares, menos no fundo mar. Não duvido nada que, logo logo, a propaganda chegue até ao...

Vivemos o século da propaganda. Propaganda em todos lugares, menos no fundo mar. Não duvido nada que, logo logo, a propaganda chegue até ao papel higiênico.

Já disseram que a propaganda é a alma do negócio. E é. Pela TV, pelo rádio, pelos outdoors, pela Internet, por toda parte. Até em carro de som, perturbando impunemente o sossego alheio.

Longe de mim ser contra a propaganda comercial. A de carros, nem se fala. Propaganda de bebidas, de comidas, de vestidos, propaganda de tudo.

A propaganda, repetimos, é a alma do negócio. E cada vez mais ela se moderniza, torna-se sofisticada. Comerciante que não faz propaganda de seus produtos, não pode concorrer com os colegas. E me vem a pergunta: Será que há comerciante que não faz propaganda de seus negócios?

A propaganda é livre, a não ser que seja da maconha e outras drogas, é claro.

E agora, ponho-me a refletir. Há um comerciante que não pode fazer propaganda de seus negócios. Quais é, cronista? É a propaganda dos caixões de defunto. Ah, como o comerciante desse produto fúnebre gostaria de vê-los na TV, nos outdoors, nas revistas...

Ora, ora, leitor, nem te conto. Faz tempo, numa rua comercial de uma cidade da Alemanha, se não me engano, Wiesbaden, numa vitrine muito chique, havia vários caixões fúnebres. E, aqui para nós, eram esquifes muitos bonitos, de madeira boa, lustrando, cheios de ornamentos. Sem dúvida, caríssimos. Tal fato muito me impressionou.

De minha parte, confesso que não acho nada demais a propaganda do caixão mortuário. Acontece que o medo da morte é tão grande que todo mundo quer esquecer a grande fatalidade.

Outrora, ainda alcancei esse fato, o enterro das crianças era uma festa, ninguém chorando, todos sorrindo a caminho ao cemitério. Hoje acabou-se o cortejo fúnebre pelas ruas. Mas também, com esse trânsito...

Não me esqueço da cidade alemã, onde vi, numa vitrine, luxuosos caixões mortuários. E repito que não achei nada de mais o fato, mas que vi com certa surpresa. Penso que todo comerciante desse produto gostaria de vê-lo com o destaque da loja alemã.

E agora estou me lembrando de um amigo, cuja distração era frequentar velórios. Não perdia um. Fosse de parentes, amigos e estranhos. E orava pelo defunto...

É o obvio. Em toda família ocorre o naturalíssimo fenômeno da morte. Daí as paredes ficarem cheias dos retratos dos que se foram. E o tempo...

É o obvio. Em toda família ocorre o naturalíssimo fenômeno da morte. Daí as paredes ficarem cheias dos retratos dos que se foram. E o tempo vai passando e a gente e a gente também. Diz o ditado que ninguém fica para semente... Uma grande verdade.

Qual a família em que não ocorreu a morte? Ora, em todas! A verdade é que, em geral, a gente esquece esta dolorosa realidade, como se o esquecimento resolvesse o problema. Fazemos igual à avestruz que esconde a cabeça no buraco diante de qualquer temor.

Lá na minha família, foi-se quase todo mundo. Mas, aqui, há um caso a anotar. Um caso raro. Minha mãe estava costurando e no chão estava meu irmão Alberto. E o que é que tem isso demais? Ora, era que o menino chorava, chorava muito. Olhava para a sua mãe costurando e os olhos cheios d'água. Quando a mãe percebeu, foi logo lhe perguntando, apreensiva? “O que foi que houve, meu filho? Algum bicho lhe mordeu, tá sentindo alguma dor? E ele, num choro convulso, respondeu soluçando: “Estou chorando porque, um dia, você morrerá”. Bobagem, meu filho, não vou morrer tão cedo”. E o menino: “De que adianta? Mas, um dia a senhora vai morrer”.

No entanto, poucos pensam que, um dia, deixarão este mundo, para onde vieram nus e sairão vestidos, não é engraçado?
Meu tio paterno, João, solteirão, quando uma pessoa lhe contava sobre alguém que se beneficiou com alguma vantagem na vida, se sucedeu bem em algum empreendimento, ele logo dizia, sorrindo: “Mas morre”... Ele era de um ceticismo impressionante. Morreu solteirão, de um câncer na boca.

Meu pai morreu com oitenta e sete anos. Já a minha mãe, com seu modo de viver, atravessou um século sorrindo. E qual o motivo dessa longevidade? O otimismo. Minha mãe vivia sorrindo para a vida. Alimentação sóbria. Divertia-se decifrando charadas e com as chamadas “Palavras Cruzadas”. E Lia muito livros. Certa vez, zangou-se com uma mosca que a importunava, e debochou: “Esta mosca besta pensa que já morri”.

Minha mãe foi um exemplo de coragem diante da vida. Encarou sua velhice com muito otimismo. Cuidava muito da aparência, estava sempre bem vestida e penteada. Costumava dizer: “Meu filho, velhice quer trato”.

E o que dizer do “mais morre” do tio João? Sim, todos, um dia, sairão deste mundo. Seja rico, seja pobre, seja feio, seja bonito, feliz ou infeliz. Esta é a grande verdade e a maior certeza das nossas vidas.

E de que morreram meus irmãos? Cito apenas Mário, o mais velho. Morreu de cigarro. Vi-o arquejando, no leito de hospital, com o pulmão cheio de pus, vítima de enfisema, e uma tristeza enorme no rosto.

Todos morrendo e Alberto pensando. Pensando e chorando, aos pés da mãe costurando. Será que ele tinha razão com esse comportamento?

E o suicídio? Eis aí a mais estúpida maneira de morrer. Gande é a decepção do espírito de um suicida quando desperta no plano espiritual, cheio de remorso.

Viver! Haverá coisa mais bela? Melhor do que viver é saber viver. Esta a nossa grande responsabilidade. Mas, será que meu irmão Alberto tinha razão nas suas reflexões sobre a certeza da morte? Bem, mesmo preocupado com o destino, ele foi o mais animado dos irmãos. Bom humor era com ele. Então, soube viver!

O que importa é estar consciente. Lembrando que minha mãe foi até os 109 anos, e morreu dormindo, quase sorrindo...

E is aí uma das coisas mais importantes da vida: o nosso nome. Pena que não é a gente que escolhe o seu nome. É o pai da gente. Eis aí uma p...

Eis aí uma das coisas mais importantes da vida: o nosso nome. Pena que não é a gente que escolhe o seu nome. É o pai da gente. Eis aí uma prerrogativa que respeitamos.

Meu nome é Carlos. Gosto dele. Mas, se não estou enganado o gosto foi de minha mãe, que me disse que o nome é nobre. Vá lá.
Os nomes dos meus irmãos? Eis aí: Mário, Alfredo, Eudes, Alberto, Orlando, Iracema e Ivone. Este último foi dado pelo poeta Eudes Barros, inspirado no romance de José de Alencar.

Há nome moderno e belo, como Iasmim e não menos bonito como Genoveva. Estabeleçam um paralelo entre os nomes antigos e modernos. Quando menino, conheci uma senhora que se chamava Eudócia. Ela era gorda e tinha um sinal no seio. Foi quem costurou minha primeira calça comprida, que serviu de mangação para muitas meninas, com quem eu gostaria de namorar. A calça era horrorosa.

Querubina. Bonito ou feio? Já foi nome muito usado, assim como Filomena. Minha mãe se chamava Pia, adocicado com o diminutivo Piinha. Ela me dizia que seu nome era muito usado pelas rainhas. E que o adorava.

Botei o nome de meus dois filhos: Carlos, meu nome, e Germano, que o adorou. Nunca vi um nome parecer tanto com a pessoa.

A verdade é que os nomes mudaram muito. Minha primeira esposa Carmen dizia que foi seu pai, o arquiteto Clodoaldo, quem escolheu seu nome, depois que assistiu a ópera Carmen, em Madrid, música que ela adorava.

O nome é muito importante, seja Filomena, seja Vaneska. Não esquecer minha Alaurinda, que rima com linda. Outros nomes, muito em moda hoje, são Maria Eduarda, Ana Clara, Sofia, Isabella, Isadora, Beatriz, Lorena, Joyce, Maitê, Rebeca, Viviane, Cecília, Ingrid, Marina, Luana, Cássia, Camila, Adriana, Aline, Taísia.

A geração passada jamais imaginaria nomes assim... Minhas tias maternas tinham nomes bonitos, conquanto antigos: Alzira, Auta, Ninália, Anília, Nautília...

Mas é isso. Isabel, Josefina, Sebastiana, Etelvina, Zulmira, Filomena, tudo passa, tudo muda, os nomes não poderiam ser exceções.

Voltando à minha inesquecível mãe, ela realmente se envaidecia com o seu nome: Pia. E um dia disse ao meu vivo: Pia já foi nome de rainha, de princesa...

O nome é muitíssimo importante. Não me esqueço daquela linda garota, lá num banco, em Recife. que foi me atendendo e perguntando, dizendo: “Como é o seu nominho?” E chegou a alisar minha mão. Minha primeira esposa, no momento noiva, não gostou.

Nome de pessoas, nome de cidades... O nome de cidade mais bonito, sem esquecer sua historicidade, é Olinda. Eu fico com Itaporanga, no interior paraibano. Se não estou equivocado significa Pedra que canta.

Mas, há nomes bonitos que são trocados por apelidos. Muito cuidado com o apelido. O apelido estraga tudo. O grande tribuno Alcides Carneiro tinha horror a apelido.

E no casamento, a mulher muda o nome de solteira. Eis aí mais um machismo ainda em vigor.

E eis que o nosso pintor admirável, Hermano José, acaba de nos deixar, com muita saudade. Hermano José era, além de artista admirável, uma ...

E eis que o nosso pintor admirável, Hermano José, acaba de nos deixar, com muita saudade. Hermano José era, além de artista admirável, uma pessoa meiga, incapaz, como se costuma dizer, de matar uma mosca.

De poucos músculos e carne, mas de muito humor, o sorriso dele era todo pra dentro. Um sorriso de muita sabedoria. E era assim que ele ia levando a vida.

Seu grande amor era o Bessa, onde tinha uma residência, toda virada para o mar, e que para ele era uma espécie de santuário, onde se benzia em comunhão com a Natureza, que tanto defendeu.

Outra sua paixão: o Planalto do Cabo Branco. Paixão mesclada de muito ciúme. Tenho a impressão que ele desejava que ninguém passasse, por ali. E ficou danado quando soube que a prefeitura mandou construir a Estação Ciência, obra do grande Niemeyer. Bom de zanga e de amuo, Hermano explodiu em protestos.

Como pintor, que muito admirei e respeitei, ele era genial. E adorava criticar. Uma das coisas mais gostosas da vida era conversar com o poeta. Uma conversa molhada de humor. Grande era sua versatilidade. Hermano nunca deu uma gargalhada. Seu humor era contido.

À noite, costumava ler os livros da Saraiva, lá no Manaíra Shopping, e pescar amigos para uma boa conversa. Estava informado de tudo. E foi lá no Manaíra que levou uma queda ao tropeçar com uns garotos que corriam, fazendo do Shopping uma perigosa pista.

Outra coisa sobre Hermano. Ele foi o primeiro artista plástico a figurar na edição inaugural de O Correio das Artes, vitorioso suplemento do jornal A União.

E, há pouco tempo, consciente do próximo partir, escreveu um livro de reflexões - “Anotações no tempo” - endereçado a alguns amigos. Seu livro é mais uma oportunidade de continuar a conversar com ele, sorrir com ele, pensar com ele. Hermano, não somente o pintor, o artista plástico, o homem que soube dignificar a vida, mas também um filósofo, que ele sempre foi.

Concluo a crônica com esta anotação de seu livro: “Foram tantos e tantos os que se foram, que chego a pensar, que é a morte quem alimenta vida”. O filósofo estava sempre presente no artista. São geniais essas “Anotações no Tempo”, que ele deixou para que lembrássemos sempre dele, vale a pena lê-las.

V ai chegar um dia em que ele será destruído. Mas, enquanto isso não ocorre, deleitemo-nos com esse oásis que a Natureza nos deu: um quintal...

Vai chegar um dia em que ele será destruído. Mas, enquanto isso não ocorre, deleitemo-nos com esse oásis que a Natureza nos deu: um quintal à antiga, com galinhas, papagaio, cajazeira, mangueiras e coqueiros, pombos, passarinhos e até um pau-brasil. E que dizer dos canteiros e das hortas? E que dizer do seu silêncio ecológico? E que dizer dessa paz, longe das máquinas, longe das TVs e telefones, dos iPads e iPods, longe de tudo que o homem inventou. Aqui, tudo o que existe é obra de Deus.

O homem, que foi à Lua, que inventou tanta tecnologia, jamais fará este pau-brasil, cujas folhas o vento agita neste momento. Jamais fará este bem-te-vi que canta, chamando o outro. Jamais construirá essas enormes mangueiras, a frondosa castanhola, os coqueiros e muito menos os seus frutos.

O homem fabrica o cimento. O cimento dos enormes edifícios que cercam o quintal, e que, ao invés de cimento tem terra. Terra para plantar árvores.

Fico olhando o meu oásis com uma saudade antecipada. Sim, chegará o dia em que ele será soterrado, afundado, destruído, Em seu lugar se erguerá uma enorme construção com centenas de apartamentos, verdadeiras gaiolas humanas, lá no alto, longe da terra. Apartamentos, cujos moradores ficam contentes quando deles saem para passear. E aí se explica porque os restaurantes estão cada vez mais cheios. É que quase todo mundo está faminto de espaço. Todo habitante de apartamento é um prisioneiro.

Acabou-se o tempo em que se dizia: “vou para minha casa”. A casa está se acabando, está se tornando uma intrusa. E como toda prisão, os apartamentos são protegidos pela segurança. Ninguém entra nele sem o consentimento do vigilante, do porteiro, que olha para você meio desconfiado, pedindo identificação e imediatamente tentando se comunicar com a pessoa procurada pelo intruso. Só depois, permite a sua entrada.

Casa com quintal virou coisa fora de moda. Casa com cachorro, com a placa “cuidado com o cão com árvore no jardim, está se acabando. Os apartamentos são o que está na moda. Tão na moda como a calça jeans, o bermudão no meio das pernas, o Facebook, os celulares, que hoje são chamados de smartphones...

Voltando ao quintal, como está ele cercado de imensos edifícios! Cercado ou imprensado? Diria melhor cercado. Sim, está havendo um verdadeiro cerco em torno desse oásis. Um cerco asfixiante. A cidade precisa crescer. Os construtores precisam ganhar dinheiro.

A população está crescendo. Portanto, destruamos essas mangueiras, esses coqueiros, esse enorme e ornamental pau-brasil. Isso não se usa mais.

Ao invés de galos saudando as madrugadas, liguemos as TVs, acessemos os tablets, com as últimas notícias sobre a corrupção nacional. Galo cantando é hoje uma obsolescência. Assim se diz, assim se comenta.

E para onde irão os passarinhos, os bem-te-vis e pardais? Não sei. Só sei que sinto, neste momento, uma saudade antecipada.

Q ual é a dor maior do mundo? Eu diria, sem pestanejar: a dor da ausência. Conheci um homem que adorava seu filho, um bonito e inteligente j...

Qual é a dor maior do mundo? Eu diria, sem pestanejar: a dor da ausência. Conheci um homem que adorava seu filho, um bonito e inteligente jovem com quem convivia muito bem. De repente, o menino fora atropelado por um carro. Quando o visitei para lhe dar os pêsames, observei que ele apenas andava de um lugar para outro. Não botou uma lágrima. Não disse uma palavra. Andar, em silêncio profundo, talvez lhe atenuasse a dor.

Horrível, de repente, se ver sozinho no mundo. Mas a vida é feita de presenças e ausências. De sorriso e de choro. Ninguém se livra da lei. O homem que perdeu o filho não deu uma palavra. No rosto não escorria nenhuma lágrima. Mas tudo passa. A vida não deixa o choro por muito tempo. Depois vem a conformação. Depois, quase ninguém mais se lembra do choro, que é substituído pelo sorriso.

Mas há aqueles que sabem transformar sua saudade numa constante presença. E assim, sofrem menos. E agora estou me lembrando, como grande exemplo, dw Clemilde, viúva do nosso querido Afonso Pereira. Como ela soube ela transformar a sua saudade numa presença. Organizou um arquivo com um precioso acervo e o encheu de livros, documentos e lembranças do marido. Entra naquele recanto como se o amado ali estivesse. Lembro de que há muitos exemplos de heróicas viúvas que souberam conservar a memória do marido com muita resignação, com muita fé. Viúvos e viúvas.

Mas, aqui para nós, voltando à saudade, não há maior dor do que a dor de uma ausência.

Agora estou me lembrando de José Américo de Almeida, viúvo. Como sofreu com a morte de dona Alice, sua esposa. Sua solidão aumentou, a ponto de, certa vez, ele bradar: “Minha casa não tem mais diálogo”. Haverá maior desespero do que este?

O diálogo é tudo em nossa vida. Conquanto o monólogo também seja, o diálogo é vida intensa. Precisamos da companhia do outro. Precisamos desabafar as nossas mágoas.

A dor de uma ausência tem cheiro de morte. Ele disse, com uma enorme tristeza, num desabafo dramático, digno do grande homem que foi. “Na minha casa não há mais diálogo”. O diálogo é vida.

Eu já sofri a dor da ausência. Mas me comportei muito bem. Quem leu o meu primeiro livro A Dança do Tempo, verá que ele foi feito de lágrimas.

E vidente que sim. Daí os numerosos brocardos que existem por aí se referindo a uma sabedoria popular. E, aqui para nós, são muitos os ditad...

Evidente que sim. Daí os numerosos brocardos que existem por aí se referindo a uma sabedoria popular. E, aqui para nós, são muitos os ditados que nos levam a pensar.

Andei reunindo alguns desses ditados e fiquei admirado da sabedoria que eles contêm. Mas terá sido mesmo o povo que criou esses ensinamentos? Não sei. Só sei que eles existem e aqueles que o seguirem, não cairão em erros.

Então vejamos algumas gotas dessa sabedoria anônima. Começamos por esta: “Quem é coxo parte cedo”. Sim, nada de se demorar, porque depois chega a noite e a viagem se torna perigosa. Seja, portanto, uma pessoa prevenida.

Outro brocardo: “Devagar se vai ao longe”. Verdade incontestável. Pra que tanta pressa? Mas não gostei deste: Quem tem boca vai a Roma”. Por que Roma?...

Continuemos: “Dize-me com quem andas e eu te direi quem és”. Discordo. E o próprio Jesus deu exemplo. E esta outra?: “Quem nunca come mel, quando come se lambuza. Evidente que está certo, é preciso experiência”. Vejamos este último, de que também discordo, pelo menos, em parte: “Quem tudo quer saber, mexerico quer fazer”. Nem sempre. É perguntando que se chega à verdade”. O filósofo Sócrates ensinou perguntando.

“Nada mais ridículo do que um sujo falando de um mal lavado”. Certíssimo. E nada de andar falando mal dos outros. Nada de maledicência. “Deus escreve certo por linhas tortas”. Discordo. Deus nunca errou nos seus desígnios. Torta é a nossa visão limitada.

Continuemos. “Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Eis uma grande verdade. Amanhã é outro dia. E este: “Pelo dedo se conhece o gigante? Evidentíssima.

“É errando que se aprende”. Lógico. Daí o valor da experiência. “Em briga entre marido e mulher, ninguém mete a colher”. Pois é, e viva a discrição.

E que tal este: Para muito sono, toda cama é boa”. Vamos a outra máxima: “Boa romaria faz quem em casa está em paz”. Certíssima e muito sábia. Não há lugar mais seguro do que a casa, o apartamento, longe dos veículos, dos assaltos.

Agora este outro, que para mim é o melhor de todos: “O pior cego é aquele que não quer ver”. E não quer ver, por fanatismo. O fanatismo é uma espécie de catarata.

“Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Verdade. O amor não vê o feio, nem o bonito. O amor é Deus dentro de nós.
E que dizer do olhar? O olhar é tudo na vida. Você é o que olha. E há mais um ditado que diz: “O que olhos não vêem, o coração não sente”.

Agora o cronista achou de também criar um provérbio: “É inútil como peito de homem”. Não ria, não. Pois é uma verdade.
E quanta lógica neste provérbio: “Quem canta, seus males espanta”. Cantar, sorrir, dançar, faz uma vida feliz.

Agora, você quer ver um provérbio mentiroso? Este que diz: “quem não tem cachorro, caça com o gato”. Duvido!
E vejamos este último provérbio. Que beleza de ensinamento. E com ele encerramos a crônica: “Quando um não quer, dois não brigam”. E que a paz esteja com todos!

H á o medo do avião e o medo de avião. Carlos Drummond de Andrade escreveu um belo poema sobre a morte no avião. E chega a dizer que quem mo...

Há o medo do avião e o medo de avião. Carlos Drummond de Andrade escreveu um belo poema sobre a morte no avião. E chega a dizer que quem morre no avião, morre verticalmente. Tem muita gente que não gosta de ler esse poema...

Desejo escrever sobre o medo do avião que, sem dúvida, ocorre e ninguém pensa nisso. Antes do vôo, há muitos preparativos dentro da aeronave, que, pela repetição, entediam. Lá fora, o avião espera, angustiado, o vôo que o levará lá para cima. A subida é vertical, enquanto o vôo é horizontal, até alcançar a velocidade de cruzeiro.

Todos se arrumando, guardando suas bagagens de mão, apertando os cintos e o avião calado, esperando a hora de partir. Mas eis que chegou a vez de acelerar, correndo macio, dentro da longa pista. O avião vai sair da terra para o ar, isto é, vai decolar. O português diz uma expressão mais apropriada: descolar. Sim, o avião descola do chão. Mas, para descolar, que é uma operação difícil, a aeronave precisa de uma longa pista, toda a força do motor, momento em que ele usa toda a sua potência. Eis um momento que faz um friozinho correr pela minha espinha.

Acabou-se a descolagem e começa a viagem com a aeronave atropelando nuvens. Eis aí um espetáculo que muitos não querem nem imaginar, quanto mais ver. Eu não me canso de olhar... Tudo vai se diminuindo! Mas, o que faz medo mesmo são as quedas. As quedas no vácuo. Tenho uma neta, que se chama Raissa, que durante um vôo para Petrolina, se divertiu muito com as turbulências. Disse que foi a melhor parte do voo.

Outro momento, talvez o mais dramático do vôo, é o da aterrissagem, que o português chama aterragem. O que está certo, mais uma vez.

Dizem que são dois os momentos mais perigosos. Decolar e aterrissar. Aterrisar exige muita habilidade do piloto, sobretudo quando há chuva e muito vento. Daí, os passageiros, vez por outra, baterem palmas parabenizando o comandante pelo êxito da operação. Se a aeronave não aterrissa bem, o silêncio e o suspiro substituem o aplauso.

Mas que saudade de um vôo de avião!... E esqueçamos o poema de Drummond. Dizem que o nosso Ariano Suassuna tinha muito medo de morrer, verticalmente.

E concluimos: Não somos nós que temos medo de avião. O avião também tem...

N a noite do último sábado, para a minha surpresa, eis que o amigo, colega de jornal e de ideais espíritas, Hélio Zenaide, sobe à mesa para ...

Na noite do último sábado, para a minha surpresa, eis que o amigo, colega de jornal e de ideais espíritas, Hélio Zenaide, sobe à mesa para fazer a palestra, lá no Centro Espírita Leopoldo Cirne, agora reformado e refrigerado

Se há uma pessoa que nunca imaginei que um dia viesse a se tornar espírita é o jornalista Hélio Zenaide, hoje afastado da imprensa, onde atuou com tanto brilho, elegância e objetividade, sempre me parecendo meio cético. Ceticismo sublinhado por uma suave ironia. Um homem mais ocupado com o aquém do que o além.

Um verdadeiro homem de jornal. Bom na reportagem, excelente no comentário político e arguto analista dos fatos, ninguém melhor do que Hélio para escrever um belo editorial, coisa que, como jornalista, nunca fui capaz de fazer.

Filho de Alagoa Grande, ele nasceu para escrever. Esta sua maior aptidão. Escreve com uma facilidade admirável, num estilo simples e objetivo. Seu pai, Heretiano Zenaide, foi pioneiro da ecologia em nossa terra. Escreveu vários livros cujo tema predileto era a Natureza. Livros que mereciam ser reeditados em face de seu valor didático. Portanto, esse gosto de Hélio pelas letras veio de seu pai.

De religião, o nosso jornalista sempre manteve distância. Seu temperamento cético estava mais preocupado com as coisas cá de baixo. Mas um dia – aí é que começa a sua outra história – Hélio, pela mão de sua filha Valéria, termina dentro de uma sala mediúnica do Centro Espírita Leopoldo Cirne, onde se comunica com os espíritos e se surpreende com o que o que viu e ouviu. Convenceu-se da proposta espírita, tornando-se um convicto profitente. Daí em diante, não quis mais escrever sobre outra coisa. A Doutrina o fascinou. No tradicional jornal A União manteve, por muito tempo, uma coluna diária, abordando temas sobre mediunidade, reencarnação, e moral evangélica.

Por motivo de saúde, com problema de visão, viúvo, ele hoje quase que não sai de casa, ao lado dos livros, dos filhos e dos netinhos. Assim mesmo, continua lendo com o apoio de uma lupa e de sua filha que lê pra ele. E pretende reunir em livro, oportunamente, suas crônicas a que deu o título de “Notas de um aprendiz”. Modéstia, ele é um grande mestre.

E para a minha alegria, no sábado passado tive o prazer de ouvir Hélio Zenaide proferindo uma palestra sobre Leopoldo Cirne, patrono do centro onde frequentamos. Falou em alto e bom som, numa voz bem postada e com saudável aspecto.

O auditório lotado, não cabia mais ninguém. E isso numa noite de sábado, no meio de um feriado prolongado, cheio de atrações mundanas. Mas, Hélio estava, ali. Era um homem feliz. Feliz com a sua paz de consciência, feliz com a sua família, feliz com a religião que é hoje sua maior motivação na vida. Confesso que fiquei emocionado com o que vi. Hélio me dava, naquela ocasião, uma grande lição. Lição de coragem e fé.

Hélio Zenaide! Que bom que a nossa Assembléia soube reconhecer seu valor e conferiu-lhe a elevada comenda, a medalha Augusto dos Anjos, há pouco mais de 2 anos. Hélio merece todas as homenagens, pois é um homem completo.

C ada vez pior, o trânsito de cada dia é um grande teste para nossa vida. Exige muito cuidado, muita paciência, muita coragem. E como a gent...

Cada vez pior, o trânsito de cada dia é um grande teste para nossa vida. Exige muito cuidado, muita paciência, muita coragem. E como a gente se revela, se identifica no trânsito! Dize-me como diriges e eu te direi quem és...

Afinal, como é que você está se comportando quando o sinal vermelho obriga seu veículo a parar? Será uma reação de raiva? Ou você, simplesmente, fica ouvindo aquela música, no som de seu carro, ou se põe a pensar um pouco no que tem a fazer? Seu comportamento será de irritação? E se você estiver apressado? Aí, sim, é que a indignação cresce. No entanto, esquece de que se o sinal está vermelho para você, está verde para os outros.

Mas o seu egoismo não deixa você pensar nisso. Acostume-se a enfrentar os sinais de trânsito com sabedoria. Isto só vai lhe dar saúde e paz de espírito.

E se quando você for estacionar o carro numa vaga, aparecer outro, e se antecipar na sua frente? Será que você solta um palavrão, irrita-se e bota aquela cara horrível para o sujeito?

Esteja psicologicamente preparado para o trânsito. Ele é um teste. Nada de buzinar sem necessidade. Quem assim age, vá ver que brigou com a mulher, está mentalmente enfermo ou em conflito consigo mesmo.

Não se deixe dominar pelos nervos, sentimentos negativos, pelas irritações que só fazem comprometer sua saúde, sua paz interior. No trânsito, você sabe se a pessoa é apressada, nervosa, angustiada, indiferente, egoísta, mal educada. Que bela lição dá aquele que pára seu veículo dando passagem ao outro carro que pretende entrar na avenida principal! Quanto equilíbrio emocional!

Para receber a carteira de motorista exige-se um demorado curso seguido de exame prático... Mas o curso não ensina a ser cortês, a ser solidário, a respeitar o pedestre.

E quando ocorre uma batida? Qual deve ser o nosso comportamento? Nada de discussão, nada de puxar um revólver, nem se irritar. Não custa nada fazer um acordo de cavalheiros. A educação se mede nessas ocasiões.

Outro problema: o engarrafamento. Aí vem a explosão de raiva. De que adianta? Que tal ligar o som e ouvir aquela música?... Ou senão ler um livro, olhar o céu? Lembre-se de que o importante na vida é estar preparado para as eventualidades. Fuja do afobamento, que não dá em nada.