A beleza da vida está na diversidade. Deus sabe o que faz. Já imaginaram um mundo de pessoas iguais, coisas iguais, comportamentos iguais?....

A beleza da vida está na diversidade. Deus sabe o que faz. Já imaginaram um mundo de pessoas iguais, coisas iguais, comportamentos iguais?... Seria um inferno de monotonia, de tédio, de chatice. Daí as diferenças. Daí eu gostar de coisas que você não gosta. Mas, nem por isso vamos ficar distantes, hostis, indiferentes. Se você aprecia a cor azul e eu a vermelha, se você adora luta de boxe e eu o balé, se você detesta cidade grande e eu viva sonhado com uma fazendinha no interior, ouvindo o mugir das vacas e o canto dos passarinhos, que mal há nisso?

Se convivermos bem com uma pessoa não é porque ela pensa e age como nós. Talvez seja o contrário. Isto não significa que os dois sejam diametralmente opostos. Em toda amizade, em todo relacionamento mais íntimo, existem alguns pontos de contatos, de sintonia, de aproximação. Quando os dois são muitos iguais não tem graça. Lembrar que vivemos nos completando uns aos outros.

Há casais por aí, ajustadíssimos, vivendo na maior paz, embora sejam de temperamentos diferentes. E nisso é que está o mérito. cabe a cada um fazer uso da compreensão. Onde houver compreensão não haverá conflito. Compreender é perdoar tudo. Não queira que o outro seja igual a você, que pense como você, que aja como você. Cada um como Deus fez, ou melhor, como a evolução fez. A coisa mais difícil da vida – disse um psicoterapeuta – é você ser como os outros querem que você seja.

Certa vez, Jesus e seus discípulos – narra uma fábula – saíram a procura da cidade de Dalmanuta. Andaram, andaram e nada. Até que encontraram um homem deitado sob uma árvore. “Onde fica Dalmanuta? - Indagou Jesus ao homem. E ele quase que não respondeu, por preguiça. Assim, mesmo, levantou o pé e disse – “Fica por ali”... Jesus sorriu e continuou caminhando. Mais adiante, avista uma mulher em plena atividade doméstica, cuidando da comida e dos filhos, em sua humilde choupana. “Onde fica Dalmanuta?” – perguntou o Mestre – E ela, logo que avistou Jesus, limpou as mãos no avental, deixou todo o trabalho, e saiu a mostrar o caminho. Andou um bocado. Finalmente, apontou para o lado onde estava a cidade. Os discípulos ficaram admirados com tanta boa vontade. Jesus também. Como a mulher foi solícita, ativa, prestativa, solidária!

E saíram eles em direção a Dalmanuta, quando, a certa altura, um dos apóstolos pergunta: “Mestre, tive pena daquela mulher, parece sem marido... Bem que merecia uma companhia. Por fim veio a indagação: “Com quem ela deveria se casar”? Jesus sorriu e respondeu: “Com aquele preguiçoso”.

E teve razão Jesus. O homem da estrada muito teria de aprender com aquela mulher. Cada um de nós ensina com o exemplo, a nossa singular maneira de ser. O preguiçoso da fábula talvez tivesse outras virtudes. Toda a pessoa tem o seu lado positivo.

É na diferenciação que está o encontro da vida. O que seria da luz se não fosse a escuridão? Saber manter o equilíbrio dos contrastes – eis em que consiste a arte de viver!

E m todo aniversário, já viu, o telefone tocava e lá vinha a voz amiga, desejando-me muitos anos de vida. E dizia mais. Dizia que eu continu...

Em todo aniversário, já viu, o telefone tocava e lá vinha a voz amiga, desejando-me muitos anos de vida. E dizia mais. Dizia que eu continuasse sendo o homem que sou. Dizia isso com tanta sinceridade, que me deixava emocionado e encantado. Bastava eu completar mais um ano de existência, e lá vinha ele com sua mensagem fraternal, sincera, que terminava sempre com um “Deus o conserve sempre conosco”.

Jamais meu aniversário passou sem seu telefonema desse amigo, o que muito me comovia. E eu não fazia o mesmo com ele.

Ia dizer o nome dele, mas deixemos para o fim. Sua profissão era de livreiro e a sua livraria, que se chamava “Livraria Acadêmica”, primeiro ficava no térreo do “Paraíba Palace Hotel”, depois se transferiu para a rua Duque de Caxias. Lembrar que ele exercia a função de livreiro juntamente com a de advogado. E como advogado, gostava de discutir.

Repito, em todo meu aniversário (não escapou um) lá vinha sua voz amiga desejando-me felicidades, o que muito me comovia. Mensagem que vinha do coração, sincera. E eu nunca fiz o mesmo. Não sabia nem o dia de seu aniversário.

Acontece que o tempo foi passando, até que chegou o dia de seu silêncio, isto é, eu fiz aniversário e nada de seu telefonema, de sua mensagem. Eis um silêncio que mexeu comigo.

O que será que houve com o meu amigo? Cadê aquela voz suave me desejando muitas felicidades? Não, não quero dizer o seu nome. Só sei que seu silêncio me deixou triste. O que foi que houve? Não desejo revelar o seu nome, aqui, mas fiquei muito triste, profundamente triste.

Um homem sincero. Sincero e sério, esse nosso amigo era um exemplo de bom caráter. Adorava discutir, debater, como bom advogado que era. Sempre na defesa das boas causas.

Faz tempo que ele não telefona para mim, no meu aniversario. O que terá havido?...

P ois é, certa manhã, chega o meu neto, por telefone, me pedindo para ajudá-lo numa tarefa escolar. Tratava-se de uma entrevista com o avô, ...

Pois é, certa manhã, chega o meu neto, por telefone, me pedindo para ajudá-lo numa tarefa escolar. Tratava-se de uma entrevista com o avô, que, decerto, sabe mais coisa do passado do que ele, que ainda está com poucos anos de caminhada existencial.

“Vô, o tema é sobre o que é que já não existe mais, hoje em dia?” - Com essa intimação amável, ele começou a me entrevistar sobre costumes, indumentária, divertimentos e outras coisas de antanho.

Conquanto não seja um homem apegado ao passado, gostei daquele papo virtual. E assim, fui atendendo à curiosidade do menino, que, apesar de muito jovem, já participa de campeonatos de xadrez, é craque na Internet e que, quando era pequeno, vez por outra, vinha com perguntas embaraçadoras. Perguntas como esta: “quem é que escova os dentes do leão da Bica?”

Mas, vamos, aqui, no espaço exíguo de uma crônica, informando algumas coisas que hoje não se veem mais. Comecemos pela indumentária. Outrora não se via mulher vestindo calça comprida, muito menos a calça tipo jeans, que, quanto mais desbotada e esfarrapada, melhor. Mulher só usava saia e pronto, assim como padre só vestia batina preta e rezava a missa em latim.

E que dizer da bengala? Sim, para completar a elegância masculina, usava-se a bengala como ornamento, sem esquecer o chapéu, seja de massa ou de palhinha. E o chapéu estava tanto nas cabeças masculinas como femininas. Relógio só de algibeira. Era chique exibi-lo para consultar as horas.

Transporte coletivo? Ah, tínhamos os bondes. Bondes de Tambiá, Trincheiras, Cruz das Armas, Oitizeiro, Varadouro... E que segurança eles ofereciam! Vejamos mais. Veio-me agora o dente de ouro. Hoje ninguém o vê mais. O dente de ouro chegava a acompanhar o defunto. Ninguém o arrancava. Dava status.

O neto está pedindo mais, morrendo de rir. E vem a lembrança do cinema mudo, já imaginaram?... Isso mesmo, cinema mudinho da Silva. E havia quem o adorasse. E as refeições? Outrora a família comia reunida com todos os seus membros. O pai na cabeceira, a mãe ao lado, seguindo-se o filho mais velho e os demais. E que silêncio, que respeito! Havia mais ceia do que jantar. E ceia larga com inhame, batata doce, macaxeira, mungunzá, cuscuz e o delicioso pão francês.

Pijama, ceroula, também já não existem mais. Será que se acabou a “camisola do dia”, tão comum naquele tempo? Outra coisa em extinção: o solene pedido de casamento. O noivo chegava para o pai da moça e pedia, todo encabulado, a mão da filha...

Continuemos nossa conversa telefônica. Falemos agora dos ecológicos e bucólicos quintais, hoje em extinção. Desapareceu a terra sob os pés. Nos edifícios de apartamento não há mais lugar para os animais domésticos.

Antigamente... Mas, o garoto está me dizendo que o tamanho do texto já chegou no limite. Fiquemos por aqui. Ele cumpriu sua tarefa didática e eu a de cronista. E viva a vida que não pára. A vida que está sempre mudando. Viva a eternidade do efêmero.

P ois é, foi uma bela festa de confraternização a eleição promovida pela Academia Paraibana de Letras, com o objetivo de preencher a vaga de...

Pois é, foi uma bela festa de confraternização a eleição promovida pela Academia Paraibana de Letras, com o objetivo de preencher a vaga deixada pelo nosso Wellington Aguiar.

Fui chegando à Casa de Coriolano de Medeiros, acompanhado do meu filho Germano, arquiteto de projetos e de idéias, e fiquei maravilhado com o ambiente festivo. E não faltaram abraços, não faltaram sorrisos, já que a vida só é vida quando os homens se confraternizam.

A primeira pessoa com quem topei foi com o escritor José Mário, de recente imortalidade, que veio me abraçar. E se um simples abraço transmite cultura, senti-me enriquecido.

Vi, também, logo na entrada, a nossa Ângela Bezerra, com aquele sorriso muito mais bonito do que o da Mona Lisa. Não vi o poeta maior, Sérgio de Castro Pinto, não vi Maria das Graças, não vi Pepita. Decerto votaram mais cedo.

Damião, aqui para nós, está de parabéns pelo que vem fazendo pela Casa dos Imortais. Viva quem sabe administrar.

Houve a eleição, mas sem vencedor. Foi bom porque a gente vai ter outra festa, no segundo turno. Curiosamente, todos os candidatos sorriam, pois a vida sem sorriso, sem amor e sem confraternização é um saco...

Gostoso o bate-papo com o candidato Evandro. Discreto, fala baixa, falou em tudo, menos na eleição. Revi com muita alegria o nosso Gonzaga, que fala com a gente, sorrindo. Sorrindo ou mangando. Talvez os dois.

Para terminar, recebi um presente valiosíssimo. Não foi jóia, não. Ou talvez seja. Recebi o último livro do amigo Hildeberto Barbosa Filho, “Vou por aí”. Um título muito gostoso, que só poderia ser de crônicas. Estou ansioso para sair pelas páginas do livro, de mãos dadas com o autor.

Essa confraternização da Academia merece ser repetida logo. Não só pelo agradável reencontro com os amigos, mas também pelo gostoso lanche, café e bate-papo. Que venha o segundo turno.

O grande Chico Xavier chegou a dizer que “é melhor uma mentira que consola do que uma verdade que magoa”. Isso nos leva a algumas considera...

O grande Chico Xavier chegou a dizer que “é melhor uma mentira que consola do que uma verdade que magoa”. Isso nos leva a algumas considerações. Afinal, a mentira é um mal ou um bem? Depende, pois nem sempre a verdade deve ser dita. Estão aí os médicos que, em certas circunstâncias, são forçados a omiti-la diante do paciente.

O velho Eça já sentenciava que devemos “vestir a verdade com o manto diáfano da fantasia”. Nada de verdade nua e crua. Nada de franqueza demais. Diria ainda que a verdade é como a luz. Demasiado forte pode cegar. Não foi assim com o apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso? Quando se defrontou com Jesus, que era a verdade, não suportou a intensidade de sua luz, ficando cego por algum tempo...

A mentira é uma ilusão e a vida muitas vezes precisa dessa ilusão... Por conseguinte podemos dizer aqui que a mentira é um mal necessário.

Quando eu era menino vivia rodeado de mentiras. Mentiras que vinham da boca dos adultos. Mentira de “papa-figo”, mentira da cegonha, mentira de Papai Noel, mentira de Satanás. Chegaram até a me informar que quem conseguisse atravessar o Arco Íris, mudaria de sexo. Ora vejam só...

E qual é a maior mentira de todos os tempos? Eu diria que é aquela que está no chamado livro sagrado afirmando que a mulher nasceu da costela de um homem, inaugurando, assim, o machismo no mundo.

A Justiça exige que o réu diga a verdade, só a verdade. Será que ele confessa, realmente, o que aconteceu? E o seu advogado usará de sinceridade?

A mentira é muitas vezes filha do medo. A criança, com medo de ser castigada, mente. É a vez de dizer que aquele que nunca mentiu que atire a primeira pedra...

E os jornais? Será que dizem sempre a verdade? E os políticos? Quer ver uma grande mentira, que está na História? Aquela que afirmava ser a nossa Terra o centro do Universo. Mentira que foi contestada pelos cientistas da época, a exemplo de Galileu e Copérnico. Quem estava no centro não era a Terra, mas o Sol. E o pobre Galileu, com medo de ser tragado pela fogueira da Inquisição, foi obrigado a mentir, a desdizer o que afirmava, baseado na realidade.

Dizer a verdade é um perigo, em determinadas circunstâncias. E corajoso é aquele que a prega, doa em quem doer. As grandes descobertas e invenções foram, muitas vezes, rejeitadas como mentirosas. E sabe de uma mentira que muita gente aceita como verdade? A que diz que os chamados mortos estão repousando no cemitério, aguardando o Juízo Final...

Pilatos, político inteligente, que vivia rodeado de mentiras, achou de fazer aquela famosa pergunta a Jesus: O que é a verdade? O mestre deu o silêncio como resposta. E fez muito bem.

Recordo que, no meu tempo de menino, minha mãe me dizia que quem mente, cria verrugas na mão. E eu morria de medo...

Mas, o importante é a verdade de cada um, como escreveu Pirandelo. E fiquemos por aqui, lembrando a recomendação de Jesus: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

P or motivo de uma crise de coluna lombar, em vias de fazer uma vertebroplastia, eis que me privo de ver e ouvir um diálogo de dois mestres,...

Por motivo de uma crise de coluna lombar, em vias de fazer uma vertebroplastia, eis que me privo de ver e ouvir um diálogo de dois mestres, dois gigantes da literatura paraibana: O professor José Mario da Silva, escritor a quem sempre estou rendendo homenagens, e a professora Elisabeth Marinheiro, consagrada mestre das letras, ambos de Campina Grande. O primeiro assumindo uma cadeira na nossa venerável Academia Paraibana de Letras, e a segunda, saudando, com muita ênfase, a chegada do mais novo imortal.

E por causa da cirurgia da coluna, fico aguardando o próximo lançamento da Revista da Academia, que, decerto, trará os discursos de ambos imortais.

Nunca vi uma eleição tão justa como esta de José Mário, um homem se uma simplicidade admirável. De uma sólida cultura, somada a uma notável modéstia e discrição.

Só sei que senti muito não ter podido estar presente para ver e ouvir esse diálogo de gigantes da nossa literatura. Elizabeth, minha grande amiga, a quem devo a honra de promover o lançamento do meu penúltimo livro “Lições de viver”, em Campina Grande, e José Mário da Silva, sob cujo olhos, caiu o livro, também de minha autoria: “A Dança do Tempo”. E, graças a Deus, Mário viu belezas no meu livro. Ele fez uma análise tão bem feita do meu texto que muito me entusiasmou.

Daí minha alegria de saber que os dois gigantes de nossa literatura, ambos da Rainha de Borborema, se encontraram na nossa Academia Paraibana de Letras para um duelo. Um saudando o outro, numa festa de alta cultura.

Mas, aqui pra nós, me sinto bem, com a minha consciência tranquila, em ter concorrido para esta merecida vitória acadêmica de José Mário da Silva, autor dos excelentes livros “Mínimas leituras, múltiplos interlúdios” e “Os Abismos do Ser”, que agora assume a honrada cadeira de Ariano Suassuna.

C omeço engatilhando a seguinte pergunta: Se, num cercado, houvesse um rebanho de cem ovelhas, e uma delas conseguisse pular o cercado, quan...

Começo engatilhando a seguinte pergunta: Se, num cercado, houvesse um rebanho de cem ovelhas, e uma delas conseguisse pular o cercado, quantas ovelhas ficariam? Certamente responderá o leitor, muito entendido em aritmética: "Ora, cronista, restariam noventa e nove". Errado. Você pode saber de aritmética, mas nada entende de ovelhas, decerto nunca foi pastor. Pois fique sabendo que quando uma ovelha pula um cercado todas as outras a acompanham... Ovelha é um bicho muito bobo, vai na onda dos outros.

Ora, ora, mas acontece que há muita gente por aí exatamente com esse espírito de ovelha. Não tem vontade própria. Está sempre seguindo a maioria. São chamados popularmente de “Maria vai com as outras”. São totalmente influenciáveis e acreditam em tudo o que os outros dizem. Possuem cabeça, mas não a usam. Sua vontade é a vontade do pastor.

A propósito, narra o Evangelho que, certa vez, Jesus estava olhando a multidão indo pra lá e pra cá, e teve pena dela, pois lembrava ovelhas sem pastor. Acontece que o pastor aí não é uma pessoa, mas a consciência. Muita gente pensa que pensa, mas não pensa. Vai na onda, não reflete, não examina, não sabe escolher. É, como disse, chamada “Maria vai com as outras”.

Paulo de Tarso ensinou que devemos examinar tudo e escolher o que for bom. Veja bem: examinar tudo. Todavia, o espírito de ovelha não sabe escolher por conta própria. Deixa que o líder religioso escolha por ele. Ah, meu leitor amigo, haverá maior subserviência do que isto? Lembrar que quem não escolhe por si não tem responsabilidade na escolha feita.

Estamos constantemente abdicando do ato de escolher. Que vergonha! Não seja ovelha. Tenha vontade própria. Não abdique desse privilégio que é dado ao homem. Não se deixe levar pela maioria, não seja um ser passivo diante da televisão. Aceitando tudo que dela sai. Seja um ser pensante. Use com sabedoria o seu poder de escolha, seu livre arbítrio...

Que a criança ou o idiota sejam manobrados, está muito bem. Mas você, não. Examine tudo e escolha o que for bom. Use esta coisa maravilhosa que se chama discernimento. Ora, discernir é escolher bem, e escolhe bem quem usa de sabedoria. E a sabedoria vem do conhecimento, da experiência. Daí a importância do estudo. Não tenha medo de pensar por você mesmo.

Continuo advertindo: Tem muita gente por aí com o espírito de ovelha. Veja se a raposa ou a serpente vão na onda. Até mesmo com relação à moda, é preciso ter certo bom senso. Eu jamais botaria uma calça desbotada e esfarrapada, ou um bermudão lá em baixo, somente por que é moda... E não venha me dizer que é uma questão de idade. Minha mãe, com seus 90 anos, nunca deixou de usar um vestido todo colorido. Valia a sua vontade. E com esse ânimo ela atravessou os 100 anos sorrindo. Dizia sempre: “a moda quem faz sou eu".

Nada, portanto, de viver sem reflexão. Nada de espírito de ovelha.

S im, o meu conterrâneo e amigo Wills Leal, ao que soube, e que não me surpreendeu, derramou lágrimas com saudade do nosso Virginius da Gama...

Sim, o meu conterrâneo e amigo Wills Leal, ao que soube, e que não me surpreendeu, derramou lágrimas com saudade do nosso Virginius da Gama e Melo, o nosso menestrel, o nosso príncipe das letras, um homem-anjo, que veio para este mundo por descuido.

Faço questão de juntar as lágrimas de Wills com as minhas. Lembremos que chorar nem sempre é sinal de fraqueza, mas de sensibilidade.

Também tive o priviégio de ser amigo de Virginius, cuja palavra sempre me extasiou e me encantou. Fui seu amigo e também vizinho. Ia muitas vezes bater papo com ele lá no sítio de Tambiá, onde não faltavam lindas mangas-rosa, que ele me oferecia sorrindo.

Virginius escrevia quase todos os dias, nos jornais. Uma prosa límpida, elegante, gostosa de ler. Dizem que o nosso menestrel, numa conferência escrita, proferida no Recife, achou de abandonar o papel que tinha nas mãos, e pôs-se a falar de improviso. E foi bastante aplaudido.

Ninguém escreveu melhor sobre a Revolução de Trinta do que ele, no seu romance “Tempo de Vingança”. Bom também na crônica, o nosso menestrel é nome para estar sempre lembrado seja de olhos enxutos ou não.

Personalidade admirável, seja na fala, seja na escrita. Um homem bonito, elegante, culto, incapaz de matar uma mosca. Logo cedo perdeu seus pais e passou a ser criado pelas tias. Em carta escrita a Gilberto Amando desabafou: “Não cheguei a conhecer mãe, perdia-a no primeiro ano de vida. Pai mesmo, pouco conheci”.

As lágrimas de Wlls eu as tomo para mim. Os bichos não choram. O choro é do homem. Jesus, que é Jesus, chorou.

Mas a vida é isto. Choro é saudade que se liquidifica. E é belo, belo ver lágrimas correndo num rosto. Gostei, meu amigo e conterrâneo Wills Leal. O choro é próprio do homem. Mais do que do homem, o choro é divino.

Mas agora estou imaginando Virginius sabendo de suas lágrimas... Vá ver que choraria também.

D esculpem-me o truísmo, mas é conversando que a gente se entende. E aqui para nós, fazer o mal é uma desgraça. Fazer o mal é criar o infern...

Desculpem-me o truísmo, mas é conversando que a gente se entende. E aqui para nós, fazer o mal é uma desgraça. Fazer o mal é criar o inferno dentro de nós. Não pense que o inferno é um lugar pegando fogo. O fogo do inferno é o do remorso, do arrependimento. O remorso leva muita gente ao suicídio. Eis aí uma dor que não se cura nem com anestesia.

Continuando, lembremos que só uma coisa diminui ou extingue o remorso: o arrependimento. Acompanhado do pedido de perdão.

E o que é arrependimento? Arrependimento é voltar atrás. É refletir, fazer um exame de consciência. É uma espécie de marcha a ré. Felizmente, sempre que faço uma retrospectiva na minha vida, sinto que ela está limpa de remorsos, de arrependimentos. Não existe maior céu, nem um travesseiro mais macio do que a paz de consciência.

Agora estou me lembrando de um homem que estava cheio de sofrimento. Ele tinha câncer nos ossos, em fase terminal. Tudo nele doía, da cabeça aos pés. Sua filha, muito consternada, certa vez, perguntou-lhe: “Papai, está doendo muito?”. E ele respondeu: “Minha filha, quase tudo dói em mim, da cabeça aos pés, menos uma coisa”. “Que coisa?” - ela indagou. Ele, sereno, disse: “A minha consciência”.

Não tenham dúvida que, se você está em paz consigo mesmo, você é um homem feliz.

E não esqueçam o título da crônica. Feliz é quem faz o bem. Que frase terapêutica! Se você faz o bem, duvido que haja melhor terapia. Se você perdoa, compreende o seu próximo, estará sempre com a consciência leve, terá o Reino dos Céus dentro de você, aquele estado de espírito a que o Mestre de Nazaré se referiu aos seus discípulos. Ele, sim, que soube ensinar a perdoar com o próprio exemplo.

Mas, há quem diga: “Eu perdoo mas não esqueço”. Não adianta. O perdão deve ser total, livre, Incondicional.

Mas, sublime mesmo, em matéria de fazer o bem, foi Jesus: Com o suor e o sangue derramando pela face, crucificado entre dois ladrões, ainda teve ânimo para dizer, olhando para o alto: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”...

O famoso estadista romano, Cícero, uma das mentes mais versáteis da Roma antiga, cujos discursos eletrizaram multidões, teve em Catilina um...

O famoso estadista romano, Cícero, uma das mentes mais versáteis da Roma antiga, cujos discursos eletrizaram multidões, teve em Catilina um terrível adversário, no senado romano, a quem expulsou da cidade, apenas com a palavra. Mas não desejo falar do político, e sim do sábio. Cícero escreveu um belo livro sobre a velhice. E é sobre ele que desejo expor algumas de suas observações e reflexões.

Ele começa o livro alinhando três razões que, para muitos, tornam a velhice detestável: afasta da vida ativa, enfraquece o corpo, priva-o dos melhores prazeres, e aproxima da morte. Com muita sabedoria e bom humor Cícero vai desfazendo tais argumentos. Para ele, é na velhice que o homem adquire sabedoria, clarividência e discernimento. Tanto é assim que as grandes assembléias eram confiadas aos idosos. E cita o exemplo de Esparta, "onde os magistrados mais importantes são velhos".

Quanto à memória – argumenta o autor – “ele nunca soube de um velho que esquecesse o dinheiro guardado..." E explica: "os velhos se lembram sempre daquilo que os interessa, sobretudo os seus devedores..."

A reflexão, um dos atos de inteligência que nos difere dos animais, na velhice é muito acentuada. Abaixo, portanto, a assertiva de que os idosos são esquecidos.

Cícero informa também – e nisso ele foi precoce –, que quem exercita a mente, no estudo e na leitura, jamais enfraquece a memória. E acrescentaremos: assim como exercitamos os músculos do corpo, por que não fazer o mesmo com o nosso intelecto?

E vão, aqui, algumas do velho estadista: "É preciso, na velhice, estar sempre ocupado, sempre botando a cabeça para funcionar". Velhice, como a lâmpada, precisa de óleo. Naquele tempo as lâmpadas necessitavam de combustível.

Mais adiante, Cícero faz esta reflexão: “a velhice é honrada, na medida em que resiste". Nada, portanto, de entrega. Quanto à morte, ela tanto chega para o idoso como para a criança e o jovem. E a estes, até com muito mais frequência.

Eis mais um conselho dado por aquele sábio a fim do idoso melhorar a memória: "toda a noite, antes de dormir, procure lembrar-se de tudo que fez durante o dia. É um ótimo exercício".

Cícero escreve que festas, embriaguez, exagero na comida e na bebida só fazem comprometer a saúde. Ah, as dolorosas ressacas dos jovens! Não é de invejá-las. E que tal esta conclusão do mestre romano?: “Por que temeria a morte se, depois dela, não sou mais infeliz, quem sabe até mais feliz? Aliás, quem pode estar mais seguro, mesmo jovem, de ainda estar vivo até o anoitecer? E quem duvida que os jovens correm mais o risco de morrer do que nós?”...