A Letra Escarlate é uma obra publicada em 1850 de autoria de Nathaniel Hawthorne, que virou filme em 1995, protagonizado por Demi Moore, e g...


A Letra Escarlate é uma obra publicada em 1850 de autoria de Nathaniel Hawthorne, que virou filme em 1995, protagonizado por Demi Moore, e ganhou uma refilmagem em 2015. A Letra Escarlate é um retrato dramático e comovente da submissão e da resistência às normas sociais, da paixão e da fragilidade humanas Veja o trailer aqui.

A obra conta a história de Hester Prynne, que após cometer o “crime” de adultério e engravidar do amante, é sentenciada a usar a letra “A” costurada no vestido. Além disso, Hester só pode sair à rua com um garoto batendo um tambor à sua frente, para anunciar à comunidade que ela estava de passagem. Hester foi uma mulher julgada e condenada a ser constantemente humilhada e hostilizada. A letra que carregava ao peito levava o peso da desonra. A sanha social pela sua desgraça precisava ser saciada, e nada melhor que a aquele símbolo estampado em seu peito para curar a sanha por um justiçamento.

A prefeita de Conde, Márcia Lucena, não tem uma letra “A” costurada em seu vestido. Não estamos mais no século XVI, período em que a história se passa. Mas estamos em tempos de medo, de justiçamentos e apedrejamentos públicos, e na falta de uma letra qualquer para se costurar na roupa, usa-se uma tornozeleira eletrônica. O objetivo, exatamente o mesmo: humilhar e hostiliza, impedir que ela exerça suas funções, trancafiá-la em casa e garantir que a moral e os bons costumes não sejam atingidos pela imagem de uma mulher, que assim como Hester, resolveu que a sua honra e a sua história não precisam de intermediários.

Assim como Hester, que não se furtou a continuar exercendo as funções que uma mulher, numa comunidade extremamente opressora e conservadora, poderia cumprir. Márcia é prefeita. Por força do voto e por força da lei. Ela precisa, e deve, continuar no exercício do cargo. E na falta de um garoto num tambor anunciando sua passagem, temos alguns setores da “imprensa” que conseguem sair gritando que ela está de passagem.

o garoto do tambor, faz barulho, mas não causa medo

De acordo com o que foi divulgado, ela teria “perdido a vergonha”.

Vergonha de quê, exatamente? De ter sido presa sem uma justificativa plausível, baseada apenas numa delação? De não ter tido acesso aos autos do processo? De não ter tido a mínima oportunidade de se defender de forma digna? De continuar exercendo a função a qual foi eleita? De ter sido exposta publicamente como uma criminosa, sem ter tido qualquer crime comprovado?

Ora, qual seria a alternativa de Márcia Lucena? Se esconder? Parar de trabalhar? Fugir das pessoas? Se furtar a usar seus vestidos?

Quantas dessas perguntas poderão, em algum momento, ser respondidas? As mulheres de hoje já não têm mais medo de garotos com tambor.

Cristo era socialista. Cristo era comunista. Cristo andava com os pobres. Daqui a pouco vão dizer que Cristo era cristão. Se alguém quer f...



Cristo era socialista. Cristo era comunista. Cristo andava com os pobres. Daqui a pouco vão dizer que Cristo era cristão. Se alguém quer falar do Cristo que fale como deve ser. Cristo foi enviado pelo seu pai, Deus, para a remissão dos pecados daqueles que cressem em Suas palavras, que eram as palavras de Deus. Cristo não pertencia a qualquer seita, partido ou seja lá o que houvesse naquela época. Ele veio em nome de um reino espiritual e não de um reino material. Para quem não entendeu o “meu reino não é deste mundo”, está na hora de entender.

Cristo andava com os pobres? Cristo andava com quem queria andar com ele e seguir os Seus ensinamentos. Entre os que o acompanhavam havia prostituta, adúltera, doente, deficiente, pescador, coletor de impostos, médico e, depois, um doutor das leis, fariseu respeitado no poderoso sinédrio, que se não O acompanhou fisicamente, devido à diferença cronológica, acompanhou-O espiritualmente, trazendo-O consigo no coração, na palavra e ajudando, como nenhum outro, a edificar a Sua Igreja. Igreja imaterial que se erige onde houver duas ou mais pessoas falando em Seu nome.

Cristo não impunha condições de classes para acompanhá-lO, apenas pedia que aquele que quisesse ganhar a vida eterna deveria largar tudo e segui-lO. Muitos não quiseram, pois estavam mais preocupados em seguir o poder dos bens materiais, não dos bens espirituais. Estavam preocupados em construir casas na areia, não nas rochas.

Não havia restrições de classe, na Boa Nova que Ele trouxe ao mundo. Ele veio como o Belo Pastor, belo nas palavras e belo nas ações, que O fizeram ser reconhecido Bom. Veio como o Pastor que se compromete com as Suas ovelhas, que está disposto a dar a vida por elas. Veio para que TODOS, não importa a classe social e a etnia, tenham vida e a tenham mais abundantemente. A única restrição só dependia das ovelhas: de saber reconhecer a voz do Seu Pastor, de não se deixar enganar pelos que tentam invadir o redil, pulando por sobre a proteção. Cristo é o Pastor que entra pela porta da frente, cujo rebanho conhece e é por ele reconhecido.

Se muitos pobres reconheceram de imediato a beleza do Seu Pastor, não esqueçamos que outros tantos foram favoráveis à Sua condenação, sem a qual, diga-se de passagem, a Sua missão não se completaria.

A tentativa que se vê, portanto, de alguém querer enquadrar o Cristo em uma medida que corresponda aos seus anseios políticos materiais não condiz com a Verdade que ele veio semear na Terra. A Verdade do Amor incondicional, mesmo àqueles que O condenaram e O mataram, não apenas aos que O seguiram.



Os descompromissos do Domingo entregavam a solidão do entardecer amparado na santa monotonia do ocaso, com o sol se aninhando por entre a da...


Os descompromissos do Domingo entregavam a solidão do entardecer amparado na santa monotonia do ocaso, com o sol se aninhando por entre a dança receptiva da folhagem do espesso matagal, moldura que vara o tempo encaixando a mansidão das águas do Rio Sanhauá.

Pausadamente, descendo ao lado do silêncio impregnado na preguiça das ruas, as vezes cortadas por mistura de vultos pacíficos, passos trôpegos e uma canção desconexa de um bêbado retardatário. Perdido.

Uma presença mais forte de sensações tresmalhadas, tocavam esquinas e em ritos secretos ofereciam à brisa uma suave espessura. Sombras e expressões vivas, em cada umbral, átrio, pisos e portais, surgem pendurados na memória que perfilados vão cabendo em prolongados suspiros.

A frontaria, primeira feição urbana da cidade, teima em não esconder traços dos seus ornatos nas rugas do desamparo. Remotas cantigas de amor retomam a prosa, quando a calma em êxtase atordoa, diluindo o poema preso.

Em tudo, o silêncio sincero postado do lado, marcante, arrogante, intacto. Becos e ladeiras se guardam solidariamente, exigindo reverências, interpondo pausas nas sombras sempre retocando espaços no quadro geral do tempo.

A tarde caiu, desfez as distâncias, luzes sutis moldaram novos contornos, quando um rancor limpo se arvora dono e vai até uma sonolência lastimosa, bruscamente vencida pelo impacto da ausência de costumes, que guardem na memória da comunidade a sucessão natural do passado e as penas de se caminhar em passos de valsa nos salões do tempo por essas veredas pajeando cortejos ancestrais.

Ninguém ama o que não conhece... E como sede secante, o pedaço mais precioso do nosso chão, ventre, tronco e alma da velha urbe que nasceu de costas para o mar, lentamente segue na estrada dos séculos se afastando da significação do vocábulo que lhe outorga o nome, Varadouro - sítio onde se reúnem pessoas para descansar ou conversar.

Por mais que achemos difícil a vida nesta cidade do Rio de Janeiro de monotonia é que não se morre. Creiam os prezados amigos que aqui, mesm...



Por mais que achemos difícil a vida nesta cidade do Rio de Janeiro de monotonia é que não se morre. Creiam os prezados amigos que aqui, mesmo nas trivialidades do dia a dia, no mero deslocar-se pelas ruas, ou até no recesso do lar, o cidadão encontra inúmeras ocasiões para encher-se ora de ódio, ora de revolta, ora daquele receio difuso do inesperado.
Como ocorre a quem atravessa uma selva escura e treme ao mero estalido de um graveto seco.

Aqui, como os amigos não desconhecem, é extremamente improvável contratar um serviço, abrir um crediário, adquirir um bem para entrega em domicílio, enfim, qualquer uma dessas comodidades normais em qualquer parte do mundo, sem que surjam problemas de várias ordens, pelo descumprimento descarado do que foi contratado, pela demora na entrega, pelo desaparecimento do produto adquirido e pago, pelo interminável jogo de empurra a que fica sujeito o queixoso ao tentar um contato honesto e franco com o fornecedor faltoso.

A loja onde se adquiriu o produto exime-se de qualquer responsabilidade e limita-se a fornecer esses quiméricos telefones de Serviço de Atendimento ao Cliente - na prática, um simples exercício de humor sádico contra o desavisado cliente. Não é por acaso que as repartições do Procon - que felizmente funcionam muito bem - vivam atulhadas de reclamantes.

Há alguns meses comprei alguma peças de cozinha e banho numa grande loja da cidade - e a atendente convenceu-me a pagar com o cartão deles - "sem juros, sem acréscimo de preço, e ainda contando pontos" para não sei que benesses. Eu, idiota, cri ter surpreendido um leve sorriso maldoso na moça, mas levado por sua extrema urbanidade, cedi.

Ai de mim! Nunca consegui fazer com que me mandassem a fatura do mês, obrigando-me a muitas idas à loja até conseguir que alguma alma boa a imprimisse. Dirigi-me ao gerente, que muito polidamente explicou: eles nada tinham a ver com aquela empresa - uma mera financiadora, com sede no interior de São Paulo e sem escritório no Rio. Passou-me os inevitáveis telefones de contato e até o site da tal firma - boa piada.

Hoje enchi-me de coragem e aí pelas 9 da manhã saí em busca do Procon. Sabia que o escritório se mudara da rua da Ajuda, no centro - um espaço cômodo e bem localizado para todo mundo - para a babélica Central do Brasil.

De fato, peguei o metrô e fui informado por um guarda que teria de adentrar o subsolo do prédio: usando de fé e pensamento positivo, acabaria por encontrar o serviço. E encontrei - mas apenas uma bela placa avisando da mudança da repartição para a Avenida Rio Branco, na altura da Praça Mauá. Encontrei lá tudo funcionando muito bem, cafezinho, água gelada e atendentes educados e competentes. Deixei a queixa registrada e saí, mas no fundo senti que faltava alguma coisa.

Ao atravessar a Marechal Floriano, reparei em uma antiga igreja que há ali, e que sempre me lembra os romances do Machado. Ao dar com o nome do orago, caiu-me a ficha. Chama-se "Igreja de Santa Rita dos Impossíveis". É essa exatamente a invocação adequada para nós cariocas. Como tudo aqui se arma imediatamente em problema de solução improvável, tem-se de recorrer ao Procon - e, como imprescindível reforço, invocar a ajuda dessa poderosa santa para causas desse tipo. E ali mesmo, contrito e cheio de fé, invoquei: "Valei-me nesta causa, minha Santa Rita dos Impossíveis!"

Improviso omoplatas já foram asas nas madrugadas de outrora hoje são asas amputadas cravadas nas minhas costas



Improviso

omoplatas já foram asas
nas madrugadas de outrora
hoje são asas amputadas
cravadas nas minhas costas

Que desça sobre nós uma noite de paz, serena, balsâmica, reconfortante, r e g e n e r a d o r a . . . Pois, havendo amanhã, teremos mais, su...



Que desça sobre nós
uma noite de paz,
serena,
balsâmica,
reconfortante,
r e g e n e r a d o r a . . .

Pois,
havendo amanhã,
teremos mais,
surpresas,
emoções,
movimento,
encontros
e
desencontros,
contratempos e alegrias.

Viver é um mix de estações diferentes
no caminho fantástico,
do Trem que não para jamais.



Agora, ao despertar

Quando abertos temos os olhos d'Alma,
somos capazes de ver mais além,
tocar estrelas estirando os braços,
sentir-se pleno, mesmo sem ninguém.

Pois em nossa trilha de folgados laços,
nós percebemos que o outro também,
mesmo vazio alegando cansaço,
alguma coisa a nos dizer tem.

Vão-se perdidos tempos sem poesia,
partem amargas almas em adeus,
o nunca mais é expressão constante.

Mas Eis que o deserto triste dos humanos,
nossos iguais na terra da saudade,
carrega em si, na Sinfonia do Instante,
o inefável sabor da Eternidade.



Eximir

Eximo meu coração
das explicações
tradicionalmente
exigidas pelo vulgo.

O que observo
são corredores atapetados
de insensatos repetires,
uma alusão constante
ao arrazoado do mundo,
uma insistência triste
junto aos padrões do ordinário.

A tudo desprezo
e
continuo a peleja com o passageiro.

Por muito tempo
tenho conhecido paisagens,
temas, arranjos e passantes.

Por longas eras
tenho colecionado
quadros intocáveis
da humana jornada
entre nossos iguais.

E o diapasão que sopro
é outro
e as canções que solfejo,
são estranhas.

Tão poucos encontro
que falam minha língua,
que entendem minha lira,
que partilham minha verve.

Conto-os nos dedo e
incontinente prossigo
porque é perigosos
revelar tal isolamento.

No entanto, mais uma vez,
ouço dos ventos as mensagens
que não silenciam
a passagem pela terra
amiúda seu passo,
a permanência por aqui
ganha contornos de adeus
e preparo os sinos
para a noite irrepetível
do nunca mais.

O que mais é necessário
revelar aos sensatos ?! ter

Diz o calendário que dia 21 de fevereiro é o Dia Internacional da Língua Materna. Se há fundamento nisso, não sei, mas, se houver, este seri...


Diz o calendário que dia 21 de fevereiro é o Dia Internacional da Língua Materna. Se há fundamento nisso, não sei, mas, se houver, este seria o dia de todas as línguas do mundo, pois cada língua isolada é mãe de uma raça inteira.

E raça, a gente sabe, é um bichinho etnocêntrico que acha belo o que possui e o resto... bem, o resto seria feio.

Foi nesse defeito etnocêntrico que Edgar Allan Poe se baseou pra escrever o conto “Os crimes da rua Morgue”.

No conto – vocês lembram bem - o terrível assassinato só é desvendado pelo astuto detetive Dupin a partir dos depoimentos dos hóspedes do hotel. Esses hóspedes, estrangeiros de países diversos, afirmam, cada um a seu turno, ter ouvido, na noite do crime, uma voz se expressando em língua alheia à sua. Um alemão diz que ouviu francês, um francês diz que ouviu italiano, um italiano diz que ouviu inglês, etc.

Ora, ao ser desvendado o caso, fica-se sabendo que quem matou a pobre moça foi, na verdade, um orangotango, e, portanto, o que os hóspedes do hotel ouviram eram grunhidos do animal enfurecido.

E por que atribuíram a línguas estrangeiras? Simples: por motivos preconceituosos, ou seja, porque cada um deles achava muito feias as línguas alheias, as que supunham estar ouvindo. E foi justamente esse princípio da – digamos assim – “etnofobia” que ajudou Dupin no desvendamento do acidente.

Sempre me intriguei com o conto de Poe, e relembrei-o agora por causa da data.

Afinal de contas, a língua materna é bela e as alheias são feias – será que é assim mesmo?
Não que o conto de Poe seja inverosímil, mas eu, pessoalmente, acredito que toda língua é bela, e se a gente não acha é por causa de nosso intrínseco etnocentrismo. O russo, o chinês, o sueco, o tupi-guarani me parecem esquisitos, mas, creio que tenham lá suas belezas, que meu ouvido etnocêntrico não está apto a captar.

Aliás, nós, brasileiros, temos orgulho em afirmar que o Português é belo, mas, a rigor, a língua mais difícil de ser esteticamente julgada é exatamente a materna, pelo simples fato de que, falantes nativos, temos dificuldade de apreciar sua eventual musicalidade, sejam quais forem suas qualidades estéticas.

Vejam bem. Ao ler em voz alta que minha língua é a “última flor do Lácio, inculta e bela, és a um tempo, esplendor e sepultura, ouro nativo que ganga impura a bruta mina entre os cascalhos vela” fico confiando que Bilac tem razão, que o Português é mesmo lindo, e tudo mais... Mas é quase uma questão de fé. E, na minha impossibilidade de julgar, imaginando como será que o Português soa pra um ouvido estrangeiro.

Uma vez, tive um depoimento que quase valeu. Com bolsa de pesquisa da Fulbright, eu estava residindo nos Estados Unidos e, como o alojamento de minha universidade fechou para férias, fui morar por uns tempos com um amigo brasileiro, de Minas. Um certo dia, estávamos nós, digo eu e meu amigo mineiro, fazendo a feira da semana, num pequeno supermercado de Bloomington, Indiana. Discutíamos à vontade sobre o que levar, ou não levar, talvez falando um pouco alto. Na hora do pagamento, a moça do caixa, muito sorridente, nos disse que “your language is very beautiful”. Ficamos alegres de saber que uma americana achava bonita a língua portuguesa, mas só ficamos até certo momento, pois logo ela acrescentou que sempre achou o “francês” uma língua muito bonita.

Tudo bem, não era francês que falávamos, mas o amontoado de sons que a moça americana ouviu, ela achou bonito, e suponho que isto vale.


Sou daqueles que acordam cedo. Logo eu, que já fui notívago de carteirinha e que varava a noite nas areias do Cabo Branco, entre violões e p...


Sou daqueles que acordam cedo.

Logo eu, que já fui notívago de carteirinha e que varava a noite nas areias do Cabo Branco, entre violões e poesias. Tanto que ganhei o apelido de zumbi, que acabou gerando meu primeiro livro e depois o nome de um blogue muito acessado que tive nos idos de 2000.

Hoje, durmo cedo e madrugo quase sempre. Daí, no silêncio da madrugada, tateio livros e miro nos voos da arribaçã.

Quando as cidades acordam, geralmente já tenho feito vários desses voos. Costumo chamar esse meu hábito de madrugar de “diálogo com o silêncio”.

Porque é isso, de fato. Sem a azáfama e o turbilhão de respirar a sobrevivência que temos que conviver todos os dias, volto para meus interiores em diálogos silenciosos com meus achares.



Sou daqueles que dá a bênção a padrinhos, madrinhas, tios, tias e mãe até hoje.

Gostava de pedir a benção de mãe cedo, quando acordava com o cheiro de seu cuscuz e do café no antigo Solar dos Guedes, já que meu eterno quarto de solteiro (sim, casei várias vezes, mas aquele quarto nunca era desativado) ficava parede e meia com a cozinha.

Hoje, as coisas mudaram. O Solar dos Guedes foi vendido e mamãe, por conta de suas limitações físicas, não faz mais o café e geralmente ainda está no quarto quando saio pra rua.

Mas quando chego em casa no final da manhã, ela senta na cama para me abençoar, e sinto que tudo continua leve como antes.

Seu sorriso me abençoando me transmite uma paz que só as mães conseguem transmitir.



Reclamar de fantasia dos outros no carnaval é a mesma coisa que reclamar de Jesus na igreja.
Carnaval sempre foi transgressão, ousadia...

Ser politicamente correto no carnaval é um saco!

No Espiritismo não existe hierarquia, não há sacerdotes, nem apostolado, nem proselitismo. A religião, filosofia e ciência espíritas parte...



No Espiritismo não existe hierarquia, não há sacerdotes, nem apostolado, nem proselitismo. A religião, filosofia e ciência espíritas partem do princípio de que todos somos iguais, somos imperfeitos e estamos aqui para aprender, na nossa caminhada para a luz. Assim, o Espiritismo é acolhedor, sem perguntar quem é quem, de onde vem ou o que tem. Acolhe, indiscriminadamente todos os que o procuram, não estabelecendo tampouco regras de conduta, tendo em vista que cada é responsável pelo que faz, de bom ou de ruim. A única regra que alguém poderia tomar como exemplo é aquela universal, adotada por várias religiões: Não faça ao outro o que você não quer lhe façam. Além disso, o Espiritismo prega a caridade desinteressada, buscando aliviar a dor dos que sofrem.

Quando digo que há pregação, não estou me referindo a pregadores especiais que precisam da chancela de algum superior. Não há superiores, como já disse, somos todos iguais na nossas imperfeições e qualquer um que estude a doutrina estará habilitada a dar palestras, não a fazer pregações, cujo intuito não é acusar ou proibir a ação do outro, mas despertar o seu semelhante para o respeito e acolhimento fraterno do seu irmão.

Há quem, dentro do Espiritismo, se ache melhor do que outros. Isto é comum em qualquer religião, em qualquer agregado humano. No entanto, quem se acha assim é porque desconhece a doutrina que prega a humildade e autoconsciência, caminhos para a reforma íntima, caminho para a nossa mudança, pois não existem transformações se ela não começa em nós mesmos.

Digo isto, porque tenho visto muita gente cobrar militância política do espírita. A militância política fica para quem tem partido político. Não há partidos políticos no Espiritismo ou pelo menos não deveria haver. Tampouco ninguém que seja espírita deve ser impedido de fazer militância, se achar que deve. Suas ações são sempre responsabilidades suas e de mais ninguém. Apenas digo que um dia de ação real, junto aos que sofrem, que se realiza, por exemplo na Mansão do Caminho, vale mais do que anos de militância e de palavreado estéril.

Não importa quem esteja no poder, ele passará. Já a doutrina espírita continuará imorredoura, como sempre foi.

Já subi e desci ladeiras em Olinda, me perdi na Sé e me encontrei com Elefantes e Pitombeiras nos Quatros Cantos onde beijei na boca de Al...



Já subi e desci ladeiras em Olinda, me perdi na Sé e me encontrei com Elefantes e Pitombeiras nos Quatros Cantos onde beijei na boca de Alçeu com gosto de cajú e manga.

Brinquei o melhor Carnaval da minha vida em Tiradentes - MG. Dancei num chão de areia grossa onde se esparramava mais o corpo do que provavelmente se dançava, ali no centrão de Salvador onde a Praça Castro Alves é do povo e tem um cheiro novo. Onde subi praia da Barra acima com o joelho bichado, depois de um pulo mal dado numa quarta-feira de fogo, e me via agora como pipoca, pois fui sair da corda quando me disseram que bom era ver o Ilê, logo ali concentrado, e depois sentir o tamanho das mãos dos Filhos de Gandi.

Ó paí, ó!...Me vi na Marquês, sim, de Sapucaí, me sentindo show na passarela que lá vinha eu, depois do Suvaco, Simpatia e da Banda de Ipanema. E tome bloco!

Rodei centenas de vezes em clubes, dos 13 aos 18, 19, ao som de "a nossa vida era um carnaval", de arlequim e pierrô. Até pescadora de piabas já fui e não sei o que houve com a antes atleta do bloco, com tudo que agora só tem medo de tiro e endurece as pernas e coxas, tirando toda vontade de ver a Banda de Chico passar, sem que não seja só da janela?

Eh!...oooh... arreios de prata me achando prateada, virada na belle de jour!... Quarta, quem sabe eu vá...


Um romance que sempre me persegue e que é contado o dia em que não me vejo nele é “Bolsos vazios” de Allyrio Wanderley. Quando menos esper...



Um romance que sempre me persegue e que é contado o dia em que não me vejo nele é “Bolsos vazios” de Allyrio Wanderley. Quando menos espero, estou como Assuero, um de seus personagens mais fortes, comprando o bilhete ou arriscando na versão atual da loteria, que representava o único sol promissor por entre as sombras desalentadoras do mundo de Cimaldo, o protagonista do romance. Mundo em que muitos apostam todas as fichas na cidade grande, como o próprio Allyrio, e terminam de almas retirantes como particularmente me sugere, agora, a visão física dos afogados na enxurrada paulistana.

Por que essa compulsão de toda uma vida em consciente busca da incerteza? Também a sorte, se não tem me favorecido com as peque- nas fortunas, nunca tem me faltado com os afetos da banca. Na adolescência, carregando os talões de bicho que o tio Viana passava no Alto do Seixo, em Campina e em João Pessoa, desde o primeiro mo- mento, com a amizade do tenente Rubinho Falcão.

Mas nunca estou livre de ser atormentado por aquele horizonte denso e sem esperança da pouca fortuna em que se encobrem Cimaldo e Assuero.

Recrimino-me, com as condições que tive de in- fluir, não ter reeditado esse romance em que mais me vi personagem.

Ascendino Leite bem me chamou a atenção para aquela preparação de tragédia que é toda a narração e que consiste nisso, nessa falta de ar, de luz, de esperança, a vida encerrada na incerteza. A quimera como a única fava contada.

Ponhamos os olhos da consciência neste entrecho: “A primeira visita que recebi naquele porão da rua Vitória, onde agora apodrecia entre aspirações e percevejos, foi a
de Assuero:

“Homem, você vai descendo que é uma maravilha... - É exato; já estou com terra pela cintura.”

E foi assim, a ficção de Allyrio me acontecendo em plena luz do dia, a realidade causando arrepios. Não mais hoje, na idade das esperas inelutáveis, mas no tempo em que no meio do caminho sempre batia numa pedra.

Há dez anos eu estava prestes a concluir uma etapa importante da vida, meu doutorado. E para escapar da angústia da pressão interior, depo...



Há dez anos eu estava prestes a concluir uma etapa importante da vida, meu doutorado. E para escapar da angústia da pressão interior, depois de um dia de trabalho, eu ficava navegando na internet olhando lindas paisagens. E assim me deparei com uma fotografia da pequena cidade baiana de Mucugê. No dia seguinte falei para o meu filho: “vamos para Mucugê?”. Então com 7 anos me perguntava: “o que é isso mamãe?”. Respondia: um lugar lindo!!!!!!

Quando dizia vamos para Mucugê aspirava profundamente deixar os papéis, as ideias, as pressões, o cansaço, o vazio, a solidão, a cobrança interna, o labirinto dos livros que lia, todas as teorias, sair correndo, colocar a mochila nas costas e partir. Mas naquele momento da vida não era possível. Meses depois, concluí o doutorado e, logo em seguida, assumi outras responsabilidades.

Esperei longos anos por motivos sérios ou banais para pegar o rumo sentido Chapada Diamantina. Eu que tenho uma quase devoção por cachoeiras e sou tomada por forte emoção quando vejo uma. Assim foi na Chapada dos Guimarães, ou no Roncador e Ouricuri. Penso que onde tiver uma cachoeira ali estará um pouco de minha alma.

O que pude descobrir recentemente na Chapada Diamantina foi um caminho de retorno para dentro de mim. Não que houvesse me deixado, ao contrário, me conjugo no tempo presente. Só que me senti como o protagonista do livro “Jemmy Button: o menino que Darwin levou de volta para casa” (Jeneffer Uman, Alix Barzelay e Valerio Vidali. Ed. Pequeno Zahar, 2013). O personagem, nascido na Terra do Fogo, foi “levado” para a Inglaterra para ser “civilizado” e “educado”, por uma expedição que trouxe Darwin a América do Sul. O final desse livro que não vou contar, é um dos mais lindos finais de livros que já li. E na singularidade de um livro infanto-juvenil ele nos diz dos lugares mais profundos que existem dentro da gente, por vezes adormecidos, esquecidos. Que estão e estarão sempre lá, mesmo que a gente feche a porta e engula as chaves. Esse lugar nunca vai deixar de existir.

A gente pode até passar dez anos para poder abrir uma porta novamente, só que as frestas vão se formando, encontrando os lugares de ruptura e espalhando luz. Chegar recentemente na Chapada Diamantina foi uma jornada, não a do herói de Joseph Campbell. Foi uma trilha de volta a um lugar existente sempre, só que submerso por vezes numa total escuridão. Tão simples: meus pés alados, e as paisagens se movendo pelas “janelas do carro, pela tela, pela janela”… e tudo de mais singular acontecendo nesse movimento subjetivo, indivisível. Ou não acontecendo nada, simplesmente existindo sem mais nem menos, assim como anoitece e amanhece.

E sabe que no trajeto até desisti de ir, nesse momento, a Mucugê, só para ter uma razão para voltar. Fui fazendo outras trilhas, caminhos que custam descrever porque as palavras nesse momento não alcançam a profundidade desse poço que voltei a mergulhar. Assim fui percorrendo as cachoeiras, os rios, as cavernas, com “o sol na cabeça”.

Na primeira Lua Cheia do ano, não temer a mata. Estar na noite, em silêncio, escutando as águas como se fossem parte de minhas veias. Inundada no azul-marinho do céu, observando a Constelação de Órion. Tocando com meus pés pedras milenares, torneadas pelas águas, ora duras, ora macias, frias e suaves, que formavam um mosaico que nunca Gaudí alcançou compor.

Não era estranho, era um lugar de retorno, mesmo sendo um espaço onde nunca estivera. Aparentemente. Nesse processo evolutivo, muito do que somos está em tantos lugares espalhados Universo a dentro, mundo afora. E mesmo que tudo possa parecer um déjà vu, a sensação é de redescoberta do mundo.

Nessa experiência desci as profundezas de uma caverna, e nunca pensei que o silêncio e a escuridão profunda num lugar como esses me falassem tanto à alma, fossem como uma meditação, um religare. Mesmo com todos os obstáculos, não foi difícil descer a caverna, mas simplesmente ter que deixá-la. Quis me deixar por lá vagando naquela escuridão pertinente. Inevitável não lembrar de Platão. Será que havia entrado numa dessas? Será que a Terra seria essa ilusão, alegoria?

Desde que tive que sair de lá e voltar para o mundo exterior fiquei me sentindo diferente, como se o anoitecer, e o crepúsculo me chamassem de volta à poesia daquele lugar, como se as galáxias e seus buracos negros fossem uma extensão daquilo que sou...

Terás, algum dia, aristocrata, borboleta de verdade de gravata? Aí quem sabe se cancele, na tua sala, a cabeça do antílope morto à bala, e s...


Terás,
algum dia,
aristocrata,
borboleta de verdade de
gravata?


quem sabe se cancele,
na tua sala,
a cabeça do antílope morto à bala,
e surja,
ali,
um Botticelli!



como o hino
em que,
paulatino,
na semana santa,
tramita o arremedo
de um samba-enredo

... e,
na Paixão - prévia da … Ressurreição - vê que o Momo,
ninguém sabe como,
passa a ter,
na coroa,
espinhos,

em lugar das vedetes - nuas - e atléticos parceiros
fazendo das suas,
bem brasileiros,
em eufóricos carros alegóricos ( até gongóricos ),
inzoneiros,
o Cristo... praticamente nu,
crucifixão a cru,
ele sempre em lentos andores,
cheios de fiores,
o povo a entender o aviso,
com medo:
de que a vida não é brinquedo.



Sei que não há,
por exemplo,
na Natureza,
Justiça como a entendemos
e
( se previna ),
nem — como você aprendeu num templo — a... Divina.

A mim me fascina... não ser de Tupã o trovão,
e que a ira tenha outro nome:
fome,
na onça, lobo
e leão.

(excertos de Vida Aberta - Tratado Poético-Filosófico)

A Grécia Antiga foi conquistada pelos romanos com o uso da espada, mas este povo espezinhado venceu seus opressores com sua inteligência, ...



A Grécia Antiga foi conquistada pelos romanos com o uso da espada, mas este povo espezinhado venceu seus opressores com sua inteligência, pois tinha a cultura como principal arma. Para chegar à vitória silenciosa, o livro se sobrepõe às catapultas, às espadas, aos canhões e ao muque agressor.

Quando Nero destruiu a Biblioteca de Alexandria, imputou aos cristãos esse crime, numa tentativa de incriminá-los. Os ditadores não aceitam a cultura como alimento para a alma, porque sabem que podem destruir o corpo, mas nunca o que está armazenado na mente.

Povo unido é povo invencível. Jesus mudou a História da humanidade com a Palavra e com gesto de inigualável sabedoria. Spartacus abalou os alicerces de Roma com um bando de descamisados. A Palavra transformada é uma arma que não fere, mas muda a vida das pessoas.

Vem de muito longe a ideia de que a arte é fermento para a desordem, porque há por parte dos governos totalitários o imperativo desejo de impedir manifestações artísticas. Nenhum sobreviveu. Nem mesmo o Império romano com todo seu poderio, que na época amedrontava a terra, sobreviveu à força silenciosa da palavra.

Por considerar que incitavam a consciência renovadora, o ditador Getúlio Vargas mandou queimar obras de José Lins do Rego, Jorge Amado e de outros escritores, agentes do saber que defendiam acessos ao conhecimento e a renovação de mentalidades.

Estas passagens me acodem quando numa noite de pausa nas leituras, recebo mensagem de um amigo que é apaixonado por bibliotecas, desses que se dispõe a organizar montanhas de livros de modo que facilite o acesso dos leitores. Mostrava-se preocupado porque cada vez mais os governantes revelam o desprezo pelas bibliotecas. Os municípios já não se preocupam em instalar biblioteca pública. O que deveria ser o contrário.

Entre nós temos dedicados homens que trocam sua vida pelos livros, fazendo do seu espaço uma casa do saber, as paredes perdendo a feição de tijolos para se transformarem no mundo da imaginação.

Em décadas passadas, em nossa cidade, tivemos alguns entusiastas pelos livros que transformaram suas casas em moradas de histórias. Reunir livros em tornos de si era como recolher pedras preciosas. Uma dessas pessoas era o jornalista Waldemar Duarte que recolhia pelos corredores de sua casa as obras literárias que chegavam às suas mãos, deixando-nos receosos de andar por entre as pilhas de livros que cuidava com esmero.

Em mais de cinquenta anos convivendo com a literatura, o poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho caminha por entre seus dezoito mil livros com desenvoltura, capaz de retirar um da estante sem embaraço para conferir uma frase, um poema, recordar uma passagem de algum romance.

O bibliotecário Marcos Rodrigues é um cavaleiro solitário a andar pelos municípios animando a reestruturação das bibliotecas, removendo dos campanários das cidades os moinhos de vento construídos pelos agentes públicos. Luta renhida, mas silenciosamente reconstrói um mundo onde as pessoas, sobretudo os jovens, haverão de agradecer porque chegaram até eles essas preciosidades.

Mesmo que os tiranos ateiem fogo nas montanhas de obras literárias, estes nunca conseguirão retirar da memória das pessoas a semente de mostarda que os livros plantaram. Sempre haverá alguém que guardará um livro como recordação. Mesmo que demore a ser descoberto, guardará um registro da história da humanidade.

As bibliotecas sempre serão refúgios silenciosos.


Já conhecemos um pouco o perfil do monsenhor Myriel Bienvenu, bispo de Digne. Na criação de Victor Hugo, para Os Miseráveis, mais do que u...



Já conhecemos um pouco o perfil do monsenhor Myriel Bienvenu, bispo de Digne. Na criação de Victor Hugo, para Os Miseráveis, mais do que um justo, o monsenhor era um santo, ainda que assim não se considerasse, claro.

Criando duas vacas, na nova morada – o antigo hospital, que já não comportava os doentes da cidade, os quais ele alojou no palácio do bispo, por ter mais espaço do que ele precisava –, monsenhor Myriel destinava metade do leite diário ordenhado para os doentes, com a consciência de que pagava, assim, o seu dízimo – “Je paye mon dîme” (Parte I, Livro I, Capítulo VI).

As atitudes do monsenhor Myriel demonstram claramente como as instituições sociais, religiosas ou leigas, cometem habitualmente erros gritantes, verdadeiros disparates, para atender luxos e comodidades não condizentes com as urgentes questões sociais. O palácio destinado ao bispo é um imenso espaço sem utilidade prática, que não seja o triunfalismo ostentatório da Igreja, enquanto o hospital municipal dispõe de pouco espaço e de parcos recursos. Por outro lado, o dízimo pago pelos fiéis, só revertendo para o lado da magnificência material da Igreja, tem destino semelhante aos impostos pagos pelos cidadãos, mal empregados, de modo contumaz, pelos poderes públicos.

Monsenhor Myriel é um revolucionário não das palavras ocas e fáceis, mas da ação transformadora, pacífica, silenciosa, sem alarde, sem gritos e sem holofotes, invertendo uma lógica cuja irracionalidade não é fácil de perceber, porque óbvia: renuncia ao palácio do bispo e ainda paga o dízimo aos pobres, recebendo a todos, sem distinção, sem discriminação, sem querer saber o nome ou a origem. Ele parte do princípio de que se alguém o procura é porque necessita de auxílio. A vida do monsenhor Myriel é um retrato fictício, é bem verdade, mas não deixa de ser plausível, pois é a vida de quem vive o Evangelho e não apenas o prega, tomando como base dois lemas (Parte I, Livro I, Capítulo VI):

“La porte du médecin ne doit jamais être fermée; la porte du prêtre doit être toujours ouverte.”
(A porta do médico não deve nunca estar fechada; a porta do padre deve sempre estar aberta.)

Ne demandez pas son nom à qui vous demande un gîte. C’est surtout celui-là que son nom embarrasse qui a besoin d’asile.”
(Não perguntem o nome a quem lhes pede um abrigo. É sobretudo aquele, cujo nome é motivo de embaraço, que tem necessidade de asilo.)

O monsenhor Myriel Bienvenu, bem-vindo como o seu sobrenome insinua, sendo um digno bispo de Digne, numa onomástica perfeita usada por Victor Hugo, dá lições práticas aos poderes públicos e à Igreja de como se deve tratar com dignidade os necessitados, tornando-os bem-vindos ao seio de Deus e da sociedade, sem distinções e, sobretudo, sem propaganda.

Sempre fui apaixonada por Londres. Por ter estudado Inglês desde sempre; por adorar os Beatles; Outras tantas referências dos anos 70. Já ...



Sempre fui apaixonada por Londres. Por ter estudado Inglês desde sempre; por adorar os Beatles; Outras tantas referências dos anos 70. Já fui lá algumas tantas vezes, continuo apaixonada, tenho irmã que mora no País de Gales há mais de 30 anos e agora dois sobrinhos morando e trabalhando em Londres. Fora alguns amigos, poucos. Mas bons.

O meu sonho? sempre foi morar em Londres algum momento da vida. Mas a vida toma rumos por vezes fora do nosso controle e o máximo que consegui foi morar um ano na University of Warwick. Foi tudo tão intenso que, vivi tudo que sonhava: estudar, fazer amigos, bibliotecas e livrarias e principalmente as estações do ano e o countryside Britânico, que amo de paixão.

Agora, com o Brexit, chorei ao acompanhar essa vitória nacionalista que vai de encontro a tudo que é moderno e sem fronteiras dos mundos de hoje. E eu que ainda tinha planos de passar tempos da 3a idade por lá! Agora nem a passeio, com a Libra a quase 6 reais, ficou difícil.

Acho que em outras vidas, morei numa daquelas cottagesinhas, em Cotswolds ou na Cornualha! Tomando G&T, ou chá de bergamota com muffins...

É possível que, a pedido de Petrônio Souto, as duas ladeiras que separam Alagoa Nova de Areia venham a ser transformadas em estrada lustro...



É possível que, a pedido de Petrônio Souto, as duas ladeiras que separam Alagoa Nova de Areia venham a ser transformadas em estrada lustrosa e lisa da marca João Azevedo. Para isso, meu prestígio e cocô de louro se equivalem. Desde Assis Camelo em sua primeira legislatura, ele no poder, fazendo carreira ao lado de Pedro Gondim, de João Agripino, de Ernani Sátiro, de Ivan Bichara e de Tarcísio Burity que fazemos fé nessa estrada, que só agora vem aparecer em linha verde no mais novo mapa do DER. Linha verde, nas legendas, quer dizer “implantada”. Dr. Carlos Pereira de Carvalho e Silva me avisara.

E aluguei um táxi a pretexto de tomar a benção de um tio velho da Rua do Tacho, em Alagoa Grande, e na despedida, depois de voltear céu acima a serra da Beatriz, quebrei à esquerda na descida, em Várzea Nova, contendo a alegria do menino e rapazote que eu havia deixado há mais de setenta anos molecando pelas bagaceiras de engenho que adoçavam o ar e aceleravam o coração até chegar à igrejinha de São Sebastião na entrada de Alagoa Nova. O vértice era a venda arrojada de seu Manuel Pereira, a meio caminho de Vitória, a engenhoca de meu pai, cuja ex-casa-grande se reduz hoje a um sótão enxameado de morcego.

Faz mais de oitenta anos, Petrônio, filho de Mário, sobrinho de Chico, meu sobrinho! Mais de 80, acredite! Vencida a ladeira que vinha lá de casa, parei para pedir água na janela de Manuel Pereira, subi na ponta dos pés para ver lá dentro, e dei com os olhos no pirão de domingo do major, ele na cabeça da mesa a medir força com a trunfa de couve, de repolho, o mocotó por cima, tudo boiando por cima do escaldado, levando-me da sede em que eu vinha à fome profunda, incurável. Sim, Petrônio, porque pirão daquele só se vê uma vez na vida e no mundo.

Não será com fome diferente que temos pedido esses 7 minutos de estrada em 100 anos de sacrifício para chegar às feiras, à escola, ao mercado, aos serviços e assistência oferecidos ou intercambiados com as matrizes da redondeza.

Muito sabidos, os governos nunca atentam para a renovação das terras brejeiras sucumbidas na crise feroz dos engenhos. Crise que transformou o senhor em simples fornecedor de cana para as usinas. Mas o que sucumbiu foi a rapadura; os espigões e vales profundos continuam argilosos e vermelhos viçando por qualquer produto que dependa de terra úmida, garanhona e de bons ventos. Tanto é assim que o vale do Capim Açu, até há pouco de fogo morto, já se recobre de novo plantio, safra nova, nova paisagem monopolizada pela maior produtora de aguardente da região. Enquanto a estrada não vem, onde eu não posso botar meu Clio, Luiz Magno, rico doutor, por conta própria, está forçando a entrada com seus tratores e colhedeiras. Quem morreu foi meu pai, a sua vizinhança, mas o vale continua a desafiar os seus sucessores.

Ele o tomou nos braços com a voracidade de um sedento. Sua sede não era de água, tampouco de pão. Por não poder enxergar, quis sentir. Senti...


Ele o tomou nos braços com a voracidade de um sedento. Sua sede não era de água, tampouco de pão.

Por não poder enxergar, quis sentir. Sentir a vida, ouvir o coração do infante em seu compasso binário.

Na verdade, o que ele desejava era transferir amor, trocar carinhos, demonstrar bem querer, nem que para isso tivesse de se desamarrar da velha sisudez.

Avôs, fala-se, são pais duas vezes.

Enternecem-se, abundantemente, com o simples cheiro de lavanda que exala da tez aveludada do neto.

Abobalham-se com o sorriso maroto, com o balbuciar de sílabas desconexas e com o grito fino de uma voz que ainda se põe em formação.

São assim os avôs. Bobos, apaixonados, zelosos em demasia, inconstantes por vezes, frenéticos, irritadiços, claudicantes em suas emoções.

Mas, sempre absortos e enlevados pela doce brincadeira de ser avô.

É um bastar-se no fim de suas vidas.


Pela voz do Monsenhor Myriel Bienvenu, Bispo de Digne e personagem de Os Miseráveis, o escritor Victor Hugo mostra um pouco da sua faceta ...


Pela voz do Monsenhor Myriel Bienvenu, Bispo de Digne e personagem de Os Miseráveis, o escritor Victor Hugo mostra um pouco da sua faceta espiritualista e, diria eu, espírita, pois muitas são as passagens dentro desse monumental romance que apontam para esta convicção. Eis um dos exemplos do pensamento inquestionável desse caráter do romancista e poeta, em tradução nossa:

Hamurabi, fundador do Império Babilônico, criou o mais antigo código de leis escritas e o divulgou afirmando que o recebera do deus-sol Sham...


Hamurabi, fundador do Império Babilônico, criou o mais antigo código de leis escritas e o divulgou afirmando que o recebera do deus-sol Shamash, como pode ser visto no relevo que há no topo da estela, no Louvre. Os hebreus gostaram dessa justiça à base do olho por olho, dente por dente, da ideia de se manter a ordem pública transformando-se o superego de todo cidadão num agente secreto onisciente – Deus -, e criaram a história similar de que Moisés teria recebido o Decálogo diretamente das mãos de Jeová, no Sinai.



Explique-me a existência de ricos que se dizem cristãos, mesmo sabendo que no Evangelho está dito que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um deles entrar no reino dos céus. Alguns alegam justamente que houve confusão dos tradutores de Mateus 19.24, entre kámelos – camelo – e kámilos – corda, mais ainda assim a coisa é impossível. Já outros dizem que agulha era uma passagem estreita, nas muralhas, pelas quais passavam os cameleiros... com muuuita dificuldade, mas passavam…



Um dos monólogos mais famosos do mundo é o Ser ou Não Ser. Ao rever uma cena de filme mudo com a "mocinha" desmaiada numa das duas variantes de uma estrada de ferro, em que o trem vem vindo, "vi" o que Hamlet realmente sentiu, quando disse que se não temesse o inferno, cometeria o suicídio.



Digo e redigo que a lição do Calvário é precisa. Cristo morre entre o bom e o mau, todos dois...ladrões. "Quero ficar mais rico" - diz o da Direita. "Quero sair do miserè" - diz o da Esquerda. E o meio é um só: roubar o dinheiro sem dono, que é o do povo. Qual o problema? Falta de um sistema.



FREQUENTEMENTE ME SINTO EXILADO, AQUI EM JOÃO PESSOA, ONDE o Ariano Suassuna dizia que NÃO SE TROCA O OXENTE PELO OK DE NINGUÉM. Liga-se o rádio do carro, música americana, vai-se ao cinema,filme americano. anda-se nas ruas e só o que se vê é house, car, fashion, fit, hair, como se 99 % da população falasse fluentemente o inglês. Todo gringo, aqui, deve se sentir em casa.

(pensamentos avulsos)