Entre a enxada e o computador, vai um abismo que separa a nossa pré-história do estágio em que fazemos viagens fora da Terra, aspirando à conquista do espaço cósmico. O paradoxal é que, enquanto supercomputadores calculam as trajetórias
Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser ...
A máquina imperfeita
Entre a enxada e o computador, vai um abismo que separa a nossa pré-história do estágio em que fazemos viagens fora da Terra, aspirando à conquista do espaço cósmico. O paradoxal é que, enquanto supercomputadores calculam as trajetórias
A melancolia acompanha o homem desde os seus primórdios, confundindo-se com o desencanto consequente à perda do Paraíso. Na literatura ocid...
Por uma poética da melancolia
No princípio era o verbo, mas o que era mesmo esse verbo? Signo, carne, luz? Dependendo da resposta que cada um venha a dar, tem-se um mís...
A palavra e o palavrão
1 O individualismo é a verdadeira religião universal. Como o indivíduo não se liga a grupos, credos, partidos, não exclui ninguém; está s...
Croquis (2)
1 O maior favor que o escritor pode fazer ao leitor é ser sincero. Geralmente os que fogem à sinceridade o fazem por medo do ridículo, co...
Croquis
Entre os ofícios de pai, está o de comemorar o aniversário dos filhos – e comemorá-lo da melhor forma possível, provendo-o não apenas do m...
Traição de pai
O poema “Barcarola”, inserido por Augusto dos Anjos no Eu, remonta a uma tradição cultivada pela poética medieval. Segundo Segismundo Spin...
Uma barcarola de Augusto dos Anjos
Num dos episódios de “ The Crown ”, o personagem do príncipe Philip recebe a visita dos três astrona...
Sonho cósmico
Segundo o criacionismo, o mundo foi criado por Deus. Isso, a meu ver, de modo algum O recomen...
Sobre a Criação
Há quem atribua nossas lacunas e arestas ao material de que fomos feitos – o barro. Por que Deus não usou um material mais resistente? Ou mesmo um desses produtos modernos, como o silicone? Algumas mulheres procuram hoje reparar o equívoco enchendo partes do corpo com esse nobre produto sintético. Mas é tarde. Por mais que plastifiquem a anatomia, a base continua lá, envelhecendo e se preparando para voltar à lama.
Deus usou o que tinha à mão, e só dispunha de seis dias. Era muito pouco para providenciar a Natureza com suas árvores, rios, vales, montanhas. Como seria possível, nesse prazo exíguo, trabalhar cada artefato com esmero? Um dos enigmas da Criação é saber por que Ele, sendo o patrão de si mesmo, trabalhou num prazo tão curto. Talvez não gostasse do que estava fazendo.
Como se não bastasse a exiguidade do prazo, Deus resolveu fazer o homem no último dia, ou seja, quando já estava exausto e tudo que queria era descansar (o trabalho foi tanto, e sob pressão, que Ele descansa até hoje). O efeito dessa pressa é que Adão foi um protótipo mal testado. Isso constituiu uma brecha para o descalabro que se seguiu: veio a Serpente, assessorada por Eva (ou vice-versa), e levou o primeiro homem a provar do fruto proibido. Adão pecou e logo descobriu, envergonhado, que estava nu – o que é estranho. Como ele poderia se perceber nu se nunca tinha usado roupa? O fato é que, devido a esse primeiro pecado, perdemos o Paraíso e nos tornamos mortais.
Geralmente se considera a morte a pior coisa que pode nos acontecer, mas há nisso um contrassenso. As pessoas aceitam de bom grado que o homem é um ser vivo – nasce, alimenta-se, cresce – mas acham um absurdo que ele vá morrer. Ou seja: querem da biologia apenas o que ela traz de bom. É como se depois de nascidos e já formados devesse ocorrer em nós um cancelamento das leis naturais e alguma forma de transcendência viesse nos animar; alguma coisa que daria a nossas células a eternidade. Infelizmente não é assim, de modo que o melhor é tratar de comprar o jazigo (pode ser em prestações). Tem gente que deixa para fazer isso literalmente “na última hora”, o que não é aconselhável. Comprando logo pode-se escolher o lugar e, com sorte, a vizinhança.
Teorias como a do Big Bang sugerem que a Criação está em curso. O universo continua a se povoar de luas, estrelas, galáxias, buracos negros. E agora, aparentemente, sem o controle divino. Deus pretendia que o Cosmo se resumisse à Terra, ao Sol e a alguns poucos corpos celestes, mas parece que perdeu o controle. Outros dizem que Ele continua descansando, mas um dia acorda e vai dar um sentido a tudo isso. Só nos resta esperar.
Quando os negócios vão bem; quando tivemos um dia até satisfatório de trabalho; quando nos preparamos para dormir confiantes no dever cump...
A 'coisinha'
“Toma um fósforo! Acende teu cigarro!” Já se vão mais de cinco décadas desde que ouvi esses versos pela primeira vez. Quem os citava era u...
Sob o signo da culpa
O fanático é alguém excessivamente aferrado a um credo, um sistema, uma ideologia. Ele não manifesta apenas uma adesão; de tal...
Fanatismos
Gilberto Freyre escreveu dois artigos de enorme importância para a bibliografia crítica de Augusto dos Anjos. O primeiro foi redigido em i...
Gilberto Freyre, leitor de Augusto dos Anjos
Ainda não sei por que me dispus a cursar Medicina. Filho e sobrinho de professores, sempre estive ligado ao...
Mudança de curso
A poesia de Olavo Bilac caracteriza-se pelo rigor formal e pelo despojamento na expressão dos estados emocionais. É comum acusá-lo de cere...
Melancolia e erotismo em Olavo Bilac
Espólio Do que vivi, estou morto. Mas, no porvir, ressurreto. Haverá sempre algum porto onde ancorar meu desejo. Ao recua...
Ensaios Poéticos (2)
Do que vivi, estou morto. Mas, no porvir, ressurreto. Haverá sempre algum porto onde ancorar meu desejo. Ao recuar, continuo. Na falta, me complemento. Na dispersão, me situo. Do “não”, extraio o consenso.
Em que medida o elemento autobiográfico se insere na poesia de Augusto, autor de um único livro sintomaticamente intitulado Eu? Para res...
Autobiografia e lirismo em Augusto dos Anjos
Na turma, todos queriam ser escritores. Rabiscavam contos, poemas ou trechos de romances e mostravam uns aos outros em mesas de bar ou nu...
Alguma coisa
O menino e o velho A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda des...
Ensaios poéticos
A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda despedida, corresponde também um recomeço. E a todo olhar brilhante de alegria subjaz uma nota de tristeza; como ao feio, que às vezes horroriza, deve mesclar-se um fundo de beleza.
A poesia de Augusto dos Anjos tem sido objeto de múltiplas avaliações. A riqueza imagística, a erudição inesgotável e a profundidade psico...