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É inquestionável a importância vanguardista do compositor carioca Noel Rosa para a transformação poética da canção popular brasileira. A po...

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É inquestionável a importância vanguardista do compositor carioca Noel Rosa para a transformação poética da canção popular brasileira. A poesia de Noel se torna ainda mais relevante quando se considera o fato de que foi ele o primeiro compositor branco, de origem na classe média, com formação escolar em tradicional instituição católica (Colégio São Bento, RJ) e com passagem, embora curta, por uma Faculdade de Medicina, a firmar parcerias regulares com compositores negros, iletrados, dos morros do Estácio, Mangueira e cercanias. Para o jornalista João Máximo, um dos mais criteriosos biógrafos do Poeta da Vila Isabel,

Nas décadas de 1960 e 1970 a cena se repetiu em auditórios, teatros e até em respeitáveis salas de concerto, em cerca de quarenta países de...

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Nas décadas de 1960 e 1970 a cena se repetiu em auditórios, teatros e até em respeitáveis salas de concerto, em cerca de quarenta países de quatro continentes. Na primeira parte do espetáculo, um duo de violões se apresentava em trajes compostos, compatíveis com a música que era tocada: peças de Rimsky-Korsakov, Manuel de Falla, valsas e fantasias de Chopin. Na outra parte do concerto, os mesmos instrumentistas voltavam ao palco vestidos com roupas coloridas, adornados com cocares e penas indígenas.

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Tocavam, então, músicas do melhor cancioneiro popular internacional como "Begin the Beguine", "Moonlight Serenade", "La Mer", "Over the Rainbow" e "I'm Getting Sentimental Over You".

O exotismo da apresentação causava impacto inesquecível nos espectadores. Mas o duo não impressionava os ouvintes apenas pelo aspecto inusitado e exótico. Em 1970, depois de um recital realizado na Alice Tully Hall, em Nova York, um crítico de música do jornal The New York Times escreveu:


“Their adaption for two guitars of such piano or violin pieces as Chopin’s ‘Tristesse’, ‘Hora Stacatto’ and ‘Liebestraum’ gave these overly familiar pieces new colors that made them seem remarkably fresh”.

“A adaptação feita pelos Índios Tabajaras para dois violões de peças escritas para piano ou violino, como 'Tristesse', de Chopin, 'Hora Stacatto' e 'Liebestraum', deu novas cores a essas famosas canções, que as fizeram parecer incrivelmente atuais”.
(livre tradução do ALCR)


Um crítico musical canadense, após assistir uma perfomance dos músicos, elogiou a qualidade das transcrições para dois violões, que foram feitas do "Noturno Op. 9, nº 2" de Chopin e de "La Ronde Des Lutins", composta originalmente para violino pelo italiano Antonio Bazzini.

A dupla de violonistas radicara-se, nos primeiros anos da década de 1960, nos Estados Unidos, onde era admirada por importantes artistas norte-americanos, como Chet Atkins, renomado violonista, e Don Gibson, autor do hit "I Can’t Stop Lovin’You", interpretado por Ray Charles. Os músicos gravaram álbuns com o duo. Na época, os discos dos dois instrumentistas eram muito tocados nas rádios,
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ao ponto de influenciarem um jovem músico mexicano que iniciava sua carreira e que depois se tornaria o conhecido guitarrista Carlos Santana.

"Mas, afinal que dupla de músicos era essa?", perguntaria um impaciente leitor. O duo de violões era formado por dois irmãos brasileiros, nascidos na primeira metade do século passado em uma isolada aldeia de índios da etnia Tabajara, localizada na serra do Ibiapaba, em uma região fronteiriça entre o Ceará e o Piauí. Dessa origem dos componentes vinha o nome com que eles próprios se batizaram: Índios Tabajaras. Dois depoimentos, prestados por um dos componentes da dupla, permitem que se conheça a saga desses índios, que saíram dos grotões do Nordeste brasileiro para se apresentar nos palcos de todo o mundo. Um dos testemunhos foi dado em 1981 ao jornalista Edwin McDowell, do The New York Times. O outro, em 2004, a Luís Nassif, então colunista da Folha de São Paulo.

Na entrevista a Nassif, Natalício Lima, que era o solista da dupla, narra que o seu primeiro contato com o som de um instrumento musical ocorreu quando, acompanhado de dois irmãos, encontrou um violão abandonado embaixo de uma ingazeira, em local próximo à aldeia onde viviam. Relata ele:


“Metemos a mão, fez aquele som, levamos um susto. Levamos para a tribo. O violão causou transtorno na tribo. Havia outro som que escutávamos às seis da tarde, e não sabíamos o que era. Nós, pequenos, pensávamos que era o violão. Era o sino de cidade a uns 60 quilômetros dali, o sino de Ibiapina”.


Por volta de 1929, uma tropa de militares do exército, chefiada pelo tenente Hidelbrando Moreira Lima, passou pela aldeia que se encontra atualmente localizada em terras do município cearense de Ubajara. Natalício diz que, naquela ocasião, foi a primeira vez que viu homens brancos e negros, acrescentando:

“Era muita gente e mudou nossa história [...] A tropa de militares foi para lá esperar uma tropa que vinha do Piauí [...] Passaram por lá vinte dias. Fizemos amizade”.

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Um capelão do exército batizou muitos índios. Antes do batismo cristão, Natalício chamava-se Muçaperê e o seu irmão, parceiro na dupla, que tinha o nome Herundy, passou a ser Antenor Lima. Natalício também recorda:

“quando os soldados se foram começamos a sentir saudades do café, bolacha redonda de meio palmo e carne seca [...] meu pai disse: nós vamos procurar nossos amigos [...] era difícil porque eles tinham carro, canhões com rodas, e depois da chuva grande, com a terra ainda molhada, deixaram sulco e nós seguimos”.

Usando roupas que haviam sido descartadas pelos soldados, pai, mãe e catorze filhos, partiram em viagem. Por cerca de três anos, caminharam pelos sertões, veredas e estradas. Durante o percurso, conforme depõe Natalício, “algumas vezes cantávamos com aquele violão que havíamos encontrado [...] vimos violonista tocar e passávamos o dia inteiro escutando”. Ao chegarem ao Rio de Janeiro, em 1937, foram registrados com o sobrenome Moreira Lima, que era o do militar de quem tinham ficado amigos. Começaram a tocar na rua:

“a música nos entrou muito forte [...] não aprendi a ler mas, aprendi a tocar melhor violão [...] nos jogavam algum dinheiro e a gente ia vivendo bem, mas dava muita vergonha porque éramos grandes, já”.

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Em 1945, foram fazer um teste para tocar em uma rádio: “a gente não dizia que era índio, porque as pessoas tinham medo”. Conseguiram um contrato com a ajuda de um diretor da rádio: “Aí contamos que nós éramos Tabajara. Aí ele disse que ia anunciar a gente como índios Tabajara. E o povo gostou”.

Passaram a tocar em circos, clubes e teatros modestos. Em meados dos anos 1950, começaram a excursionar, fazendo muito sucesso por toda a América Latina. Resolveram ir para o México. Lá, assistindo ao filme "A Song to Remember" (À Noite Sonhamos, uma película biográfica romanceada de Chopin, de 1945) tiveram o primeiro contato com a música erudita:

“Quando chegamos ao México, escutei música clássica e me apaixonei [...] Depois daquele filme me apaixonei e comecei a tocar de ouvido, mas imitando aquele som [...] Depois que escutei aquele negócio do Chopin, no outro dia sai para comprar música, Um ano no México estudando dia e noite sozinho, sem professor, e aprendi a ler música. E examinei todas as músicas de Chopin”.


Contratados pela então poderosa gravadora RCA Victor, foram para os Estados Unidos. Mesclavam o repertório com músicas clássicas e populares. Entre as peças clássicas que gravaram estava a "Valsa em Dó Sustenido Menor", de Chopin. Sobre a música, assim se refere Natalício:

“nossa gravação mais famosa [...] ninguém toca aquela valsa e o ‘Voo do Besouro’ que nem nós”.

O nível de habilidade que Natalício atingiu como músico permitiu que ele fizesse alterações na própria construção dos instrumentos que tocava. Para possibilitar a execução de transcrições, para um duo de violões, de peças clássicas compostas originalmente para piano ou violino, ele modificou a sexta corda do seu violão e alterou o número de trastes do instrumento, aumentando-o dos convencionais 19 para 26 trastes.

Na segunda semana de novembro de 1963, uma canção executada pelos Índios Tabajaras chegava aos primeiros lugares do ranking das mais tocadas e vendidas, publicado pela revista norteamericana Billboard.
Era a regravação de um antigo sucesso da orquestra de Jimmy Dorsey, o fox mexicano "Maria Elena", que suplantava, na lista da revista, músicas de Elvis Presley, Roy Orbison e até "Be my Baby", o envolvente hit de Phil Spector para o grupo vocal The Ronettes. A regravação de "Maria Elena", feita pelo duo brasileiro, vendeu mais de um milhão e meio de discos somente nos Estados Unidos.

A importância dos Índios Tabajaras como instrumentistas é ressaltada pelo jornalista Luís Nassif, que também é músico:


ambiente de leitura carlos romero flavio ramalho de brito indios tabajara natalicio nato lima antenor musica erudita violao duo chopin nostalgia“Há uma técnica refinada, um estilo de tocar vigoroso, próprio da escola de João Pernambuco e Dilermando Reis - com todo respeito pelo mestre, aliás, diria que Natalício superou Dilermando [...] foram, intérpretes de um patamar superior, ombreando-se com os maiores violonistas brasileiros de todos os tempos. Suas interpretações de ‘Valsa Criola’, do venezuelano Antonio Lauro, e de ‘Valsa em Dó Sustenido Menor, de Chopin, mereciam ser ouvidas por todos os jovens violonistas cultivadores da rapidez suja. ‘Moonlight Serenade’ fica à altura das melhores interpretações do grande Oscar Aleman, que se especializou nela”.


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Os Índios Tabajaras construíram um extenso acervo de gravações. Fizeram 48 dos antigos discos LPs, sendo que a maior parte deles está disponível para venda, por todo o mundo, em lojas e sites especializados em música. As plataformas streaming, como o Spotify, disponibilizam para audição mais de 40 álbuns deles. Com a impressionante trajetória de vida que tiveram e pelo reconhecimento musical que conseguiram alcançar, expresso por grandes instrumentistas mundiais, torna-se incompreensível o silêncio e o esquecimento que envolvem, no Brasil, os nomes desses dois grandes músicos nacionais, saídos como retirantes dos mais profundos rincões nordestinos, sem nenhuma cultura formal, mas que conseguiram se firmar entre os maiores músicos do mundo. Antenor Moreira Lima faleceu em 1997 e Natalício (Nato) Lima, como era conhecido nos Estados Unidos, morreu em Nova York, em 2009.



Flávio Ramalho de Brito é engenheiro e articulista

Chama-se de " Invasão Britânica " a avalanche de bandas de rock inglesas que, na década de 1960, inundou o mercado fonográfico do...

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Chama-se de "Invasão Britânica" a avalanche de bandas de rock inglesas que, na década de 1960, inundou o mercado fonográfico dos Estados Unidos e espalhou-se pelo planeta. Comandada pelos Beatles, a tropa era formada pelos Rolling Stones, The Animals, Herman's Hermits, The Kinks e outros grandes grupos.

Anos antes, o Brasil havia sido submetido a uma outra invasão musical, semelhante àquela provocada pelos ingleses. Foi a época de ouro do bolero, em sua romântica versão mexicana. Durante parte das décadas de 1940 e 1950, o bolero entrou, de forma avassaladora, nos rádios e nos espetáculos do país, exercendo inegável influência na música popular brasileira. A "Invasão Mexicana" se estendeu pelas décadas seguintes, como mostram os exemplos de duas obras-primas da nossa canção, que são boleros típicos:

Começaria Tudo Outra Vez
Gonzaguinha

Ao som desse bolero
Vida, vamos nós
E não estamos sós
Veja meu bem
A orquestra nos espera
Por favor!
Mais uma vez, recomeçar

Dois pra Lá, Dois pra Cá
João Bosco / Aldir Blanc

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor

O bolero, na forma que hoje se conhece, originou-se da Espanha e seguiu para Cuba, tendo lá se miscigenado com a música local, transformando-se em som ritmado e dançante. Da ilha caribenha, migrou, pela península de Yucatán, para o México, onde perdeu parte da sua força rítmica e suavizou-se em langorosas canções que, invariavelmente, falavam em desilusões, paixões impossíveis e amores desfeitos. Foi principalmente esse bolero asteca que aportou no Brasil, atraído, de início, pelos shows realizados em cassinos, quando aqui funcionavam regularmente. O país chegou a contar com aproximadamente oitenta casas de jogos legalizadas.

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Para o cronista Rubem Braga, naquele tempo “era tudo bolero, e o bolero era tão forte que pressionou o samba-canção, criou o sambolero... única força a enfrentá-lo foi o baião, mas quem o derrubou foi o general Dutra, fechando os cassinos; sem o dinheiro do jogo, adeus bolero”.
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A lei estabelecia que os impostos provenientes da operação dos cassinos deveriam ser destinados a obras beneficentes. Mas a tributação era feita de forma discutível, ao ponto de J. E. Macedo Soares, importante jornalista da época, escrever que o Brasil tornara-se “uma formidável empresa de pano verde” e que o governo “era sócio da jogatina”. O decreto de proibição dos cassinos, editado três meses após a posse do presidente Eurico Gaspar Dutra, considerava que “a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à exploração dos jogos de azar”. Dizem, porém, que a inspiração maior da decisão do presidente foi mesmo de sua esposa, Dona Carmela, conhecida como Dona Santinha por sua extrema religiosidade. Devoção tão forte que uma capela foi erguida no Palácio Guanabara para que ela pudesse cumprir suas orações.

O fechamento dos cassinos estancou a enxurrada de artistas internacionais que vinham se apresentar no Brasil e que eram, majoritariamente, cantores mexicanos de bolero, como Pedro Vargas, Tito Guizar e Trio Los Panchos. Esses músicos eram tão populares quanto Orlando Silva, Francisco Alves, Dalva de Oliveira ou qualquer outro entre os mais conhecidos cantores e cantoras brasileiros.

Que não se confunda este relato da grande penetração do bolero no Brasil (fato incontestável) com qualquer ilação relacionada à má qualidade das canções do citado gênero musical, o que não é verdadeiro. O bolero inspirou, e ainda inspira, melodias de grande qualidade. E o México se equipara a Cuba quando se trata de grandes compositores de boleros. Citamos alguns deles, do final da primeira metade do século 20, com suas músicas mais conhecidas:

A canção "Cuando Vuelva a Tu Lado", de Maria Grever, é repetidamente gravada e interpretada nos EUA, na versão "What a Difference a Day Makes" e muitos pensam que foi composta por algum músico norteamericano.
Alvaro Carillo: Sabor a Mi e Sabra Dios;
Maria Grever: Te Quiero Dijiste e Cuando Vuelva a Tu Lado *;
Luiz Demetrio: La Puerta e Quién Será?;
Consuelo Velasquez (grande pianista e compositora): Cachito e Besame Mucho;
Alberto Dominguez: Perfídia e Frenesi;
Roberto Cantoral: La Barca, El Reloj e Regalame Esta Noche.

O artista mexicano que deu projeção internacional à música do seu país foi Ángel Agustín María Carlos Fausto Mariano Alfonso Rojas Canela del Sagrado Corazón de Jesús Lara y Aguirre del Pino, mais conhecido, simplesmente, como Agustín Lara.
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Pianista, compositor, cantor, chefe de orquestra e poeta, Agustín era chamado por seus conterrâneos de El Flaco de Oro (O Magro de Ouro).

Agustin Lara teve a sua vida marcada por casos nebulosos que ele próprio se encarregava de tornar ainda mais ambíguos, ao dar veracidade às várias versões apresentadas. Esses episódios dramáticos que o envolveram compunham um autêntico dramalhão mexicano. Ele não era, como se dizia antigamente, um indivíduo bem apessoado, um homem “guapo”.

Muito magro, sisudo, usava dentadura postiça desde os vinte anos e ostentava na face uma cicatriz marcante, que se estendia do canto da boca até a orelha. Como teria surgido a cicatriz é um daqueles fatos misteriosos da vida de Lara. Entre as muitas versões, escolhemos a do brasileiro Zuza Homem de Melo, que diz que Lara teria comunicado a uma namorada o fim do romance; “inconformada, ela atacou-o enquanto dormia com uma adaga [...] É o primeiro episódio de uma série que o converteu em um verdadeiro mito do bolero mexicano”.

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Apesar dos seus parcos atributos físicos, Agustin Lara teve incontáveis romances e envolveu-se em seis casamentos, um deles com a atriz de cinema Maria Félix, considerada uma das mulheres mais bonitas do México. Suas composições eram atribuídas a motivações nem sempre verdadeiras, o que contribuiu para que se tornasse uma figura lendária. Conta-se que duas de suas mais conhecidas canções (Maria Bonita e Noche de Ronda) foram feitas para Maria Félix.

Um dos maiores sucessos de Agustin Lara teria sido composto para ser interpretado por José Mojica, cantor e ator mexicano. No auge da fama, Mojica abandonou a carreira artística para devotar-se ao amor de uma única Maria. Entrou na Ordem dos Franciscanos, passando a ser o frei José Francisco de Guadalupe Mojica. E foi vestindo o hábito religioso que o frade participou, em 1950, da primeira transmissão de TV no Brasil, cantando os amorosos versos de "Solamente Una Vez", de Agustin Lara. Outra faceta do El Flaco de Oro foi, sem nunca ter visitado a Espanha, compor uma série de canções dedicadas a cidades espanholas: Toledo, Sevilha, Madri, e a mais famosa delas, Granada. Dizem que Lara recebeu do então ditador espanhol Francisco Franco, como gratidão por ele ter reverenciado as terras castelhanas, uma mansão em Granada.


Em junho de 1952, em uma das oportunidades em que esteve no Brasil, Agustin Lara veio à Paraíba. Comandava a sua orquestra com 20 componentes e que tinha Consuelo Vidal como principal cantora. Fez apresentações na capital do Estado, na Rádio Tabajara e no Clube Astréa. Em Campina Grande, apresentou-se sob o patrocínio da Rádio Borborema, que fazia parte do mais poderoso grupo de comunicação do País na época, pertencente ao paraibano Assis Chateaubriand.

Agustin Lara morreu em 1970, na cidade do México. Tinha 70 ou 73 anos (até a sua idade é incerta). Foi enterrado no Panteão dos heróis nacionais, onde estão os restos mortais de outros artistas mexicanos, como os pintores Diego Rivera e Siqueiros.
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Há estátuas de Lara em várias cidades mexicanas. Mas não é somente em sua terra que ele é reverenciado. Los Angeles, Havana e Madri também têm suas estátuas de El Flaco. Na capital paraibana não há ruas ou praças com nomes de Dorival Caymmi, Pixinguinha, Cartola, Antonio Carlos Jobim ou mesmo dos paraibanos Zé Marcolino ou Zé do Norte. Mas, um atuante edil do município, muito provavelmente amante dos boleros, não se esqueceu do Magro de Ouro. Por isto, a Cidade de Nossa Senhora das Neves conta, no bairro Cristo Redentor, com uma rua chamada Compositor Agustin Lara.


Flávio Ramalho de Brito é engenheiro e articulista