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Não, leitor, não tema. Não se trata de nenhuma teorização solene sobre a História. Até porque, não sendo historiador, não sou qualificado para tal mister. O que temos aqui, como bem adverte o inequívoco título, são meras divagações – e ainda por cima diletantes, ou seja, absolutamente amadorísticas, isto é, feitas apenas por amor à reflexão descompromissada sobre um tema importante, direito de todos e de qualquer um. Mas advirta-se: a qualidade de diletante não desqualifica necessariamente a divagação. É o que espero que ocorra aqui.

Nestes tempos em que se viaja tanto e tão facilmente, às vezes alguém pergunta se conheço esta ou aquela cidade. Em muitos casos, sei que o...

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Nestes tempos em que se viaja tanto e tão facilmente, às vezes alguém pergunta se conheço esta ou aquela cidade. Em muitos casos, sei que o que o outro pretende é apenas uma oportunidade de citar a lista completa dos cento e trinta e sete países que afirma ter conhecido até o momento, já que sua meta, se Deus permitir, é conhecer todo o planeta, das ilhas Malvinas ao interior da Finlândia. Bom proveito, é o que eu digo. Aliás, boa viagem.

Quem já fez ou faz análise saberá apreciar esse livro. E também os leitores que, sem terem deitado no divã, gostam de boas histórias dotada...

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Quem já fez ou faz análise saberá apreciar esse livro. E também os leitores que, sem terem deitado no divã, gostam de boas histórias dotadas de inegável interesse humano. Refiro-me à obra "Seu paciente favorito – 17 histórias extraordinárias de psicanalistas", da jornalista francesa Violaine de Montclos, recentemente publicada no Brasil pela Editora Perspectiva.

A matéria da jornalista Lucilene Meireles sobre a professora Adélia de França, publicada em A União deste domingo, 30 de agosto de 2020, al...

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A matéria da jornalista Lucilene Meireles sobre a professora Adélia de França, publicada em A União deste domingo, 30 de agosto de 2020, além de oportuna, como resgate de uma grande profissional do ensino na Paraíba, serviu para fazer-me voltar no tempo e lembrar-me de quando, adolescente, fui seu aluno na casa da Rua Almeida Barreto, no Centro, para sempre associada, por mim, à imagem inesquecível da mestra.

A estas alturas, não importa o que digam em contrário, sei perfeitamente o que ficou – e o que ficará – por fazer na minha vida. Não adiant...

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A estas alturas, não importa o que digam em contrário, sei perfeitamente o que ficou – e o que ficará – por fazer na minha vida. Não adianta afirmarem os eternos otimistas que ainda há tempo, que enquanto há vida, há esperança, bla, bla, bla etc e tal. Sim, pode até haver tempo para mais alguma coisa, mas certamente não para aquelas a que me refiro acima, as que ficaram e ficarão por fazer. As que, já sei, constarão na coluna dos débitos no balancete final de minha passagem pelo mundo.

O Poder, ah, o Poder ... O Poder e sua força irresistível, seu fascínio desarrazoado e alucinante. O labirinto psicológico que o envolve, ...

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O Poder, ah, o Poder ... O Poder e sua força irresistível, seu fascínio desarrazoado e alucinante. O labirinto psicológico que o envolve, os sentimentos que suscita e que Shakespeare genialmente dissecou tão bem – e para sempre – em Hamlet, Macbeth, Rei Lear e Otelo, por exemplo.

Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebr...

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Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebre romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Realmente. Tanto já se escreveu sobre esse tema, admitindo-se ou negando-se a tal infidelidade, que talvez não se justifique voltar ao assunto, tido por esgotado. E, no entanto, volta-se. Exatamente porque essa é uma das características dos clássicos: sua inesgotabilidade, sua permanente provocação aos leitores, suscitando eternamente novas leituras e enfoques, e rejuvenescendo o que já parecia, aos mais apressados, definitivamente velho e exaurido. E Dom Casmurro, ninguém pode negar, é verdadeiramente um clássico de nossa letras, com potencial de se tornar um clássico das letras universais, caso um dia o mundo resolva descobrir nossos autores.

Fui ao Google buscar uma definição genérica para a palavra “herói”. E lá encontrei: “Herói é o termo atribuído ao ser humano que executa aç...

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Fui ao Google buscar uma definição genérica para a palavra “herói”. E lá encontrei: “Herói é o termo atribuído ao ser humano que executa ações excepcionais, com coragem e bravura, com o intuito de solucionar situações críticas, tendo como base princípios morais e éticos.”. E um acréscimo importante: a ação do herói, para ser tida como tal, há que ser altruísta, ou seja, desapegada, filantropa, dadivosa. Perfeito. Para mim, esta definição serve muito bem para o grande paraibano Manoel Dantas Vilar Filho, o célebre Manelito, de Taperoá, falecido há poucos dias.

Existem vários tipos de leitura. Todo leitor é capaz de identificar – e experimentar – a diversidade de leituras. Normalmente, é o livro qu...

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Existem vários tipos de leitura. Todo leitor é capaz de identificar – e experimentar – a diversidade de leituras. Normalmente, é o livro que determina o tipo de leitura. Assim, uma obra de entretenimento geralmente não conduz o leitor a reflexões maiores, da mesma forma que um livro de fundo filosófico, posto que exigente, não propicia uma leitura de relaxamento.

O sofrimento oriundo das adversidades é o que, no fim, pode engrandecer a vida. E engrandecendo-a, termina por elevar a biografia daqueles ...

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O sofrimento oriundo das adversidades é o que, no fim, pode engrandecer a vida. E engrandecendo-a, termina por elevar a biografia daqueles e daquelas que experimentam-lhe o gosto amargo em algum momento da existência. Este pensamento não é meu, diga-se logo, pois colhi-o no “Diário” de Josué Montello, na entrada datada de 6 de fevereiro de 1978, em que o escritor maranhense narra seu encontro em Paris com um Juscelino Kubitschek acabrunhado com o exílio que lhe fora imposto pelos militares.

Numa de suas crônicas Martha Medeiros fala no “dom de viver sem aplausos e sem plateia”. Sim, é um dom – e uma arte. Como dom, é graça conc...

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Numa de suas crônicas Martha Medeiros fala no “dom de viver sem aplausos e sem plateia”. Sim, é um dom – e uma arte. Como dom, é graça concedida pelos deuses, não depende de nós; como arte, resulta de nosso esforço deliberado em viver com sabedoria, aperfeiçoando, dentro do possível, a vida que nos coube. É fácil? Certamente que não. Pois nada é fácil, nem mesmo viver sem fazer nada.

Que inveja tenho de Eça de Queiroz que podia dizer – e disse – “Sou apenas um pobre homem de Póvoa do Varzim”. E o engraçado é que gosto de...

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Que inveja tenho de Eça de Queiroz que podia dizer – e disse – “Sou apenas um pobre homem de Póvoa do Varzim”. E o engraçado é que gosto de cidade grande. Ou, pelo menos, de cidade razoavelmente desenvolvida, que conte com algumas boas livrarias e alguns bons restaurantes. Desses dois prazeres, o dos livros e o da gastronomia, sentiria falta numa cidade onde não pudesse achá-los.

"Sub specie aeternitatis" - A expressão latina consta da Ethica, de Espinosa , e tem sido traduzida de diferentes maneiras. Há os...

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"Sub specie aeternitatis" - A expressão latina consta da Ethica, de Espinosa, e tem sido traduzida de diferentes maneiras. Há os que a entendem como “à luz da eternidade”, enquanto outros preferem “do ponto de vista da eternidade”, como o escritor Paulo Rónai. Pessoalmente, penso que as duas traduções são boas, pois expressam com razoável fidelidade o “espírito” da frase, isto é, uma perspectiva de vida eterna colocada como parâmetro, referencial ou contraponto à vida terrena dos homens.

Quem conta é Antônio Carlos Villaça em seu “O livro dos fragmentos”: o editor José Olympio Pereira Filho não lia livros; gostava de ler jo...

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Quem conta é Antônio Carlos Villaça em seu “O livro dos fragmentos”: o editor José Olympio Pereira Filho não lia livros; gostava de ler jornais, mas livros não. Vejam só.

O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos pato...

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O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos patológicos, normalmente as pessoas têm um certo pudor, uma certa parcimônia no uso do pronome eu. É comum um certo temor de parecermos, aos olhos dos outros, alguém autocentrado, que só enxerga o próprio umbigo. E, pensando bem, é bom que seja assim, já que costumamos, nós próprios, rejeitar os que se comportam dessa maneira reprovável. Os europeus educados são muito bons nessa arte civilizada de ocultação do eu, principalmente, creio, os ingleses, talvez a gente mais discreta do planeta. Um inglês de verdade jamais demonstra em público suas emoções, ou seja, jamais escancara o eu profundo publicamente. Isso fará bem ao corpo e à alma? Não sei. Mas que parece polido, parece, pelo menos nos livros e nos filmes.

Umas simples estrelinhas de São João. Vocês sabem do que se trata. Elas são o mais inofensivo, o mais humilde e o mais sem graça dos fogos ...

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Umas simples estrelinhas de São João. Vocês sabem do que se trata. Elas são o mais inofensivo, o mais humilde e o mais sem graça dos fogos juninos. Normalmente são compradas para as crianças menores e mais bobinhas, as que não podem ainda se arriscar nas bombas e foguetões. Se os seus destinatários não fossem mesmo tolinhos, por conta da pouca idade, certamente sentir-se-iam discriminados por receberem, para celebrar a festa do mês de junho, os fogos mais simplórios, ao contrário dos outros, os mais velhos, com seus artefatos barulhentos e brilhantes. As estrelinhas não emitem qualquer som e a pouca luz que produzem, quando acesas, é menor que a de um vagalume.

Sobre o sensualismo de Drummond e a presença do erotismo em sua poesia muito se tem escrito. E é fato. O poeta foi sempre muito sensível às...

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Sobre o sensualismo de Drummond e a presença do erotismo em sua poesia muito se tem escrito. E é fato. O poeta foi sempre muito sensível às coisas de Eros e o revelou desde o começo. Lá no primeiro poema (Poema de Sete Faces) de seu primeiro livro (Alguma poesia) já se vê o registro explícito do sexo como algo incontornável: “As casas espiam os homens/que correm atrás de mulheres./A tarde talvez fosse azul/não houvesse tantos desejos.”.

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Concluída a obra poética de Drummond, os estudiosos tendem a dividi-la em quatro fases, facilmente identificáveis para o leitor mais atento. A primeira (Alguma poesia e Brejo das almas), é a do conflito com o mundo, a do gauche, a do coração do poeta esquivo maior que o mundo. A segunda (Sentimento do mundo, José e A rosa do povo) , a do diálogo com o mundo, da inserção social do poeta na realidade, a do poeta engajado, em que seu coração fica do tamanho do mundo. A terceira (Claro enigma, Viola de bolso, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo, Lição de Coisas, A falta que ama, As impurezas do branco, Discurso de primavera, Boitempo e A paixão medida), a da introspecção metafísica, da “viagem ao interior de si mesmo”, na qual o coração do poeta se reconhece menor que o mundo, nele não cabendo nem suas próprias mágoas, vejam só. E finalmente a quarta fase (Corpo, Amar se aprende amando e O amor natural), a da velhice ou quase velhice, em que o poeta canta o amor, o corpo e o sexo em todo seu esplendor vital, num verdadeiro desafio a Tânatos, que se aproximava. E aí temos (em O amor natural), sem nenhum pudor, mas com extrema elegância, os versos do poema “Amor – pois que é palavra essencial” ( poema)

Como bem observou Antonio Carlos Villaça, nessa fase outonal, no limiar da velhice, “Não é mais o individualismo tenso e triste, de Belo Horizonte outrora, na juventude inquieta e insatisfeita. Não é mais a guerra com a batalha de Stalingrado. Não são mais os edifícios. Não é mais a reflexão existencial. Agora, é o diálogo com o corpo, renovado.”. Agora (então) é a assumida celebração da sensualidade cultivada, afirmação impetuosa da vida perante a morte ameaçadora.
Fiquei embasbacado, observando-o, até ele desaparecer em meio à multidão

No coração de Drummond de fato couberam muitos amores. Ele estava sempre atento aos encantos femininos, em todo lugar. Não que fosse rudemente galinha. Não. Ele era antes de tudo um esteta especial, sensível aos apelos de mulheres interessantes, não necessariamente belas. Seus casos mais conhecidos foram com Eneida, a paraense intelectual, com Célia Neves e com Lígia Fernandes, esta última uma relação de mais de trinta anos, presenciada por mim, por puro acaso, ora vejam, já no ocaso do poeta. Estava eu uma tarde de sábado na Visconde de Pirajá, em Ipanema, quando avistei, ao longe, um casal que vinha em minha direção, pela calçada. Era um senhor visivelmente idoso, elegante, de “blaser”, de braço dado com uma senhora aparentando meia-idade. Achei-o parecido com Drummond, que conhecia apenas de fotografia, e fiquei curioso, prestando atenção. À medida que o casal se aproximava, constatei que era ele realmente. O coração bateu forte. Não acreditei. Mas era verdade. O poeta aproximou-se sem pressa, passou por mim, bem próximo, e seguiu adiante. Fiquei embasbacado, observando-o, até ele desaparecer em meio à multidão. Como diria Bandeira, foi um alumbramento.

Aqui é importante registrar que, a despeito de seu coração imenso, o poeta nunca deixou de amar Dolores, a esposa que um dia quis deixá-lo. Mas ele pediu-lhe para ficar (“Que seria de mim sem você?”) e ela aceitou, até o fim. Mulher sábia.

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É muito interessante essa sensualidade de Drummond, um homem sabidamente tímido, reservado, de poucos derramamentos emotivos. É um daqueles casos em que uma coisa não combina com a outra. Quem não o conhecesse mais de perto e o visse na rua, ensimesmado, não adivinharia nunca o alegre fauno que havia nele.

E um detalhe: a publicação dos poemas eróticos drummondianos não se deu de repente, de uma só vez, já em livro. Não. Ela foi se dando aos poucos, um poema aqui, outro acolá, dados a público em revistas masculinas da época. O fato é que havia uma espécie de “patrulha” moral conservadora que inibia a publicação ostensiva de tais poemas, como se eles atentassem contra a respeitabilidade do poeta consagrado. Nesse sentido, um livro como “O amor natural”, totalmente dedicado à louvação de Eros, representou a corajosa libertação do poeta da referida censura.

Enfim, sabemos todos que, na vida, a vitória final é sempre de Tânatos. E talvez seja melhor assim, para que o homem não cultive a soberba. Mas na poética de Drummond constata-se, sem dúvida, um derradeiro triunfo de Eros, deus poderoso que pairou sobre ele até mesmo quando o seu velho corpo já não correspondia aos seus ímpetos. É o que se vê, bela e melancolicamente, no poema “Restos”, do livro que encerra oficialmente sua obra, “Farewell”, com o que, em negrito, encerro, reverente, este breve texto:

O amor, o pobre amor estava putrefato.

Bateu, bateu à velha porta, inutilmente.

Não pude agasalhá-lo: ofendia o olfato.

Muito embora o escutasse, eu de mim era ausente.


Francisco Gil Messias é cronista e ex-procurador-geral da UFPB

Os sebos e suas revelações. Não apenas as raridades bibliográficas que às vezes encontramos surpresos e recompensados. Também certos achado...

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Os sebos e suas revelações. Não apenas as raridades bibliográficas que às vezes encontramos surpresos e recompensados. Também certos achados menos nobres mas não menos pitorescos, com dedicatórias ou autógrafos revelando histórias nem sempre edificantes, histórias de descaso, de desconsideração ou simplesmente de avara ignorância. São muitas as histórias dos sebos.

1 praça antenor navarro a cidade subiu a ladeira com jeito de quem ia ali perto e voltava mas criou asa voou e nunca mais deu o ar...


1
praça antenor navarro

praca anthenor navarro
a cidade subiu a ladeira
com jeito de quem ia ali perto
e voltava
mas criou asa
voou
e nunca mais deu o ar da graça

2
praça joão pessoa

praca joao pessoa
no centro da praça
que os poderes humanos reúne
o austero presidente em bronze
morre todo dia outra vez
- de vergonha

3
trincheiras

os sobrados mortos
as casas arruinadas
são a prova viva
de que dessa vida
não se leva nada

4
jaguaribe

em suas ruas mais calmas
o progresso não mudou nada
e as famílias inda põem
cadeiras na calçada

5
cruz das armas

o tempo passou sem que nada ocorresse
nem dentro nem fora do ordinário
que alterasse seu irresistível
destino proletário

6
lagoa

Lagoa joao pessoa
as palmeiras imperiais permanecem
como sentinelas de um museu:
guardam memórias que restem
do que abaixo delas
se deu

7
roger

joao pessoa
a paz do colégio de freiras
se espalha pela vizinhança
e ali o barulho do mundo
chega apenas na lembrança

8
tambiá

tudo se define pelo não:
não mais moradias
não mais o silêncio vegetal
e o cheiro noturno dos jasmins
que inundava o ar
já não há

9
miramar

no alto como em altar
permanece a indecisão
de ser cidade ou mar:
confusão

10
tambaú

na praia que era longe e plácida
a gente ávida atravancou
de carros e prédios altos
a beira do mar mais verde que azul
e agora brinca (sofre) de ser
carioca zona sul

* fotos gentilmente cedidas por Reginaldo Marinho


Francisco Gil Messias é cronista e ex-procurador-geral da UFPB

A definição é de Wilson Marinho: Wills Leal foi um homem em movimento. E mais certo Wilson não poderia estar. Com efeito, Wills, que agora ...


A definição é de Wilson Marinho: Wills Leal foi um homem em movimento. E mais certo Wilson não poderia estar. Com efeito, Wills, que agora nos deixou, foi mesmo alguém em eterno movimento, no bom sentido de permanentemente inquieto, permanentemente criativo, permanentemente se deslocando, até sem sair do lugar, apenas com o pensamento em constante ebulição, sempre a serviço da cultura paraibana, em várias de suas expressões. O professor Damião, em bela crônica de “A União” chamou-o corretamente de “o imortal caminhante”, ressaltando, como Wilson, o homem que não podia parar, como de fato não parou até o finzinho da caminhada, quando o isolamento imposto pelo vírus reteve-o solitariamente entre os livros e filmes amados, os quais, por problemas na visão, já não acessava facilmente.