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Há cem anos, o paraibano Epitácio Pessoa , que presidiu o Brasil no período 1919-1922, decidiu dar ao seu estado natal, sempre pobre e car...

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Há cem anos, o paraibano Epitácio Pessoa, que presidiu o Brasil no período 1919-1922, decidiu dar ao seu estado natal, sempre pobre e carente de grandes investimentos públicos federais, uma obra capaz de alavancar seu desenvolvimento econômico, libertando-o, pelo menos em parte, do eterno problema das secas periódicas, que inviabilizavam a sustentabilidade de nossa atrasada economia fortemente baseada em rústicas agricultura e pecuária.

A vida ensina que eles nem sempre coincidem. Aliás, melhor dizendo, quase nunca eles coincidem. E não raro eles se excluem um ao outro. ...

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A vida ensina que eles nem sempre coincidem. Aliás, melhor dizendo, quase nunca eles coincidem. E não raro eles se excluem um ao outro. Daí a necessidade constante de optar-se entre um e outro, já que dificilmente pode-se ter os dois ao mesmo tempo. E essa opção constitui-se como fundamental na vida de cada um e, também, uma das principais questões da filosofia moral, a Ética.

Parecia um homem comum. Talvez um funcionário público modesto, talvez um guarda-livros, antiga profissão fadada à extinção, pelo menos n...

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Parecia um homem comum. Talvez um funcionário público modesto, talvez um guarda-livros, antiga profissão fadada à extinção, pelo menos no nome. De paletó, sua segunda pele, óculos redondos de lentes grossas, realçadoras de uma miopia congênita, a surrada pasta de couro na mão, símbolo de seu ofício e de sua austeridade, modo de ser natural de quem só se importava com o que era essencial. Sem falar no chapéu de feltro, adereço indispensável para os homens da época. Quem passasse menos atento por aquela tranquila esquina do Jardim Botânico, bucólico bairro de um Rio de Janeiro ainda aprazível, e visse aquele homem de pé, esperando o bonde como qualquer mortal, não desconfiaria nunca de sua verdadeira identidade, a despeito de sua já reconhecida proeminência na vida pública nacional.

Mais uma imensa perda humana e cultural para a Paraíba. É assim que vejo, que vemos todos a recente partida de Otinaldo Lourenço, ícone do...

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Mais uma imensa perda humana e cultural para a Paraíba. É assim que vejo, que vemos todos a recente partida de Otinaldo Lourenço, ícone do jornalismo e do rádio paraibanos. E assim vai se alastrando nossa pobreza aldeã, confirmando a sabedoria popular que diz, desalentada: “De onde se tira e não se bota, a tendência é se acabar”. Pois é. É como se, com essas perdas todas, estivéssemos findando, pouco a pouco, nosso parco patrimônio humano, o único que nos coube desde sempre e que não raro temos, burramente, desperdiçado ou desconhecido.

Não o conheci pessoalmente, ou seja, nunca fomos apresentados, mas posso dizer que o conhecia mais ou menos de perto, na medida em que um...

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Não o conheci pessoalmente, ou seja, nunca fomos apresentados, mas posso dizer que o conhecia mais ou menos de perto, na medida em que um leitor pode conhecer um cronista, partindo do pressuposto de que, de uma forma ou de outra, o cronista se revela em cada crônica, já que toda literatura, assim como toda arte, é autobiográfica.

É dura a vida, no Brasil, de escritores que vivem e produzem fora do eixo Rio-São Paulo. No resto do mundo imagino que deva ser a mesma ...

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É dura a vida, no Brasil, de escritores que vivem e produzem fora do eixo Rio-São Paulo. No resto do mundo imagino que deva ser a mesma coisa, a mesma dificuldade de conseguir um editor importante e a necessária divulgação, aquela que pode tornar o autor conhecido, se não pelo grande público, ao menos pelo grupo mais restrito dos leitores contumazes. Deve ser dura também a vida dos que escrevem e vivem no Rio e em São Paulo, mas que ainda são anônimos e/ou inéditos, já que não é fácil, em nenhum lugar, obter reconhecimento.

É a primeira vez que escrevo sobre este tema, mas não a que falo sobre ele, de modo que, para mim, é uma oportunidade de refletir mais sobr...

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É a primeira vez que escrevo sobre este tema, mas não a que falo sobre ele, de modo que, para mim, é uma oportunidade de refletir mais sobre o assunto e organizar melhor meu pensamento a respeito. Esta é certamente uma das vantagens que a escrita tem sobre a fala. Vamos lá.

Foi em Cabedelo. Faz tempo. Uma senhora grisalha, já avançada na casa dos setenta, dá entrada numa ação judicial de divórcio. Quer se se...

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Foi em Cabedelo. Faz tempo. Uma senhora grisalha, já avançada na casa dos setenta, dá entrada numa ação judicial de divórcio. Quer se separar do marido, ele um pouco mais idoso que ela. É uma mulher simples, do povo, como se diz, uma dona de casa casada há muitos anos, que teve filhos, criou-os com as dificuldades previsíveis, agora tem netos que a visitam apenas de vez em quando, sem grandes demonstrações de afeto. Sua vida parece completa, sem graça, exaurida, como se lhe restasse somente aguardar o fim, quando Deus fosse servido. Uma vida como tantas outras; uma existência sem outro sentido aparente, salvo esse de ser esposa, mãe, Nada mais além disso. Aos olhos de muitos, parece pouco esse destino comezinho; aos olhos dela, também, principalmente nos momentos em que ela,

A Itália, por razões óbvias, sempre exerceu um imenso fascínio nos escritores e nos estrangeiros em geral. Sua história milenar, sua arte ...

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A Itália, por razões óbvias, sempre exerceu um imenso fascínio nos escritores e nos estrangeiros em geral. Sua história milenar, sua arte incomparável, seu clima, sua gastronomia, seus vinhos, enfim, seu patrimônio cultural inigualável explicam e justificam esse apreço universal pela terra de Dante e tantos outros. Pode-se dizer que todos os lugares na Itália, desde os menores lugarejos até as grandes cidades, valem a pena. Entretanto, creio que também é lícito afirmar-se que, do todo admirável, três urbes se destacam por sua presença marcante nas artes e, particularmente, na literatura: Roma, Florença e Veneza. Desta última, ocupar-me-ei brevemente a seguir, a partir de dois livros emblemáticos: Morte em Veneza, do alemão Thomas Mann, e Despedida em Veneza, do norte-americano Louis Begley.

Como cidadão, tenho tido, já há algum tempo, poucos motivos para comemorar alguma medida ou decisão governamental, em todos os níveis. Is...

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Como cidadão, tenho tido, já há algum tempo, poucos motivos para comemorar alguma medida ou decisão governamental, em todos os níveis. Isto me entristece, claro, mas não me surpreende; afinal, por nossa história, o que certamente me surpreenderia seria se fosse o contrário. Mas o fato é que , surpreendentemente, entusiasmei-me esta semana com a notícia da desapropriação, pelo governo estadual, do antigo e belo prédio do Colégio das Neves, ali ao lado de nossa Catedral Basílica. A finalidade do governo é ali instalar o “Parque Tecnológico Horizontes de Inovação”, entidade voltada para o estímulo à tecnologia, especialmente no viés da inovação.

Em fins dos anos 1970, o jornalista e escritor José Castello conseguiu agendar uma entrevista com Vinicius de Moraes, que então estreava ...

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Em fins dos anos 1970, o jornalista e escritor José Castello conseguiu agendar uma entrevista com Vinicius de Moraes, que então estreava um show no Rio de Janeiro. O jornalista não era ainda o consagrado biógrafo do poeta e compositor, condição que só alcançaria mais de uma década depois da citada entrevista, mas naquele encontro frustrante já detectou no entrevistado claros sinais de um tormento existencial que contrastava abertamente com a imagem pública do autor de canções leves como “Garota de Ipanema”.

Sou do tempo (isto é apenas um fato, não um juízo de valor) em que experiência era algo que se fazia em laboratório, com pipetas e tubos de...

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Sou do tempo (isto é apenas um fato, não um juízo de valor) em que experiência era algo que se fazia em laboratório, com pipetas e tubos de ensaio. Coisa de cientista ou candidato a. Agora tudo mudou. Tudo se tornou experiência.

Você sabia, leitor, que estão construindo um centro comercial nos jardins da sede social do Esporte Clube Cabo Branco, no Miramar, desfig...

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Você sabia, leitor, que estão construindo um centro comercial nos jardins da sede social do Esporte Clube Cabo Branco, no Miramar, desfigurando totalmente uma das mais belas e emblemáticas obras arquitetônicas da Capital? Pois é, eu também só acreditei quando vi a foto da monstruosidade enviada por uma estimada amiga que mora nas vizinhanças do clube. Mas não dá mesmo para acreditar em tamanho atentado a um dos mais queridos símbolos da urbe, ali à vista de todos e principalmente das autoridades, num verdadeiro acinte aos pessoenses que amam sua cidade.

Ninguém mais fala em Newton Rique. Acredito que nem mesmo em Campina Grande, cidade onde nasceu este paraibano operoso, cuja instituição ...

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Ninguém mais fala em Newton Rique. Acredito que nem mesmo em Campina Grande, cidade onde nasceu este paraibano operoso, cuja instituição bancária expandiu-se além das fronteiras estaduais, constituindo-se em emblema do empreendedorismo local, numa época que, infelizmente, ficou para trás. Refiro-me ao Banco Industrial de Campina Grande, com filial até no Rio de Janeiro.

“O coração tem razões que a própria razão desconhece”. A célebre frase de Pascal (1623-1662) para mim é perfeita. Resume e expressa de ma...

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“O coração tem razões que a própria razão desconhece”. A célebre frase de Pascal (1623-1662) para mim é perfeita. Resume e expressa de maneira clara e brilhante a grande e fundamental dicotomia que na filosofia iria conduzir ao iluminismo/racionalismo, por um lado, e, por outro, ao romantismo, duas correntes que ainda hoje disputam certa primazia no pensamento ocidental. Esclareça-se desde logo que Pascal, além de filósofo, era físico e matemático, portanto alguém muito afeito à pura racionalidade. No entanto, teve a compreensão de que a razão por si só não dava conta da complexidade do homem, no que ele tem de emoções e sentimentos.

São conhecidos os fortes laços que unem Gilberto Freyre à Paraíba. Não vou, portanto, trazer novidade para o leitor. Mas isso não deve ...

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São conhecidos os fortes laços que unem Gilberto Freyre à Paraíba. Não vou, portanto, trazer novidade para o leitor. Mas isso não deve ser impedimento para revisitarmos o tema, nem que seja para, neste particular, exercitarmos um justificado orgulho de uma paraibanidade que, em outros aspectos mais recentes, tem deixado a desejar.
Creio ser justo afirmar que, de todos os estados nordestinos, a Paraíba foi o mais próximo do grande pernambucano. É possível que a proximidade geográfica tenha facilitado essa aproximação, mas lembremos, por exemplo, que Freyre não se ligou tanto aos seus vizinhos ao sul, os alagoanos, igualmente próximos do ponto de vista físico. Mas vamos aos fatos.

Dizem que o tempo passa rápido – e passa mesmo. Principalmente nos dias atuais, de vida corrida, quase frenética. Apenas os muito jovens t...

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Dizem que o tempo passa rápido – e passa mesmo. Principalmente nos dias atuais, de vida corrida, quase frenética. Apenas os muito jovens talvez não sintam essa rapidez do tempo, tão cheios de futuro estão os que ainda não sentiram o peso da existência. E é bom que seja assim. Pois seria triste uma juventude sem ilusões. Mas o fato é que o tempo passa mesmo ligeiro. Até para os moços.

O célebre conto (ou novela) “ Cândido ou O Otimismo ”, de Voltaire, termina com o personagem que dá nome à obra afirmando, conclusivo, “.....

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O célebre conto (ou novela) “Cândido ou O Otimismo”, de Voltaire, termina com o personagem que dá nome à obra afirmando, conclusivo, “... devemos cultivar nosso jardim”. Essa foi sua resposta final ao otimista Pangloss, outro personagem, que, mesmo à vista das piores desgraças, insistia em dizer que vivíamos no melhor dos mundos, que todos os males que afligiam e afligem os homens eram necessários – e até benéficos – porque terminavam sempre, segundo ele, por conduzir-nos a finais felizes. Esta maneira otimista de pensar já vinha do poeta inglês Alexander Pope (1688-1744) e do filósofo alemão Leibniz (1646-1716), de modo que Voltaire tomou a si a responsabilidade de contestá-la, fazendo-o ao seu estilo, ou seja, com muita inteligência, humor e ironia.

Estava relendo, mais uma vez, o “Café Alvear”, de Gonzaga Rodrigues, e me dando conta de como o Ponto de Cem Réis perdeu sua importância ...

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Estava relendo, mais uma vez, o “Café Alvear”, de Gonzaga Rodrigues, e me dando conta de como o Ponto de Cem Réis perdeu sua importância como centro cotidiano da vida política e cultural de nossa Capital. Melhor dizendo: não só perdeu a importância cívica como também degradou-se como espaço urbano de convivência diária dos pessoenses. Relendo as crônicas gonzaguianas, não podemos deixar de perguntar: O que foi feito de nossa cidade nas últimas décadas?

Aprender as lições que a vida oferece é dever não só dos filósofos mas de todos nós, simples mortais, que almejamos, mesmo sem maiores er...

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Aprender as lições que a vida oferece é dever não só dos filósofos mas de todos nós, simples mortais, que almejamos, mesmo sem maiores erudições e metafísicas, um mínimo de sabedoria que nos permita viver (e morrer) melhor. Tive um amigo, um dileto amigo, que teve, como poucos que conheci, a graça desse aprendizado existencial, cujo acesso não é propriamente gratuito, pois que exige um mínimo de sensibilidade perscrutadora para as experiências banais e extraordinárias da existência

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Esse amigo, pode-se dizer, teve uma vida plena de vivências fundamentais. Conheceu, na carne e na alma, altos e baixos da Fortuna, e teve a Virtude de saber colher os ensinamentos, não raro dolorosos, ofertados pelo instável girar da roda da vida. Tudo isso com um detalhe precioso: não tornou-se amargo, nem irônico nem ressentido. Pelo contrário. Conservou até o fim uma saborosa leveza de espírito, uma capacidade sempre renovada de achar graça nos e dos acontecimentos, como se dissesse a todo momento para si e para os outros: “É assim mesmo. Vamos em frente”.

Sua máxima filosófica resumia-se a uma frase que repetia a cada contratempo, a cada contrariedade: “É preciso colaborar com o inevitável”. Máxima que ele muitas vezes tratava de explicar, como que para reforçar o significado do que dizia: “Não adianta sofrer demais com o que não se pode mudar. O mais certo – e mais producente – é aceitar o inevitável, administrá-lo, e, se possível, superá-lo”. Em outras palavras, seguir com a vida, ir sempre em busca do que ainda poderá vir, não prender-se melancolicamente ao ingrato presente ou ao passado sombrio, ter olhos abertos para o futuro, o qual costuma nos acenar, ilusoriamente ou não, com a possível realização de nossas humanas esperanças.

Lendo recentemente um texto sobre os estoicos, antigos filósofos gregos e romanos (Zenão, Epiteto, Cícero e Sêneca, entre outros), constatei que o meu amigo pertenceu, em alguma medida, e mesmo sem sabê-lo, a essa escola do pensamento, cuja ideia central era – e é - “a de que só deveríamos nos preocupar com as coisas que podemos mudar e não deveríamos nos perturbar com mais nada”. Os estoicos acreditavam (e acreditam) que “podemos escolher como será nossa reação à boa e à má sorte”. Ou seja: “não temos de nos sentir tristes quando algo que queremos dá errado; não temos de sentir raiva quando alguém nos engana”. Vejam só.

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Não digo que o meu amigo tenha sido um estoico na plena expressão da palavra, ao ponto de não sentir raiva nem entristecer-se com os reveses. Mas o certo é que ele, passado o primeiro e humano desabafo, logo voltava ao sábio refrão: “É preciso colaborar com o inevitável”, o que demonstra que procurava, dentro do possível, manter o extravasamento das emoções sob controle. E nisso estavam, simultâneas, a sua humanidade e a sua sabedoria.

É certo que, levado ao extremo, o estoicismo pode nos conduzir à indiferença, o que também não é bom. Segundo o professor britânico Nigel Warburton, “o estado de indiferença defendido pelos estoicos pode diminuir a infelicidade diante dos eventos que não conseguimos controlar. Contudo, talvez tenhamos de pagar o preço de nos tornar frios, insensíveis e talvez até menos humanos. Se esse for o preço da tranquilidade, talvez seja alto demais”. Concordo plenamente. Nem tanto nem tão pouco, como se diz. Tenhamos bom senso. Controlar as emoções e as paixões, sim, mas não ao ponto de suprimi-las de nossa experiência.

Uma frase célebre, atribuída parece que equivocadamente a José Américo de Almeida, em seu livro “A bagaceira”, insere-se também nessa linha estoica. Refiro-me a “O que tem de ser, tem muita força”. Sim, porque reconhecer a força do que tem de ser é aceitar sua inevitabilidade, o que implica renunciar a brigar com o que não pode ser diferente. No fundo, trata-se tão só de aceitar nossas limitações, nossos pequenos recursos perante o poder imenso das circunstâncias, dos acontecimentos, do acaso, do destino, da Providência ou seja lá do que for. Trata-se de baixarmos humildemente a orgulhosa cabeça diante do que é maior do que nós. E aqui, claro, não se está defendendo um generalizado conformismo por parte dos homens, mas apenas a ciência de não se dar, inutilmente, murro em ponta de faca, como bem recomenda a sabedoria popular.


Sabemos por experiência que não é fácil suportar as vicissitudes. Nossa tendência, quase incontrolável, é nos zangarmos, nos revoltarmos. Mas nada que uma noite de sono não acalme e esclareça. E aí, sim, com a ira dominada, podermos nos dar ao luxo de humanamente colaborarmos com o inevitável.