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Nem todas as escrituras, revelações, ensinamentos, livros, bibliotecas, templos, obras de arte foram suficientes. Nem todos os mestres, Jes...

Germano romero ambiente de leitura Carlos romero

Nem todas as escrituras, revelações, ensinamentos, livros, bibliotecas, templos, obras de arte foram suficientes. Nem todos os mestres, Jesus, Buda, Confúcio, Moisés, Abrahão, João Batista, Aristóteles, Trismegisto, Luthero, Platão, Blavatsky, Kardec, Madre Teresa, Chico Xavier, João Paulo II, tampouco os de hoje como Divaldo Franco e Yuval Harari foram suficientes.

Nem toda a monumental obra deixada por Dante, Goethe, Victor Hugo, Shakespeare, Cervantes, Camões, Balzac, Exupéry, e tantos outros foram eficazes. Nem Rodin, Renoir, Da Vinci, Michelângelo, Vincent, Monet, nada...

De ciclos em ciclos, glórias e tragédias, dramas e espetáculos, perdas e ganhos, idas e despedidas, a existência é inexoravelmente tecida
Nem todas as sublimes melodias escritas por músicos como Bach, Beethoven, Bruckner, Mahler, Chopin e Sibelius foram bastantes...

Nem todas as “zoicas” eras que alteraram a crosta terrestre e os períodos vividos pela humanidade por milhões de anos, e nem mesmo o canto dos pássaros, o desabrochar das flores, o murmúrio das ondas, a cantiga da chuva, o balé das nuvens, das borboletas, o brilho da lua, das estrelas, a dança espiralada dos bilhões de galáxias e todos os fantásticos mistérios do mundo invisível e subatômico parecem ter sido suficientes para nos preservar a esperança.

Mesmo cientes de que a “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face”, como ensinou Allan Kardec, somos incapazes de entender que toda a Fonte da qual jorram e jorraram as maravilhas e turbulências já vividas tem origem na Lei que tudo rege.

De repente, um vírus que é criado pelos mesmos fenômenos biológicos da Vida e se alastra contaminando seres humanos por todo o planeta aterroriza terrivelmente a população incauta e esquecida. Esquecida do que já viveram os milhares de gerações, de seus dramas, suas guerras, suas pestes e tragédias pelas quais sucumbiram milhões de outros seres e renasceram outros tantos.

Esquecidos estamos, sim, de que a todos esses fenômenos sobrevivemos, progredimos e continuamos a evoluir, era após era, no ciclo das encarnações sucessivas e por onde o mundo se renova.

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E que mundo! Uma minúscula partícula perdida na poeira cósmica, revestida de uma atmosfera azul, que abriga mares, rios, florestas e bichos lindos. Um mundo que, mesmo tão pequenino, se veste de estações floridas, invernosas, frutíferas e ensolaradas. Que é varrido por brisas e ventanias, acariciados por mares deslumbrantes, gelado em seus picos, caloroso em seus trópicos, e iluminado por luas de todos os tamanhos, que nascem em sintonia com as marés, o uivo dos lobos, o piar das corujas e o sibilar dos grilos noturnos. Não, meus amigos, alarguemos a visão que costuma se fechar ao imediatismo da percepção estreita.

Lembremos de que tudo passa, como já passou, repassou e renasceu. O mundo não vai acabar com coronas e covids. A vida segue seu curso como giram e brilham as galáxias e constelações. De ciclos em ciclos, glórias e tragédias, dramas e espetáculos, perdas e ganhos, idas e despedidas, a existência é inexoravelmente tecida, desde quando viemos do lodo, perambulamos pela pré-história, nos abrigamos em tocas, tribos e cavernas e despontamos à nova era. Tudo conduzido magistralmente pelas mesmas leis que fazem a Lua e o Sol girar, nascer à hora certa, no lugar certo. E assim permaneceremos, sob o céu que nos protege, nascendo, morrendo, renascendo, progredindo sempre, tal é a Lei.

“Ah homens de pouca fé”...


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Não entendo de poesia, apenas gosto. Desde adolescente folheava com volúpia a coleção completa dos Sonetos de Shakespeare que estava sempr...

germano romero sonets shakespeare

Não entendo de poesia, apenas gosto. Desde adolescente folheava com volúpia a coleção completa dos Sonetos de Shakespeare que estava sempre a me acenar na biblioteca de papai, como se me lembrasse: “aqui você encontra a paixão das coisas todas”.

Era um jardim encadernado de flores e espinhos, dores e amargura, prazer e paixão, no qual o autor esculpiu em letras o perfume ardente e apaixonado da vida na mais grandiosa eloquência. A ponto de dizer que: “Nos olhos das estrelas se entende a Arte e neles toda a beleza e a verdade findam!”

Era o mesmo deleite que papai sentia na Música. Ele nunca entendeu a diferença entre uma fusa e uma colcheia
Quem precisa conhecer formalmente a poesia para entender o amor que está lapidado no coração de alguém que a outro diz “Os meus olhos desenharam a tua forma, e os teus, para mim, são as janelas em meu peito por onde o Sol deleita-se em admirar, vendo-te dentro de mim”?

E não era só a paixão que me enfeitiçava nos sonetos de quase 500 anos. Era tudo. A profundeza filosófica, a tragédia, o drama – no que o autor foi insuperável. Capaz de suavizar a dureza das verdades com a doçura dos versos, para falar da crueldade do tempo e de sua efemeridade: “Os dias firmam seu passo na juventude. E cavam suas sendas sobre a fronte da beleza; Alimentam-se da raridade da natureza, mas nada impede o firme corte de sua foice.”

Aristóteles fez uma tipologia das mais perfeitas a respeito da tragédia. E ele estava preocupado exatamente com a recepção
Nem sequer eu sabia das métricas, pois só lia, dos sonetos, as traduções. Embora a coleção fosse bilíngue, de fácil cotejo, eu desejava sorvê-los na rapidez do sentimento sem esforço.

Era o mesmo deleite que papai sentia na Música. Ele nunca entendeu a diferença entre uma fusa e uma colcheia, nem identificava em quantas ou em quais vozes a melodia percorria as fugas de Bach. Mas as sentia em ecos enebriantes que lhe regozijavam a alma. E assim, conhecia e dominava até mais profundamente a história e a literatura musical distinguindo a essência dos estilos e da personalidade de cada compositor que admirava, do que certos doutos especialistas na Divina Arte.

Saber é sentir. Mais do que conhecer. Amando se entende mais do que estudando. A técnica é fria, aritmética. O sentimento é doce, volátil, sublima-se no enlevo que produz nos que sentem as sutilezas e entrelinhas da música e da poesia.

milton marques jjunior
Milton Marques
A propósito desta estesia, em boa conversa com o amigo e professor de Letras Clássicas, Milton Marques Júnior, ele me falava sobre a arte de sentir a arte:

“Germano, quem gosta de poesia não precisa saber nada de sua técnica. Basta senti-la. A arte é assim. Arte é estesia. Você não precisa conhecer os mecanismos da arte, basta que a estesia, a sensação repercuta em você. Há 2.500 anos, Aristóteles fez uma tipologia das mais perfeitas a respeito da tragédia. E ele estava preocupado exatamente com a recepção - Como é que o público recebia a tragédia. Como é que se acolhia um texto que é ao mesmo tempo literário e dramático. E nessa recepção, ele dá uma orientação a quem quer ser poeta, quem quer ser escritor, dizendo uma frase muito simples, mas que ficou na memória de quem estuda literatura: ‘O poeta não é o fabricante de metros, mas o fabricante de mitos’. Porque o mito, a fabulação, a poesia que existe na construção narrativa ou poética, isso é que é o mais importante. Mais do que o metro, a ossatura ou de qualquer outra coisa. Ou seja, o importante na poesia é a essência e não o esqueleto”. E arrematou: Sentir a Arte é aprendê-la com a alma”.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Sem dúvida ela era uma mãe. E, como todas, sempre preocupada com as crias, a absoluta prioridade de sua vida. Olhava ao redor e só via ince...


Sem dúvida ela era uma mãe. E, como todas, sempre preocupada com as crias, a absoluta prioridade de sua vida. Olhava ao redor e só via incertezas. Os biscoitos, bombons, pirulitos, todos próximos de perder a validade, acenavam como uma advertência para um dramático porvir, no fiteiro encostado junto à porta.

A surpresa é um ótimo tempero da emoção. Tem sabor diferente daquela que buscamos sob o afã da boa saudade, digamos, de uma emoção desejada...


A surpresa é um ótimo tempero da emoção. Tem sabor diferente daquela que buscamos sob o afã da boa saudade, digamos, de uma emoção desejada, planejada. A que vem subitamente, imprevisível, e nos arrebata ao sentimento inebriante, é mais intensa.

Ainda garoto, entre 10 e 12 anos de idade, percebi uma grande empatia com a música de Chopin. Sobretudo dos prelúdios e noturnos para piano vinha-me uma nostalgia longínqua, sentida como um déjà-vu de antigas experiências encarnatórias. Na coleção completa da Abril Cultural, os discos chegavam encartados em álbuns muito bem redigidos e ilustrados num contexto biográfico, cenográfico e musical da vida e obra do compositor. Imergia-me por inteiro naqueles álbuns, vendo-os e ouvindo-os.

jose alberto kaplan
Maestro J. A. Kaplan
Penso que foi daí que nasceu o estímulo para estudar piano e desfrutar dos doces anos de pré-adolescência na melodiosa convivência do Conservatório Paraibano de Música, Escola Anthenor Navarro e posterior Instituto Superior de Educação Artística. Experiência que, anos mais tarde, me arrebataria de volta ao ambiente acadêmico, já arquiteto, para uma inesquecível comunhão com um aprendizado mais apurado, durante cinco anos consecutivos, sob a classe do professor e maestro José Alberto Kaplan. Ainda hoje sinto saudades da atmosfera mágica que exalava dos corredores do Departamento de Música da UFPB, pelas frestas das portas, em fragmentos melódicos, escalas e arpejos dos vários instrumentos ali estudados. Como se estivessem eternamente ensaiando e se afinando para um grande concerto…

Quando entramos na sala onde estava o piano, não consegui controlar o choro quase soluçado
Graças à intimidade com a Música, desde a tenra infância, tendo como pai e mãe grandes apaixonados pela divina arte, e, talvez, também a traços avocados de outras encarnações, foi com natural espontaneidade que sintonizei com as grandes obras, ainda criança.

Com Chopin, havia algo diferente. Um sentimento que me rebuscava a memória inconsciente, de onde surgia com absoluta clarividência o que sua música queria dizer à “minha”. Parecia cristalina a nitidez que havia naquelas peças cheias de sutilezas, de melodias que dialogavam e se permutavam em variados registros, uma dentro da outra, do plano mais agudo ao mais grave, compondo um tecido estupendamente bem lapidado com a mais perfeita harmonia. Era definitivamente um compositor que me dizia coisas muito particulares.

Chopin por Delacroix
Chopin por Delacroix
Anos mais tarde, em uma viagem à Polônia, assim que entramos no saguão do hotel Mercure Frederyk Chopin, em Varsóvia, lá estava ele. Enorme, num painel que varava a altura do piso a teto, em uma reprodução ampliada da célebre tela de Delacroix. Começaram aí as surpresas polonesas.

Nos dias seguintes, ao perceber que o compositor pulverizava sua imagem em vários recantos da cidade, desde o aeroporto internacional, que também leva o seu nome, aos postais de bancas de revista, descobrimos que a sua cidade natal, com o inusitado nome de Żelazowa Wola, ficava a apenas uma hora da bela capital. E para lá rumamos, na manhã seguinte, de olho no mapa de papel, pois não havia GPS. Eu, Deives, papai e a amada boadrasta, Alaurinda. Já da estrada efervesciam-me os princípios da emoção que nos aguardava, só em pensar que Chopin, um dia, pusera os olhos naquelas paragens ora vistas do carro, ao som de sua música.

frederic chopin
Casa onde nasceu Chopin
Numa esquina de um bairro muito arborizado, à sombra de belas copas verde-oliva, ei-la: A casa onde ele nascera. Em silêncio introspectiva e naturalmente estabelecido, descemos. Após resolvidos os protocolos de acesso, adentramos o lindo recinto, muito bem conservado, com uma arquitetura nobre de paredes e janelas de molduras brancas, telhados escuros, bem no meio de um bosque.

Lá dentro, a sonorização do ambiente com suas obras dava alma àquela casa, aos móveis, a tudo. Quando entramos na sala onde estava o piano, não consegui controlar o choro quase soluçado, broto de profunda emoção. Ao perceberem-me às lágrimas, meus queridos familiares me envolveram em um dos mais significativos abraços, inebriado por um dos noturnos preferidos do grande Frédéric.

Depois, no bosque atrás da casa, à frente de um riacho que corria por dentro da relva ondulada, igualmente sonorizado, pude, em prece, agradecer-lhe pela obra imortalizada, que até hoje encanta o inesgotável mundo das artes.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Era manhã de pandemia. Que nada tinha a ver com aquele dia. Quanta indiferença da natureza à aflição que o mundo vive. Que insensibilidade ...

germano romero um dia atrás do outro

Era manhã de pandemia. Que nada tinha a ver com aquele dia. Quanta indiferença da natureza à aflição que o mundo vive. Que insensibilidade destas borboletas que insistem em beijar flores no jardim, assim que o Sol se mostra. Incansáveis serelepes não desistem de espalhar o amor que as multiplica.

As nuvens idem alheias, se desatam em mil formas sugerindo liberdade ao inimaginável. E logo se dissolvem ou renascem entre outras, num dos espetáculos que mais exprimem a efemeridade da existência.



jardim da poesia
As ondas sobre o mar também indiferentes. Desfilando enroscadas pelo vento, desenham risos brancos que emprestam ao mar um semblante de esperança em profusão iluminada. Há quantos milhões de anos ele tenta nos dizer isso, de inverno a verão, noite e dia, sob os mistérios da escuridão sem lua ou ao brilho que ela derrama para um deleite tão sublime quão fugaz… E há tantos que o escutam sem ouvir. Sem ao menos perceber que o marulho também canta.

Por cima dele as tartarugas se esbaldam à luz desses dias que intermediam a chegada do inverno. O mar agora é mais delas. Vez por outras espiam o mundo para ter a certeza de que o de baixo, submerso e protegido, é melhor do que aqui fora Não há riscos virulentos. Ainda se houvesse, seguiriam confiantes, como as nuvens e os pássaros, nos dias que hão de vir. Foi assim a vida toda, nunca nada questionaram nem deixaram que o medo trepidasse em seu caminho. Fazem jus ao que ensinam as lições do meigo Mestre. Para que se inquietar com o dia de amanhã, pois se o tempo que virá cuidará do próprio eu?

Somos todos pó e alma que revolvem pela vida, ora em terra ora em céus
Confinados, é só o que nos resta. Quiçá agora com mais tempo para ver os cenários a vagar, nos inspirem a refletir sobre o curso da história. Foram tantas pandemias, foram tantas agonias… Por elas inúmeras gerações transitaram, sucumbiram, superaram ou não seguiram. Umas se foram, outras chegaram, no vai-e-vem inexorável da vida que não pára, no que nasce e renasce, assim decide a Lei.

Confinados, gratidão é o que nos resta, longe da felicidade. No mundo próximo e paralelo tudo segue com dureza. Aos que sorte não tiveram, aos que lutam pela vida, aos que nunca se isolaram, por dever ou não poder, havemos de vibrar com todo o coração. Imaginem-se sem eles…



jardim da poesia
Volto os olhos à janela e ao jardim que me sorri. Outro sempre a nos dizer “tenha calma, tudo passa”… Lembre de quem hoje vive nos canteiros de Monet... Imagine que outros olhos no futuro estarão espiando as borboletas sem sequer imaginar que por elas te encantavas. E assim tudo se vai...

Confinados, isolados, resta a história que nos livros tanto tem a ensinar. Ou a música que enleva sob o dom de fazer crer que acima do azul, onde o céu ilude a vista, o universo resplandece em seu rumo espiralado. Ainda que o olhar não alcance tantos sonhos, que a paz não se esconda na ilusão do que não passa.

Se as tantas gerações, entre gênios e artistas, que na Terra transitaram no destino que lhes coube, prosseguiram sem cessar entre as vidas sucessivas, por que a nós não caberia igual sina ou desventura dos grilhões a que nos prende este carma inexorável? Somos todos pó e alma que revolvem pela vida, ora em terra ora em céus, irmanados na essência, semelhantes produzidos pela Criação Divina. Que a esperança nos conceda, sob a fé raciocinada, a certeza de que tudo o que vem ou já passou é o que tem de acontecer, como um dia atrás do outro.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Se dizem que a nossa terceira visão vem da glândula pineal, uma espécie de olho que nos serve de antena para a conexão eletromagnética com ...


Se dizem que a nossa terceira visão vem da glândula pineal, uma espécie de olho que nos serve de antena para a conexão eletromagnética com as energias sutis do universo, certamente os poetas devem ter um quarto olhar.

Poeta, aquele que capta e transcreve à criação o que é capaz de modular sentimentos como soa o que é música. E não precisa ser em versos. A simples habilidade de montar frases, contadas e rimadas, está muito longe da poesia, que nem de alfabeto carece. Está no olhar, no ouvir, no sentir, no dizer. Na melodia de uma pintura, na paisagem de um sorriso, no voo da borboleta, ou de um pássaro no jardim…

O cronista que possui essa visão, que somada à pineal, anteninha que regula nossos ciclos, produz substâncias neurotransmissoras e nos conecta às sutis camadas do plano espiritual, é capaz de ser poeta.

Físicos teóricos já concluíram haver dimensões imperceptíveis, além das três espaciais e da quarta que é o tempo. Dimensões sensíveis à tal glândula, que “vê” e percebe além da córnea, detecta sutilezas invisíveis ao olhar comum. É o pequeno radar que está relacionado à clarevidência, à telepatia, premonição e mediunidade. Está tudo na “Teoria das Supercordas”, um capítulo impressionante da Física Quântica.

Dessas elucubrações, teóricas ou práticas, visíveis ou invisíveis, palpáveis ou sutis, vem a ideia de que o poeta sabe, não sabe que sabe ou vê por todas essas brechas. É das réstias ou filetes de luz que perpassam tais canais da intuição, sussurram ao olhar e vibram pela privilegiada epífise de quem enxerga a vida com seus encantos que descende a poesia.

gilberto amado
Gilberto Amado
Um fenômeno não menos quântico que faz artistas como Sérgio de Castro Pinto colocar toda a bicharada num “zoo” mais grandioso do que o que Noé juntou na Arca. Um milagre que fez as letras de Shakespeare ferverem na paixão que a alma sente ao se enebriar com o bafo ardente e flamejante do amor. Que tornou Gilberto Amado capaz de abrigar a beleza de todos os oceanos numa gota de poesia com gosto de mar. Que faz um cronista como Gonzaga Rodrigues (foto) juntar frases e ideias, tecendo dramas, cheiros e cenários arcabouçados com a habilidade de um “joão de barro”.

Assim se vê a poesia verdadeira, muito acima da rima, do simplório versejar, do baldo cordelista ou trovador loquaz, tantas vezes amarrotados com a forçada imposição de uma regra além da conta. A poesia é bem maior. Quântica e sutil como quarks e neutrinos, além do que é risível ou da cota do visível.

A poesia está na crônica. No cronista que vê coisas, por mais pífias e sem graça com uma grande diferença. Mas a ele são vultosas, brilhantes como a lua, falantes como o grilo, gritantes como o amor.

suely cavalcanti dias
Suely Cavalcanti Dias
Lembrei disso ao receber recentemente da amiga Suely Cavalcanti Dias, confrade e educadora espírita, amiga de meu pai, Carlos Romero, um recorte de uma crônica escrita há 73 anos, n’A União. Em que fala de uma época, quando foi designado para fazer reportagens sobre os debates no plenário da Assembleia Legislativa de então. “Com o decorrer do tempo e da rotina”, ele foi observando, pouco a pouco, “num desses deslizes do olhar”, a fisionomia cansada e atenta de um dos frequentadores das galerias - um funcionário público aposentado “que trazia no semblante desbotado pela vida, a tortura e os restos de suas últimas decepções” - Isso é poesia!

Segundo o cronista, o curioso personagem não faltava a uma sessão sequer. E, “apesar da madureza de sua idade, da severidade doentia de seu aspecto, entremostrava um certo fulgor de encantamento no olhar” - Que beleza!

Este foi um encontro de olhares que se fitaram apenas pela sintonia da emoção vivida nos instantes puros de uma observação sensível. Através daquele semblante perdido nas galerias, e quiçá da pineal privilegiada pela fina intuição do cronista, um personagem marcado pelas perspectivas sombrias da desesperança foi criado. Como símbolo de uma realidade muito humana e de um sentimento de empatia pela condição do semelhante.

Empatia essa que se traduz no bálsamo que enleva a alma embevecida com a arte que os bons escritores têm brindado o mundo e nos feito mais felizes.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

“Estão descascando a aroeira” - ele entrou dizendo, logo cedo, ao voltar da calçada que costumava espiar todas as manhãs, feito as borbolet...


“Estão descascando a aroeira” - ele entrou dizendo, logo cedo, ao voltar da calçada que costumava espiar todas as manhãs, feito as borboletas que lá voejam. Doido por plantas, flores e folhas, inclusive as secas, em que via uma expressiva mensagem sobre a efemeridade das coisas, Carlos Romero é assim. Um cronista suave feito a brisa que sentia ao visitar esse canteiro, na calçada da rua, onde plantou tantos mimos do qual hoje florescem, além dos pequenos flamboyants, infinitas e gratas recordações.

aroeira
Aroeira da Praia
Curiosos, fomos olhar a aroeira. Realmente, em alguns trechos, haviam-lhe sido estranhamente retirados grandes pedaços da casca de seu tronco. Quando voltamos para o café da manhã, nossa secretária, um tanto entendida da medicina empírica, foi logo dizendo: “Essa planta é boa para o estômago. Fazem chá da casca”. A posologia foi depois confirmada pelo Google e tudo ficou bem, se era para o bem.

E a aroeira continuou sendo despida sem nenhuma vergonha da strip-tease benfazeja às azias e queimações, tampouco dos transeuntes que não se intimidavam em desnudá-la. Mesmo assim, frondosa e verdejante, demonstrava o ar de superioridade merecida e pertinente ao reino de suas espécies. Apesar de tão depredadas e menosprezadas, as árvores sabem que sem elas não haveria vida alguma pela Terra.

poivre rose
Massa com pimenta rosa
Certa vez, caminhando nas vielas de Saint-Paul de Vence, num dos adoráveis périplos pela riviera francesa, e, como gosto de cozinhar, entramos em uma loja de ervas culinárias para comprar uns temperinhos que perfumariam futuras experiências gastronômicas. Depois de escolhidos alguns sachês, entre eles veio um vidrinho com umas bolinhas cor-de-rosa, recomendadas pela moça da loja como saborosas e aromáticas. Ao perceber que éramos brasileiros, disse apontando para o tal recipiente: “essas poivre-roses [no rótulo estava escrito “Baies Roses”] vêm lá do Brasil, vocês não conhecem?” Nos entreolhamos e discordamos. Não, não as conhecíamos. Só depois ficamos sabendo que se tratavam de pimenta-rosa, uma especiaria usada em alguns pratos refinados, polvilhada moderadamente em saladas, canapés, purês e cremes salgados. E o melhor: eram justamente o fruto da aroeira. Aquela cuja casca “é boa para o estômago”.

Claro que papai, patriota como si, ficou todo ancho. Afinal de contas, tinha sido ideia sua plantar uma muda no canteiro da calçada. Agora mais ainda ao saber que ela também era conhecida no exterior, apreciada pelos franceses e vendida até na Côte d’Azur!

aroeira da praia
Tilápia ao molho de pimenta rosa
Já de volta às nossas rivieras, igual ou superiormente melhores do que as outras do mundo afora, os pratos preparados com as pimentinhas-rosas tiveram sabor duplo. Do sutil e aromático paladar e das lembranças de Saint-Paul de Vence.

Um belo dia, para surpresa nossa, já familiarizados com as bolinhas coloridas, descobrimos muitos pés de aroreiras que exibiam cachos e mais cachos exuberantes de poivre-roses, quando pedalávamos pelas trilhas de praias e maceiós do litoral sul. “Olha só!” - exclamamos – “serão elas?” Depois de provar e comprovar, enchemos os bolsos. Sim, eram elas, as próprias. Sem precisar dos euros. Apenas pelo custo dos arfantes e renovados pulmões, cheios de ar puro com gosto de mar.

Em outras viagens, achávamos graça vê-las nas prateleiras das épiceries, custando alguns euros e agora, para nós, só o prazer das brisas tropicais.

Mas a lição que ficou não tem apenas o sabor da pimenta, que nem arde, e nem das boas e eternas lembranças de viagem com a família, sempre em torno do amado pai. Veio junto com a realidade que se evidencia na negligência perante os tesouros nativos que se extinguem com a indiferença e a voracidade do progresso desenfreado e sem controle.

Com as aroreiras, estão indo embora de nossas vistas, saúde e paladar os pés de guajirus, de maçaranduba, pitombeiras, mangabeiras, pitangueiras. Tristes, testemunhamos jardins e quintais, falésias e matas nativas dando lugar à inexorável expansão urbana. Tudo se preparando para ser visto, num futuro sombrio, apenas por fotos ou lembranças do que era verde...


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

E nos restou A União! O célebre e centenário matutino, cujas “remingtons” tilintavam no varar das madrugadas ao sabor e aroma do café e do ...

germano romero correio da paraiba jornal impresso arquitetura

E nos restou A União! O célebre e centenário matutino, cujas “remingtons” tilintavam no varar das madrugadas ao sabor e aroma do café e do pãozinho quente trazido à redação.
jornal a uniao joao pessoa
Jornal A União
Este cenário, tendo a praça João Pessoa vista das janelas de então, na fachada neoclássica do lindo prédio demolido, tenuemente iluminada, foi escrito e descrito várias vezes por Carlos Romero. Em memória emocionada, nos contava com prazer sobre a convivência salutar e proveitosa que desfrutou n’A União, desde quando lá chegou para redigir telegramas. E depois como repórter, já na redação, a prazerosa e privilegiada amizade com seu chefe, o dramaturgo e cronista pernambucano, Silvino Lopes, com quem muito aprendeu. Aliás, “foi n’A União que aprendi a escrever” - ele dizia com honroso reconhecimento.

germano carlos romero jornal união
Germano e Carlos Romero
Há poucos anos [creio que já contei por aqui], tivemos a oportunidade, eu e meu pai, Carlos Romero, de folhear os velhos compêndios da coleção antiga, com o prazer de ver e reler colunas, textos, reportagens, crônicas e contos de sua autoria. Como foi bom vê-lo curioso, passando devagar, quase apalpando, delicadamente, as grandes páginas, frágeis e desgastadas, com máscara e luvas [e nem tinha coronavírus…] aquelas edições históricas! Já no carro, ele se virou e me disse: “meu filho, eu desafio a quem aponte uma pessoa que escreveu mais n’A União do que eu”. E é verdade…

E nos restou A União! Foram-se O Norte, o Contraponto, o Jornal da Paraíba, e agora o Correio. Que pena… Mas os impressos não sossobram apenas por aqui. Assim também partiram as edições de papel do Jornal do Brasil, Diário do Comércio, da Gazeta, New York Times, Washington Post, The Guardian, e tantos outros.
jornal do brasil extinto
É o mundo digital engolindo o real, o palpável, o crível. Um mundo que tem suas comodidades, não restam dúvidas, mas que extingue o cheirinho gostoso de papel. E aos poucos - tomara que não -, o cheiro bom das livrarias…

O Correio foi o último dos independentes, da iniciativa privada. Atravessou décadas, fez história, passarela de cronistas, repórteres, articulistas, colunistas dos melhores. Abrigou a coluna cidadã de Abelardo, uma vitrine de informações e atualidades imprescindível ao cotidiano. Crispim, Pereira Nóbrega, Gonzaga Rodrigues, Carlos Romero, Natanael Alves, Virginius da Gama e Melo, Juarez da Gama Batista, João Manoel de Carvalho, Biu Ramos, gente que fez a boa literatura ser diária como o café da manhã, que fazia do Correio seu bom dia à notícia. E foram quase 70 anos de compromisso com a informação!

Agora, nos restou A União. E que União! Ainda bem que, segundo nos informa Naná Garcez, é um jornal superavitário, não dá prejuízo e não precisa dos cofres do governo para nada. Tem renda própria, tem gráfica, propaganda. E cá entre nós, nesse quase século e meio, já é um patrimônio imaterial e intangível, cada vez melhor. E mesmo se um dia for extinto, ocupará lugar de honra na história do jornalismo brasileiro como escola superior da arte de escrever.

Como bradou em crônica um de seus mais ilustres colaboradores: “Que este matutino continue na sua missão. Que nenhum governador se meta a extingui-lo. Que sempre se homenageiem os grandes personagens que transitaram pelos caminhos deste jornal”! (Carlos Romero).



Germano Romero é arquiteto e bacharel em música
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Estamos confinados. Pelo menos quem pode. Mas não há como esquecer dos inúmeros semelhantes que estão tentando ajudar a salvar o planeta da...


Estamos confinados. Pelo menos quem pode. Mas não há como esquecer dos inúmeros semelhantes que estão tentando ajudar a salvar o planeta das consequências da pandemia. Em áreas e setores essenciais à vida, à ciência, à saúde, eles prosseguem no dever inerente às profissões que abraçaram. Lixeiros, médicos, enfermeiros, pesquisadores, entregadores, operários, motoristas, cozinheiros, caminhoneiros, funcionários de hospitais, de farmácias, de supermercados, padaria e outros tantos estabelecimentos que permanecem suprindo e atendendo à humanidade alarmada… E Sartre ainda disse que “o inferno são os outros”. Ai de nós sem esses outros eus de nós mesmos!

E os trabalhadores autônomos, ambulantes, picolezeiros, pipoqueiros, amendoinzeiros, quitandeiros, que ganham em um dia o que comerão no próximo? Que prejuízo, que situação...

Não nos lembramos de ter vivido algo parecido, com tal repercussão na vida e no cotidiano, pessoal, profissional, local e mundial. E olhe que já vivenciamos algumas situações que preocuparam o mundo, mesmo quando viajamos em época de gripes suína, asiática, h1n1, assim como durante ou logo após episódios de poeira exalada dos vulcões da Islândia, dos Andes, terremotos na Nova Zelândia, ondas de terrorismo, mas nada se compara com o que ora nos deparamos.

Esse corona nos tirou literalmente de letra, redundância em propósito! Uma freada brusca no ritmo da vida, sobretudo a urbana. Sim, pois fico pensando como estarão os cenários dos alpes austríacos, das ilhas de Kara, de Barrents, das praias de Beaufort, de Baffin, do lago Yessey, dos campos de neve da Sibéria?... Será que a audácia do corona chegou a tanto? Bem, eles têm o paraíso. Voltemos à realidade...

E nós, como estaríamos se não fossem os outros, em Jean Paul? Como agora grita alto a solidariedade!... Como emerge a importância do conviver, do trabalhar, do usufruir aquilo que a humanidade fez e faz por nós, com tanto trabalho e dedicação.

Como brilham os livros nas prateleiras, as lembranças de outrora, as bibliotecas de música e filmes. Como cantam na memória as ternas amizades, entre elas o abraço, o afago, doce e meigo de nós outros, dos que Sartre num rompante de estresse ou agonia jogou para o inferno. Nem Dante chega a tanto...

E a Internet? Como esse canal se faz tão essencial. Como estaria a população, de todas as classes, sem as redes que interagem, que infundem e confundem?...

Mas há tanto o que fazer... Por nós e pelos outros. Por que não telefonar para aquela tia idosa, uma amiga de seu tempo, trocar umas palavras, uma ideia otimista... Está na hora de ajudar, seja orando ou meditando, emanando vibrações a criar na atmosfera o ambiente favorável de inspirada harmonia. Nem de longe se imagina como assim auxiliamos no caminho da evolução...

Mas há tanto o que fazer... Tantas portas se abriram para a fraternidade. São ações e doações que se expandem de mãos dadas em busca do alívio aos mais necessitados. Adiante, contribua, faça tudo que é possível com os dons que lhe couberam. Escreva, contribua, divulgue o que faz bem, esconda o que não faz. Semeie a esperança, multiplique o otimismo, a paz e a concórdia.

Um dia, lá na frente, haveremos de lembrar da maneira como agimos. Se foi p’ro bem comum ou pra semear discórdia. Se torcemos pelos outros ou por nossos interesses. Se unidos estivemos ou vibramos pelo inferno, que um dia abrigará os que dele usaram ou fizeram acreditar.

Não se engane, tudo passa. O corona, a quarentena e as mazelas que vierem. Só não passam as lembranças que estarão na consciência. De culpa, de remorso, ou de paz e gratidão por si e pelos outros.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música E-mail

Nunca imaginamos que nossa geração viveria uma pandemia. Sem guerras, nem pestes, prosseguíamos aos trancos e barrancos, caindo e levant...


Nunca imaginamos que nossa geração viveria uma pandemia. Sem guerras, nem pestes, prosseguíamos aos trancos e barrancos, caindo e levantando entre os altos e baixos próprios da vida na Terra.

Aos com mais idade, resta toda sabedoria. Impossível não ser sábio aquele que amadurece por inteiro, e assim, esquece ou não sente a idade que tem. “Tem a idade que sente”, como diz Carlos Romero.

Mas, a vida prega peças, e assim nos trouxe mais uma. Como se não bastasse a guerra ideológica que passamos a experimentar após a recente escolha do presidente atual, fruto de posições extremadas, por vezes radicais, de ambos os lados, não raro intolerantes. Quem dera nos inspirássemos no célebre ensinamento para “não fazer aos outros aquilo que nos desagrada – esta, a essência de qualquer conduta humana e que bem reflete o que nos ensinou Jesus. Ah se lembrássemos de Voltaire: “Discordo de tudo o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Mas, ensinamentos são como conselhos. Semeados em terra árida não criam raízes tampouco florescem...

Assim, em meio às angústias da instabilidade política, estoura uma pandemia. Que coisa! Sabe Deus a dimensão do que está por vir. Não em consequência da doença, que, entre muitas das que padecemos não tão fatal nos parece. Mas dos efeitos da recessão que a humanidade experimentará em breve.

Nesses tempos de recato, nada como a reflexão interior para reforma íntima de conceitos e preconceitos, a nos renovar princípios de tolerância e compreensão. Foi daí que veio à tona uma bela lição de Chico Xavier, do livro “Vida e Sexo”, ditado por Emmanuel, que trata da homoafetividade e dos respectivos preconceitos da sociedade, ainda verificados, sem liberdade, igualdade nem fraternidade. Vejamos:

"A homossexualidade, definida no conjunto de suas características por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas. Observada a ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais”.

“Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender porque razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis a vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. “Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranquilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a benção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus. Até que isso se concretize, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas”.

"Dia virá em que a coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos”.



Germano Romero é arquiteto e bacharel em música E-mail: germanoromero@gmail.com

Pelo amor de Deus, é hora de parar! De refletir e agir pelo bem. É hora de buscar o melhor que tenhamos dentro de nós. Conhece-se a verdadei...



Pelo amor de Deus, é hora de parar! De refletir e agir pelo bem. É hora de buscar o melhor que tenhamos dentro de nós. Conhece-se a verdadeira índole de uma pessoa quando a ela se concedem riqueza e poder. Mas é nas dificuldades que também se revela a natureza humana.

O Espiritismo ensina que vivemos em um planeta de expiações e provas, prestes a dar início a uma seletiva regeneração. Espíritos iluminados nos instruem para que entendamos as adversidades, ainda que dolorosas, como oportunidades para crescer, evoluir e neutralizar as marcas que o carma nos reserva. Seja individual ou coletivo.

Jesus Cristo, o filho de um carpinteiro judeu, mostrou que da simplicidade brotam ensinamentos capazes de transformar o mundo, apenas com Amor. Ensinou-nos a mais perfeita oração, que nos intui a fé incondicional para aceitar a vontade de Deus. Parece até que esquecemos disso quando oramos o Pai Nosso...

Mas se você não é cristão, ou não se afina com religião alguma, não importa. O que importa é o bem que se produz. A verdadeira religião é a da conduta, pois é na prática da solidariedade, da fraternidade, que a felicidade é possível. E não na crença.

Nós brotamos no seio deste planeta que tem bilhões de anos, junto com plantas, animais e todas as formas de vida. Inclusive vírus, fungos e bactérias. Sim! Os vírus também são filhos de Deus e bem mais antigos que nós. Há vírus inofensivos e são a forma de vida mais abundante nos rios, lagos e mares. Evoluíram e se proliferaram como todos os outros seres que habitaram a Terra.

O tipo que surgiu agora, amedrontando a humanidade com uma terrível pandemia, é mais um. Sua criação, mutação e reprodução aconteceram inteiramente dentro das leis naturais, das Leis de Deus. Nada acontece no Universo que não esteja abrigado nas leis que regem o fenômeno da Criação. Todas as catástrofes, tsunamis, terremotos, epidemias, guerras, pragas, furacões ocorrem sob as leis universais. As Leis de Deus.

Quando produzimos suas causas, colhemos os efeitos. É da Lei. O arbítrio para semear é livre, mas a colheita é inexorável. Provocamos duas insanas guerras mundiais em menos de 30 anos, mas faz três quartos de século que não mais as permitimos. Aos trancos e barrancos, sofrendo, amando e aprendendo, progredimos. Houve tempo em que comíamos uns aos outros, que sacrificávamos nossos bebês em rituais de inconcebível estupidez. Estamos, sim, evoluindo. Acreditemos.

Agora a humanidade enfrenta uma condição que clama por união. Uma pandemia que suplica atenção, e, sobretudo solidariedade. Não deve haver espaço para a discórdia e a insensatez.

Se há recomendação científica para se recolher, que se respeite. Mas também se respeitem as atividades que não podem parar. Hospitais, serviços de abastecimento de água, gás, luz, alimentos, coleta de lixo, farmácias, padarias, supermercados, transportes públicos essenciais, não! Vamos respeitar, apoiar e entender isso. Se a indústria alimentícia parar, se o supermercado fechar, se o gás não for fornecido, o que será de nós?

Se você é jovem, saudável e não está no grupo de risco, proteja-se e ajude a quem precisa. Vá em frente. Há gente idosa, vulnerável, carente, que nessa hora só conta com a solidadriedade alheia.

Se você tem condições de estar e trabalhar em casa, ótimo. Recolha-se! Interrompa a cadeia de contato físico e preste um bem à luta contra o contágio. Faça leituras e tarefas edificantes. Medite, reflita, ore. Assim estará contribuindo para uma atmosfera espiritual leve e propícia a filtrar os benefícios do Alto. Acredite que há uma população imensa, do “outro lado”, trabalhando pelo bem da humanidade. Mas não critique nem exija que uma família numerosa se confine em uma quartinho de 20 metros quadrados. Tudo tem limite.

Se você é político, afina-se com a política, faça de sua ideologia um caminho de união em benefício coletivo. Esqueça, pelo menos por enquanto, as divergências partidárias. Partidos são partes de um todo em função da comunidade. Partido não é para tirar partido, muito menos da miséria. Não torça contra quem está, no momento, com a responsabilidade de administrar um país que sofre com o medo, com a insegurança, com um futuro obscuro mediante a precariedade de um sistema de saúde pública que nunca foi levado a sério.

Gente, é hora de união, de cooperação, de participação solidária. Não disseminemos pânico, terrorismo, pessimismo. Só unidos é que venceremos mais uma batalha. Pelo amor de Deus!

Ah, meu amigo Fred... que surpresa foi essa, rapaz? Precisava mesmo ser agora? A gente sabe que esse agora não tem hora, e quem sabe não f...



Ah, meu amigo Fred... que surpresa foi essa, rapaz? Precisava mesmo ser agora? A gente sabe que esse agora não tem hora, e quem sabe não faz a hora, mas você deixou os pobres mortais aqui de bico rachado... Como aquele passarinho que sai pelos ares, serelepe e voejante, e, de repente, se distrai e bate com a cara no tronco. Fica atordoado, zonzo e percebe que rachou o bico. Pois é, ficamos assim.

Mas é isso mesmo. O que vem lá do céu não é somente a nossa vã filosofia incapaz de entender. Tem muita coisa por trás das nuvens, dos trovões, da chuva, da lua, do Sol... E a gente sabe que este mistério está todo abrigado pela Lei Suprema que rege e sustenta um montão de galáxias. Inclusive essas surpresas.

Agora, cá pra nós, amigo Féu (eita, era assim que lhe chamávamos...) que ideia foi essa de partir acima das nuvens, cara? Quanta leveza desejasse ter no momento deste duplo voo!... Parece até que queria aproveitar o embalo das turbinas para se alçar logo à Grande Viagem.

Eu sei que de viagem você entende. Quantas vezes comentamos via WZap sobre os périplos de além-mar, tão familiares a nós também. E como você era atencioso, respondendo, compartilhando, lendo nossos textos, falando do meu amado pai... Aliás, dos nossos amados pais, pois sei que de Dr. Praxedes você também é um grande amigo. E a ida a Austrália, hein? Que delícia!

Essa viagem agora, meu amigo, tenha certeza, possui uma amplitude muito maior. É verdade que por um tempo você estará meio zonzo, sem saber direito o que aconteceu (ou será que sabe?...), mas, logo logo, despertará para um mundo infinitamente belo, leve, sutil e bom como você. Daí a importância de que nós, daqui, não cultivemos por muito tempo essa tristeza amarga, e, como costumo dizer, consigamos transformar você “naquela saudade que eu gosto de ter.”

Foi mais cedo que esperávamos? Sim, claro. Mas o que é o tempo daqui comparado com o tempo dos céus? Em breve partiremos também e no mundo daí veremos que os relógios nem existem. Sigamos.

Prazeres, haverá. Não como os muitos que desfrutasse com esse bom humor inigualável, essa cara de quem está curtindo com a cara da gente, com a cara da vida, das coisas todas. Continuará dando, com certeza, essa risada adorável que todos gostávamos de ouvir.

As festas serão outras, mais sublimes do que os assustados e embalos de sábado à noite no Clube dos Oficiais, na companhia de meu mano, Tuca, seu grande amigo das descobertas adolescentes. Assim como de Juca Jardelino, Virgínia Dantas, Tico Gomes, Torbes Gambarra, Ana Adelaide e tanta gente boa daqueles tempos.

É isso, amigo, que saudade baterá, de vez em quando... Imagine em Adriana, tua doce e meiga companheira, bela como uma flor. Imagine seus filhos amados e amigos. Torço muito para que eles logo possam colocar a gratidão acima da tristeza, pois o privilégio de ter tido e convivido com uma pessoa como você nessa encarnação é imensurável. Eles sabem disso.

Fiquei pensando muito na sua partida, de lá do avião. Será que você olhava pela janelinha para aquele tapetão macio de nuvens e resolveu, de repente, que seria agora? Puxa, que ideia. Ao menos a janelinha pudesse ser aberta para que você pudesse acenar de longe, saltitando pelas brancas paragens, dizendo pra gente com o sorriso de sempre: “Desculpem sair assim, sem avisar, galera, mas logo nos veremos e continuaremos a sorrir juntos”.

Até breve, Féu!


Música cheia de vida, planta cheia de vida, cidade cheia de vida. Cheia de vida, expressão cheia de tudo. De brilho, de viço, de ânimo, de...

marcia steinbach kaplan jose alberto kaplan
Música cheia de vida, planta cheia de vida, cidade cheia de vida. Cheia de vida, expressão cheia de tudo. De brilho, de viço, de ânimo, de cor, e humor. De boa conversa, contagiante, enérgica, vibrante. Márcia Kaplan era assim. Cheia de vida. De muita vida.

Dize-me como tratas os animais que te direi quem és. Eis uma pista muito eficaz para definir o espírito e o caráter de um ser humano....

Dize-me como tratas os animais que te direi quem és. Eis uma pista muito eficaz para definir o espírito e o caráter de um ser humano. Aliás, entre as atitudes que delineiam com indubitável nitidez a índole e o nível de evolução de uma pessoa, está o tipo de tratamento que dispensa aos subordinados, aos humildes, assim como aos irmãos que nada têm de irracionais.

Dizem que Mozart compunha “música pronta”, que não corrigia, nem alterava as obras que concebia. Alguns acreditam que contava com inspiraçã...

oscar niemeyer

Dizem que Mozart compunha “música pronta”, que não corrigia, nem alterava as obras que concebia. Alguns acreditam que contava com inspiração mediúnica, tal a fluidez com que compunha. Niemeyer era assim. Num só rabisco seu, podia estar contido todo um projeto.

O caráter festivo dado à última noite do ano, com fogos, reveillons, champagne e muito barulho é compreensível à luz da natureza humana....


ano novo vida nova ambiente de leitura carlos romero

O caráter festivo dado à última noite do ano, com fogos, reveillons, champagne e muito barulho é compreensível à luz da natureza humana. Aristóteles bem poderia ter acrescentado à sua máxima que o homem possui índole também festiva. E por isso, haja Natal, Ano Novo, Carnaval, Páscoa, São João, São Pedro, festa que não acaba mais.

Ó doce solidão, amiga da lembrança, como estás uma delícia ao som deste silêncio. Mais ainda, quando fazes do afeto teu parceiro. A que o...

solidao silencio autoajuda germano romero ambiente de leitura carlos

Ó doce solidão, amiga da lembrança, como estás uma delícia ao som deste silêncio. Mais ainda, quando fazes do afeto teu parceiro. A que ora desfruto, num momento de agosto, muito longe do desgosto, sente ir o doce inverno, aos acenos de um setembro que já vem por acolá.

Mas de volta ao aconchego, deixo vir a solidão. Há quem possa sentir só com o afago deste vento, e a luz que traz a vida de um céu que há lá fora? Há quem possa não ter fé, quando sabe que a Terra gira sem que se a perceba?

E as lembranças que não houve? Solte e veja como é bom. Voe ideias pra bem longe, ou a séculos de um mundo que um dia você viu... Uma ladeira de pedra ao sol, bouganvilles que lhe riam, em um muro sem lamento. Ah quem sabe quantas vidas vêm e passam na memória, e nos falam do eterno, e de tudo que renasce.

Há quem possa ser só, ao saber que se quiser faz de conta que não é? Ao saber que tem a lua, as estrelas e o mar? E a música de um piano à surdina duma sonata, como espelho de si próprio que revela o lado bom.

E a ladeira, onde vi?... Chega agora à lembrança, sem dizer onde eu estava, mas trazendo a tal manhã, salpicada de alegria, e das cores do azul. Era céu naquelas flores, era dia à luz do sol, mas o cheiro de alfazema não negava que de outra era a vida que me vinha.

Será que isso é poesia? Então, só já não estou. Pois a forma da sonata tanto fez que me contou que jamais estará só, quem puder ouvi-la assim. E os olhos maviosos que nos filtram tanta cor?

Como pode estar só quem o mundo sabe olhar? Quem nas árvores vê a alma do planeta a suplicar que não pensem em coisa alguma mais divina que esta Terra.

Não pode estar só quem o mar sabe espiar. Esse sim, um grande amigo, em verdade um deus de água, que nos deu a vida há anos, e há anos ainda dá. É o mar com quem contamos, quando a mente quer trair os anseios do amor.

O amor sem egoísmo, que se dá sem se cobrar, que se quer na vida a dois, e se sabe que pra sempre terá ele que durar.

Como pode estar só quem possui o que amar? E é possível nesta vida não se ter a quem amar?...

Mas o dia virou tarde, cá estou a escutar. Ora, e tempo se escuta? Sim, na hora de uma noite que talvez lhe deixe só. No silêncio do escuro em que ouve as badaladas, dum relógio lá de dentro, que não para de tocar.

Mesmo assim hás de pensar, na manhã que um novo dia faz da noite seu passado. Do passado em que terás outro amigo da saudade.

A ladeira vou descendo e pensando o que virá, lá na curva desta tarde que setembro me trará. Ah lembrei do por do sol, que mais tarde eu verei. Como todos da memória de quem nunca fica só.

Mesmo assim, ó solidão, sendo amada ou odiada, acredite se quiser, que aqui terás guarida, nesta tarde ou nesta noite, de uma vida que se vai, sem cessar, tal é a lei.

Uma das coisas que mais me distraem nas caminhadas à beira-mar, do tipo “pé na areia”, é ver a saga das marias-farinhas correndo pra lá e...

crianças educação ecologia meio ambiente leitura carlos romero

Uma das coisas que mais me distraem nas caminhadas à beira-mar, do tipo “pé na areia”, é ver a saga das marias-farinhas correndo pra lá e pra cá pelas bordas de espuma. É notável a coragem com que elas disparam em direção à água e desaparecem sendo levadas pela enxurrada das ondas. Mesmo as pequeninas não se intimidam e deixam-se literalmente ser tragadas até pela maré cheia.

Fico imaginando o prazer que sentem naquela aventura que mais parece uma mistura de balé, surf, mergulho e esporte radical, inteiramente harmonizadas com o seu habitat.

E quando não estão a pinicar a areia molhada com alegres zigue-zagues, em minúsculas correrias, numa manhã ensolarada, ou no aconchego de uma tarde de inverno, essas douradas galeguinhas estão por ali a cavar os mini-buracos de suas efêmeras moradias.

Outro dia, eu estava sentado lá, olhando o mar, quando notei curiosamente pequenas porções de areia sendo sacudidas de dentro um buraquinho. Pouco mais aparece a danadinha me espiando, com dois pontinhos de olhos pretos e arregalados, como a me perguntar: “que estás a fazer cá à minha porta ó intruso de outro mundo?”...

Calado estava, quieto fiquei. Como havia trazido uns petiscos, assim que ela sumiu novamente, coloquei um pedaço de castanha perto de seu buraco. Antes que meu olhar se esquecesse novamente no atlântico horizonte, não tardou para que a maria reaparecesse desconfiada, logo percebendo a inusitada oferta gastronômica à sua frente. Aproximou-se devagar, apossou-se da comida e sumiu veloz pelo buraco.

E do infinito horizonte desço a imaginação à “casa” da feliz caranguejinha e ao que dentro acontecia. Haveria outros mantimentos alojados em sua despensa? E mais tarde, quando o mar enchesse, que seria da maria? Ou vai ver que esses buracos são para o pão de cada dia?...

Saí a caminhar sem me despedir, e sem dela me esquecer. Mais à frente, outras marias corriam livres, e como a outra, se jogavam de corpo e alma no marzão que já enchia.

Foi quando avistei três garotos, entre 8 a 12 anos, dando com um pau no chão, como atrás de pegar algo. E o súbito receio me veio à mente... seria alvo deles uma daquelas pequenas marias?

Acelerei-me a constatar, e, para a triste surpresa, foi de lá que correu uma. Nisso, o garoto maior que vinha atrás, pegou no chão um coco seco, e perseguiu-a ameaçando-lhe uma tacada, que, só ao som do meu grito, foi enfim interrompida.

Eles se foram desconfiados, e eu, amargurado, a pensar: Que esperança pode-se ter de um país a cujas crianças faltam poesia e não recebem educação?...

Um lugar perfeito para um completo lazer. Assim é o Hawaii.

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Um lugar perfeito para um completo lazer. Assim é o Hawaii.

Em tempos de homenagens à Independência do Brasil , que neste sábado está completando 186 anos de idade, pensemos melhor sobre o assunto. A...

patria patriotismo germano romero

Em tempos de homenagens à Independência do Brasil, que neste sábado está completando 186 anos de idade, pensemos melhor sobre o assunto. Antes disso, porém, livremo-nos daqueles conceitos pré-adquiridos, tão forçosamente impostos, como são os lugares onde nascemos. Afinal, segundo prognósticos existencialistas menos profundos, ninguém escolhe o lugar onde nasce... Ou seja, não há culpa nem dolo em haver-se brasileiro, muçulmano, norte-americano, africano, assim como ninguém tem culpa de ter nascido negro, amarelo, branco, com qualquer cara. Culpa só existe quando a cara vira uma "cara de pau"...