Todo dia passava duas vezes pela janela de O Norte, numa das casas que o Bradesco derrubou para instalar seus serviços em João Pessoa: quando vinha da missa na Misericórdia e quando voltava à tarde da aula no Liceu.
Tinha jeito de soldado velho, o Padre Lima. O jeito, o rosto e o jeito de falar. Escrevia como professor catedrático do Liceu que ainda a...
Padre Lima
Todo dia passava duas vezes pela janela de O Norte, numa das casas que o Bradesco derrubou para instalar seus serviços em João Pessoa: quando vinha da missa na Misericórdia e quando voltava à tarde da aula no Liceu.
O sol mal nascera e a calçada do laboratório já compacta, sem uma frincha onde imprensar o carro. Isso em frente à Lagoa, onde parar é pro...
Calculei mal
Severino Ramalho, ou melhor, a prefeita D. Marta, sua ilustre consorte, foi governar Bananeiras para os bananeirenses e terminou governand...
Coisas de Bananeiras
Ouço falar de Bananeiras desde que um colega de banco escolar, Pedro Germano, saiu de Alagoa Nova ou de Clodomiro Leal, ainda do tempo da palmatória, para estudar no Patronato. Ora, foi isso em 1944 ou 45, a escola agrícola de Bananeiras fazendo a cabeça dos meninos de meu tempo bem antes que soubéssemos do seu antigo fastígio político e cultural. Não foi de graça, pois, o batismo do logradouro mais expressivo da Paraíba com o nome do bananeirense Solon de Lucena. Como poderia ter sido com outro bananeirense, Walfredo Guedes Pereira, historicamente o mais notável dos nossos prefeitos.
Dr. Carneiro Arnaud envia-me o último relatório de gestão do Hospital Laureano. Começo a folhear, detenho-me nos seus recursos humanos,...
Estrela-guia
Hoje, 27 anos depois, parece-me imperdoável que o Conselho Estadual de Cultura não tenha reeditado o livro de Irenêo Joffily logo na prime...
O grande Irenêo Joffily
A moça que vem ajudar pergunta o que fazer duma cartilha de plástico escura, grossa de poeira, achada em cima do guarda-roupa. Coisa ...
Por cima do guarda-roupa
Coisa velha sempre mandam para mim. E lá vêm umas provas em papel com timbre do instituto de Maria Bronzeado onde estudou, no fiado, a maioria dos meus filhos. E, junto, uma fatura da Casa Pires, de Creusa e Adrião, de um rico jogo de talher em caixa de mogno usado uma única vez, que me lembre, num jantar que oferecemos a Tarcisio Burity aproveitando a presença, em João Pessoa, do dr. Italo Gandelmann, autoridade maior da pós-graduação em cirurgia buco-maxilo facial que filho e nora, Fabiano e Tânia, faziam na UFRJ.
Quando apareceram onze esqueletos, infantis na maioria, em pequena caverna da Serra da Raposa, a palavra de León Clerot foi a primeira a s...
Nova Serra da Raposa
São instantes nem sempre tão fugidios quanto possam parecer. - Tudo bem, seu Luiz?! Vou indo por algum desígnio oculto, talvez pela s...
Carminha
- Tudo bem, seu Luiz?!
Vou indo por algum desígnio oculto, talvez pela sombra mesma que começa a se estender meando a calçada, quando ouço, bem em cima de mim, o “seu Luiz” de trato familiar. Era por Luiz, e não havia de ser de outro modo que vinham os chamados de minha mãe. Luiz é o que ouço de dona Edith há sessenta e um anos, desde que a ela me apresentei, correndo atrás, entrando na marinete onde a mocinha entrou, descendo na esquina onde desceu, e mal entra em casa ouve-me as palmas e o nome entrando afoitos pela janela da rua São Sebastião, na Torre.
Foi sempre cheio esse consultório. É o consultório do dr. Azzouz, na rua Augusto dos Anjos. Há de ser mesmo de raiz oriental esse dr. Azzo...
A rua de Augusto
Rastreando o tempo e os motivos que vieram justificar o renome secular de Castro Pinto, Flávio Ramalho de Brito toca, de passagem, em San...
Santos Netto e Augusto
Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do ro...
A pretexto de foto de David
Clic... e surge como um óleo de cores fortes sobre tela que lembra Frans Post, tão exuberante de luz e de força quanto muitas que os pintores holandeses deixaram, nos meados do 1600, para fazer o que David faz neste século exageradamente fotográfico.
Dizem que o pincel de Post não era bom de closes. Nisto, era superado pelo seu parceiro Albert Eckhout, que carrega de rubro os rostos, se excede nos gestos, no detalhe do comportamento ou no tumulto de músculos e de força dilatados num lance extraordinário de dança canibal.
Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a de...
Voltando a Castro Pinto
Mas gravei seu nome desde que li a “Epítome de História da Paraíba”, escrita por um dos filhos ilustres de Alagoa Nova, Manuel Tavares Cavalcanti, “mandada escrever na Administração do Exmo. Snr. Dr. João Pereira de Castro Pinto”. Nisto fui precoce, li nas férias de 1946 na biblioteca local, sem ninguém que me afirmasse onde caía a tônica da tal epitome
A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista anual editada para documentar as “Noit...
Escapando de uma foto de província
A foto é do início dos anos 1940, com Samuel Duarte na Secretaria do Interior e Justiça, àquele tempo o cargo mais importante na hierarquia do Estado, logo depois do governador. O Secretário do Interior respondia pelo governador em suas ausências.
Nela reconhecemos, além do secretário Samuel, o professor Emanuel de Miranda Henriques (que está de roupa escura à direita), que viria se destacar como diretor do Liceu no governo José Américo; e José Simeão Leal, (de gravata borboleta) diretor de divisão da secretaria, a Divisão de Serviço Público, cargo que exerceu até 1944. Concentra-se nele, em Simeão, a razão deste registro.
O 4 de novembro, afinal, está sendo levado em conta. Não como feriado vinculado à data herdada do registro histórico de assentamento da p...
Para ver de perto
Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Pr...
O traço do drama
Beleza a que não podia faltar, como na vida mesma, o seu contraponto de tragédia. A de Sady Castor e Ágaba, trazida à luz por Deusdedit Leitão.
A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo ...
Seu Frederico!
Estamos montando um museu. Insinuo-me no plural do verbo por ser dos que se batem, há anos, contra essa carência inexplicável de um mirant...
O museu da cidade
Museu por si mesma, a casa está pronta, restaurada, e me foi dado ingressar e ver por dentro o aposento onde demorou por pouco tempo a família e a intimidade do homem particular que o palácio ou a causa pública sacrificou. Assassinado há 91 anos, e desaparecida a república que invocou sua luta e seu nome para instalar-se, nenhum outro paraibano tem demorado e subido mais pronta e emocionalmente à memória do seu povo. “Ainda hoje me emociono” – palavras envelhecidas de Celso Furtado, cientista social de universais cenários, recordando impressão da infância.
Só alguns traços, o vinco da boca, a testa bem pronunciada e a cabeça pra cima, como cego, passavam-me a impressão de estar vendo meu amig...
Será ele?
Do final dos anos 1940 até o dia em que o jornal informatizado excluiu dos seus quadros a revisão de provas, ninguém teve o direito de ser melhor na função do que ele. Era o maior de todos nós, dizia Oswaldo Duda Ferreira, depois juiz, tão apegado ao castiço que nem nos sobressaltos consegue esquecer a gramática.
A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento ...
O governo cultural de Tarcísio Burity
Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a via...
A Rua Direita
A ela vem juntar-se o parecer de um velho advogado da antiga amizade que me vendo chegar e sentar a seu lado, no lugar e hora de sempre, em tempos da sede central do Cabo Branco, tentou me adivinhar: “Você ri como defesa, para se enganar, mas o banzo é seu natural”. Ficávamos na calçada do clube, sob uma empanada que encobria a visão inquisitorial da Misericórdia. Já aposentado, doutor Jeremias Maurício de Sena mantinha lugar cativo entre os convivas, sempre reservado, ouvindo uma hora para falar um minuto. Eu ainda moço, sem escola formal, era atraído pela sabedoria menos despretensiosa daquele amigo velho. Sabedoria da lei e da vida.