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Tinha jeito de soldado velho, o Padre Lima. O jeito, o rosto e o jeito de falar. Escrevia como professor catedrático do Liceu que ainda a...

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Tinha jeito de soldado velho, o Padre Lima. O jeito, o rosto e o jeito de falar. Escrevia como professor catedrático do Liceu que ainda alcancei, mas falava o necessário, só o necessário, como Marreiro, um soldado velho que arrastava os chinelos pela calçada do cartório de Alagoa Nova. Por sinal, Padre Lima também foi soldado.

Todo dia passava duas vezes pela janela de O Norte, numa das casas que o Bradesco derrubou para instalar seus serviços em João Pessoa: quando vinha da missa na Misericórdia e quando voltava à tarde da aula no Liceu.

O sol mal nascera e a calçada do laboratório já compacta, sem uma frincha onde imprensar o carro. Isso em frente à Lagoa, onde parar é pro...

O sol mal nascera e a calçada do laboratório já compacta, sem uma frincha onde imprensar o carro. Isso em frente à Lagoa, onde parar é proibido. Saí rodeando e acostei à primeira sombra da calçada que dobra e segue em direção ao Cassino. “Não será um mau negócio ir por dentro, pisando na grama, repassando anos e anos de andares e atenções quase sempre pressurosos, que não davam chance a reparar nas árvores, no verdadeiro sentido do parque”.

Severino Ramalho, ou melhor, a prefeita D. Marta, sua ilustre consorte, foi governar Bananeiras para os bananeirenses e terminou governand...

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Severino Ramalho, ou melhor, a prefeita D. Marta, sua ilustre consorte, foi governar Bananeiras para os bananeirenses e terminou governando uma cidade confinada entre serras e suas tradições para muito além da Borborema.

Ouço falar de Bananeiras desde que um colega de banco escolar, Pedro Germano, saiu de Alagoa Nova ou de Clodomiro Leal, ainda do tempo da palmatória, para estudar no Patronato. Ora, foi isso em 1944 ou 45, a escola agrícola de Bananeiras fazendo a cabeça dos meninos de meu tempo bem antes que soubéssemos do seu antigo fastígio político e cultural. Não foi de graça, pois, o batismo do logradouro mais expressivo da Paraíba com o nome do bananeirense Solon de Lucena. Como poderia ter sido com outro bananeirense, Walfredo Guedes Pereira, historicamente o mais notável dos nossos prefeitos.

Dr. Carneiro Arnaud envia-me o último relatório de gestão do Hospital Laureano. Começo a folhear, detenho-me nos seus recursos humanos,...

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Dr. Carneiro Arnaud envia-me o último relatório de gestão do Hospital Laureano. Começo a folhear, detenho-me nos seus recursos humanos, as lembranças correndo de imediato para pessoas que ajudam e ajudaram na grandeza da instituição. Um nome puxando outro, Efigênio, Carneiro, Raminho, João Batista Simões, Batista Ramos, Julet, minha amiga Letinha, não esquecendo a mulher de sociedade que irradiava o clima de campanha que ainda hoje sustenta o hospital. Falo de Zélia Henriques.

Hoje, 27 anos depois, parece-me imperdoável que o Conselho Estadual de Cultura não tenha reeditado o livro de Irenêo Joffily logo na prime...

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Hoje, 27 anos depois, parece-me imperdoável que o Conselho Estadual de Cultura não tenha reeditado o livro de Irenêo Joffily logo na primeira leva da Biblioteca Paraíbana, iniciativa pela qual tanto nos batíamos no propósito de reanimar a tradição editorial do Estado na instrumentação de sua cultura. Integravam o conselho José Octávio, José Elias Borges, Wellington Aguiar, Itapuan Botto e o locutor que vos fala. Os que não eram vinculados à história ou à antropologia, eram a elas afeiçoados. E passamos batidos

A moça que vem ajudar pergunta o que fazer duma cartilha de plástico escura, grossa de poeira, achada em cima do guarda-roupa. Coisa ...

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A moça que vem ajudar pergunta o que fazer duma cartilha de plástico escura, grossa de poeira, achada em cima do guarda-roupa.

Coisa velha sempre mandam para mim. E lá vêm umas provas em papel com timbre do instituto de Maria Bronzeado onde estudou, no fiado, a maioria dos meus filhos. E, junto, uma fatura da Casa Pires, de Creusa e Adrião, de um rico jogo de talher em caixa de mogno usado uma única vez, que me lembre, num jantar que oferecemos a Tarcisio Burity aproveitando a presença, em João Pessoa, do dr. Italo Gandelmann, autoridade maior da pós-graduação em cirurgia buco-maxilo facial que filho e nora, Fabiano e Tânia, faziam na UFRJ.

Quando apareceram onze esqueletos, infantis na maioria, em pequena caverna da Serra da Raposa, a palavra de León Clerot foi a primeira a s...

Quando apareceram onze esqueletos, infantis na maioria, em pequena caverna da Serra da Raposa, a palavra de León Clerot foi a primeira a ser requisitada. Era o homem do museu das Trincheiras, cheio de queixas do governo de José Américo, a quem acusava de não lhe dar apoio. Fui destacado por Octacílio de Queiroz, de A União, para escalar o penhasco onde já começava, mesmo inacessível, uma espécie de romaria. “Osso não tem idade, mas isso ou sobrou do cólera ou da guerra de tribos” – alvitrou o coronel Elias Fernandes, delegado de Campina, chefe da expedição a que fui me incorporar antes da chegada do antropólogo. Foi minha única reportagem de repercussão fora da Paraíba, reescrita pelo O Cruzeiro, sem menção ao autor e à fonte originais.

São instantes nem sempre tão fugidios quanto possam parecer. - Tudo bem, seu Luiz?! Vou indo por algum desígnio oculto, talvez pela s...

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São instantes nem sempre tão fugidios quanto possam parecer.

- Tudo bem, seu Luiz?!

Vou indo por algum desígnio oculto, talvez pela sombra mesma que começa a se estender meando a calçada, quando ouço, bem em cima de mim, o “seu Luiz” de trato familiar. Era por Luiz, e não havia de ser de outro modo que vinham os chamados de minha mãe. Luiz é o que ouço de dona Edith há sessenta e um anos, desde que a ela me apresentei, correndo atrás, entrando na marinete onde a mocinha entrou, descendo na esquina onde desceu, e mal entra em casa ouve-me as palmas e o nome entrando afoitos pela janela da rua São Sebastião, na Torre.

Foi sempre cheio esse consultório. É o consultório do dr. Azzouz, na rua Augusto dos Anjos. Há de ser mesmo de raiz oriental esse dr. Azzo...

cronica nostalgia urbanizacao
Foi sempre cheio esse consultório. É o consultório do dr. Azzouz, na rua Augusto dos Anjos. Há de ser mesmo de raiz oriental esse dr. Azzouz, para manter-se fiel ao mesmo lugar onde sua denodada aventura começou e logrou a confiança do “Vá ao dr. Azzouz!” / “Leve ao dr. Azzouz!”

Rastreando o tempo e os motivos que vieram justificar o renome secular de Castro Pinto, Flávio Ramalho de Brito toca, de passagem, em San...

Rastreando o tempo e os motivos que vieram justificar o renome secular de Castro Pinto, Flávio Ramalho de Brito toca, de passagem, em Santos Netto. Trata-se de um filho do grande Artur Aquiles, legendário do interesse público através de O Comércio, jornal do começo do século 20, que repercute até hoje. O filho, Santos Netto, foi colega de Faculdade e certamente o de amizade mais próxima de Augusto dos Anjos. Não deixa de ter influído na inserção dos primeiros versos do poeta no jornal famoso.

Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do ro...

Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do rodeio.

Clic... e surge como um óleo de cores fortes sobre tela que lembra Frans Post, tão exuberante de luz e de força quanto muitas que os pintores holandeses deixaram, nos meados do 1600, para fazer o que David faz neste século exageradamente fotográfico.

Dizem que o pincel de Post não era bom de closes. Nisto, era superado pelo seu parceiro Albert Eckhout, que carrega de rubro os rostos, se excede nos gestos, no detalhe do comportamento ou no tumulto de músculos e de força dilatados num lance extraordinário de dança canibal.

Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a de...

Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a denominação do nosso aeroporto. Há pouco, a mudança foi suscitada de raspão por uma das vozes legislativas. Afinal, quem foi esse vulto que a placa do aeroporto tenta lembrar? Dei um depoimento de segunda mão, impressionista.

Mas gravei seu nome desde que li a “Epítome de História da Paraíba”, escrita por um dos filhos ilustres de Alagoa Nova, Manuel Tavares Cavalcanti, “mandada escrever na Administração do Exmo. Snr. Dr. João Pereira de Castro Pinto”. Nisto fui precoce, li nas férias de 1946 na biblioteca local, sem ninguém que me afirmasse onde caía a tônica da tal epitome

A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista anual editada para documentar as “Noit...

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A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista anual editada para documentar as “Noites de Cultura”, quando o governo do Estado premia os destaques do setor. O ano foi o de 1997.

A foto é do início dos anos 1940, com Samuel Duarte na Secretaria do Interior e Justiça, àquele tempo o cargo mais importante na hierarquia do Estado, logo depois do governador. O Secretário do Interior respondia pelo governador em suas ausências.

Nela reconhecemos, além do secretário Samuel, o professor Emanuel de Miranda Henriques (que está de roupa escura à direita), que viria se destacar como diretor do Liceu no governo José Américo; e José Simeão Leal, (de gravata borboleta) diretor de divisão da secretaria, a Divisão de Serviço Público, cargo que exerceu até 1944. Concentra-se nele, em Simeão, a razão deste registro.

O 4 de novembro, afinal, está sendo levado em conta. Não como feriado vinculado à data herdada do registro histórico de assentamento da p...

O 4 de novembro, afinal, está sendo levado em conta. Não como feriado vinculado à data herdada do registro histórico de assentamento da pedra inicial da cidade. Mas ao ser invocado como referência e motivação para a abertura do Museu da Cidade e anúncio da conversão do Palácio do governo em museu do Estado. Deste último falaremos depois.

Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Pr...

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Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Presidente o destinara: acolher a graça e a fineza espiritual da Paraíba representada pelas futuras normalistas.

Beleza a que não podia faltar, como na vida mesma, o seu contraponto de tragédia. A de Sady Castor e Ágaba, trazida à luz por Deusdedit Leitão.

A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo ...

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A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo de José Maranhão, que sobrou no livro que assinei com Ângela Bezerra de Castro, a ele dedicado, e veio se consolidar por aceitação real da cidadania. Arrisco uma olhadela para a clientela da praça da alimentação até deter-me no café, a um canto, onde uma moça

Estamos montando um museu. Insinuo-me no plural do verbo por ser dos que se batem, há anos, contra essa carência inexplicável de um mirant...

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Estamos montando um museu. Insinuo-me no plural do verbo por ser dos que se batem, há anos, contra essa carência inexplicável de um mirante produzido artisticamente acomodado à sombra e ao formato de uma casa que não se avista para não lembrar uma das cicatrizes mais arraigadas da nossa história, a de 1930.

Museu por si mesma, a casa está pronta, restaurada, e me foi dado ingressar e ver por dentro o aposento onde demorou por pouco tempo a família e a intimidade do homem particular que o palácio ou a causa pública sacrificou. Assassinado há 91 anos, e desaparecida a república que invocou sua luta e seu nome para instalar-se, nenhum outro paraibano tem demorado e subido mais pronta e emocionalmente à memória do seu povo. “Ainda hoje me emociono” – palavras envelhecidas de Celso Furtado, cientista social de universais cenários, recordando impressão da infância.

Só alguns traços, o vinco da boca, a testa bem pronunciada e a cabeça pra cima, como cego, passavam-me a impressão de estar vendo meu amig...

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Só alguns traços, o vinco da boca, a testa bem pronunciada e a cabeça pra cima, como cego, passavam-me a impressão de estar vendo meu amigo, a mais elogiada referência da antiga revisão de A União.

Do final dos anos 1940 até o dia em que o jornal informatizado excluiu dos seus quadros a revisão de provas, ninguém teve o direito de ser melhor na função do que ele. Era o maior de todos nós, dizia Oswaldo Duda Ferreira, depois juiz, tão apegado ao castiço que nem nos sobressaltos consegue esquecer a gramática.

A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento ...

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A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento a que se associa a Fundação Joaquim Nabuco, pode ser vista até sob suspeição, diante da pontinha que fui chamado a fazer em suas duas gestões no governo do nosso Estado. No primeiro, como auxiliar direto, no segundo governo como coautor de publicações destinadas à preservação em álbuns de tratamento gráfico compatível com a singularidade histórica e monumental da terceira cidade mais antiga do Brasil.

Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a via...

Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a viagem de quem foi e nunca deixou de ser esperado. E com dureza de itacoatiara não larga minha memória:

“A jarra está com a mesma e igual porção que ele deixou quando partiu, há mais de meio século.”

A ela vem juntar-se o parecer de um velho advogado da antiga amizade que me vendo chegar e sentar a seu lado, no lugar e hora de sempre, em tempos da sede central do Cabo Branco, tentou me adivinhar: “Você ri como defesa, para se enganar, mas o banzo é seu natural”. Ficávamos na calçada do clube, sob uma empanada que encobria a visão inquisitorial da Misericórdia. Já aposentado, doutor Jeremias Maurício de Sena mantinha lugar cativo entre os convivas, sempre reservado, ouvindo uma hora para falar um minuto. Eu ainda moço, sem escola formal, era atraído pela sabedoria menos despretensiosa daquele amigo velho. Sabedoria da lei e da vida.