Vivi as duas situações. E vi a noite encurtar à medida que a opção de vida e de trabalho foi me atraindo para outras compulsões. A quantas madrugadas cheguei, o sol se anunciando pelos vitrais da redação, sem perceber que a noite sumira quase inteira no fechamento das últimas páginas. Os jornais, nesse tempo, não encerravam antes da meia-noite. Fechávamos cedo o noticiário local, as resenhas da assembleia, do governo, da polícia, mas ficávamos na dependência das agências de notícias, que se comunicavam pela radiotelegrafia. E os conspiradores daquele tempo, os malfeitores da vida social sempre escolhiam a noite para agir.
Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da ...
A árvore que se larga
Vivi as duas situações. E vi a noite encurtar à medida que a opção de vida e de trabalho foi me atraindo para outras compulsões. A quantas madrugadas cheguei, o sol se anunciando pelos vitrais da redação, sem perceber que a noite sumira quase inteira no fechamento das últimas páginas. Os jornais, nesse tempo, não encerravam antes da meia-noite. Fechávamos cedo o noticiário local, as resenhas da assembleia, do governo, da polícia, mas ficávamos na dependência das agências de notícias, que se comunicavam pela radiotelegrafia. E os conspiradores daquele tempo, os malfeitores da vida social sempre escolhiam a noite para agir.
Foi justo, mais que merecido, o comportamento dos que fazem a TV Cabo Branco ao trazer de volta, bem vivo e em grande estilo, o velho Chic...
Um outro Chico Maria
Está aí um homem que encerra o curso dos seus dias sem nos sugerir a ideia de morte e sim a de completude. Viveu até onde lhe foi dado cu...
Mário Glauco Di Lascio
Herdou a missão de um renovador da cidade da qual se fez natural, o arquiteto dos arquitetos Hermenegildo Di Lascio, e acrescentou a esse legado a parte que lhe coube, a do menino de Tambiá, cercado de belos frontais, de um casario identificado com a vaidade em voga, a arquitetura que o próprio Mário veio chamar depois de “arquitetura de almanaque”. A casa paterna era um modelo e ao mesmo tempo um display da arquitetura em voga.
Tirante as conquistas da tecnologia no âmbito da saúde, cuja aplicação não depende de mim, sempre emperrei em assimilar e me apropriar do ...
Vão ter de me aguentar
Seria completa a edição redesenhada de A União desse novo 2 de fevereiro se o telefone houvesse me chamado logo cedo para o “Visse?” de Ma...
Faltou Martinho
Quando A União me adotou na revisão, em 1951, recebendo salário como “pessoal de obras”, o jornal acabava de fazer seus 58 anos. Juviniano...
O Dois de Fevereiro
Deve ter ocorrido séria mudança de comportamento dos filhos desta cidade em seu gosto e zelo por ela. Em algum tempo houve esse amor o...
E o anfiteatro se foi
Em algum tempo houve esse amor ou interesse? Mais que se tenha deixado ruírem altares e igrejas, certamente salvou-se o principal. São Francisco, São Bento, Carmo, a mais rogada de todas que é a Misericórdia, restam a garantir que o sentimento religioso é sempre superior à solidez do calcário. Fora dele, desse sentimento que mais parece temor que devoção, não temos sido mais que descuidados. André Vidal de Negreiros, herói de toda uma nacionalidade, veio ter seu retrato numa galeria de palácio no governo de Camilo de Holanda. Deve permanecer no mesmo lugar, na parede de frente com Roosevelt e o famoso Barão do Rio Branco.
“Tudo que é sólido desmancha no ar”. Ou na corrente sucessiva e sem fim dos ventos empoeirados que terminaram arruinando a casa do meu ant...
Berman, que saudade
Como se sabe, a frase vem de Marx, colhida por Marshall Berman como título e corolário do seu livro mais famoso. Frase que passei por cima, deixando-me levar pela compacta solidez dos vinte anos.
Quando Epitácio Pessoa, jovem ministro de Campos Sales, decidiu confiar a Clóvis Bevilacqua, seu contemporâneo da Faculdade de Recife, a c...
Não custa lembrar
Distinguido por Josélio Carneiro para entrevista destinada ao livro que escreve sobre a Associação de Imprensa, duas lideranças sobressaír...
A API de Adalberto
Perdi o receio, reforcei a máscara, e fui ao lado do casal Paulo Emmanuel e Roberta juntar-me a Fernando Moura, Juca Pontes e aos devo...
O 10 de janeiro
Nada de discurso, a não ser a palavra de agradecimento do sobrinho-neto, médico e acadêmico Astênio Fernandes, representando a família e os sobreviventes coetâneos do convívio e da amizade do tio-avô.
Numa das edições desta semana, A União chama a atenção para o desamparo em que encontrou as nossas itacoatiaras. Quem as cavou, cavou fundo...
A Paraíba não sabe o que tem
Estão a perigo, como sempre estiveram, ainda que a ciência que cuida desses tesouros tenha evoluído, e muito, na forma de preservá-las.
Estive lá há um quarto de século, logo depois que a pedra fora visitada por expoentes da Sociedade de Arqueologia, aqui reunida, em 1993, por iniciativa das fundações Espaço Cultural e Casa de José Américo, então dirigidas por Sales Gaudêncio e pelo antropólogo José Elias Borges.
Por conta dessas visitas, ficou com a Paraíba, em poder das instituições oficiais com interesse no nosso acervo arqueológico, uma série de instruções do professor Manuel Gonzalez Morais, catedrático de Pré-história da Universidade de Cantábria, Espanha, e especialista em conservação de arte rupestre. Clamava urgência para se proteger as itacoatiaras que mais têm provocado indagações científicas, históricas e culturais no universo desses estudos.
O professor assustou-se com o processo de ruptura das bordas superiores do monumento, “por cima da face que recolhe a maioria das gravuras”. Sua descrição: “As rupturas parecem ser consequência de descamação prévia e podem ter sido originadas por fenômenos de contração e dilatação brusca, por efeito mecânico das pisadas”. Fala em perda da rocha, com faces e degraus fissurados na base, numa porção de agentes e de causas deteriorantes, e sugere remédios específicos e medidas gerais de proteção.
Faz esse tempo todo. Não sei se as sucessivas administrações, nos seus mais diversos planos, manifestaram alguma reação a esse alarme do espanhol.
Há quase oitenta anos, segundo o velho Leon Clerot, o conjunto de gravuras seria maior se não tivesse aparecido um grupo de trabalhadores e convertido boa parte em lajes de pavimentação, talvez coisa imaginada pelo velho do Museu, como o chamavam os que o viam pastorando as “relíquias” de uma casa solitária da velha Trincheiras, com esse nome.
O que acontecia com a Pedra de Ingá quebrada para a pavimentação não foi diferente do que fizeram, nesse mesmo tempo, com as primeiras inscrições rupestres encontradas ao pé da Copaoba, descritas e desenhadas por Ambrósio Fernandes Brandão (1555-1618) em sua obra “Diálogos das Grandezas do Brasil”. Livro escrito na Paraíba nas folgas desse senhor de engenhos, cristão novo, que José Honório Rodrigues não vacila em considerar autor da “crônica mais positiva, mais viva, mais exata da vida, da sociedade, da economia dos moradores do Brasil”, no final do século XVI e começo do XVII.
Diante disso, é difícil entender por que as entidades culturais ainda não se coligaram para reunir, num livro de especialistas dedicados à pré-história, à história e às artes da Paraíba, os estudos e imagens do seu grandioso e mal avaliado patrimônio.
“Não sabe a Paraíba o que tem.” Falou assim Mário de Andrade, quando aqui esteve, em 1928, ainda que saindo de cara inchada e todo encalombado pelas gordas muriçocas do hotel em que o hospedaram, o Luso-Brasileiro, do qual nada resta lá na Praça Álvaro Machado, no Varadouro.
Tinha jeito de soldado velho, o Padre Lima. O jeito, o rosto e o jeito de falar. Escrevia como professor catedrático do Liceu que ainda a...
Padre Lima
Todo dia passava duas vezes pela janela de O Norte, numa das casas que o Bradesco derrubou para instalar seus serviços em João Pessoa: quando vinha da missa na Misericórdia e quando voltava à tarde da aula no Liceu.
O sol mal nascera e a calçada do laboratório já compacta, sem uma frincha onde imprensar o carro. Isso em frente à Lagoa, onde parar é pro...
Calculei mal
Severino Ramalho, ou melhor, a prefeita D. Marta, sua ilustre consorte, foi governar Bananeiras para os bananeirenses e terminou governand...
Coisas de Bananeiras
Ouço falar de Bananeiras desde que um colega de banco escolar, Pedro Germano, saiu de Alagoa Nova ou de Clodomiro Leal, ainda do tempo da palmatória, para estudar no Patronato. Ora, foi isso em 1944 ou 45, a escola agrícola de Bananeiras fazendo a cabeça dos meninos de meu tempo bem antes que soubéssemos do seu antigo fastígio político e cultural. Não foi de graça, pois, o batismo do logradouro mais expressivo da Paraíba com o nome do bananeirense Solon de Lucena. Como poderia ter sido com outro bananeirense, Walfredo Guedes Pereira, historicamente o mais notável dos nossos prefeitos.
Dr. Carneiro Arnaud envia-me o último relatório de gestão do Hospital Laureano. Começo a folhear, detenho-me nos seus recursos humanos,...
Estrela-guia
Hoje, 27 anos depois, parece-me imperdoável que o Conselho Estadual de Cultura não tenha reeditado o livro de Irenêo Joffily logo na prime...
O grande Irenêo Joffily
A moça que vem ajudar pergunta o que fazer duma cartilha de plástico escura, grossa de poeira, achada em cima do guarda-roupa. Coisa ...
Por cima do guarda-roupa
Coisa velha sempre mandam para mim. E lá vêm umas provas em papel com timbre do instituto de Maria Bronzeado onde estudou, no fiado, a maioria dos meus filhos. E, junto, uma fatura da Casa Pires, de Creusa e Adrião, de um rico jogo de talher em caixa de mogno usado uma única vez, que me lembre, num jantar que oferecemos a Tarcisio Burity aproveitando a presença, em João Pessoa, do dr. Italo Gandelmann, autoridade maior da pós-graduação em cirurgia buco-maxilo facial que filho e nora, Fabiano e Tânia, faziam na UFRJ.
Quando apareceram onze esqueletos, infantis na maioria, em pequena caverna da Serra da Raposa, a palavra de León Clerot foi a primeira a s...
Nova Serra da Raposa
São instantes nem sempre tão fugidios quanto possam parecer. - Tudo bem, seu Luiz?! Vou indo por algum desígnio oculto, talvez pela s...
Carminha
- Tudo bem, seu Luiz?!
Vou indo por algum desígnio oculto, talvez pela sombra mesma que começa a se estender meando a calçada, quando ouço, bem em cima de mim, o “seu Luiz” de trato familiar. Era por Luiz, e não havia de ser de outro modo que vinham os chamados de minha mãe. Luiz é o que ouço de dona Edith há sessenta e um anos, desde que a ela me apresentei, correndo atrás, entrando na marinete onde a mocinha entrou, descendo na esquina onde desceu, e mal entra em casa ouve-me as palmas e o nome entrando afoitos pela janela da rua São Sebastião, na Torre.