Mostrando postagens com marcador José Nunes. Mostrar todas as postagens

No Bairro dos Ipês, em Mandacaru e adjacências existe um senhor de idade avançada que cata resíduos pelas ruas, quase todos os dias, usando...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes cronica assovio assobio mania de assobiar serraria poeta antonio morais de carvalho

No Bairro dos Ipês, em Mandacaru e adjacências existe um senhor de idade avançada que cata resíduos pelas ruas, quase todos os dias, usando um sinal inusitado de anunciar sua aproximação. Chapéu de palha na cabeça e empurrando um carrinho de mão, ao longe se ouve o assobio dele. Um som fino e prolongado, por vezes imitando pássaros, sempre alegre. Escutando, sabe-se que é hora da colocar na calçada o lixo domiciliar reciclado.

Não existe nada mais gratificante do que contemplar uma criança ou adolescente com um livro nas mãos. Seja a caminho da escola ou em casa. ...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes gosto incentivo leitura poesia neruda encontro onibus

Não existe nada mais gratificante do que contemplar uma criança ou adolescente com um livro nas mãos. Seja a caminho da escola ou em casa. Esses instantes são para mim gratificantes, pois aconteceram no passado com os meus filhos e agora se repetem com os netos. Antes acompanhava minha filha adentrando o mundo da literatura e, agora adulta, ela mesma escrevendo e lendo seus textos para seu filho e sobrinhos. Sinto-me realizado.

Enquanto lia o livro “Engenho Laranjeiras: O Doce Afeto da Natureza” de Francisco Barreto, furtivas lembranças me ocorreram de quando, aind...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes francisco barreto Engenho Laranjeiras livro o Doce Afeto da Natureza serraria cana de acucar exilio

Enquanto lia o livro “Engenho Laranjeiras: O Doce Afeto da Natureza” de Francisco Barreto, furtivas lembranças me ocorreram de quando, ainda criança, as pessoas me conduzindo pelas mãos, eu estive nesse aprazível recanto de beleza que ornamenta Serraria.

O Dia dos Avôs, para nós, tem um significado que vai além de nossa possibilidade de imaginar quanto ressoa a alegria de termos netos para p...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes avo dia do avo prazer de ser avo amor aos netos

O Dia dos Avôs, para nós, tem um significado que vai além de nossa possibilidade de imaginar quanto ressoa a alegria de termos netos para paparicar.

Quando comecei a conviver com minha esposa, há quarenta anos, ela residia em Arara. e eu em João Pessoa, numa distância de 155 km. Nossos e...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes escrever receber cartas correio

Quando comecei a conviver com minha esposa, há quarenta anos, ela residia em Arara. e eu em João Pessoa, numa distância de 155 km. Nossos encontros eram nos finais de semana, mas, entre um sábado e outro, eu lhe mandava duas cartas pelos Correios, porque o contato por telefone era difícil. Afinal, em Arara existia apenas um posto telefônico para atender a toda população, exceto algumas famílias que tinham linha telefônica particular.

A atriz Patrícia Pilar esteve na Paraíba, em duas ocasiões, para gravações de seriado para televisão e ficou emocionada quando viu rebrotar...

ambiente de leitura carlos romero cariri interior paraiba vultos paraibanos patricia pilar poeta jose nunes

A atriz Patrícia Pilar esteve na Paraíba, em duas ocasiões, para gravações de seriado para televisão e ficou emocionada quando viu rebrotar a vegetação depois que choveu no Cariri. Foi quando, realmente, descobriu que aqui nascem os fortes, bem diferente do drama encenado e apresentado na TV.

Lembro dos tempos de infância que na minha cidade, Serraria, tinha uma praça e nela havia um coreto rodeado de quatro imponentes palmeiras,...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes praca coreto saudade tempo de infancia cidade serraria

Lembro dos tempos de infância que na minha cidade, Serraria, tinha uma praça e nela havia um coreto rodeado de quatro imponentes palmeiras, que deixavam o ambiente ainda mais aconchegante. Quando eu ia lá, gostava de ficar sentado no banco, observando o movimento da rua, sem desviar o olhar do relógio da matriz para não esquecer a hora de retornar ao sítio.

ambiente de leitura carlos romero jose nunes praca coreto saudade tempo de infancia cidade serraria
A praça é o espelho da cidade. Lugar onde se passam agradáveis momentos de lazer e animadas conversas com amigos.

Na praça constroem-se sonhos que nem sempre são realizados. Por isso aquela praça anda comigo, é parte de minhas quimeras de adolescente. Mas destruíram a praça, reduzindo a paisagem de nossos olhares.

Na praça é possível descobrir a cordialidade entre os habitantes da cidade. Lugar onde se planta esperança, onde se colhe sonhos.

Há milênios a praça tem papel importante na vida das pessoas e continuará, mesmo que a insegurança arrede as famílias.

No tempo de Jesus, quando se desejava contratar alguém para o trabalho, recorria-se às praças. O Mestre até usou-a em uma parábola, para falar de seu reino aos trabalhadores.

Quando destruíram o coreto da praça de nossa infância, arrancaram um pedaço de nós. Os destroços e a poeira levaram consigo a história de nossos ancestrais, restando o retrato na parede onde as folhas das palmeiras ainda tremulam.

ambiente de leitura carlos romero jose nunes praca coreto saudade tempo de infancia cidade serraria

A cidade que não cuida de suas praças está fadada ao esquecimento. Quanto encantamento no olhar havia quando, ao final das tardes e primeiras horas das noites, as pessoas conversavam nesse local.

A antiga praça de Serraria faz parte das saudades que compõem a paisagem que habita toda a minha poesia. Em tudo que presenciei na tenra idade, hoje, olhando para o passado, percebo que a natureza e os antigos casarões de minha terra são habitantes de minha poesia.

ambiente de leitura carlos romero jose nunes praca coreto saudade tempo de infancia cidade serraria
Foram as intermitências deste sonho que permitiram suportar a ausência e a dor do trabalho árduo durante mais de seis décadas. Quando conduzido para outras paisagens, alimentando-me das imagens que carregava de Serraria, sejam as que estavam gravadas na memória ou estampadas na fotografia, sempre estavam o coreto da praça e seu entorno, guardados como reminiscências.

Como diria Neruda, este poeta chinelo que nos consola com sua poesia, “minha vida é uma vida feita de todas as vidas: a vida do poeta”. Minha travessia começou ali, com personagens de todas as épocas misturando-se às de hoje, que estão ao nosso lado.

O silêncio da praça sucumbiu na poeira e nos destroços, mas ressurgirá nas folhagens verdes da esperança, espalhadas pelo vento. Um vento que sussurra como música entre as palmeiras que circundam nossa cidade.

A reconstrução deste coreto teria um forte simbolismo cultural, fazendo recordar com emoção os dias de uma Serraria ainda em construção. Fica a sugestão.


José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP

A obra de arte sempre reflete o estado de espírito do artista, o ambiente em que vive, pois existindo harmonia em sua alma, ele coloca paz ...

ambiente de leitura carlos romero jose nunes valeria antunes pintura paraibana poesia arte e poesia

A obra de arte sempre reflete o estado de espírito do artista, o ambiente em que vive, pois existindo harmonia em sua alma, ele coloca paz naquilo que constrói. Seja um poema, um romance ou uma pintura, tudo traz o gozo desta quietude.

Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamand...

jose nunes ambiente de leitura carlos romero luiz augusto crispim angela bezerra de castro apl

Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamando a atenção como adentrava na redação de O Norte, pela elegância corporal e inegável cultura. Lembro-me dele como o cronista da emoção e poeta da paixão que a professora Ângela Bezerra de Castro tão bem descreve.

Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar. Nesses dias quando...

ambiente de leitura carlos romero flavio tavares jose nunes alberto lacet pintura paraibana pandemia

Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar.

ambiente de leitura carlos romero flavio tavares jose nunes alberto lacet pintura paraibana pandemia
Nesses dias quando a escuridão das mentes que nos governam e a pandemia que constrói noites escuras, a Arte se junta à nossa fé como antídoto para aliviar a dor que nos sucumbe, e fatalmente deixará rastro de espinhos nos corações.

As chuvas e as cheias do Rio Paraíba foram descritas com ênfase por José Lins do Rego. As águas que arrastavam tudo, também conduziam levas...

jose nunes cariri sertao chuva rio paraiba ambiente de leitura carlos romero

As chuvas e as cheias do Rio Paraíba foram descritas com ênfase por José Lins do Rego. As águas que arrastavam tudo, também conduziam levas de homens a jogar na terra os grãos de esperanças, no plantio e na colheita que ele colocou nas suas narrativas com muita emoção.

Na tarde de um dia com chuva que nos faz recolher ao aconchego da rede preguiçosa, passeando pelos círculos sociais, percebo um texto me ch...

arte e espinhos jose nunes ambiente de leitura carlos romero

Na tarde de um dia com chuva que nos faz recolher ao aconchego da rede preguiçosa, passeando pelos círculos sociais, percebo um texto me chamou a atenção. Não conheço a pessoa que o escreveu, mas muito gostaria de parabenizá-la pelas colocações acerca da arte, porque trouxeram salutares reflexões, como um manto a agasalhar as inquietações de minha alma.

Na proximidade do crepúsculo é normal o trabalhador retornar a casa, esperançoso ou ansioso, aguardando o descanso noturno, seja ele reside...

aconchego de casa cronica jose nunes ambiente de leitura carlos romero

Na proximidade do crepúsculo é normal o trabalhador retornar a casa, esperançoso ou ansioso, aguardando o descanso noturno, seja ele residente na cidade ou na roça.

Voltar para casa é o desejo de todos, mesmo que a sua residência seja uma choupana de taipa ou papelão, mas é um cantinho ao qual chamamos de “minha casa”.

Os sete séculos da morte do poeta Dante Alighieri , em 2021, serão o momento de suscitar a releitura de A Divina Comédia, uma obra que at...


Os sete séculos da morte do poeta Dante Alighieri, em 2021, serão o momento de suscitar a releitura de A Divina Comédia, uma obra que atingiu a supremacia da Poesia universal, porque recheada de apontamentos que refletem a existência humana.

Com sua poesia, ele cria a possibilidade de resgate, de mudança profunda e de libertação de cada homem e mulher. Por isso, voltar às páginas deste livro, de uma largueza poética que contém insinuações filosóficas e teológicas, será oportuno para recapitular as lições que ajudarão na formação de uma nova convivência entre as pessoas.

Os setecentos anos da morte deste poeta surgem num momento em que as pessoas saem de uma grande provação
Nesta obra está o convite ao reencontro do sentido confuso ou iludido da trajetória humana, mas que nos auxilia na espera do horizonte luminoso que acontece quando existe dignidade, sem escravo nem senhores. Sempre é prazerosa a releitura deste livro, que cheio de singularidade nos leva a grandes alegrias e não menores angústias.

Poeta italiano que ganhou admiração de papas e imperadores, Dante é arauto facundo do pensamento cristão, com uma estatura religiosa e cultural infrequente. Na sua obra, de elevada dimensão do pensamento Ocidental, compreendemos que ela foi elaborada a partir de sua experiência espiritual, que nos leva a refletir o encontro com Deus.


...
Dante Alighieri
Sua obra é imensamente humana, por isso torna-se fundamental para reflexão sobre importantes temas, sobretudo do relacionamento humano, do amor sensual que ultrapassa os limites da paixão.

Por isso A Divina Comédia tem a abrangência mundial que conquistou e será eterna enquanto existirem olhares se cruzando no ilimitado universo, onde homens e mulheres estendem as mãos para a acolhida recíproca.

Os setecentos anos da morte deste poeta surgem num momento em que as pessoas saem de uma grande provação. O momento em que voltaremos ao debate deste livro será oportunidade para novos respiros de conversações entre as diversas culturas, numa franca busca do homem com os seus conhecimentos, suas aspirações, suas incoerências.

Dante, poeta-profeta da esperança, anuncia a possibilidade de mudança, de resgate e de libertação a partir do amor mútuo. Ele enalteceu magistralmente os encantos de Beatriz, elevando a sublimidade da mulher como símbolo do amor. Na primeira vez quando avistou sua musa, esta causou nele comoção física e espiritual. Bendita mulher para a qual dedica sua obra, a quem desejou dizer o que jamais alguém ousou falar para uma mulher. Aquela que se transformou na sua liberdade espiritual.


José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP

Tenho minhas dúvidas se Ascendino Leite e Ariano Suassuna mantinham um bom relacionamento literário. Tive essa sensação quando encontrei ci...


Tenho minhas dúvidas se Ascendino Leite e Ariano Suassuna mantinham um bom relacionamento literário. Tive essa sensação quando encontrei citação de Ascendino no livro “Visões do Cabo Branco”, com insinuação que leva a pensar nessa possibilidade antagônica entre ambos. No “Caderno de Confissões Brasileiras”, editado por Geneton Moraes Neto, em 1983, Ariano fala da censura a grupos de teatro entre o final dos anos de 1950 e durante a ditadura militar de 1964-1985.

Sempre fui receoso com literatura biográfica produzida por familiares. Para formatar o perfil do biografado, muitas vezes o autor percorre ...


Sempre fui receoso com literatura biográfica produzida por familiares. Para formatar o perfil do biografado, muitas vezes o autor percorre caminhos que convêm, sem o olhar crítico nem aprofundando os assuntos que ajudariam a conhecer o personagem.

Registros do cotidiano de escritores, músicos e artistas, enfim, sobre empresários bem sucedidos elaborados por parentes, nem sempre têm perfeita concepção literária. Mesmo tendo brilho nas palavras, às vezes não expõem o personagem real, com acertos ou erros nas atividades que exercem, e no relacionamento com o mundo ao seu redor.

Tatiana Tolstói escreveu sobre seu pai, o romancista russo que nos presenteou com “Ana Karênina” e “Guerra e Paz”, dando testemunho de amor e da lucidez do pensamento dele, trazendo à luz passagens da vida deste homem iluminado que revolucionou a literatura universal.

vidas secas
No “Mestre Graciliano - Confirmação de uma obra”, Clara Ramos mostra sinceridade ao expor intimidades literárias do pai. São lembradas passagens do relacionamento dele com a família e amigos, a formação de escritor, sobre seu processo criativo, as dificuldades para construir seus livros.

Ela destaca os três paraibanos que entraram na história de Graciliano, fruto da camaradagem, que são José Lins do Rego, Thomas Santa Rosa e José Américo de Almeida. Clara Ramos reconhece que eles contribuíram na construção literária de seu pai, e que não se distanciaram dele nos momentos obscuros quando estava recolhido aos porões da ditadura de Getúlio Vargas.

a bagaceira
José Américo de Almeida
Na esteira do sucesso de “A Bagaceira”, José Américo influenciou Augusto Frederico Schimidt a publicar “Caetés”, que estava receoso por se tratar de um desconhecido. Quando estava preso, José Lins mobilizou os amigos para publicar “Insônia”. Com o dinheiro dos direitos autorais, ajudou no sustenta da família. O outro paraibano presente na vida deste alagoano foi o artista plástico Santa Rosa, que desde quando se conheceram no Rio de Janeiro, construíram uma salutar amizade e foi ilustrador de seus livros.

A autora destaca a aproximação de Graciliano com os escritores paraibanos, profundamente ligados à terra. Os três tinham algo em comum, porque procedentes da mesma região esturricada. José Américo e José Lins saíram dos verdejantes canaviais, e Graciliano carregava consigo a rudeza dos sertões bravios. Santa Rosa foi criado à brisa do rio Sanhauá. A literatura foi o anel da sadia amizade entre os quatro.

literatura paraibana
Graciliano Ramos
Vários episódios estão narrados no livro em foco, que abre minúcias da vida do autor de “Vidas Secas”, fazendo-nos conhecer metodologia dele escrever, pedaços dos caminhos percorridos até se consolidar como romancista, enfim, Clara expõe muita coisa que ajuda a desvendar o emaranhado de sua obra literária, com profundo conteúdo humano.

A autora revela as origens de personagens, tão fortes e constantes em nossas lembranças, como Fabiano e Sinhá Vitória, Paulo Honório e tantos outros saídos do convívio familiar ou da paisagem do sertão.

Ao final da leitura de “Mestre Graciliano - Confirmação de uma obra” fica com a sensação de que o livro vale por muitos estudos acadêmicos.


José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP

Somos todos poetas. Quem nunca escreveu um verso, ou pelo menos uma quadrinha para alguém que admira? Confesso que muitas vezes tentei e ig...


Somos todos poetas. Quem nunca escreveu um verso, ou pelo menos uma quadrinha para alguém que admira? Confesso que muitas vezes tentei e igualmente vã foi minha experiência. Quem lê poesia é o poeta que não escreve poesia, disse alguém.

Cedo houve uma tentativa de ver meu nome na capa de um livro de poemas. No redemoinho dos quarenta anos de idade, em desobediência a Nathanael Alves que me pedia cautela antes publicar algum livro, como ele havia procedido na juventude, na insistência de Nonato Guedes, há vinte e seis anos, coloquei asas na minha produção de poemas.

Não renego o que publiquei, até porque foi prazeroso, com boa acolhida.

solha
W. J. Solha
O poeta, artista plástico, ator e romancista Waldemar José Solha, com a visão universal que lhe é peculiar, à época falando da minha poesia, sapecou um punhado de palavras elogiosas que me deixou tonto, comparando-me ao que faziam os antigos pintores chineses que, com poucas pinceladas numa tela em branco, diziam muitas coisas. Recolhi-me, escondendo as palavras a respeito daquilo que o autor de “Israel Rêmora” tinha escrito sobre meu livro. Afinal, sou um poeta que ler poesia mais do que escreve.

De poeta bissexto na juventude imitador dos românticos, escrevendo sobre o choramingar do coração, continuei dando asas à imaginação, colocando no papel o produto das lucubrações, aquilo que não conseguia reter comigo. Na época em que foi publicado “Lira dos 40 Anos”, tinha esperança de tocar na sensibilidade da musa que me inspirava. Meia dúzia de leitores, igualmente apreciadores de poesia, deu guarida ao que publiquei.

A partir daí, então, recolhia ao silêncio das gavetas a poesia que produzia. Lendo mais do que escrevendo, consumia meu tempo a descrever outras paisagens da literatura.

nathanael alves
Nathanael Alves
Não dando cabimento nos conselhos de Nathanael, encontrei em Horácio o ensinamento como conforto que tanto esperava, pois o mestre dos mestres afirma que “o trabalho do poeta não se restringe ao momento singular da criação, mas representa o acúmulo da experiência criativa”. Uma bofetada em tudo o que tinha feito. Mesmo assim insisti na publicação das poesias. Vinte e seis anos depois, eu continuo satisfeito porque publiquei aquele livrinho, mas relendo agora os poemas com olhar crítico, constato que alguns merecem reparo. Nathanael tinha razão.

O tempo passou, voltei-me a outras ocupações literárias, enveredei pela pesquisa acerca do passado de minha cidade e seus habitantes, de minha família, consumindo o tempo escrevendo sobre o que pesquisava. Mas sem nunca abandonar de vista a poesia, algo prazeroso de ler.

Tempos atrás, quando menos esperava, novamente estava produzindo poesia. A Musa que desde cedo amava, trouxe-me a inspiração para cantar os ímpetos da alma na voz da terra e dos rios. Poemas que às vezes são incursões autobiográficas, contendo a visão do relacionamento entre duas pessoas que o tempo se encarregou de modelar.


José Nunes é poeta, cronista e membro do IHGP

Quando o poeta Sérgio de Castro Pinto aniversaria, a poesia comemora. Para homenagear o maior representante da Poesia da Paraíba na atualid...


Quando o poeta Sérgio de Castro Pinto aniversaria, a poesia comemora. Para homenagear o maior representante da Poesia da Paraíba na atualidade, recorri a outro poeta igualmente notável.

O poeta, igual condor sobrevoando a paisagem da alma, aspergindo a mente das pessoas com poesia, pede para que espalhemos livros.

        “Oh! Bendito o que semeia
         Livros à mão cheia
         E manda o povo pensar!
         O livro, caindo n'alma
         É germe – que faz a palma,
         É chuva – que faz o mar!”

Eu te admiro Castro Alves porque semeou livros e plantou poesia no coração das pessoas. Bendito és tu, Poeta da Alma, ser tão pequeno, mas grande pelas maravilhas conduzidas em favor da liberdade e pelas canções de amor cheias de tantas emoções.

O poeta condoreiro tinha razão ao exaltar que somente com livros distribuídos em abundância é possível transformar a pedra bruta num diamante humano. Bendito aquele que semeia livros, muitos livros, livros à mão cheia. Abençoado quem faz da poesia nosso alimento.

Acredito que entre todas as Artes, a Poesia salvará o mundo. Na poesia estão os fundamentos para se entender aspectos da vida, a experiência humana da contemplação. A leitura de poesia cria na alma uma sensação maravilhosa. Quando olhamos ao céu com estrelas ou para o espetáculo do horizonte nas silhuetas das serras ao alcance da vista, é leitura de poesia.

Quando leio um poema não busco apenas o que o poeta expressa, mas procuro descobrir minhas próprias emoções.

Nos tempos atuais importa que a poesia chegue às mãos das pessoas, que os versos caindo na alma como enxurrada de água conduzida pela suavidade da brisa, transformem o mais duro coração.

A poesia é um caminho para o entendimento das relações humanas, porque ajuda a conhecer o mistério da existência de tudo como Criação Divina. Ainda mais se tratando de poesia mística, expondo a dimensão espiritual, seja num insight ou trabalhada no mais profundo sentimento do coração.

Louvado seja aquele que semeia poesia, porque ajuda na construção de um mundo cada vez melhor. Cada livro na mão de uma criança é sementinha plantada que brotará conforme a fertilidade do solo.

A importância do livro é contribuir para o florescimento do novo homem, para suaviza a aridez da alma e levar as pessoas a celebrar a harmonia de um novo relacionamento.

Poeta que melhor representa a Paraíba na época presente, Sérgio de Castro Pinto é guardião do diálogo planetário para se chegar ao fraterno abraço global, na plenitude dos tempos.


José Nunes é cronista e membro do IHGP
E-mail

O tempo passa rápido e a saudade revela três anos da passagem de Ivonaldo Corrêa, ocorrida a 29 de abril de 2017, nosso colunista social ma...


O tempo passa rápido e a saudade revela três anos da passagem de Ivonaldo Corrêa, ocorrida a 29 de abril de 2017, nosso colunista social mais amado, talentoso e que não gostava de glamour.

Para homenageá-lo, vejo-me na obrigação de destacar momentos deste jornalista que carregava consigo a honestidade, a sinceridade e o silêncio construtivos como marcas.

Estes aspectos ele não exibia, mas eram visíveis no seu modo de viver e no trato para com as pessoas.

Fomos de uma amizade profissional satisfatória e menos confidencial do que como em relação a Gonzaga Rodrigues, ou meu conterrâneo Nathanael Alves, que ajudaram na edificação do ambiente para esperar a minha epifania.

Tínhamos encontros casuais de recíproca fraternidade, mas da parte dele, que tinha muito mais a ensinar do que partindo de mim, eterno aprendiz, observador de seus escritos bem elaborados.
Sempre me aproximei de amigos que poderiam contribuir para o meu aprendizado, quando dava os primeiros passos como repórter e que continuam nos tempos atuais. Com gestos de louvável afeição, Ivonaldo me ensinou a utilizar os braços para nadar nas águas turvas.

Ivonaldo Corrêa
De redator no jornal O Norte, nos anos de 1970, assumiu a vaga de colunista social na ausência de Heitor Freyre, que passou a atuar na atividade médica.

Ele modernizou a linguagem da página social na Paraíba, passou a abordar temas diversificados, como já faziam jornais de outras grandes cidades que sempre lhe serviram de referências.

Alguns amigos me deram prumo na vida de jornalista e de leitor. Com Nathanael e Gonzaga aprendi a escolher os livros e como os ler. Carlos Romero e Dom Marcelo Carvalheira ajudaram a voltar meu olhar para o transcendente, a observar nos gestos místicos o caminho para a paz. E Ivonaldo, ao seu modo, me ensinou a sintetizar o texto.

Com eles constatei que o homem é um grande ensaio, como definiu Thomas Mann. Um ensaio composto por cada livro degustado e cada ensinamento recolhido de amigos que nos cercam. Neste sentido, Ivonaldo muito me ajudou.

Não poderia falar dele sem citar estes outros mestres que tiveram e continuam me dando sentido para buscar a literatura e o lado místico da vida. Outros que me ajudaram estão silenciosos na página de minhas recordações. Poetas e escritores que nem os conheci, a não ser por meio de suas obras. Outros anônimos, homens rudes com os quais convivi em Serraria e Arara, vieram se juntar à legião de amigos que fatidicamente não os reconheceria sem leituras, poesia e música.


José Nunes é cronista e membro do IHGP
E-mail

No mês de julho de 1922, o Engenho Baixa-Verde estava com as enseadas cobertas de canaviais. Os paus-d’arco floridos infestavam as abas das...


No mês de julho de 1922, o Engenho Baixa-Verde estava com as enseadas cobertas de canaviais. Os paus-d’arco floridos infestavam as abas das serras, o flamboyant coloria o terreiro e à noite o vento zunindo na cumeeira da casa grande testemunhava o nascimento Hermano José.

Engenho Baixa-Verde
O menino cresceu sentindo o cheiro da terra, do bagaço da cana e o perfume das flores, saboreando doces frutas e olhando a mata quase escondendo a casa grande e o que restava da senzala do engenho.

Muita coisa ali mudou desde o seu nascimento, mas a terra se mantém engalanada, pássaros em menor intensidade, e em torno da casa adormecida o vento continua soprando por entre as serranias cobertas com rala vegetação.

O poeta permanece no meio de nós por meio da sua pintura, porque preservou o olhar para a paisagem de Serraria, que dividia com Caiçara, outra cidade onde viveu nos primeiros anos de vida. Tudo o que observou, ele transportou para os quadros pintados no decorrer de nove décadas de vida.

O trabalho dele está abalizado na beleza poética captada pelo olhar místico para as inspiradoras paisagens da infância e da adolescência. Numa referência a um poema, podemos dizer que artista como ele “só se tem uma vez”. A arte é que fica. Sua arte perpetuará sua presença no meio de nós. Ele está na arte que concedeu, por isso eternamente ficará em nossos corações.

Hermano José
O centenário do seu nascimento se aproxima, portanto é bom começar a pensar no que fazer, afinal, sua contribuição para as artes plásticas e a cultura da Paraíba foi inolvidável. Inquieto, incitava o debate pela preservação de nosso patrimônio imaterial e arquitetônico.

Uma bonita celebração deve ser preparada, fazendo do engenho palco de manifestações alusivas ao seu nome. Ao Estado caberá capitanear o elenco de eventos em torno de Hermano José, num reconhecimento ao trabalho realizado para tornar a Paraíba ainda mais conhecida por meio da arte.

Podemos dizer que Hermano tinha o olhar ao transcendental, como que buscando respostas para perguntas que inquietam muita gente.

Tinha consciência do seu papel na preservação da vida e na construção da fraternidade. Percebia que as pessoas destruíam-se, destruindo o ambiente onde vivem, mas achava que ainda havia tempo para recuperar o mal causado à Natureza, de modo que a nossa geração “tivesse a condescendência para com as gerações futuras”.

Para nos redimir do silêncio em torno do seu trabalho, busquei a citação dele quando disse que “basta olharmos as florestas, os rios, os mares e o céu, e teremos parâmetros para conhecermos nossos limites”.

Seu mundo foi construído na paisagem agreste de Caiçara, mas em Serraria captou a paisagem que alimentou sua vida. “O Baixa-Verde era o lugar dos aromas, das cores e da alegria”.



José Nunes é cronista e membro do IHGP
E-mail