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Quando os alunos do Curso de Letras me pedem sugestões de leitura, sobretudo de livros de poesia, recomendo os dos poetas líricos...

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Quando os alunos do Curso de Letras me pedem sugestões de leitura, sobretudo de livros de poesia, recomendo os dos poetas líricos, pois estes, de alguma forma, possuem muitos pontos de contato com os adolescentes. Não no sentido em que Massaud Moisés contrapõe a poesia épica à poesia lírica, concebendo esta última como um gênero menor, espécie de adolescência por que passam alguns poetas, para, só então, numa etapa posterior, atingirem a maioridade do gênero épico.

No que pese a importância dos estruturalismos, houve quem utilizasse os gráficos, os esquemas, as chaves, os colchetes etc., como se foss...

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No que pese a importância dos estruturalismos, houve quem utilizasse os gráficos, os esquemas, as chaves, os colchetes etc., como se fossem bisturis nas mãos de um médico legista que dissecasse o texto (o cadáver) à semelhança de um redivivo Jack, o Estripador. Ou seja, dividiam-no mecanicamente em partes, reduzindo-o a um monte de roldanas, porcas, parafusos, molas, prontos para serem vendidos no ferro velho da esquina.

Nasci em João Pessoa, no dia 25 de abril de 1947. Tenho 73 anos. Melhor: já os tive. Estou às vésperas dos 74. Portanto, são...

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Nasci em João Pessoa, no dia 25 de abril de 1947. Tenho 73 anos. Melhor: já os tive. Estou às vésperas dos 74. Portanto, são 73 verões,/ são 73 invernos./ outonos nem se fala,/ muito menos primaveras./ até que um dia descarrilharei/ numa dessas estações/ e nunca mais verei/ um verão como este.

Faz algum tempo, escrevi: “O meu Drummond de cabeceira era o de alguns poemas experimentais do livro ‘Lição de coisas” e o de ‘No meio do ...

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Faz algum tempo, escrevi: “O meu Drummond de cabeceira era o de alguns poemas experimentais do livro ‘Lição de coisas” e o de ‘No meio do caminho”, poema-catapulta através do qual ele arremessou a pedra do inconformismo poético contra os arraiais do ‘lirismo bem comportado’. Esse o Drummond com o qual o poeta adolescente que eu fui mantinha ‘afinidades eletivas’”. E concluía: “O outro, o arguto observador da vida humana, somente o descobri passada a febre das vanguardas, pois, até então, cultivava-se um discurso metalinguístico que havia praticamente abolido a ‘autobiografia do imaginário’”

A Geração 65, de Pernambuco, reúne um grupo...

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A Geração 65, de Pernambuco, reúne um grupo de poetas cuja diversidade formal e temática põe em evidência o fato de que o ideário das vanguardas passou à margem do constructo poético de cada um dos seus componentes. Quando muito, houve influências individuais de poetas sobre poetas, como é o caso da de João Cabral de Melo Neto, no primeiro Alberto da Cunha Melo, ou as de Carlos Pena Filho e Mauro Mota em Jaci Bezerra, sobretudo no aproveitamento das paisagens recifenses nos poemas desse último. Afora isso, cada poeta ocupa um espaço próprio, particular, individual, embora suscetível às naturais influências decorrentes das leituras de outros poetas, ficcionistas, ensaístas, etc.

Conheço José Bezerra Filho desde os tempos imemoriais da hoje extinta Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), quando esse órgão ...

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Conheço José Bezerra Filho desde os tempos imemoriais da hoje extinta Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), quando esse órgão do governo do estado instituiu o Concurso de Contos Geraldo Carvalho, numa justa homenagem ao ficcionista de “A Cravina Asfaltada”, que, apesar de recolhido a uma cadeira de rodas, exercia uma efetiva liderança junto aos poetas, artistas plásticos, dramaturgos, romancistas, contistas, enfim, junto a todos quantos respondiam pelas atividades artísticas da provinciana João Pessoa dos anos 1960 e 1970.

Sobre os poemas de “A Chave selvagem do sonho” (Editora Tribuna, João Pessoa, 2020), de Anna Apolinário, faço minhas as palavras do poeta ...

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Sobre os poemas de “A Chave selvagem do sonho” (Editora Tribuna, João Pessoa, 2020), de Anna Apolinário, faço minhas as palavras do poeta e ensaísta Walmir Ayala a respeito de uma poeta brasileira: “Embriagada pela palavra, mas jubilosa em sua embriaguez”.

Tantas são as peripécias do eu lírico para enfrentar as tormentas, as borrascas, as procelas do dia a dia, que os poemas de “A Voz do vent...

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Tantas são as peripécias do eu lírico para enfrentar as tormentas, as borrascas, as procelas do dia a dia, que os poemas de “A Voz do ventríloquo”, de Ademir Assunção, soam como épicos da alma. Mas épicos da alma porque na atmosfera intimista que os envolve se infiltra uma “corrente subterrânea coletiva”.

TODO OUVIDOS O eu lírico sofre de delírios esquizofrenoides: Ponge ouve coisas; Bilac ouve estrelas; Gullar, muitas vozes.

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TODO OUVIDOS
O eu lírico sofre de delírios esquizofrenoides: Ponge ouve coisas; Bilac ouve estrelas; Gullar, muitas vozes.

Durante um certo período, a crônica foi considerada um gênero de quem jogava conversa fora. Pouco a pouco, porém, parte do público lei...

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Durante um certo período, a crônica foi considerada um gênero de quem jogava conversa fora. Pouco a pouco, porém, parte do público leitor deixou de fazer ouvidos moucos e passou a ser todo ouvidos para os que investiam nessa modalidade literária. Adquirindo, pois, um certo prestígio, uma certa reputação, além de ser considerado um gênero que deitou raízes profundas no solo brasileiro, nele se adaptando e ganhando cidadania, arregimentou muitos adeptos, desde José de Alencar, passando por Machado de Assis, João do Rio, até chegar a Rubem Braga, Fernando Sabino, Eneida, Raquel de Queiroz, Paulo Mendes Campos, Veríssimo e muitos outros. Hoje, o gênero está plenamente consolidado, decorrendo daí o prestígio que desfruta entre críticos e leitores.

Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, já advertia: “(...) a função do livro infantil é fazer compreender às crianças que a leitur...

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Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, já advertia: “(...) a função do livro infantil é fazer compreender às crianças que a leitura não é um dever mas um prazer”. E mais adiante: “(...) que a leitura é o mais movimentado, o mais variado, o mais engraçado dos brinquedos”.

Eu não gosto da junção de palavras que, por força do uso, da repetição, dissemina o lugar-comum, o já lido e relido, os clichês, os chavões...

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Eu não gosto da junção de palavras que, por força do uso, da repetição, dissemina o lugar-comum, o já lido e relido, os clichês, os chavões, o dejà vu. Antes, gosto dos paralelos insólitos, das palavras ou dos temas que só aparentemente se repelem. Enfim, gosto da poesia e da ficção que guardem uma certa semelhança com a loja de belchior do conto do “Bruxo de Cosme Velho”, onde convivem objetos heteróclitos, desencontrados, mas que se compõem e se complementam: panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, caixilhos, binóculos, um cão empalhado, dois cabides...*

Jovem ainda, Astier Basílio deixou de ser apenas uma promessa, uma revelação, para se firmar como um poeta que reservará boas surpresas ao ...

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Jovem ainda, Astier Basílio deixou de ser apenas uma promessa, uma revelação, para se firmar como um poeta que reservará boas surpresas ao público leitor. E boas surpresas a partir mesmo deste “Antimercadoria”, cuja epígrafe bem que poderia ser os seguintes versos de Jorge de Lima: “Se vós não tendes sal-gema, / não entreis neste poema”. E isso por uma razão muito simples: Astier não faz qualquer tipo de concessão no sentido de que a sua poesia se transforme num bem de consumo. Pois, na verdade, torná-la palatável, acessível, seria nivelá-la ao gosto daqueles que só compram livros cuja leitura não ofereça nenhum grau de dificuldade. Poesia-prato-feito. Pior ainda: como alimento já mastigado que a mamãe-índia servia ao seu curumim. E Astier sabe que não convém tratar o leitor como um curumim. E, muito menos, se comportar - na condição de poeta – como uma dadivosa mamãe-índia.

A frase é meio batida, surrada até, mas foi a que me ocorreu quando da leitura do livro “Harpia”, de Aline Cardoso: “Hay que endurecerse, p...

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A frase é meio batida, surrada até, mas foi a que me ocorreu quando da leitura do livro “Harpia”, de Aline Cardoso: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Seja ou não da autoria de Che Guevara, a mim apenas importa que poderia servir de epígrafe para o livro, uma vez que encerra, condensa, a atmosfera da maioria dos poemas que o compõem. Poemas fortes, incisivos, diria quase aforismáticos, e que aprofundam o conflito entre a “vida vivida e a vida pensada”, pois já não disse Oscar Wilde que, “Para a maioria de nós, a vida real é a vida que não vivemos?”

Ângela Bezerra de Castro não escreve com o propósito de demonstrar conhecimento, embora seja uma erudita sem “erudição”. Aliás, ela e os qu...

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Ângela Bezerra de Castro não escreve com o propósito de demonstrar conhecimento, embora seja uma erudita sem “erudição”. Aliás, ela e os que verdadeiramente dominam as muitas vertentes da teoria literária, da história da literatura etc., evitam não só a utilização de termos absconsos, abstrusos, que dificultem a compreensão do leitor, como também disfarçam “o profundo conhecimento das teorias literárias, (...) para mostrar (...) o entendimento, a reflexão, o conhecimento amadurecido na leitura dos escritores da melhor cepa”.

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Juarez da Gama Batista
Diria que Ângela é fruto da consorciação da crítica, da ensaísta e da professora, esta última uma das principais responsáveis pela inclusão do autor paraibano em sala de aula. E isso numa época em que os ensaístas da província somente se mostravam receptivos aos autores canônicos. Que o diga Juarez da Gama Batista, estudioso da obra de Gilberto Freyre, Jorge Amado, José Lins do Rego e outros.

Já outro ensaísta, Virgínius da Gama e Melo, só eventualmente escrevia sobre a produção literária paraibana, como o fez a respeito da Geração 59 e do poeta Jomar Moraes Souto, cujo prefácio da 1ª edição do livro “Itinerário lírico da cidade de João Pessoa”, foi de sua autoria. Mesmo assim, aqui e acolá, saudava os novos autores que surgiam, mostrando-se benevolente com os estreantes, talvez movido pela intenção de incentivá-los no enfrentamento dos caminhos sempre árduos da literatura.

Geraldo Carvalho, este era uma exceção, pois além de dirigir uma editora artesanal – “Caravela” –, responsável pela publicação dos então jovens autores José Leite Guerra, Maria José Limeira, Jurandy Moura e Archidy Picado, acompanhava passo a passo a produção literária da época, resenhando-a na coluna semanal “Pro-textos”, que mantinha no jornal “Correio da Paraíba”.

Virginius, pela sua condição de professor de Teoria da Literatura, bem que poderia ter adotado os autores paraibanos em sala de aula, mas não o fez. Geraldo, talvez o fizesse, mas não exercia o magistério.

Por outro lado, na medida em que procurava descobrir as recorrências estilísticas e temáticas dos autores federais, estaduais e municipais, Ângela não fazia distinção entre eles, pois procedia de modo a demonstrar que Augusto dos Anjos, José Lins do Rêgo, Vanildo Brito, J. J. Torres, Natanael Alves, Juarez da Gama Batista, Eduardo Martins, Aurélio de Albuquerque, entre outros, eram autores de suas “afinidades eletivas”. Daí, com muita propriedade, Luiz Augusto Crispim ter observado que “Ângela Bezerra de Castro desencantou o escritor paraibano”.

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Ângela Bezerra de Castro
Ainda com relação à Ângela, quando ela faz a leitura de um texto, só posteriormente o submete às muitas teorias das quais se abastece, escolhendo, numa etapa seguinte, a que melhor se presta à exegese do poema ou da prosa de ficção. Em suma, o seu tipo de abordagem é reivindicado pelo próprio texto, diferentemente dos críticos e ensaístas que, a reboque de teorias mal assimiladas, adotam, de maneira apriorística, os mesmíssimos modelos de análise aos quais submetem os mais diferentes mecanismos de criação.

Todo e qualquer crítico ou ensaísta, por mais aparelhado teoricamente que seja, contém a sua porção impressionista, embora o impressionismo seja demonizado por muitos que, obstinada e cegamente, não reconhecem os momentos de absoluto rigor reflexivo do pernambucano Álvaro Lins, um dos mais legítimos representantes dessa vertente crítica.

Em outras palavras, eu diria que o crítico não deve se munir apenas da teoria, mas também da “intuição”, espécie de impressionismo que longe de se originar de um insight ou de uma epifania, provém da experiência acumulada do leitor voraz e veraz que todo crítico que se preza o é, a exemplo de Ângela Bezerra de Castro, conforme ratificam a sua obra anterior e o seu livro mais recente, “Um Certo modo de ler”.


Sérgio de Castro Pinto é doutor em literatura, professor e poeta, membro da APL

O leitor ávido por peripécias talvez conclua, equivocadamente, que “Liturgia do fim” tem palavras de mais em um enredo de menos. Mas o fato...

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O leitor ávido por peripécias talvez conclua, equivocadamente, que “Liturgia do fim” tem palavras de mais em um enredo de menos. Mas o fato é que esse é um livro cujo principal protagonista é a linguagem, responsável pela condução de um enredo simples, frugal, mas que ganha em densidade na medida em que o narrador Inácio Boaventura mergulha de ponta-cabeça no seu universo psicológico.

Poemas soltos e livres, os de Vitória Lima. Por isso mesmo, podem dar a falsa impressão de que a autora procede com desleixo no que tange a...

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Poemas soltos e livres, os de Vitória Lima. Por isso mesmo, podem dar a falsa impressão de que a autora procede com desleixo no que tange ao aspecto formal de cada um deles. Ledo engano, pois, fosse assim, Vitória não teria publicado apenas dois livros – “Anos bissextos” e “Fúcsia” –, ambos magrinhos, enxutos, esbeltos, como magrinhos, enxutos e esbeltos são a maioria quase absoluta dos poemas que os compõem. Quero dizer: a produção quase bissexta de Vitória já confirma e chancela o seu rigor e a sua disciplina na elaboração do poema.

antagonismo: máquina de fotografia/revólver a máquina é o revólver ao inverso: os objetos-bala não saem, eles entram, se internam.

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antagonismo: máquina de fotografia/revólver

a máquina
é o revólver ao inverso:
os objetos-bala não saem,
eles entram, se internam.

poema eis a fórmula ou a forma: a água fura a rocha e assim faço o meu poema. um poema-lâmina (contundente) que esmigalhe e esf...

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poema


eis a fórmula
ou a forma:
a água
fura a rocha
e assim faço
o meu poema.

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um poema-lâmina
(contundente)
que esmigalhe
e esfarele
como se fora
um dente.

não um poema
com o azul
da blue-blade,
mas um poema
que sangre
as maçãs da face.

um poema-lâmina
que prove e triture
as maçãs do rosto
com a mesma fome
e com o mesmo gosto
com que o primeiro homem
provou da maçã do paraíso.

este será o seu ofício:
ser lâmina e penetrar
e ferir e dissecar
e ir sempre além
do que se pode ir.

ambiente de leitura carlos romero sergio de castro pinto poema a ilha na ostra flavio tavares 50 anos de poesia
repudio o azul
de outras lâminas
diante do rosto
e do espelho
o meu poema
é uma lâmina
escura e cega
que abre sulcos
e impõe o medo
da descoberta
frente ao espelho.

da descoberta
que cada berlinense
só tem uma face
e que a outra lhe falta
quando de manhã
ao barbear-se.

da descoberta
que mesmo de frente
o berlinense
é de perfil
e que há entre
o oriental e o ocidental
um limite, uma divisão
de cimento, areia e cal.

O meu poema
poderia ser azul
como outras lâminas
mas isto cansa-me
e esqueço o lirismo
de poder dizer
que do azul da lâmina
saíram gaivotas,
verão e istmos.

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meu poema não é istmo
pois nada une
apenas faz ver
de tudo a distância
e por isto é gume
e por isto é lâmina
e se quiserem
esterco, estrume,
que aduba a memória
frente ao espelho
e impõe a descoberta
de outras faces
partidas ao meio.

meu poema não é istmo,
isto nem aquilo,
meu poema é sabre e sabe
onde corre o rio
e onde incorre o risco
da descoberta de cada um
e por isto provoca
e rasga cortes
na superfície lisa
de cada um.

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"A Ilha na Ostra
O poema desta publicação faz parte do livro “A ilha na ostra“, de autoria do poeta Sérgio de Castro Pinto, editado há 50 anos, em 1970, pelo Grupo Sanhauhá, com capa ilustrada pelo artista plástico Flávio Tavares.


Sérgio de Castro Pinto é doutor em literatura, professor e poeta

De como o magro é continuação do gordo A Stan Laurel e Oliver Hardy o magro no gordo existe como uma roupa existe no cabide.

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De como o magro é continuação do gordo
A Stan Laurel e Oliver Hardy

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existe no cabide.