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Chegue, seja bem-vindo, aproxime-se, tome assento. Não faça cerimônia. A casa é sua. O tempo é seu! É inevitável que um ano suceda o outro...



Chegue, seja bem-vindo, aproxime-se, tome assento. Não faça cerimônia. A casa é sua. O tempo é seu! É inevitável que um ano suceda o outro. É inevitável que 2020 suceda 2019.

Dizem que “rei morto é rei posto”. Sei não... 2019 foi um ano tão dramático, tão fundamental… que não vamos nos livrar dele assim tão de repente, tão naturalmente.

Não serão as belas e coloridas girândolas pipocando no céu que vão apagar os efeitos do que aconteceu em 2019. De bom e de ruim.

Eu continuo aqui, vos falando, escrevendo, lendo, do Miramar, em João Pessoa, Paraíba. Brasil. Marque bem esse nome, esse lugar, que ele existe, é belo, acolhedor, principalmente nas manhãs de domingo. Chegue, se aproxime, não faça cerimônia.

Eu falei que estou lendo, e é verdade. É o que mais tenho feito. Antes, estava um tanto dispersa, sem conseguir me concentrar em nenhuma leitura, mas recuperei um pouco do meu foco nessas últimas semanas.

Comprei vários livros, alguns para mim mesma, outros para presentear. Dentre esses estavam “Pedagogia do Oprimido” da Paz e Terra, no “energúmeno” Paulo Freire, um livro que sempre quis ler, mas nunca o tive à mão. Tentei agora, mas ainda não deu. Não combinava com o espírito do tempo: dispersivo, festivo e propício para leituras mais leves. Adiei, mais uma vez, a leitura.

Em seguida, veio “De menina a Mulher”, de Malvine Zalcberg, que me provocou no início, mas que também foi posto de lado, a leitura adiada para outra ocasião. Foi um presente de Natal das irmãs Zélia e Sônia Pessoa. Muito do meu agrado, pois fala de dois assuntos que me são caros: a questão feminina e o cinema, ou, melhor dizendo, no cinema.

Em seguida, tentei encarar “Vida Aberta” do grandioso W. J. Solha, mas também não passei das primeiras páginas. Muito denso para a superficialidade dos meus dias atuais.

Aí comecei a ler “Essa Gente” de Chico Buarque, um presente da irmã Graça. Se achei o anterior muito denso, o de Chico me decepcionou pela sua superficialidade. Sei que muitas das minhas amigas gostaram de fina ironia do livro, mas eu achei-o muito inferior ao talento do meu amado Chico. Cheguei ao fim, mas não foi fácil. Sempre algo me distraía e convidava a abandonar a leitura. Bem, a esta altura, devo confessar que tenho enfrentado dificuldades de ler depois das duas cirurgias de catarata a que me submeti. Não tenho certeza de que é aí que está o nó da questão, mas é dessa data que comecei a ter dificuldade de concentração na leitura.

Por último, resolvi encarar o livro de memórias de Fernanda Montenegro: “Prólogo, ato, epílogo”, cujo tema, o teatro e a carreira teatral de uma atriz brasileira que acabou de completar 90 anos e dedicou toda a sua vida aos palcos e às telas do teatro, da televisão e do cinema. É mesmo uma recapitulação da história do teatro brasileiro, principalmente do Rio e São Paulo, desde os anos 1950, quando ela iniciou sua carreira, até o fim do século. Não só dela, mas de toda a sua família: sua filha Fernanda Torres, seu marido, Fernando Torres, e todos os grandes atores e diretores com quem o casal trabalhou ao longo dessas décadas. É uma obra fundamental para quem quer se inteirar sobre o teatro brasileiro e o que aconteceu nos seus palcos ao longo de todo o século vinte.

E conta, também, com um cuidadoso índice remissivo, listas de trabalhos, prêmios e condecorações a que a atriz fez jus.

Eu que sempre fui apaixonada pelo teatro e dediquei-me a estudar o teatro inglês, fiquei feliz em ter em mãos uma obra que detalha tão bem um século fundamental do teatro brasileiro. Vi Fernanda uma vez no palco, quando trouxe a peça “Dona Doida” para o Teatro Paulo Pontes, da Paraíba. No cinema, pude vê-la várias vezes e não esqueço sua participação em “Central do Brasil”, de Walter Salles, uma obra-prima do cinema nacional.

Em tempo, me ocorre que Fernanda foi vítima de ofensas descabidas por parte de autoridade ligada ao atual governo. Desconhecer a importância de Fernanda Montenegro para as artes cênicas do Brasil, e mesmo da América do Sul é de uma grosseria, de uma ignorância, incabíveis, considerando-se que ela é uma senhora de 90 anos e tem um currículo invejável na área do cinema, do teatro, da teledramaturgia, do rádio, enfim, das artes dramáticas.

Recomendo veementemente a leitura do seu livro de memórias artísticas, uma lição de história e cultura para qualquer brasileiro.

Outro evento que iluminou meu fim de ano foi o vídeo do show de Ney Matogrosso, que o amigo Bob convidou para vermos na sua casa, confortavelmente instalados em poltrona diante da televisão. Ney é um artista completo, belo, ágil e é uma festa para os olhos e para os ouvidos vê-lo e ouvi-lo.

E assim encerro esta crônica, a última do ano, desejando a todos que me leem um venturoso ano de 2020, com muito cinema, muito teatro, muita música e muita literatura, reafirmando minha crença que “Só a arte salva!”