O que mais vem me impressionando ultimamente – no que se refere a esta ... marcha ... da Humanidade – é a revisão total que tenho feito do...
Todos os que se vão conosco
Um dos períodos mais deslumbrantes de minha vida foi o que tive na segunda metade dos anos 60, em Pombal, indo dormir à meia-noite e despe...
Lux in Tenebris, 'luz nas trevas' para os amigos
RICHARD AVEDON (1923 – 2004) foi um imenso fotógrafo americano. EZRA POUND (1885 – 1972), um grande poeta,... americano ... preso pel...
Van Gogh, Rei Lear e o Sinal de Caim
EZRA POUND (1885 – 1972), um grande poeta,... americano ... preso pelos Aliados, na Segunda Guerra, por pregações radiofônicas, na Itália, em favor do fascismo.
Bom.
- Quanto lhe devo, Barbosa?
O céu era uma vasta abstração sobre Copenhague, na tarde em que o desfile fúnebre saiu de Christiansborg - o concretíssimo castelo que, n...
O enterro do pai de Hamlet
Fui Pilatos na Paixão de Cristo e camponês paupérrimo, que se dana e se zanga, na caatinga paraibana do filme A Canga. Fui, também, no ...
A volta a um mundo, aos oitenta... anos
Julho de 2014: Sérgio Lucena me pede que o entreviste Dei à nossa conversa, como título, os versos do FOUR QUARTETS ( Quatro Quarteto...
Conversa com Sérgio Lucena
"En ma Fin gît mon Commencement..." IN MY END IS MY BEGINNING – Em meu fim está meu começo.
Sérgio não disse o motivo do pedido. O fato de ele - pessoense radicado em São Paulo desde 2003 - ter agendada uma mostra na Usina Cultural, aqui em João Pessoa, é plausível, mas... atrevo-me a imaginar outra razão: precisava de alguém pra conversar... consigo mesmo, a respeito de sua arte. Talvez como Dante, que – pra evitar um longo e monótono monólogo – apelou – mais ou menos na mesma idade - pra outro poeta, Virgílio, ao se ver avançando para uma das “crises previsíveis da vida adulta” ( cf. Gail Sheehy ) , per una selva oscura / ché la diritta via era smarrita, embora a palavra smarrita – perdida - seja demasiado forte para essa via, pois é claro que o artista sempre pode dizer como Picasso: que “Eu não procuro, encontro”.
Especializei-me em poemas longos. Alguns são “tratados poético-filosóficos”, tipo VIDA ABERTA, que foi finalista de poesia do último Jabu...
Marco do Mundo
VOCÊ ESTÁ ESCREVENDO UM ROMANCE – AQUI “A BATALHA DE OLIVEIROS” (com que peguei o Prêmio INL - Instituto Nacional do Livro, 1988) – QUAN...
Tudo se repete
1 - Eu, candidato pelo PT? Jamais seria eleito para o governo do estado, Derly: O que a oposição argumentaria para o povo, depois de cont...
Biografemas
Ofélia louca, em meu romanceamento do “Hamlet”, conforme narração de Horácio (paraibano, filho de traficante de pau-brasil), colega do prí...
Ofélia enlouquecida
Mas o que é uma cidade, mesmo?: um milhão de janelas? De repente lá estavam, todas acesas e cheias de gente, numa resposta de Copenhague ao soberano. Gente que logo desceu à avenida com tochas, fachos, braseiros, a multidão crescendo ao receber afluentes entusiásticos das ruas laterais, adesões acorrendo de todos os lados da capital - de Østerbro, Nørrebro, Nyboder, Christianshavn, Holmen, Vesterbro - de repente todo mundo marchando e gritando ritmadamente, em coro:
Vi o irmão de Ofélia responder alguma coisa que não entendi e a multidão semovente festejar: “Hurra!” Acabara-se de saber que Claudius, para não despertar os furores dos sitiantes, ordenara que ninguém disparasse à chegada da horda, acrescentada agora dos que viviam no avesso da comunidade, debaixo das pontes ou na miséria da periferia.
Atingimos, finalmente, o castelo de Christiansborg, e me vi a invadi-lo - as portas estavam abertas! - em meio a um mar de marinheiros, seguido de operários, soldados, estudantes, prostitutas, uma meninada infernal, os de fora empurrando os que já estavam dentro, a multidão iluminando o ambiente com archotes. Vi os suíços, inertes, atrás de barricadas feitas de improviso. Introduzimo-nos no pátio, subimos - como uma enxurrada ao contrário - as escadarias para o primeiro andar, comprimindo-nos, derrubando-nos, avançando sempre. E inundâmo-lo, correndo pelos corredores, os assoalhos estrondando, a massa gritando em coro “Já urrei, já urrei, já urrei!”
Lembrei-me dessa cena no final de 1917, ao ler os telegramas de John Reed relatando como o povo russo entrara no Palácio de Inverno, em Petrogrado, sem encontrar resistência. E me lembrei dessas duas “tomadas” - a nossa e a soviética - ao acompanhar, muito depois, em um documentário de televisão, o desvendamento da fecundação humana, sentindo uma semelhança enorme entre estar no meio daquela correria invasiva de dinamarqueses... e constar entre os milhões de espermatozóides de uma ejaculação, vendo um Laertes ou Lênin lá na frente, rumo à sala do trono, o líder entrando útero adentro, avançando para o óvulo salvador e introduzindo-se nele, passando a ser o único - entre todos - com direito de continuar a Ser - e aí estava, talvez, o sentido absoluto do monólogo de Hamlet!
Ao entrar com o maremoto marujo, vi um grupo de soldados arrebentando a coronhadas tampas de caixas de que tiravam tapetes, roupas brancas, porcelanas, cristais, Laertes gritando: “Não é para isso que estamos aqui!”, com o que Bang e os esgrimistas botaram o grupo a correr. Aí a porta da sala do trono escancarou-se... e prendi a respiração: lá estavam Claudius e Gertrude, imponentemente coroados e entronizados! Na hora, não, mas agora percebo que... o rei não se abalara com aquele quid pro quo, de Hamlet - que considerava perigoso - substituído pelo até então inimaginável Laertes. A enciclopédia do mundo ainda iria inchar muito depois de tudo aquilo, acrescentada de uma série de fatos e coisas circunstanciais - do quadrúpede A da Torre Eiffel ao lépido Z de Zorro - mas Claudius, apesar da desvantagem no Tempo, foi bem superior a seus símiles posteriores - Luis XVI e Alexandre Romanov - que iriam subestimar seus inimigos.
Laertes fez sinal de que todos ficássemos para trás e caminhou firme no tapete vermelho, espada na mão, escoltado pelos espartaquistas, gritando ao rei:
- Eu quero, primeiro: o cadáver de meu pai!
Talvez a argúcia de Claudius tenha captado o detalhe: Laertes caminhara firme... no tapete vermelho, burocraticamente, apesar de todo o espaço em volta, aberto como a própria hora.
Gertrude lhe pediu:
- Calma, meu filho!
- Calma?!!! - o berro do rapaz ecoou no salão - Se uma gota sequer de meu sangue permanecer calma, todas as outras gritarão que sou um filho da p... e meu pai era corno!!!
Continuou a avançar, Gertrude ergueu-se e desceu ao seu encontro, para detê-lo. Claudius mandou-a parar:
- Deixe-o.
Ela se deteve a custo, ouviu o marido dizer:
- É tal a barreira com que o poder divino protege um rei, que a traição nada pode diante dela!
Laertes ergueu a espada, Gertrude partiu para cima dele (“A desgraçada gosta, mesmo, do demônio!”, foi o que concluí ), Claudius repetiu, no mesmo tom:
- Deixe-o, Gertrude.
E Laertes:
- Cadê meu pai?
Claudius:
- Infelizmente morto, meu filho...
Gertrude tomou a frente do moço e vociferou-lhe, apontando para o marido:
- Mas não por ele!
Claudius, para a mulher, no mesmo tom de voz:
- Deixe-o, em paz - e ergueu-se com coroa e cetro. Em pé sobre a enorme águia de asas escancaradas do tapete, o majestoso manto de veludo vermelho bordado a ouro revelando a espada incomparável, assegurou:
- Ninguém poderá impedi-lo de obter justiça, meu bravo!
Em que se baseava Claudius para tanta fleuma, a ponto de dispensar qualquer repressão ou sequer segurança com referência ao movimento dirigido pelo duelista... que - é verdade - não pisava fora do tapete? Suas mãos não tremem. De sua testa o suor não poreja. Não há movimentos visíveis em seu pomo de adão. E... - eis a causa da calma! - lá adiante, à direita, apenas visível entre as colunas e cortinas, dentro do alcance do chamado dele: a filha de seu Conselheiro... louca. Ela não abriu caminho na multidão, na sala do trono, falando de flores, como lindamente relatou Shakespeare. Claudius chamou-a, sem tirar os olhos do rapaz à sua frente:
- Fale com ele, Ofélia...
Então o moço viu o vulto num capote cinza, grande gola erguida até o alto da cabeça, lapelas costuradas uma na outra diante do rosto visível por entre a grade de linhas, ela autoencapsulada numa espécie de casulo protetor, luvas rotas. Ao reconhecê-la, o duelista teve um choque. Nos primeiros vinte milésimos de segundo, suas pálpebras saíram da posição de repouso, nos quarenta milésimos seguintes elas se fecharam desaceleradas e, por cinquenta milésimos seus olhos permaneceram cerrados, os globos oculares afundados em 1,58 milímetros. Aí reabriram numa velocidade três vezes menor que a do fechamento - e lá estava, confirmada: sua rosa de maio se aproximando, enrustida naquele casacão militar, o rosto atrás do alinhavo, conversando com alguém para nós invisível (Hamlet , evidentemente), falando com uma pressa que não lhe tirava a meiguice da voz rouca:
- O que há de terrível em não ser, meu bem? Veja o poder que tem os zeros, capazes de transformar unidades em milhares, milhões, bilhões, trilhões!
Voltou-se para o Rei:
- Você... tem medo da Morte? - virou-se para a Rainha - Você também? Ora, mas que bobagem! - e perguntou aos dois - Por que?
Disse a Laertes, gargalhando:
- Ainda não vi uma caveira que não estivesse morrendo de rir!...
Novamente a “Hamlet”:
- Ôh, meu querido, você simplifica demais! ... Claro que não pode chamar um gato covarde de rato. Como não pode chamá-lo de pato, se é otário. Ou, se é impertinente ( e ela riu muito ao dizer isso ), de chato. Mas como é a história? - verberou - Você mata meu pai - Laertes estremeceu, para o prazer de Claudius - Você mata meu pai e diz que seu crime, qualquer crime é inimputável, seja o morto um rato, pato, ou chato?
Prosseguiu:
- Por que teria Cristo vindo ao mundo nos salvar se não sabemos o que fazemos, como ele mesmo diz, inocentando-nos? Parece que é realmente como escreveu Paulo aos Coríntios - ela comentou para Jens Bang, sorrindo-lhe entre as costuras: “Deus tornou louca a sabedoria deste mundo, mundo que Ele resolveu salvar pela loucura da pregação, escolhendo as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias”. Não foi à toa que o próprio Cristo ficou meio desorientado, dizendo que não tinha vindo para curar os sãos mas os enfermos, ao contrário do que ensinava por toda parte quando afirmava que falava em parábolas para que aqueles que não estivessem destinados a ser salvos entendessem... e fossem salvos. Mas se há os que não estão destinados a ser salvos... que culpa têm? Que culpa tem qualquer um de nós, se está predestinado a fazer o que faz, assassinar um rei, por exemplo, não é, Claudius? Ou que mérito pode ter alguém em vingá-lo, não é, Hamlet?
Ela desovava todas as minhas conversas com o amante! Laertes se aproximou, a irmã lhe disse:
- Que posso fazer? O homem e a mulher são coisas semelhantes mas não idênticas, como a estrada e o rio, que avançam durante algum tempo na mesma direção... ( e ela quase morreu de rir ao comentar) aquiacolá um em cima do outro...
À Rainha:
- A estrada quase sempre cruza com dois, três rios, não é? Sua zanga é compreensível - ponderou, vendo-a melindrada - Afinal, seu caso não é único: são necessários dois machos para pressionar o ventre da rã e ajudá-la a expulsar os ovos que eles irão fecundar, sabia? - e, voltando-se para o Rei - As fêmeas têm suas necessidades específicas, meu caro... Por outro lado, o que é uma traiçãozinha de vez em quando? De quem a culpa, se o pobre Judas foi comer o bocado de pão com Jesus e, diz o Evangelho, “com o bocado entrou Satanás” - vê como funciona? E o desgraçado enforcou-se de tanto remorso - como está no Evangelho - ou atirou-se do alto de um despenhadeiro, como está no Atos dos Apóstolos - são informes informes, ninguém tem certeza de nada. Há uma... meta na História, e ela age à nossa volta e em nós, invisível como um rio que, à noite, passando por entre o sono e o sonho, rochas e bosques, faz com que girem as mós e se movam os vultos incrivelmente pesados - de barcos carregados - para seu destino. Você - disse ao Rei, que recuou, lívido - você matou seu irmão pra ficar com a mulher dele e com o Poder, não foi, Neném? Mas foi porque Deus assim o quis, Hamlet me disse, ou Ele não teria dito a Pilatos: “Nenhum poder terias contra mim se de cima não te fosse dado.” Você tem razão - disse novamente a Hamlet - A cor existe apesar dos cegos?, o som existe, apesar dos surdos? As luminosas águas verdes movem-se sobre profundas sombras. É tudo muito estranho... até no que parece mais natural, como a Lua - essa... coisa gigantesca passando o tempo todo aí em cima, como quem não quer nada, como se fosse apenas luz. Como o Sol - esse fogo que não para de consumir-se, eternidade afora. Igualmente “natural”, para você, meu amor, foi matar papai - disse ao invisível Príncipe - um gesto tão inevitável quanto o sono durante um sermão, não foi?: É pecado? É, não é, Laertes?, dormir durante o sermão?, mas quem é que pode evitá-lo?
Houve um longo silêncio na Sala do Trono. Ofélia se abraçou ao irmão e os dois choraram juntos, como nós todos, espartaquistas e o povo, a maioria - percebi-o ali - do Holger Danske - mudos diante da cena. Depois Ofélia se soltou, disse a “Hamlet”:
- Não é fácil entender, meu amor!....
Laertes implorou, de olhos fechados:
- Ôh, Deus, tem piedade de nós!...
- A senhora falou em piedade divina? - Ofélia perguntou ao Rei - e o que me diz dos terremotos, maremotos, furacões, erupções, enchentes, secas, pestes matando milhares de vítimas, depois de torturá-las mais do que qualquer carrasco? Horácio - disse-me, fazendo-me estremecer, pois não imaginei que pudesse ter dado por mim, naquele transe... horaciano - Você viu, da janela do “Neptun” aquele ror de gente asquerosa linchando os três rapazes como se fossem espiões? Não seria chocante ouvir alguém naquele momento citar Paulo Apóstolo dizendo que é Deus quem faz em nós o querer e o fazer segundo a Sua vontade? Entendo, meu amor - insistiu com Hamlet - entendo perfeitamente, mas é assim que a coisa funciona. Por insuficiente, a vida humana foi por nós acrescida de deuses, semideuses, vitórias aladas, faunos, fadas, ogros, ninfas, ... espectros, santos, anjos, a Trindade, Dom Quixote, ... ou apenas de amantes, se se tem os pés no chão, como sua mãe.
- Sim, claro, você é doida por ele - disse à Rainha - Já reparou como todo preso segura-se à grade? Laertes - voltou-se para o irmão, no que suspirou fundo - O que resta é vivermos intensamente nossos fragmentos de vida, exatamente como vimos no que resta dos relevos do Arco do Triunfo de Tito em Roma, lembra-se dele?, lembra-se de como nos impressionamos com o ímpeto daqueles cavalos sem patas, os corpos vivos apesar das cabeças esfaceladas?...
E, depois de algum tempo, caminhou até onde eu estava. Enxuguei as lágrimas de meu rosto ao vê-la autoenclausurada no capote costurado até a testa, ela me dizendo entre as brechas - sempre às pressas -, face à minha emoção:
- Meu raciocínio não para, não para, não para: há tanta coisa para se compreender, santo Deus! ...mas não é fácil trancar a gaveta com a chave dentro!
Foi-se.
Fora-se a revolução de Laertes e de sua multidão. Fora-se a paz entre Gertrude e Claudius.
Minha paixão pela doidinha... cresceu.
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Corpo de Festim
Cap. 1, pag 13 – cap. 25, pag. 98.
Sua vida foi um livro aberto.
Guarnieri escreve na página 16 de Corpo de Festim, em sangue | suor / e celulose (ii):
... W. J. Solha tem recado curto e grosso : Leiam O LABORATÓRIO DAS INCERTEZAS. Paulo Vieira (UFPB 2013) é dono de um senhor currículo, ...
Aos que fazem Teatro...
Entre tantas outras coisas, impressionou-me, no romance “O Jogo da Amarelinha” (“Rayuela”) , de Júlio Cortázar, o problema de seu persona...
A morte e 'El sentimento de no estar del todo'
“el sentimento de no estar del todo”,
que deu nome para algo estranho que eu também vivia.
Num ensaio posterior a respeito, Cortázar diz se sentir “siempre un poco más a la izquierda o más al fondo del lugar donde se debería estar”.
Quando lancei pela Codecri, em 84, ZÉ AMÉRICO FOI PRINCESO NO TRONO DA MONARQUIA, em que apontava semelhanças d"A Bagaceira" - &...
Hamlet e A Bagaceira
Quando meu livro saiu em capítulos, pelo Correio da Paraíba, bem antes da publicação no Rio, o escritor, já longe das palavras entredentes que me dirigira quando eu fora à sua casa lhe falar da obra, me mandou um cartão contido: “Você leu meu romance com lentes de aumento. Seu estudo é lapidar e profundo. Mas não pode ter havido influência. Os dramas humanos se repetem”.
Na verdade, eu via algo, ali, como o que Joyce - explicitamente - fizera com a "Odisseia" ao criar o "Ulisses", publicado oito anos antes d’A Bagaceira". Talvez até ... inconscientemente, pois quando - depois do primeiro choque nosso - ele me acompanhou até o portão de sua casa, em Tambaú, eu lhe perguntei se já notara como o começo do romance dele, com os flagelados indo à casa-grande do Marzagão pedir ajuda, repetia o começo do "Édipo", com o povo de Tebas, assolado pela peste, fazendo o mesmo no palácio real, parou e disse: "É mesmo!"
Em 2005, por sinal, em minha HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA, publicada pela Bertrand Brasil, eu incluiria um romanceamento, meu, do "Édipo" e, outro, do "Hamlet".
Tudo isso começou quando associei o Lúcio - angustiado filho do Dagoberto e "que se faz de doido pra viver melhor" - a Lucius Junius Brutus, modelo evidente da saga dinamarquesa de Shakespeare: morto, em Roma, seu pai, Rei Tarquinius, o jovem – pra escapar com vida e vingar-se – fizera-se de doido (daí seu apelido de Brutus, que acabaria sendo o de sua família). O resto foi fácil. Se o angustiado estudante de direito, Lúcio - de férias na fazenda Marzagão, em Areia - era o angustiado Príncipe universitário de Wittenberg - de férias na Dinamarca, o pai, Dagoberto Marçau, dono da terra, era o Rei Cláudio, padrasto de Hamlet. Soledade, paixão de Lúcio (e do pai dele), era Ofélia - paixão do Príncipe - e, ao mesmo tempo, Gertrudes, Rainha da Dinamarca (paixão do padrasto e - segundo Freud - também do filho). O falastrão Valentim - pai de Soledade - era o falastrão Polônio - pai de Ofélia, que ao vê-lo morto, enlouquece e sai cantando algo que falava de uma donzela que, no dia de São ... Valentim, perdera a virgindade. Pirunga - irmão de criação de Soledade - era Laertes - irmão de Ofélia.
'HAMLET E O COMPLEXO DE ÉDIPO, de ERNEST JONES, discípulo e biógrafo de Freud, foi essencial para mim, nesse estudo. Tudo que, nele, é hipótese, encontra, n’A BAGACEIRA", possibilidade da confirmação. Pergunta-se, por exemplo: Laertes teria, mesmo, um amor incestuoso pela irmã Ofélia, como assegura Jones? N'A Bagaceira”, Pirunga é apenas irmão de criação de Soledade e a deseja ansiosamente, quer casar-se com ela. O Príncipe sentiria, mesmo, um amor criminoso pela mãe? N'A Bagaceira”, Lúcio não consegue possuir Soledade, porque ela se parece tanto com senhora do Marzagão - falecida no parto em que o rapaz nascera - que ele chega a fazer que desenha o retrato da moça, mostrando-lhe, em seguida, a fotografia da finada. É isso.
A vida fascina justamente por seu intrincado modo de agir, que não se esclarece quando cloroquinamente tratado.
O fascínio de ver Ivo Barroso comentando a tradução de L'Amant – De Marguerite Duras – feita por Denise Bottmann Em maio de 2007, e...
Comentários à tradução de 'L'amant', de M. Duras
Em maio de 2007, ele publicou na FOLHA DE SÃO PAULO o artigo “Duras: A Doença Mortal de Escrever”. Quatro anos depois, no blog Gaveta do Ivo, acrescentou:
- Denise costuma dizer que não gosta de traduzir literatura, mas quando o faz é com resultados irrepreensíveis, como neste caso.
Como Ivo Barroso é o grande tradutor de autores como Ítalo Calvino, Breton, Jane Austen, Umberto Eco, Herman Hesse, Rimbaud e Shakespeare, pedi-lhe – com viva curiosidade - que justificasse o adjetivo “irrepreensíveis”. Ele me atendeu, quatro dias depois, no mesmo blog, com a matéria DURAS AINDA:
- Em primeiro lugar, no perfeito conhecimento das línguas, de partida e de chegada. Depois, seus dotes de escritora. Finalmente sua vasta cultura humanística, que lhe permite avaliar estilos, fases, tempos, adequações enfim.
Ele nos passa, então, um trecho do original, seguido de tradução de Denise Bottmann. Para que se sinta melhor a comparação, junto cada frase em francês, à que ela verteu para o português. Mesmo que você – como eu – não domine o francês, é gostosa essa aproximação às duas vozes:
Ivo comenta:
A tradutora lhe confidenciou:
O editor Maurício Ayer:
Ivo encerra: