Conheço José Bezerra Filho desde os tempos imemoriais da hoje extinta Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), quando esse órgão ...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana sergio de castro pinto escritor jose bezerra filho
Conheço José Bezerra Filho desde os tempos imemoriais da hoje extinta Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), quando esse órgão do governo do estado instituiu o Concurso de Contos Geraldo Carvalho, numa justa homenagem ao ficcionista de “A Cravina Asfaltada”, que, apesar de recolhido a uma cadeira de rodas, exercia uma efetiva liderança junto aos poetas, artistas plásticos, dramaturgos, romancistas, contistas, enfim, junto a todos quantos respondiam pelas atividades artísticas da provinciana João Pessoa dos anos 1960 e 1970.

Houve um tempo em que a impaciência era atribuída aos jovens. Em função da idade, os jovens eram ansiosos naturalmente, achando que o mun...

ambiente de leitura carlos romero linaldo guedes cronica impaciencia pecado auto ajuda

Houve um tempo em que a impaciência era atribuída aos jovens. Em função da idade, os jovens eram ansiosos naturalmente, achando que o mundo acaba hoje e tem que fazer tudo de uma vez.

Em meados da década de 1940, o bolero, principalmente de origem mexicana, invadiu o mercado de música brasileiro . Para o pesquisador Jair...

ambiente de leitura carlos romero flavio ramalho brito baiao sucesso internacional luiz gonzaga humberto teixeira waldir azevedo delicado juazeiro plagio musica popular brasileira nordeste brasileirinho carmen miranda
Em meados da década de 1940, o bolero, principalmente de origem mexicana, invadiu o mercado de música brasileiro. Para o pesquisador Jairo Severiano, “como nosso gênero musical mais próximo do bolero era o samba-canção, este tipo de música cresceu extraordinariamente [...] a força do bolero, digamos, potencializou o samba-canção”. Esta situação levou a uma mistura tão grande entre os dois gêneros

Permitam-me aventurar no mundo literário e escrever uma crônica dedicada ao meu amigo, confrade, professor e cronista Carlos Romero. Ele...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana marco lima viagena espiritas espiritismo doutrina espirita federacao espirita paraibana
Permitam-me aventurar no mundo literário e escrever uma crônica dedicada ao meu amigo, confrade, professor e cronista Carlos Romero. Ele foi um homem de múltiplas viagens, creio que conheceu os cinco continentes do planeta, em companhia da sua amada família. Utilizei-me desse hobby preferido, para relacioná-lo com as minha reflexões. Assim como numa viagem, podemos escolher as rotas pelas quais percorreremos para o deslocamento, decidi pela rota das lembranças de uma convivência pessoal de mais de 30 anos, pequenos recortes fragmentados de histórias e metáforas, risos e espiritualidade.

Dizem que o tempo passa rápido – e passa mesmo. Principalmente nos dias atuais, de vida corrida, quase frenética. Apenas os muito jovens t...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana francisco gil messias professot jose jackson carvalho 80 anos ex-reitor ufpb albert camus a tragedia do absurdo
Dizem que o tempo passa rápido – e passa mesmo. Principalmente nos dias atuais, de vida corrida, quase frenética. Apenas os muito jovens talvez não sintam essa rapidez do tempo, tão cheios de futuro estão os que ainda não sentiram o peso da existência. E é bom que seja assim. Pois seria triste uma juventude sem ilusões. Mas o fato é que o tempo passa mesmo ligeiro. Até para os moços.

O episódio nº 13 da Pauta Cultural entra no ar na ALCR TV com atualidades do mundo cultural participação dos autores leitores e telespe...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana rosangela vieira rocha menino de engenho 90 anos jose lins do rego sergio rolim mendonça a saga do chanceler rolin milton marques junior ana adelaide peixoto jose leite guerra david trindade filho angelo emilio silva pessoa raquel nicodemos costa turismo cidade praga republica tcheca

O episódio nº 13 da Pauta Cultural entra no ar na ALCR TV com atualidades do mundo cultural participação dos autores leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.

Matam vidas, mas não assassinam a História. São João e Silvas brasileiros, filhos de pais e mães que dão o suor e o sangue do pão nosso de...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana clovis roberto racismo crime humilhacao escravidao violencia
Matam vidas, mas não assassinam a História. São João e Silvas brasileiros, filhos de pais e mães que dão o suor e o sangue do pão nosso de cada dia para lubrificar como óleo e garantir as engrenagens sempre funcionando. São milhões de anônimos, mundo afora. E negam tais mortes, numa pseudo sociedade autodeclarada tolerante, multicultural, que, contudo, distribui convites contados para a repartição da ceia no banquete do lucro. E o critério é a cor, o sexo, o credo, num ritual de exclusão auto-alimentado.

Para a geração de escritores e artistas estrangeiros, nos anos inicias do século XX, em doce exílio intelectual, Paris era uma festa, so...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana milton marques junior turismo paris cultural lutecia historia de paris tour parisiense
Para a geração de escritores e artistas estrangeiros, nos anos inicias do século XX, em doce exílio intelectual, Paris era uma festa, sobretudo para os que frequentavam o chique restaurante Closerie des Lilas, no Boulevard Montparnasse, ao lado da Gare de Luxembourg. Já Victor Hugo, em Os Miseráveis, diz que Paris sempre mostra os dentes, seja para sorrir, seja para rosnar. É bem verdade também. Para quem vai a Paris se submeter a trabalho e enfrentar a burocracia francesa, Paris sempre rosna; mas se vai, para desfrutar de sua beleza, em férias, como turista, desobrigado de horários, Paris sorri.

Enquanto olhávamos pela janela o interior do pequeno chalé à beira do fiorde, em Bergen (Noruega), e o cenário que de lá se avista, a músi...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana germano romero musica classica erudita sibelius kullervo kalevala epopeia finlandesa nordica musica escandinava

Enquanto olhávamos pela janela o interior do pequeno chalé à beira do fiorde, em Bergen (Noruega), e o cenário que de lá se avista, a música de Edvard Grieg de pronto ecoou na paisagem.

Compositores, poetas, artistas plásticos, escritores que engrandecem a História inspiraram-se nos traços de sua terra, de seu povo, mitos, lendas, literatura, virtudes, nacionalismo, rendendo-lhes homenagens transpostas magistralmente do real ou imaginário para a linguagem em que se expressaram.

Um pouco afastado do gracioso sobrado onde viveu, ainda existe o pequeno chalé que Grieg usava para escrever música. Um piano de parede, um sofá e uma estante com livros compõem a modesta e aconchegante decoração. Nada mais seria preciso ao enlevo criador, pois a visão que dali se descortina é estonteante. As noites de lua que cintilaram naquelas águas estão nitidamente refletidas no adagio de seu único concerto para piano e orquestra.

Poemas, sinfônicos ou literários, sinfonias, aberturas, óperas, balés, pinturas, epopéias, tragédias, dramas, comédias e tantas outras formas de arte foram admiráveis em narrar, homenagear, glorificar e retratar o assunto com magnífica amplitude e fidelidade. Romances, biografias, cenários paradisíacos, épicos ou dramáticos, sagas, lendas, sátiras, tudo deu origem a bem lapidada criatividade.

“Love in Bath”, de Haendel, “O ouro do Reno”, de Wagner, a “Sinfonia Alpina,” de Richard Strauss, “Prometheu”, de Scriabin, “A Pastoral”, de Beethoven, “As metamorfoses de Ovídio”, de Dittersdorf, a Sinfonia Fantástica de Berlioz, “Peer Gynt”, de Grieg, são exemplos de música incidental, descritiva ou programática, que desenham com excepcional nitidez os sentimentos que as produziram.

A “Sinfonia Kullervo”, de Sibelius, é um conjunto de 5 poemas sinfônicos que faz jus à forma e descreve com autenticidade impressionante a história trágica de um personagem da mitologia finlandesa que inspirou o médico e linguista Elias Lönnrot a compilar o épico poema “Katevala”, em 1835, a partir de canções fínicas antigas – “rúnicas” – impregnadas de feitiço e magia.


Para certos historiadores, a obra reflete o imaginário nacional do país nórdico. São 50 “cantos” com narrações que abrangem a criação do mundo, guerras, tragédia, paixões e heróis com poderes mágicos, até o prenúncio da chegada de um novo deus, supostamente o Cristo.

Nesta obra, Sibelius constrói a trajetória do desafortunado personagem que descobre que a família foi assassinada pela tribo que o acolheu após massacrar seu clã. Ainda criança, ele é vendido como escravo, sofre muito e consegue fugir ao ficar sabendo de que há familiares sobreviventes. Acaba por seduzir uma garota sem saber que é a própria irmã, julgada morta. Quando ela descobre, horroriza-se e comete suicídio afogando-se no rio.
Kullervo enlouquece e a vingança ganha força capaz de fazê-lo voltar à tribo que o criou para, com seus poderes, exterminá-la. Sendo a desforra o propósito que o cegou, após satisfazê-lo, morre lançando-se sobre a própria espada.

Os cinco movimentos desta sinfonia relatam fielmente a parte do poema épico “Kalevala”, que se refere particularmente à saga do herói nativo, personagem marcado por vingança e sarcasmo que impressionaram Sibelius. Uma história que, 124 anos depois, inspiraria o escritor britânico J.R.R. Tolkien a criar, segundo os críticos, “o mais sombrio e trágico de todos os seus personagens” (A História de Kullervo, 2016).

Na introdução, delineia-se o caráter da inevitável fatalidade, poder e bravura presentes no drama a ser narrado. O talento de Sibelius para a sinfonia romântica logo se evidencia na tessitura grandiosa e eclética capaz de mesclar orquestração brilhante e filigranas que remontam às canções rúnicas finlandesas.

O segundo movimento refere-se à juventude de Kullervo, vigoroso, livre da infância escravizada, esboçada no sombrio sentimento inicial. A seguir, a sensação de liberdade e novas descobertas se desenvolvem com grande entusiasmo. As marcas do destino, contudo, são inevitáveis, e eclodem veementes na parte central. O destemido espírito das tribos também é caracterizado em ritmos contagiantes.

O terceiro andamento, tido como a espinha dorsal da sinfonia, é dedicado a Kullervo e sua irmã. Começa de forma lírica, com alegria e plenitude pela nova fase da vida dele, coroada pela primeira aparição do vibrante coral masculino – uma ode ao novo espírito livre e vigoroso do escravo liberto. Tudo gira em torno do fatídico romance com a variedade que a narrativa requer: as aventuras amorosas precedentes, o reencontro, o anonimato inocente, em aparições diversificadas e ecléticas. Duetos do casal, entremeados de coral, rompantes orquestrais, esfuziantes temas e alegorias compõem o mais extenso movimento, em que abundam textos do Kalevala.

O fervor dramático explode várias vezes, descrevendo a gravidade dos acontecimentos e do ambiente tribalístico. A consagração do amor pela irmã, os colóquios ardentes, a decepcionada supresa ao tomar conhecimento do inglório parentesco, a desgraça de ambos, o suspense que antecede o suicídio dela jogando-se no rio, o grito de tristeza dele, a revolta, a supremacia do desejo de vingança são temas que emergem nos ápices sinfônicos apaixonados e na delicadeza de canções doídas que precedem a tragédia. Sozinha na floresta, consternada, prestes a se despedir da vida, ouvindo os pássaros, ela faz ecoar o seu lamento.

Um instante de profusa dramaticidade descreve a sua angústia, sucedido pela revolta esbravejante do irmão diante da crueldade do destino. Mas, eis que prepondera sua índole vingativa ao se decidir por manter o plano premeditado.
Sucede-se o quarto, a batalha! Inteiramente emoldurado com o caráter bélico da obstinação ansiada pelo irado protagonista. Aqui Sibelius transcreve musicalmente a essência textual: “Partiu para a guerra, alegrando-se com a batalha”. Ostensivamente feérico, este movimento vai se encorpando lentamente em crescente premonição. Tudo se desenvolve no mesmo clima até o fim da contenda em que, com poderes sobrenaturais, Kullervo consegue exterminar toda a tribo que vitimou sua família no passado. Sua morte é descrita com a força gritante de golpes sonoros a invocar a própria destruição, e bem lembram o diálogo do coro entre ele e a espada:

— “Agradaria a esta lâmina comer carne culpada e beber sangue pecaminoso?

— “Por que não me agradaria comer carne culpada e beber sangue pecaminoso? Já que eu como a carne e bebo o sangue dos inocentes?”

E ele atira-se morrendo pela própria espada, sob os brados do coro com fúria brutal:

— “Assim foi a morte do jovem, o fim do herói, a morte do malfadado”.

O final da sinfonia é concluído com o que se pode chamar de uma apoteótica missa de réquiem, com todas as características pomposas e litúrgicas. O sentimento de consternação e desventura inicial vai crescendo paulatinamente e cede lugar aos traços de um heroísmo tão imponente que o ouvinte já não sabe se é o autor,
o herói ou a música que triunfa com tamanha grandiosidade.

A epopéia nórdica inspirou Jean Sibelius desde que a leu, ainda muito jovem, para outras peças, como as que compõem a suíte "Quatro Lendas de Kalevala" (Opus 22), em que se incluem o “Cisne de Tuonela”, “Lemminkäinen e as Ninfas da Ilha”, "Lemminkäinen em Tuonela", "O Retorno de Lemminkäinen". Além de "Tapiola" (Opus 112), seu último poema sinfônico. Para a crítica, entretanto, Kullervo é obra-prima monstruosa que extrapola todos os limites de sua época. Sua imponente brutalidade infunde medo e respeito, mas, na essência, é uma peça romântica. Para o escritor e compositor finlandês, Karl Flodin, “nunca mais Sibelius criaria algo tão descaradamente megalomaníaco”.

Apreciando esta colossal concepção para grande orquestra, coro masculino, barítono e mezzo-soprano, que resume todos os aspectos dramáticos do lendário personagem, é possível avaliar o poder inspirador para elaborar música erudita que se abraça com a fantasia, com o enredo mitológico e as raízes de um povo. Uma força que pode se originar tanto da leitura de epopeia compilada com canções bálticas, de 3 milênios de idade, como da contemplação de uma bucólica paisagem avistada da janela de um chalé no fiorde de Bergen.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Vejo um ideal de perfeição na geometria de Pitágoras que vislumbra Deus como um eterno geômetra. Na sua concepção de Harmonia das Esferas ...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana arquiteto germano romero arquitetura josinaldo malaquias pitagoras paixao por musica

Vejo um ideal de perfeição na geometria de Pitágoras que vislumbra Deus como um eterno geômetra. Na sua concepção de Harmonia das Esferas lança os fundamentos da razão áurea. Da mesma forma, Euclides, apreendendo o pensamento de Platão, desenvolve a Geometria Esférica privilegiando a perspectiva e as seções cônicas.

Na adolescência, ouvia meu pai contar que a filha de Mário Rosas, Gerusa Rosas (mais tarde minha guru do shiatsu), havia partido de navio ...

ambiente de leitura carlos romero cronica ana adelaide viagem praga republica tcheca cidade velha praça torre ponte carlos rua paris por do sol moda comunismo rota real
Na adolescência, ouvia meu pai contar que a filha de Mário Rosas, Gerusa Rosas (mais tarde minha guru do shiatsu), havia partido de navio para a Tchecoslováquia *, em busca do Comunismo. Eram os tempos sombrios em que "comunista gostava de criancinhas". Fiquei impressionada com o sonho “estranho” daquela mulher desconhecida que, por muito tempo, povoou meu imaginário.

Anos depois, assisti ao filme "A insustentável Leveza do Ser" (1988), adaptação do romance homônimo do escritor tcheco-francês Milan Kundera e, mais uma vez, senti-me encantada pelo cenário de uma cidade de nome Praga. Pois bem, um dia chegou minha vez de visitar o local, por quatro dias. Não vivenciei a "primavera de Praga", pois a estação era outra: o verão.

Eu era ainda adolescente quando conheci Pascoal Carrilho. Passados os tempos, um dia desses, conheci a praça em sua homenagem. Andei mes...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana saulo mendonca marques pascoal carrilho bienvenido granda era do radio tabajara

Eu era ainda adolescente quando conheci Pascoal Carrilho. Passados os tempos, um dia desses, conheci a praça em sua homenagem. Andei meses, anos distantes, pra tomar conhecimento da existência dessa praça com o seu nome. Inesperadamente, estava eu sentado num banco da praça que o homenageava.

Pascoal Carrilho foi um homem que por aqui passou meio radiante, meio sereno, acrobático, avoante e extremamente irônico.

As crianças que vi correndo ao redor da sua praça e os pássaros que cantavam por lá desenhavam o espírito do excêntrico radialista que nunca se afastara de seu lado alegre e de seu jeito profissional de animador do mundo. Jamais desgrudava das tiradas espirituosas do apresentador de auditório da antiga PRI-4, Rádio Tabajara da Paraíba.

Era comum vê-lo dentro de um paletó branco, impecavelmente engomado, no pescoço a inafastável gravatinha de borboleta. Era um homem imprescindível às grandes reuniões solenes, fazia o seu jornal com a cobertura radiofônica, sem tirar-lhe o estigma do bom boêmio e animador, um dos mais festejados e afamados da capital paraibana.

Pascoal era cíclico: sério, sisudo, triste, risonho, um pouco de tudo. Noutras horas, era um tipo meio carrancudo, mas fidalgo quando anunciava no palco da Rádio Tabajara, por exemplo, o Trio Jaçanã, de Marlene Freire, Zé Pequeno e Walter Lins. Àquela época, ao sabor de um tempo puro e sem violação dos castos costumes, estudava-se cântico orfeônico nos colégios e havia sabatina e ditado em todas as escolas municipais e estaduais da Paraíba. Era o tempo de Dedé do Sax, fisiognomonia do Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Quando eu o chamava de São Pixinguinha, via nos seus olhos um dardejar feliz. O saudoso amigo Aldemir Sorrentino – que animava as tardes (quase noites) do saudoso Clube ASTREA - dava o toque contagiante da música da jovem guarda, envolvendo os corações adolescidos por um certo romantismo épico, colado ao som da voz do excelente cantor Gilson, de quem nunca mais ouvi falar.

Era tempo do Repórter Tabajara na voz roufenha e disciplinada de Eivaldo Botelho, amigo que debandou pras bandas do Rio de Janeiro, onde cumpriu a estranha promessa de nunca mais voltar para o seu rincão. Lembro-me bem, era tempo da postação irreprochável de Paulo Rosendo, o noticiarista e de Geraldo Cavalcante, o locutor esportivo impecável daquela época.

Não tive o privilégio de conhecer o José de Andrade Moura Filho, que foi amigo de Pascoal Carrilho. Todavia, já àquele tempo, quando era apenas um escriba iniciante de província, aprendendo a andar pelo mundo, recebia do mestre radialista atenções até hoje nunca esquecidas.

Algumas vezes, ele parava-me no Ponto de Cem Réis para me contar histórias hilariantes. Depois, saía gargalhando em cima do seu andar alto e baixo, sobre as pegadas dos melhores momentos de sua vida brincante.

Conta-se que um dia saiu com Bienvenido Granda, cantor mexicano de grande sucesso na época, para tomar uns aperitivos, quando aqui chegou para umas apresentações em João Pessoa. Já fazia dez dias que os dois havia saído, alhures, quando um amigo o encontrou em Campina Grande sozinho, meio desnorteado.

- Que fazes por aqui, Pascoal? - perguntou o amigo assustado com o seu estado de “desligamento”.

Pascoal o informou que estava ali com o cantor Bienvenido Granda. E o amigo que estava chegando do Rio Grande do Norte, o rebateu laconicamente afirmando:

- “Bienvenido? Bienvenido?!!! Ele estava cantando ontem em Currais Novos, Pascoal!”

Certamente, o seu estado, ainda sob os efeitos das noites das praias e Praianinhas, com o impacto da notícia, terminou caindo na realidade. Enfim, abrandou os ímpetos.

A caninha “Praianinha” tinha nele o seu melhor divulgador e publicitário. Era bem pago para isto. E onde fizesse uma cobertura radiofônica, fazia o seu comercial: “Eu bebo Praianinha, nós bebemos Praianinha. É a melhor aguardente do Brasil.”

Um dia, ao repetir o mesmo refrão desse slogan, um espectador jovem que estava na plateia do auditório da antiga Rádio Tabajara, gritou:

“Já estás bêbado a essa hora, né Pascoal?”

Ele não hesitou! Não levava desaforo para casa e não contou conversa. Com o dedo em riste, respondeu à afronta que havia recebido do moço da plateia, na presença da namorada:

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana saulo mendonca marques pascoal carrilho bienvenido granda era do radio tabajara
- “Eu bebo Praianinha, a mãe daquele rapazinho ali também bebe Praianinha! É a melhor aguardente do Brasil!”

No enterro do médico Dr. Napoleão Laureano, Pascoal Carrilho fazia a cobertura daquela solenidade fúnebre. Era um momento de muita comoção e respeito. Falando baixinho, ele dizia, com o microfone quase encostando na boca:

“Aguardente Praianinha, a melhor aguardente do Brasil.”

Num súbito escorregão, caiu em pé dentro do túmulo, onde seria sepultado o insigne médico, famoso oncologista paraibano. Lentamente, encostou o microfone na boca e disse quase sussurrando:

“PRI-4, Rádio Tabajara, transmitindo diretamente de dentro do túmulo do Dr. Napoleão Laureano!”

Continuei pensando sentado na praça Pascoal Carrilho e entendi que o tempo e a suas ambiguidades, não conseguem sepultar as histórias curiosas que tanto nos fizeram rir ou chorar!


Saulo Mendonça é escritor, poeta e haikaista

Esse é o título do livro em que James Geary, editor na Europa da revista Time, faz um abrangente estudo sobre os aforismos. Ele mostra a e...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana chico viana aforismos james geary o mundo em uma frase poder da frase
Esse é o título do livro em que James Geary, editor na Europa da revista Time, faz um abrangente estudo sobre os aforismos. Ele mostra a evolução desse gênero desde o tempo em que era praticado por sábios e profetas até os dias de hoje.

PESSOAS LIVROS O Mundo é uma grande biblioteca, E Deus é um mágico escritor, Que cria livros de páginas em branco, Que ...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana volia loureiro do amaral sorriso no rosto pessoas livros estrela cadente

PESSOAS LIVROS
O Mundo é uma grande biblioteca, E Deus é um mágico escritor, Que cria livros de páginas em branco, Que vão sendo escritas com a tinta do amor. Pessoas são livros, Que escrevem a sua própria história, Há pessoas romances, Há pessoas tragédias, Há pessoas mistério, Há as que são comédia. Há livros de tanta riqueza, Que são enciclopédias, De saber e heroísmo. Há outros que são tão pobres, Que parecem estar em branco, Pois o tempo todo são apagados, Pela borracha do egoísmo. Há livros de belas histórias, Que admiramos sua glória E buscamos copiar, Outros são histórias feias, Tristes e mal escritas, Cheias de pobreza e desdita, Que quase ninguém quer ler, E ficam num canto da estante, Tentando se esconder. Mas Deus é escritor bondoso E ama os livros tristonhos, Vez em quando os reencapa, E lhes dá páginas novas, Que podem ser escritas, Com tintas mais belas e brilhantes, Em letras de amor triunfante, Modificando-lhes a história. Eu sou também um livro De capa simples, modesta, Escrevo-me a cada dia, Com sonhos e fantasias, Gosto de falar de amor, A dor aparece um tantinho, Mas vou com muito carinho, Fazendo da vida uma festa, Que escrevo com alegria, Pois minha maior ventura, É ser livro de poesia. FLUIR
Fluir... Deixar fluir, Deixar a vida prosseguir. Ninguém pode conter O oceano entre as mãos. Entreguemo-nos à vida, Pelos caminhos do coração. Para que negar o amor? Para que negar a dor? Ninguém consegue Esconder-se de si mesmo Somente caminhará em círculo Simplesmente caminhará A esmo. Deixemos então fluir, Seja a dor, Seja o amor, Caminhemos até o fim da estrada, Cantemos todos os poemas, Choremos todas as lágrimas. Porque viver é entregar-se, Viver é mergulhar, No infinito mar de sentimentos, De sonhos, de esperanças. Viver é deixar fluir. Negar-se é ser covarde, ´ É ver a vida passar pela janela, Convidando-nos à felicidade E a ela voltarmos às costas, Preferindo olhar o vazio A extasiar-se com o brilho Da mais bela estrela. ESTRELA CADENTE
Passaste ontem pela minha janela, Como imenso foco de luz, Clareando a noite escura. Pomo de ouro que o céu cruzou, Tanta beleza e energia, Que o amor em mim despertou. E da forma que viestes, A tudo ofuscando, E embelezando o firmamento, Sumiste. Assim, sem aviso, sem que eu esperasse, Deixando-me a alma em tormento. Eras tu, apenas uma estrela cadente, Que se inflama no céu e depois somes, E na tua própria beleza e energia Te consomes. E eu, menestrel desavisado, Fiquei a olhar para o céu, Ofuscado. Acreditando que havias levado, Todas as outras estrelas, Na tua passagem instantânea. E dei de entristecer, Sentindo-me roubado, Pois o que pode fazer um menestrel, Sem a Lua e as estrelas, Para à noite ele cantar? Porém, (agora sorrio a dizer) Tudo foi apenas, Questão de ofuscamento, Pois lá em cima, no céu, No mais alto firmamento, Ainda estavam minhas estrelas. Estava também a Lua, Ora redonda, ora fininha, Sorrindo da minha bobagem, Das lágrimas de criancinha, Que um dia derramei, Por uma estrela cadente. SUAVE
para Carlos Romero Era uma criatura suave De olhos e palavras mansas. Tinha no rosto o sorriso E na alma a alegria de viver.

Até onde pode ir a ruindade humana? ... Há vezes que estranhamos sobremaneira a indiferença, a incompetência moral e a covardia enquanto c...

ambiente de leitura carlos romero sam cavalcanti filme holandes spijt grito socorro bullying musica terapia carry slee dave schram desculpa regret arrependimento colegio
Até onde pode ir a ruindade humana? ... Há vezes que estranhamos sobremaneira a indiferença, a incompetência moral e a covardia enquanto conduta corriqueira nas relações, as mais diversas, e nos incomodamos. Mas, será que esse incômodo é suficiente para nos enxergar e criticarmo-nos até que mudanças sinceras e honestas ocorram dentro em nós? ... Será que nossas lotadas agendas, nosso sempre frenético corre-corre — mesmo em tempos pandêmicos, concedidos pela Natureza, ainda assim, não aproveitamos o tempo sabático para nos agarrar a essa lição... — para algum lugar que não sabemos qual, vale mesmo o preço de não praticarmos a verdadeira empatia? ...

Sobre os poemas de “A Chave selvagem do sonho” (Editora Tribuna, João Pessoa, 2020), de Anna Apolinário, faço minhas as palavras do poeta ...

ambiente de leitura carlos romero cronica conto poesia narrativa pauta cultural literatura paraibana sergio de castro pinto poetisa anna raquel apolinario andre breton poesia surrealista
Sobre os poemas de “A Chave selvagem do sonho” (Editora Tribuna, João Pessoa, 2020), de Anna Apolinário, faço minhas as palavras do poeta e ensaísta Walmir Ayala a respeito de uma poeta brasileira: “Embriagada pela palavra, mas jubilosa em sua embriaguez”.