E aí... cutucou a conviva — E aí aconteceu o que era de se esperar — Emendou Cori. Antes de dar continuidade, porém, o sagaz editor ...

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E aí... cutucou a conviva — E aí aconteceu o que era de se esperar — Emendou Cori. Antes de dar continuidade, porém, o sagaz editor percebe a expectativa em torno. Interrompe propositadamente o que diz e dá umas balançadas no copo com uísque para agitar as pedras de gelo.

A amargura de que fala o título é a “de não ser bonito, quando jovem”. E quem a cita é Paulo Francis, em artigo publicado no jornal O Esta...

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A amargura de que fala o título é a “de não ser bonito, quando jovem”. E quem a cita é Paulo Francis, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 19/5/1991. No texto, ele está se referindo ao escritor Milan Kundera, célebre autor de A insustentável leveza do ser, romance que marcou época em fins do século passado. Escreve Francis: “Como é feio Milan Kundera. Parece um macaco. Imagino Kundera, garoto, num baile de formatura, tentando tirar uma menina para dançar e sendo recusado, delicadamente, se ela era educada, e com riso zombeteiro, se não.

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” Fernando Pessoa Foi no "Bar e Restaurante do Damião", em Alagoa Grande, num ...

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“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”
Fernando Pessoa

Foi no "Bar e Restaurante do Damião", em Alagoa Grande, num dia nebuloso, que ouvi a sutileza de uma sinfonia de sapos e pererecas, sublinhada pelo canto dos grilos, coadjuvantes da noite de um dia frio.

Impasse E quase não há mais como dizer do novo. Que o tempo subtrai a juventude do instante E a beleza em seu estado puro.

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Impasse
E quase não há mais como dizer do novo. Que o tempo subtrai a juventude do instante E a beleza em seu estado puro.

Para o poeta pernambucano Manuel Bandeira: “Ele era o traço mais expressivo ligando os poetas, os artistas, a sociedade fina e culta às c...

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Para o poeta pernambucano Manuel Bandeira: “Ele era o traço mais expressivo ligando os poetas, os artistas, a sociedade fina e culta às camadas profundas da ralé urbana. Daí a fascinação que despertava em toda a gente quando levado a um salão".

Ao ler o mais recente e belo texto de Germano Romero, “ Uma vida de herói ”, eu senti um estalo na memória. Quando eu vi a estrutura do po...

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Ao ler o mais recente e belo texto de Germano Romero, “Uma vida de herói”, eu senti um estalo na memória. Quando eu vi a estrutura do poema sinfônico de Richard Strauss, que Germano descreveu, Mnemosine, a deusa da memória e mãe das Musas, veio em meu auxílio e, de imediato, a minha mente só chamava para a Eneida de Virgílio:
I - O herói (Der Held) II - Os adversários do herói (Des Helden Widersacher) III - A companheira (Des Helden Gefährtin) IV - As batalhas (Des Helden Walstatt) V - As obras de paz do herói (Des Helden Friedenswerke) VI - Saída do mundo, consumação e transcendência (Des Helden Weltflucht und Vollendung)

Explico-me. É impossível ler a crônica poético-musical de Germano Romero e não associar ao poema épico de Virgílio. Era como se cada palavra dita, correspondesse, na sua essência, à narrativa da Eneida.

Senão, vejamos: o herói Eneias é apresentado, desde o Livro I da Eneida, embora só venhamos a saber os detalhes de sua origem, de sua viagem e o porquê de ele ter sido escolhido pelos deuses, para ser o herói da nação troiana, no Livro II. Eneias, filho de Vênus, é um predestinado ao heroísmo e deve fugir, para fundar uma nova Troia, pois a sua Troia foi destruída pelos gregos. Assim, decidiram os deuses súperos (I. O herói – Der Held).

Para que Eneias cumpra a sua missão e possa realmente ser merecedor da condição de herói assinalado pelos deuses, ele precisa enfrentar muitas adversidades e, claro, adversários, na sua complexa viagem, terra marique, por terra e por mar, à nova Troia, que de verá ser fundada no Lácio, na península Itálica, berço da futura Roma. Ele é que assentará as bases dessa gloriosa cidade, destinada a ser a Caput Mundi, a Cabeça do Mundo. Os adversários iniciais são tanto os gregos, que invadem Troia e a destroem, quanto monstros, como o ciclope Polifemo, as Harpias voadoras, além de pestes, naufrágios, errâncias e más interpretações dos oráculos para que ele encontre o caminho assegurado pelos deuses. Até a própria Juno, a deusa-mãe, o persegue, por razões que estão além da alçada de Eneias, como o julgamento de Páris e o rapto de Ganimedes, troianos, como Eneias, que a ofenderam (II. Os adversários do herói – Des Helden Widersacher).

No Lácio, Eneias vai encontrar a companheira também destinada pelos deuses. Trata-se de Lavínia, a filha do rei Latino, com quem o herói há de casar. Mas não pensemos que o casamento será sem dificuldades, tendo em vista que o herói vai ter que enfrentar novas adversidades para a conquista de Lavínia. A terra fundada será chamada de reino Lavínio, em homenagem à esposa. Fica claro, portanto, que à conquista da mulher, precede a conquista da terra (III. A companheira – Des Helden Gefährtin).

As novas adversidades, pois um herói não é só afeito às adversidades, como também elas nunca acabam, apenas mudam o seu grau de dificuldade, serão as batalhas desenroladas no Lácio, para a conquista da terra; batalhas que ocupam um terço da narrativa, do Livro IX ao XII da Eneida. Destaque-se, principalmente, batalhas contra os Rútulos do rei Turno, o principal oponente do herói, pois Lavínia já estivera prometida a ele, antes da chegada de Eneias. Como já dissemos, conquistar a terra é conquistar a mulher (IV. As batalhas – Des Helden Walstatt).

O auge dessas batalhas é o combate singular entre Eneias e Turno, culminando com a morte deste último. Como a Eneida é um poema inacabado, o poema se fecha abruptamente com a morte de Turno. Virgílio, acometido por uma doença, na volta da Grécia para Roma, morre em Brundisium, atual Bríndisi, em 19 a. C., após dez anos de trabalho no poema, que começou com um pedido pessoal de Otávio César Augusto. Após a sua morte, Augusto designa os poetas Tucca e Varius, para editar o poema como ele se encontra, com cerca de 50 versos hexâmetros inacabados e sem o epílogo, característico dos poemas épicos.

Diante da morte prematura de Virgílio e da edição póstuma do poema, em 17 a. C., preservado como o poeta o deixou, não vemos a construção da nova Troia, o novo reino tão sublimado, que levará o nome de Lavínio, nem as obras de paz do herói. Estas viriam, consequentemente, vez que Eneias é o modelo do rei indo-europeu, em suas três fases de rei-guerreiro, rei-sacerdote e rei-empreendedor. Infelizmente, a parte que seria para celebrar os empreendimentos que levam ao progresso e à paz, como um tributo a Augusto e a sua decantada Pax Romana, não se encontra no poema (V. As obras de paz do herói – Des Helden Friedenswerke).

Do mesmo modo, não veremos a transcendência do herói, mas a tradição nos diz e isto é, de certo modo, antecipado no Livro I da Eneida, quando da profecia de Júpiter a Vênus. Eneias, depois de fundada a nova Troia, reinará por três anos, sendo arrebatado pelos deuses, num fenômeno que se chama de apoteose (ἀποθέωσις), saindo do mundo, transcendendo a matéria, para ir viver junto aos deuses, porque soube conquistar o status de herói que lhe foi conferido (VI. Saída do mundo, consumação e transcendência – Des Helden Weltflucht und Vollendung).

Em linhas gerais, podemos constatar como a estrutura de Richard Strauss para o seu poema sinfônico “Uma vida de herói” se aplica, na sua essência, ao poema épico e, mais estritamente, ao épico de Virgílio, com a tessitura de uma narrativa heroica. Não esqueçamos, ainda, de um detalhe: apesar de não ser um poema sinfônico, a Eneida, como os demais poemas, sobretudo, os épicos, foi feita para ser cantada, não para ser contada, acompanhada de instrumentos de percussão como a lira e o tambor, no ritmo do verso hexâmetro dactílico, com os seus seis pés bem marcados.

Tinha razão Gérard Genette, em dizer que a literatura é um sistema de vasos comunicantes. Vou mais além: a arte é um sistema de vasos comunicantes, estendendo a sua capilaridade ilimitada e instigando que se escreva sobre ela e se escreva sobre o que se escreveu sobre ela ad infinitum.

Nos mais de 20 anos que escrevo sobre e para as mulheres, foram tantos assuntos! Opressão feminina, domesticidade, invisibilidade das mulh...

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Nos mais de 20 anos que escrevo sobre e para as mulheres, foram tantos assuntos! Opressão feminina, domesticidade, invisibilidade das mulheres. Solidão feminina. Construção de identidades e problemas de gênero. As solteiras, as casadas, as separadas, as viúvas e todas, ou quase todas, as suas circunstâncias. Vida sexual, conquistas e tabus enfrentados. Meninas x Meninos! Menstruação e menopausa, e suas curvas de cólicas e insônias.

Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelo...

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Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelos fundamentos e segredos que os cristais do seu ensaio traziam à rudeza de minha percepção , ponho-me agora a correr atrás de Chesterton. Impressionou-me a veemência da confissão. Como poderei bicar esse escritor e pensador de tamanha influência?

Juntar a turma, vestir a melhor roupa, contar os trocados para pagar a meia entrada de estudante, entrar na fila, passar na roleta e corre...

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Juntar a turma, vestir a melhor roupa, contar os trocados para pagar a meia entrada de estudante, entrar na fila, passar na roleta e correr para conseguir um bom lugar, torcendo para não sentar desavisadamente em um chiclete. Ah! Como era bom um cineminha de domingo nos antigos cinemas de João Pessoa (não tão antigos como os pioneiros Metrópole, Santo Antônio ou Brasil). Cito especialmente Municipal e Plaza. Um programa com cheiro de adolescência.

o argueiro haicai da paisagem em pó convertido. feudo loteado no olho. o argueiro é ainda o rochedo de sísifo. ...

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o argueiro
haicai da paisagem em pó convertido. feudo loteado no olho. o argueiro é ainda o rochedo de sísifo. sem fórmula
não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às vezes dou-lhe ré, mas ela sempre me escapa). aos sábados e domingos deixo-me ficar em ponto morto diante dessas fotos já sem cor: paisagens vistas de um retrovisor? circo mambembe
o drama projeta-se além do palco: hoje encenam a paixão de cristo, amanhã conduzem a cruz do mastro. rios, cidades, poetas À Moema Selma D’Andrea
o paraíba, o mamanguape, o tigre, o eufrates, o tejo, o sena, não desviam o curso do poema. o poema, nenhum rio ou cidade o fazem. só os poetas, à margem do lápis: caniço pensante na maré vazante da linguagem. o preto cosme, pintor de paredes
o preto cosme caiava como quem dispara tiros a esmo ou como quem bêbado erra o prumo e salpica-se de cal estrela-se de cal caiando-se a si mesmo qual fosse um muro branco de susto homiziando um preto seu isidoro
seu Isidoro era eletricista e a sua barba hirsuta hirta era um rolo de fios desencapados soltando faíscas seu isidoro era uma pilha um surto um curto um longo circuito atritando-se com a vida

Escritor, pacifista, professor de História da Arte na École Normale de Paris e de História da Música na Sorbonne, membro da Academia Franc...

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Escritor, pacifista, professor de História da Arte na École Normale de Paris e de História da Música na Sorbonne, membro da Academia Francesa de Letras, biógrafo e músico, o francês Romain Rolland ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1915. Admirado e citado por Gramsci, Herman Hesse e Freud, com quem se correspondia, foi autor de quase 100 livros, entre romances, dramas, novelas e biografias como as de Tolstoi, Hugo Wolf, Beethoven, Haendel, Michelângelo, ensaios sobre Rousseau, Swami Vivekananda,
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Empédocles, Danton e robustas coletâneas em torno da literatura operística e musical.

Romain Rolland era grande apaixonado e conhecedor de música, arte que lhe provocava transcendência mística. Defendia a religiosidade como “sentimento oceânico”, expressão forjada em carta a Freud, com quem costumava debater sobre os transes extáticos relacionados com a “sensação de eternidade, de algo ilimitado, infinito, um vínculo indissolúvel com o universo”.

Rolland identificava este “sentimento oceânico” como fonte de energia espiritual que permeia todas as religiões, experimentando-o fervorosamente na música.

Quando o compositor alemão Richard Strauss (Baviera, 1864-1949), conhecido como o “Poeta Sinfônico” pela beleza de seus poemas tonais, estreou “Uma vida de herói”, em Frankfurt, no ano de 1899, Romain Rolland, amigo que estava presente, relatou:

“Vejo pessoas a tremer e quase se levantam em determinadas passagens. No fim, durante a ovação e a entrega de flores, soam os trompetes e as mulheres acenam os seus lenços”.

Que qualidades teria uma música para causar reações como esta, não apenas nas plateias, mas principalmente em alguém como Romain Rolland? Sem dúvida, sobretudo, a beleza!

Richard Strauss maravilhou o mundo com 10 magníficos poemas sinfônicos, forma musical caracterizada por aludir a  enredos vários, como lendas, astronomia, mitologia, sátiras, tragédias, obras de arte, paisagens, povos, nações, romances, poesia.
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Alguns se classificam como música descritiva ou programática, e diferem da chamada música absoluta, pura, sem uma intenção premeditada. Ainda que ambas sejam subjetivamente capazes de sugerir e provocar emoções tão variadas quanto criativas.

A relação entre a música e outras formas de arte é muito antiga. O balé reúne enredo, coreografia (dança), cenário e música orquestral. A ópera, peça expressivamente ainda mais rica, une literatura (libreto), dança, arte dramática (teatro), música sinfônica, canto lírico e cenografia. Há outros exemplos de ligação entre literatura, pintura, belezas e fenômenos da natureza que se intensificaram, do período romântico em diante, por compositores que quiseram narrar histórias, descrever paisagens, falar de um quadro, transformar imagens e acontecimentos reais ou imaginários em música. Peças como Les Boréades (tragédia lírica de Rameau), As quatro estações (Vivaldi), Amor em Bath (Haendel), A Pastoral (Beethoven), Sinfonia do Novo Mundo (Dvorak), Minha terra (Smetana), Enigma (Elgar), o Quebra Nozes (Tchaikovsky), grandiosas sinfonias de Mahler, Shostakovich, Sibelius, Bruckner e Scriabin são admiráveis transcrições capazes de refletir a riqueza e o poder da imaginação e do sentimento, íntimo ou cósmico.

No poema sinfônico, o caráter descritivo se notabiliza ao detalhar com mais unidade e riqueza de elementos o assunto que aborda. Há, entretanto, poemas cujas narrativas são fruto do imaginário pessoal do compositor, como “Uma vida de herói”, de Richard Strauss, que extasiou plateias do mundo ocidental e pessoas como Romain Rolland.

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De uma originalidade ímpar, construído em caráter audaciosamente moderno, sem se afastar da essência romântica, este poema eleva a música em primeiro plano e restringe a descrição narrativa a importância secundária. A história se resume ao perfil de um “herói”, personagem intensamente presente em inúmeras peças da literatura e dramaturgia clássicas antigas. Mas, neste caso, o protagonista é inédito, imaginado pelo próprio compositor, representando mais uma personalidade do que um personagem.

Para descrevê-lo, Strauss dividiu “Uma vida de herói” em seis partes:

I - O herói (Der Held) II - Os adversários do herói (Des Helden Widersacher) III - A companheira (Des Helden Gefährtin) IV - As batalhas (Des Helden Walstatt) V - As obras de paz do herói (Des Helden Friedenswerke) VI - Saída do mundo, consumação e transcendência (Des Helden Weltflucht und Vollendung)

Na primeira, a figura central é emoldurada com traços completos do espírito heróico em enérgica construção musical que evoca suas virtudes e características mais marcantes da entidade a ser narrada .


E a música assim desfila pelas nuances da personalidade do herói entre ternas, gloriosas e agitadas passagens em torno do tema que se reapresenta sempre destemido e conclui-se com merecida vivacidade.

Na seção seguinte são mencionados os adversários do herói. Os invejosos, falsos, os rivais e obstáculos por eles criados simulam-se com diálogos irrequietos, entre sopros e tubas, sarcasmo e ironia nos contrastes jocosos de graves e agudos. Há quem suponha que Strauss também se refere aos críticos de arte maldosos que dificultam a carreira dos artistas. São considerações que o deixam pesaroso como se ouve no trecho a seguir . Em meio a tudo, o tema heroico inicial aparece constantemente ao fundo, nos baixos e cellos, infundindo respeito e reiterando sua soberana preponderância.

Na terceira parte, surge a figura da companheira que se introduz com a devida importância em sua vida. As nuances da relação soam, a princípio conflitantes, como acontece entre casais, com o violino representando o ente feminino, sutil, às vezes irritante, provocativo, dialogando com o companheiro
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na voz dos metais com cordas, em tons bem mais graves .

A conversa prossegue oscilando entre divergências e bom entendimento, mesclada com pitadas afetuosas que também revelam momentos de doçura da companheira. Embora logo se “desentendam” como se ouve no agitado temperamento feminino sempre ponderado pelas respostas graves e compreensivas do herói nas cordas e metais . Alguns amigos de Strauss identificaram nos temperos e destemperos femininos uma referência à própria esposa.

Nesta parte dedicada à companheira, assim como em outras, o violino é bem valorizado com instigantes passagens de complexidade virtuosística e algumas dissonâncias, em plena liberdade tonal. Os solos mais extensos podem até ser interpretados como uma verdadeira cadência .

Ao fim da exposição deste rico e intenso fraseado entre o herói e sua companheira, é o amor que prepondera como esteio importante para os desafios e conquistas de sua trajetória e se consagra com incrível beleza e paixão .

O colóquio assume ares de confidências amorosas e soam como declarações de afetuoso lirismo enunciadas no oboés, clarinetes, trompas, imantados na harmonia das cordas em uníssono . Curiosamente, “os adversários do herói” (da parte 2) “beliscam” a cena final ao se concluir em absoluto clima de paz .

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O leitmotiv, expressão atribuída ao elemento, tema, frase que se repete ao longo de uma peça sinfônica, faz-se presente nos poemas como característica da forma. Tal como na literatura, é traço muito constante no poema sinfônico. As reaparições conferem unidade ao tecido musical e moldam a personalidade do romance. Este modelo de recorrência temática muito usado por Wagner e outros compositores de ópera é inserido com maestria, nos instantes propícios mantendo os elos entre as diversas abordagens da narrativa. Em Uma vida de herói, o leitmotiv ganha destaque maior, porque além de variado se emula por todas as seções, alternando as matizes que as distinguem assiduamente, ao longo de cada fragmento, sobretudo no arremate. Este artifício oferece colorido especial ao poema, mantendo os assuntos não apenas lembrados permanentemente, mas integrando-os em “hibrida” homogeneidade.

O ápice orquestral se nota obviamente na ilustração dos campos de batalha do herói (4ª parte), que no enredo se referem às lutas por ideais e causas nobres. Os embates são inicialmente anunciados pelos metais distantes do palco, que se mesclam com a reexibição do tema principal, com relevância extraordinária neste borbulhante trecho.
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A frase exibe-se repetidamente com matizes e timbres diversos, ora fragmentada, ora inteira, com a imagem do herói surgindo em palras contrapontísticas artisticamente bem entrosadas .

Agora a atmosfera invoca o personagem a enfrentar o combate. Toda a orquestra conclama os cenários de luta, com ritmos freneticamente marciais, permeados por pequenos excertos dos temas de partes anteriores .

O espetáculo se intensifica para cumes de sonoridade feérica condizente com o panorama de duelos e contendas, ao som de tiros em uma pirotecnia de percussões poucas vezes vista no mundo sinfônico .

A densidade sonora se espirala em hemiciclos e culmina apoteoticamente com a mais esfuziante aparição do tema protagonista que descerra as cortinas do cenário de batalhas .

Sem intervalo, o quinto movimento começa por enunciar as conquistas de paz que advêm dos desafios destes embates, estrondosamente encenados. Desfilam sequenciados e cravados como emblemas apregoados pelos tímpanos em um mural de vitórias.

Um interlúdio súbito , inquieto e agitado separa o clima bucólico que se instaura pelas harpas, seguidas de suaves e poéticos fraseados melódicos nos sopros e cordas a se entrelaçarem, fazendo emergir sentimentos de consciência serenamente tranquila pelo dever cumprido em suas obras de paz .

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A exposição dos feitos heróicos se conclui com solos mais extensos, ainda com ares de elegia, e se conecta imediatamente à última parte.

Eis de volta o suspense, agora mais intimidador. É chegada a hora de, após o dever cumprido em uma vida agitada e plena de realizações, retirar-se de cena. A volta do interlúdio da seção anterior pressagia o que acontecerá e a angústia da fatalidade se estampa perante a iminente despedida .

Mas a resignação sobrepõe-se e a calma se instala nos solos crepusculares do corne inglês, que se revezam com cordas que anunciam a aurora grandiosamente sublimada. É o adeus de um herói resignado e convicto dos feitos exitosos da trajetória terrena. Silencia a orquestra e ouve-se um dos momentos de maior transcendência lírica na obra de Richard Strauss. O herói - que para muitos é auto-retratado pelo compositor - despede-se do mundo emocionado pela visão retrospectiva de uma existência proveitosa e profícua .

Para concluir o poema, após suspense introdutório do mesmo interlúdio já exibido nesta e na seção anterior, ora mais trágico e intenso, estabelece-se o enternecedor diálogo final. Como se o herói conversasse consigo, com suas memórias, com sua amada,
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com sua vida, na fusão de seu eu com o passado, presente e o futuro que se descortina inexorável.

As falas se abrem com o violino suave e romântico, quiçá referindo-se ao amor que desfrutou com sua esposa, respondido pela trompa, no mesmo tom, reiterada docemente por fagotes, oboés e clarinetes em colóquio comovente que progride se alternando entre os três timbres .

Chega, então, o epílogo, possivelmente uma das mais encantadoras conversas musicais da era romântica. Trompa e violino se comunicam divinamente a confessar toda a poesia imaginada pelo autor para descrever o magnífico trabalho. Entre eles não estão somente o herói e a companheira, como dantes o fizeram, mas a existência completa de um personagem ricamente imaginado .

Por fim, a consagração divinizada no extasiante desfecho ao estilo de Assim falou Zaratustra , outro grande poema sinfônico deste compositor que fez o gênero atingir o ponto culminante, glorificando-o como modelo mais requintado de narrativa musical, e a si próprio igualmente como um herói. Um herói capaz de nos fazer navegar em sua música com “sentimento oceânico”, a “sensação de eternidade” tão bem definidos por Romain Rolland como “vínculo indissolúvel com o universo”.

Todas as pessoas nascem dotadas de espírito gregário, e por isso costumam exercer a busca de umas pelas outras. Além disso, existe o inst...

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Todas as pessoas nascem dotadas de espírito gregário, e por isso costumam exercer a busca de umas pelas outras. Além disso, existe o instinto de perpetuação das espécies, o que as faz buscar um companheiro.

Quando uma pessoa é tímida, tem dificuldade de relacionamento, às vezes recorre a especialistas. Outrora existiam, nos jornais, os tais Correios Sentimentais, colunas onde essas pessoas encontravam correspondentes para se comunicar. Muitas vezes terminavam em casamento. Mas às vezes corria o risco de dar errado.

O mundo evoluiu, e os Correios Sentimentais deram lugar ao... FÊICIBÚQUI! Sim, o que vós modernosos hoje chamais de face book. Mas que ainda conserva os mesmos riscos do namoro à distância. Como é o caso que veremos adiante.


Alicia Patrícia era uma belíssima jovem moradora de Brusque, em Santa Catarina. Filha de alemão com cabocla era um morenaço nos seus 1,76 de altura, olhos verdes profundos, corpo bem esculpido. Um manequim!

Mas não conseguia casamento. E por um simples detalhe: tinha um estúpido mau-hálito, que ninguém suportava. Nem seus pais! Então resolveu freqüentar sítios de relacionamento no fêicibúqui.

Em pouco tempo aprofundou sua correspondência com um rapaz de Teresina, no Piauí, chamado Cauê Cauan, que demonstrou muuuito interesse por ela. Passavam horas trocando palavras no uotizápi, namorando pelo celular.

Acontece que Cauan era uma figura que chamava a atenção: louro de 1,86 de altura, olhos azuis cristalinos, presença que não passava despercebida. Um outdoor! Mas não conseguia casamento, pois nenhuma moça suportava o seu... CHULÉ!

Para seu desgosto até a sua mãe só conversava com ele tampando o nariz com os dois dedos... Tudo isso só fazia piorar o complexo do bichinho...

Sem ter a menor idéia dessas idiossincrasias recíprocas, o namoro dos dois evoluiu pela internet. Trocaram fotografias, emojis e correspondências, onde compartilhavam seus gostos por hábitos, leitura (mentiras dos dois, pois nenhum lê!), pratos prediletos, novelas preferidas, heróis da TV. Ela se descreveu conforme a fotografia que enviou para ele. E, naturalmente, omitiu o mau-hálito.

Ele, por sua vez, respondia a tudo o que ela indagava, e também se descreveu conforme a fotografia que lhe enviou. E, naturalmente, omitiu o chulé!

A correspondência evoluiu para romance. E o romance despejou no mar do casamento! Casaram-se por correspondência. Marcaram um encontro no hotel Quatro Rodas, de Olinda.

Para ir encontrar-se com ele, ela fez gargarejo com Periogard, e encheu a boca com vários tabletes de chiclete: hortelã, canela, framboesa, menta, baunilha, café... tutti-frutti!

Para ir ao encontro dela, ele recorreu a uma daquelas botinas de caipira, com um rabicho atrás e que, depois de fechadas, não sai nem um arzinho de dentro. Calçou meias grossas, embebidas no perfume Alfazema, da Garrão.

Encontraram-se no saguão do hotel, trocaram beijinhos tímidos, e subiram para o apartamento. Ela sempre mascando quase um quilo de chicletes e procurando falar pouco. Ele confiando na hermeticidade das botinas.

O apartamento, por ter sido reservado para uma lua de mel, estava sugestivamente decorado, perfumado com uma suave fragrância de água-de-colônia, e à meia-luz.

Chegados ao quarto ela foi direto para o banheiro tomar uma ducha e vestir uma camisola. Sozinha, sentindo-se mais confiante, pensou:

“Ele agora é meu marido, não tenho mais o que esconder!” E jogou o bolo de chicletes na privada e deu descarga.

Esperando no quarto por ela, sentado na cama king-size, ele pensou:

“Ela agora é a minha esposa, e eu não tenho mais o que esconder!” E jogou as meias na lixeira. Tirou a roupa e deitou-se na cama. No friozinho gostoso do ar-condicionado, à meia-luz... logo, logo ele adormeceu.

Acordou-se com ela deitada ao seu lado, colada em seu corpo, ciciando no seu ouvido:

“Meu bem, eu tenho um segredo para te contar...”

Ele rápido respondeu, saltando da cama:

“JÁ SEI! VOCÊ COMEU A MINHA MEIA!”

Implicavam que a moradia era mal-assombrada. Fora de um espertalhão. Uns molecotes da rua resolveram pular uma das janelas semiabertas e d...

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Implicavam que a moradia era mal-assombrada. Fora de um espertalhão. Uns molecotes da rua resolveram pular uma das janelas semiabertas e de lá saíram aos berros, falando sobre um cachorro preto e um careca. O agiota era mesmo parco de cabelos. Tanto que, quando desejava negar o empréstimo, sacrificava os ralos fios, alisando-os, e rosnando, quase a ladrar, antes de enxotar o pedinte do empréstimo.

Sentimentos tão díspares... Às vezes, a lágrima trava. Choro mais por dentro que por fora. Mas não sufoco o medo. Mantenho acesa a espera...

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Sentimentos tão díspares... Às vezes, a lágrima trava. Choro mais por dentro que por fora. Mas não sufoco o medo. Mantenho acesa a esperança. Da parede lateral do muro vejo que há sempre o crepuscular da vida!

Minha sede não é qualquer copo d'água que mata Essa sede é uma sede que é sede do próprio mar Essa sede é uma sede que só se desata Se...

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Minha sede não é qualquer copo d'água que mata Essa sede é uma sede que é sede do próprio mar Essa sede é uma sede que só se desata Se minha língua passeia sobre a pele bruta da areia Sonho colher a flor da maré cheia vasta
Caetano Veloso & Waly Salomão, Talismã

Octacílio de Queiroz cultivava e sabia muitas vezes mais do que pôde ou conseguiu escrever. Tive a fortuna do seu convívio de homem exempl...

Octacílio de Queiroz cultivava e sabia muitas vezes mais do que pôde ou conseguiu escrever. Tive a fortuna do seu convívio de homem exemplar e intelectual ativista, influente e participativo a partir de sua passagem pela direção de A União, no governo de Pedro Gondim. Gritava ordenando ou simplesmente conversando, até mesmo lendo e escrevendo. Não se empolgava calado. Deu um urro sozinho no gabinete, corri a ver o que era e era ele lendo Gilberto Amado a descrever a passagem de Carlos Dias Fernandes, de tamanco, chapéu de abas largas, uma sacola de compras na mão, atravessando airoso a calçada do Café Lafaiete no Recife. Não sabia segurar as emoções. Nem transigir nos seus códigos ou princípios. Fiquei lhe devendo até hoje, passados sessenta anos.