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Nas imediações da cidade de Conceição, num recanto sossegado na beira das serras que separam Paraíba e Ceará, próximo de Pernambuco, de solo bom para a produção agrícola, deparei-me com homens de mãos calejadas e uma vontade imensa de trabalhar, como acontece em outras regiões paraibanas. Sem a terra, mantém-se na mesma sujeição do tempo das senzalas e da chibata. Tudo o que produzem é dividido ao meio com o dono das terras.

O indivíduo identificado como bravateiro deixa de ser considerado como alguém que mereça ser respeitado. É viciado em produzir declarações...

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O indivíduo identificado como bravateiro deixa de ser considerado como alguém que mereça ser respeitado. É viciado em produzir declarações irresponsáveis, absolutamente despropositadas. Não tem o senso do ridículo, por isso se põe a mentir com a maior naturalidade, ainda que se mostre um sujeito risível, burlesco. Costuma esbravejar com fúria, fazendo ameaças impossíveis de serem efetivadas, quando se sente acuado. Fanfarrão por natureza, tenta passar a imagem de “valentão” na tentativa de intimidar desafetos.

O menino e o velho A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda des...

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O menino e o velho
A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda despedida, corresponde também um recomeço. E a todo olhar brilhante de alegria subjaz uma nota de tristeza; como ao feio, que às vezes horroriza, deve mesclar-se um fundo de beleza.

Aconteceu, mas não foi, claro, no divã de Freud, salvo simbolicamente. Foi no mais modesto divã de minha psicanalista (ou psicoterapeuta)...

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Aconteceu, mas não foi, claro, no divã de Freud, salvo simbolicamente. Foi no mais modesto divã de minha psicanalista (ou psicoterapeuta), com quem conversei, quinzenalmente, durante uns dez anos. Dez anos que, para algumas coisas, pode ser muito tempo. Mas para falar de si mesmo, escavar a alma em busca do que for, buscar compreender-se para poder compreender a vida como ela é, voltar ao passado mais longínquo, porque lá é que está a explicação de tudo, enfim, para isto e ainda mais, não é tanto tempo assim. Quem já deitou no divã, sabe. Pois bem.

Para equilibrar, já que escrevi sobre os “ pequenos sofrimentos do cotidiano ”, vai um texto sobre os pequenos prazeres do cotidiano.

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Para equilibrar, já que escrevi sobre os “pequenos sofrimentos do cotidiano”, vai um texto sobre os pequenos prazeres do cotidiano.

Luizinho tem 10 anos, completou faz seis meses, perto do Natal. Como acontecia todas as manhãs, no dia do seu aniversário um beijo doce d...

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Luizinho tem 10 anos, completou faz seis meses, perto do Natal. Como acontecia todas as manhãs, no dia do seu aniversário um beijo doce de mãe o acordou cedo, chamando para as aulas remotas dos tempos de pandemia. Estava em cima da hora. Comeu um pão com manteiga e tomou leite achocolatado enquanto conectava o celular e se debruçava na mesa cheia de material escolar.

Para Lucas A voz do ventre? Mas só hoje começamos a perceber como o desejo de ter um filho é complexo, difícil de precisar e de isolar ...

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Para Lucas

A voz do ventre? Mas só hoje começamos a perceber como o desejo de ter um filho é complexo, difícil de precisar e de isolar de toda uma rede de fatores psicológicos e sociais... O amor materno pode ser incerto, frágil e imperfeito.
Elisabeth Badinter, em "Um Amor Conquistado – o Mito do Amor Materno"

Dia das mães é aquele em que se desperta o afeto que reside na essência de cada um de nós. É onde buscamos lembranças da mãe trazidos da i...

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Dia das mães é aquele em que se desperta o afeto que reside na essência de cada um de nós. É onde buscamos lembranças da mãe trazidos da infância, momentos felizes, as zangas, castigos que são encarados como afagos. Depois, surgem as lembranças da adolescência, com seus conflitos aflitos, discordantes, às vezes ocultos. Mais tarde, já adultos, guardamos as lembranças calmas, amistosas, aquelas onde confrontamos nossa situação de pais e nos vemos repetindo atitudes iguais àquelas que antigamente recusávamos, que nos constrangiam, irritavam.

Sobre o Movimento de Maio de 1968, na França, Jomar Souto, poeta paraibano pertencente à Geração 59, escreveu: “ (...) Lembro bem se m...

Sobre o Movimento de Maio de 1968, na França, Jomar Souto, poeta paraibano pertencente à Geração 59, escreveu:

“ (...) Lembro bem se me lembro, você coberta de giz, chorando lacrimogênio num bulevar de Paris”.

Eu mesmo, por ocasião do autoexílio de Caetano e Gil, quando ambos se viram forçados a migrar para Londres, letreei uma composição de Cleodato Porto, “Monstros soltos por aqui”:

Para o pesquisador José Ramos Tinhorão “o aproveitamento, por parte de compositores das cidades, de gêneros de música da zona rural, de c...

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Para o pesquisador José Ramos Tinhorão “o aproveitamento, por parte de compositores das cidades, de gêneros de música da zona rural, de caráter folclórico, remonta ao século XIX e tem sua origem no interesse que o tema dos costumes do campo começa a despertar no público urbano frequentador do teatro de revista”.

Um trem desgovernado rasga a noite, furando barreiras, carregado de soldados que partem para o campo de batalha, na recém-iniciada guerra ...

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Um trem desgovernado rasga a noite, furando barreiras, carregado de soldados que partem para o campo de batalha, na recém-iniciada guerra franco-prussiana. Sem saber que o foguista e o condutor morreram, os soldados cantam, inebriados pela velocidade e pela expectativa da guerra. É este o final de A besta humana (La bête humaine, 1890) de Émile Zola. Um dos finais mais marcantes que conheço para um romance, em que nada se fecha, pelo contrário, se abre para um devir muito preocupante.

Passar do choro para o riso em pouco tempo demonstra que emoções presumivelmente antagônicas podem estar bem mais próximas do que supomos....

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Passar do choro para o riso em pouco tempo demonstra que emoções presumivelmente antagônicas podem estar bem mais próximas do que supomos. Algumas pessoas experimentam sentimentos diversos com admirável maleabilidade. Ou seriam mesmo parecidas a alegria e a tristeza?...

Mais de nove décadas, se levantava cedo e ia cortejar o pomar. Eram fruteiras sadias e variadas entrelaçando galhos no quintal. Havia diál...

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Mais de nove décadas, se levantava cedo e ia cortejar o pomar. Eram fruteiras sadias e variadas entrelaçando galhos no quintal. Havia diálogo, carícia, lamentação por um ramo menos viçoso. Apanhava frutas maduras quais tesouros.

POEMA ÀS MÃES Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo P...

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POEMA ÀS MÃES
Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo Para servir de abrigo Ao nosso corpo em formação? Ela, em interessante estado, Vê seu corpo transformado, Através de uma tempestade hormonal, Crescem-lhe o ventre e os seios, Transformam-se as emoções e os anseios, E a sua vida passa a ser de espera, Aguardando-nos por nove meses, Para nos conhecer e recolher em seus braços, A sua aguardada quimera.

O quadro " Intervalo" - de Edward Hopper -, que ilustra este texto, capta o vazio que já senti tantas vezes entre duas sessões ...

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O quadro " Intervalo" - de Edward Hopper -, que ilustra este texto, capta o vazio que já senti tantas vezes entre duas sessões de cinema, ansiedade que não conseguiria definir melhor do que Bráulio Tavares num de seus extraordinários artigos do Jornal da Paraíba, que cito de memória:

O que gela O que gela na madrugada a mão que contorna, na névoa densa, o círculo do Mundo? Assustada, a fala pe...

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O que gela
O que gela na madrugada a mão que contorna, na névoa densa, o círculo do Mundo? Assustada, a fala perde-se, alçada aos equívocos do Céu. E nela, a amada a pele, tardam os pelos rijos: orvalho e desespero. O que gela na madrugada é a corda rota, a derradeira gota de suor da morte interrompida. O que gela, e o amanhecer retarda: a paralisia da mandíbula, o couro macerado na fuga. Os livros
Os livros são meu celeiro de devaneios. Onde adormeço na dobradura do tempo pênsil -, no desfiladeiro de um cotidiano que nos semeia no nada. Os livros abraçam minha loucura atordoada pelo semblante de homens dignos, sóbrios e austeros, óbvios e dissonantes. Os livros me permitem compartilhar silêncios, dissolver urgências, contagiar os dias com angústias bem-vindas. Os livros me batem me chamam de homem e me despem, na cara, sádicos. Cronópio
Sou o fiel depositário de um torrão de açúcar. Guardei um tanto de giz entre as unhas (pó de palavras) e essa lasca de marfim do túmulo profanado dos paquidermes. Isso basta, na trégua precária, no gargalo desse vulcão que hiberna em estado de flor. Polvilho as relíquias, pois ignoro a espessura das trevas. O inverno é longo, o bastante para que a neve reaja a esses rudimentos de liberdade extinta. Haverá um tempo de degelo, águas e correntezas; de uma outra dimensão por detrás dessa moldura vazada. Caronte aguarda o sal da terra. Os demônios (e os cronópios) sempre souberam que para o sobrevivente a primeira qualidade do sonho é ser corruptível. Celebração
Rolam seixos, nuvens rasantes montes vazam da escuridão como uma promessa. antecipam os passos, Satélites tombam do céu em pane riscos rubros ao vento, incapazes de rastrear o corpo em transe, despido de sofrimento. (O disfarce da órbita é desviar-se do óbvio.) Latitudes e longitudes não reconhecem minha insignificância desapego. Encerraram-se as buscas e suas obtusas formalidades. Os cafés estão lotados, as ruas perversas distendidas, os corações famintos. Desço as encostas que permanecerão indiferentes; busco as cinzas contemporâneas e os cipós atlânticos. Do horizonte de um azul cambiante chega a esquadra de helicópteros de papel lançados do edifício antigo trazendo meus olhos. A serenidade possível, sem um deus, não está ao alcance dos eus idealizados, mas no sujeito cuspido e escarrado, despido de deslumbramento marcado. Tédio
Certa profundidade se demora nos olhos fechados. Sim, pesa o tempo, e cada pálpebra ressente o fulgor esquecido. O brilho repousa cada vez mais. - ontem - O nada é um cansaço que dá sono.