Desde quando foram anunciadas as premiações da festa do Oscar, fiquei a me perguntar porquê o excelente Chadwick Boseman não levou o prêmi...
O filme “Meu Pai”
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As cores amanhecerão diferentes
“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?” Lá está ela! Veste um casaco marrom sobre um vestido bege, e calça mocassins cor de t...
A mulher do casaco marrom
Nem parece quase verão. Chicago, eternamente açoitada por ventos fortes, encara uma tardia onda de frio. Subo a gola do casaco enquanto ...
Para trás ficarão as janelas
Ainda não sei por que me dispus a cursar Medicina. Filho e sobrinho de professores, sempre estive ligado ao...
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Tempo atrás, antes da pandemia, o Brasil reencontrava a figura impressionante da paraibana Zezita de Matos, via Rede Globo de Televisão. ...
Os dois irmãos
Um dia Antonio Carlos Villaça estava mostrando a alguém a sacristia do Mosteliteratura paraibana cronica mosteiro sao bento indiferenca au...
As coisas próximas
Pois é, a mim também. O leitor certamente sabe do que se está falando; já vivenciou o indisfarçado desligamento de algum interlocutor a quem falava ou apresentava algo,
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Teu melhor caminho
Descobrindo um mundo totalmente diferente do seu, brigando para ter identidade, decisões e ponto de vista próprio, um jovem guerreiro foi pedir orientação, ao mestre da vila.
O poeta dos poetas que nasceu entre nós, na juventude viveu à sombra do tamarindo e permaneceu como essa paisagem na alma por toda a vida,...
Artesãos da paz
Desde o primeiro momento do seu Pontificado, o papa Francisco ressalta a necessita de mais artesãos da paz. Essa paz que há milênios se busca e parece cada vez distante das pessoas. Lembra que enquanto são criados mecanismos capazes de contribuir com a convivência pacífica,
A dedicatória, no “Grande Sertão: Veredas”: Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro não me levou a me perguntar sobre ela...
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa
pertence este livro
não me levou a me perguntar sobre ela, nem o símbolo que encerra o romance, o “oito deitado”, do infinito, a lemniscata ou laço de Moebius, ou Moebius - sobrenome original, dela.
Foi necessária uma conjura mineira pra que eu viesse a ter alguma noção acerca dessa pessoa fora do comum. O escritor mineiro, meu amigo Hugo Almeida, fez a orelha do romance do também mineiro Eustáquio Gomes – O Vale de Solombra - , que saiu pela Geração Editorial, que pertence ao escritor, outro mineiro, Luiz Fernando Emediato, onde, nas páginas 21 e 22, se lê que no consulado brasileiro de Hamburgo o vice-cônsul... mineiro - João Guimarães Rosa (depois “escritor traduzido e celebrado”) – facilitava a fuga de judeus para o Brasil, inclusive com vistos e passaportes, estes sem a “estrela de Davi” e o “J” vermelho. Lê-se, também, que isso na verdade não era iniciativa dele, mas de sua companheira, a paranaense Aracy Moebius - chefe da seção de passaportes do consulado - que liberava tudo em prazos recordes, sendo conhecida, nos círculos judaicos, como “o anjo de Hamburgo”.
Ficção do Eustáquio?
Não. Há uma pedra com o nome de Schindler no Jardim dos Justos, de Jerusalém. E outra, com o de Aracy Moebius Carvalho Guimarães Rosa.
Conta a “Concise Encyclopedia of the Holocaust”, que nem a Kristallnacht - Noite dos Cristais, de 09/11/1938 - , em que os nazistas destruíram sinagogas, residências, e estabelecimentos comerciais de judeus na Alemanha e na Áustria, dando início ao que seria a chamada de “solução final”, nem a ordem do Itamarati – então pró-Hitler – que, na Circular Secreta Nº 1.127, de Getúlio, determinava que não se mandassem hebreus pro Brasil, fizeram com que essa Aracy parasse. Metia os vistos no meio da papelada que o cônsul-geral – coisa bem de brasileiro - assinava sem ler, e chegava a esconder seus protegidos em casa, para, depois, transportá-los no porta-malas do carro do consulado, um Opel Olympia alemão.
O casal Aracy/Guimarães Rosa foi obrigado a voltar ao Brasil em 1942, quando o virandum, numa virada de casaca muito misteriosa, declarou guerra ao Deutschland über Alles.
Ela, bela filha de português com alemã, separara-se do primeiro marido, alemão, em 34, e se mandara com o filho Eduardo Tess para a terra do Führer, onde se empregara no consulado brasileiro de Hamburgo, cujo cônsul adjunto era o jovem João Guimarães Rosa, que também vinha de um casamento arruinado. Amaram-se, casaram-se no México, viveram juntos até a morte do escritor em 1967, aos 59 anos.
Mas, voltando à dedicatória no Grande Sertão: Veredas. Olha que pergunta cavilosa de Alfredo Fressia, num pequeno ensaio sobre a mulher do escritor:
- “Por qué Guimaraes le dedicó ese libro, de 1956, y no los precedentes, como Sagarana, de 1946? La historia de Grande Sertao…, recreada por la memoria caprichosa de Riobaldo, quien va recomponiendo su amor por otro hombre - que se revelará un travesti masculino -, tiene una parte de desobediencia, un juego entre la rebeldía y la aparente aceptación, que podría contener algo de Aracy, la mujer que supo desafiar el orden y las órdenes de su tiempo.”
Claro. Ela não deu a mínima pros nazistas, pro Estado Novo, nem pra nossa ditadura pós-64, quando, por exemplo, um ano após a morte de Guimarães Rosa, escondeu em seu apartamento, no Arpoador, ninguém menos do que o paraibano Geraldo Vandré, perseguido por causa da canção “Pra não dizer não falei das flores”.
Mas parece que ela foi além.
A judia alemã Maria Margarethe Bertel Levy era lindíssima. De pais ricos e liberais, falava sete linguas e viajava muito. Até Hitler chegar ao poder. Aí, com a ajuda de Aracy Moebius, ela e seu marido Hugo partiram da Alemanha no navio Cap Ancona e chegaram ao Brasil com a fortuna intacta. Uma - brasileira, católica -, a outra - alemã, judia, as duas, belíssimas, iniciaram ali uma ligação que se prolongaria no Rio até o fim de suas longas vidas.
Na entrevista que deu à repórter Eliane Brum, da Revista Época, já no fim da vida, Margarethe disse:
- Entre mim e Aracy foi um golpe de amor. Só que entre duas mulheres. Eu era sexy. E Aracy?Linda, provocante, um corpo maravilhoso.
"Quando uma ficava doente – conta a reportagem - , a outra também ficava. Parecia que sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até o final."
Enquanto Margarethe morria no hospital, a respiração de Aracy Moebius, em casa, começava a falhar. Maria Margarethe Bertel Levy morreu em 21 de fevereiro de 2011– e Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa em 3 de março. Ambas com 102 anos.
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Festejar junho
Saudações para o poeta e cantador popular que traz junho. Pois é mês de passagem pelo meio do tempo, figura que pelas bandas nordestinas é dividida entre duas únicas estações explícitas: verão e inverno, terra seca e molhada, vegetação de tons marrons acinzentados e verdinho vivo ressuscitado na campina. O meio do ano é só no encontro de junho/julho, mas o sexto mês dá a sensação que a temporada já virou pela metade.
É verdade. Para o sertanejo a invernada chega ainda em janeiro com o aguaceiro tão esperado e esperançoso, mas para os litorâneos ela avisa que está vindo em maio e despenca em junho. Ou seria apenas impressão que não é feita no papel ou no tecido? Talvez sim, talvez não, pois chuva exprime lágrimas de todas as formas em gotículas de água e fica impressa na roupa molhada, no papel desbotado e na pele tocada com mais sensibilidade no período junino.
Junho, mês que tem gosto. Sabor de lembranças, de pamonha e canjica, de meninice. E vem junto o inverno, tornando o junino mês da nação Nordeste colorido de bandeirolas e balões no céu das casas, terraços, ruas e arraiais. É pôr vida em todo canto ao som dos tocadores de hinos com sanfonas, triângulos, zabumbas e pandeiros. Tempo de vestir roupa boa para seguir para a festança e esquentar o corpo na fogueirinha no terreiro ou na calçada.
Tantos junhos colecionados nas marcações do tempo, que o corpo pressente sua chegada, a alma alegra-se com trombeteio dos céus que se desarma sobre tenras terras molhadas. Mês de dengo, preguiçoso, de aconchego, deitar na rede, de cheiro perfumado, amanhecer orvalhado, friozinho encabulado.
Ser junino, é assim. Junho é rever nascimento, contentamento, fartura, assombramento, descobrimento. Reencontrar-se no meio do ano para perder-se em pensamentos. Ou seria o inverso?