João Cabral de Melo Neto tinha uma extrema capacidade de dar vida às coisas em seus poemas. Vejam como ele fala da faca que habita o corpo...

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João Cabral de Melo Neto tinha uma extrema capacidade de dar vida às coisas em seus poemas. Vejam como ele fala da faca que habita o corpo ou do relógio vivo e revoltoso, também sinônimo de jaulas ou gaiolas. Observem como Cabral educa pela pedra em sua poesia ou faz um monumento à aspirina.

Lutei para manter meus olhos abertos, acreditando que assim sustentaria o coração e o cérebro funcionando. Mantive o tempo que pude, mas s...

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Lutei para manter meus olhos abertos, acreditando que assim sustentaria o coração e o cérebro funcionando. Mantive o tempo que pude, mas sei que ali vivi uma morte.

Tive uma espécie de convulsão por algum tempo, com visões e sensações muito fortes. Cheguei a olhar nos olhos do homem que me socorria e ver e ouvir a voz de Deus que falava comigo. Senti a consistência do meu corpo de forma diferente; parecia uma espuma densa e macia ao mesmo tempo.

Vi-me fora dele.

Quando aqui neste texto eu empregar a palavra “milagre”, não a entendam com alguma conotação mística ou religiosa, estou apenas fazendo al...

Quando aqui neste texto eu empregar a palavra “milagre”, não a entendam com alguma conotação mística ou religiosa, estou apenas fazendo alusão às impossibilidades probabilísticas, ou a quase isso. Explico melhor: refiro-me a algo que dificilmente ocorreria ou se ocorresse desafiaria as estatística e as probabilidades.

Vamos lá.

Pense quão difícil é você acertar a sena num concurso de nossa loteria. Marcando seis dezenas sua chance seria 1 em 50.063.860. Já se você marcar 10 dezenas suas chances pulariam para 210 nos mesmos 50 milhões e mais alguma coisa. Mas isso, vemos que toda semana acontece. Então, não podemos ver o concurso de nossa Loteria Federal como algo quase impossível de acontecer.

1 A utopia da igualdade gerou algumas tiranias modernas, como o socialismo stalinista. É raro um ditador que não invoque, para conquistar ...

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A utopia da igualdade gerou algumas tiranias modernas, como o socialismo stalinista. É raro um ditador que não invoque, para conquistar o poder, o princípio de que todos são iguais. Esse tipo de pensamento justifica a aplicação de uma diretriz única, confundida com a existência de um único partido. Como pode o Estado, identificado com um partido único, comprometer-se com a diversidade do corpo social? Se for de esquerda, vai demonizar os que têm; se for de direita, vai ignorar os que não têm.

Deus não concedeu a Tancredo Neves exercer em sua plenitude a Presidência da República do Brasil, mas permitiu-lhe, como mínima compensaçã...

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Deus não concedeu a Tancredo Neves exercer em sua plenitude a Presidência da República do Brasil, mas permitiu-lhe, como mínima compensação de tantos esforços, fruir, com todas as pompas pertinentes, a condição de chefe de Estado e de governo eleito por um período de treze dias, o tanto que durou sua viagem internacional antes da posse, no período de 25 de janeiro a 6 de fevereiro de 1985. Foi muito pouco, é verdade, para quem esperara tanto e de quem se esperava muito mais. Entretanto, diante da tragédia que o golpeou entre os dias 14 de março e 21 de abril de 1985, pode-se dizer que foi melhor que nada, pois deu-lhe a oportunidade única de viver, poucos dias antes da morte tristemente anunciada,

Engenho Corredor, em Pilar, Paraíba, berço do romancista José Lins do Rego e um dos marcos da história do Nordeste açucareiro. “Engenho Sa...

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Engenho Corredor, em Pilar, Paraíba, berço do romancista José Lins do Rego e um dos marcos da história do Nordeste açucareiro. “Engenho Santa Rosa”, na ficção vigorosa de José Lins aclamada em recantos diferentes do mundo aonde chegou, em mais de dez idiomas, a parcela mais vasta dos seus romances, aquela inscrita no Ciclo da Cana de Açúcar.

Ao fundo, resquícios da antiga moita de engenho. O bueiro legendário não mais existe. Foi levado na cheia de 1985 pelo Rio Paraíba que, agora, magro como boi em pasto seco, desliza para o mar com enganosa mansidão.

Sentado do alto da pequena colina pescava vazios espalhados à sua frente. Nos espaços da tela em branco, ia preenchendo com paisagens. In...

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Sentado do alto da pequena colina pescava vazios espalhados à sua frente. Nos espaços da tela em branco, ia preenchendo com paisagens. Inicialmente, rabiscou as águas pelo terreno em movimento contínuo, uma lenta procissão com seu tom escuro, pinceladas de ouro e prata a variar o reflexos vindos do céu. Era o largo rio.

Às margens, rápidos toques deram vida a uma vegetação de características próprias, cujas raízes desciam à terra abaixo da lama e da água, conhecedora do fluxo e refluxo das marés, batizada de manguezal. Verdes variados ao longo do dia.

Tendo assumido a APL em 14 de agosto de 1992, Tarcísio Burity era titular da cadeira número 26, que tem como patrono o padre Inácio Rolim....

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Tendo assumido a APL em 14 de agosto de 1992, Tarcísio Burity era titular da cadeira número 26, que tem como patrono o padre Inácio Rolim. Seu discurso de posse, intitulado Pedro Anísio, foi uma exaltação à atualidade do pensamento filosófico e pedagógico do antecessor que, em 1923, já negava o fator racial como principal determinante do progresso das comunidades humanas. Associando-se, portanto, ao pensamento de Boas, Desmoulins e outros sociólogos modernos.

No começo, tudo era superstição, lendas e religião. Assim era o mundo antes dos gregos do século VI a.C. Como o milagre se deu permanece a...

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No começo, tudo era superstição, lendas e religião. Assim era o mundo antes dos gregos do século VI a.C. Como o milagre se deu permanece até hoje um grande mistério. Chineses e babilônios, além dos antigos egípcios, eram mais evoluídos naquela época. Suas civilizações eram mais vastas e pujantes do que a sociedade grega.

Sua tecnologia era superior. Seu conhecimento de matemática era mais profundo e abrangente. Os gregos estavam muito aquém dessas civilizações: não sabiam prever eclipses, não tinham a incrível engenhosidade para construir pirâmides, esses colossais monumentos que até hoje intrigam boa parte dos historiadores e arqueólogos.

Dois soldados, duas guerras, dois textos e dois contextos diferentes. Eis um elo entre Arthur Rimbaud (1854—1891) e Euclides da Cunha (186...

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Dois soldados, duas guerras, dois textos e dois contextos diferentes. Eis um elo entre Arthur Rimbaud (1854—1891) e Euclides da Cunha (1866-1909). O poeta francês, chamado por Verlaine de “Satã adolescente”, por sua vida conturbada, tem um belíssimo soneto intitulado “Le Dormeur du Val” (“O Adormecido do Vale”), publicado em 1870, que encontra eco em uma passagem do Capítulo III de “A Terra”, a primeira parte de Os sertões, livro de 1902, mas que começou a ser escrito a partir de 1897.

PRIMAVERAR Meu peito explode em primavera E tudo se revolve, E sonhos são gestados Em um coração inquieto. Eu gosto de primav...

PRIMAVERAR
Meu peito explode em primavera E tudo se revolve, E sonhos são gestados Em um coração inquieto. Eu gosto de primaverar. Deixar florir o que há de melhor em mim Brotar em versos, Gestar meu próprio universo.

Não atuei como desejava em minha estreia no canal Youtube. Propus-me participar dos 80 anos da Academia de Letras, na comemoração a que...

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Não atuei como desejava em minha estreia no canal Youtube. Propus-me participar dos 80 anos da Academia de Letras, na comemoração a que a Fundação Joaquim Nabuco se associou, e me vi abafado com meia dúzia de páginas a Tarcísio Burity. Sou movido por lembranças, emoções, e nunca soube organizá-las, na escrita, como um Juarez Batista ou um Celso Mariz, para ficar nos nossos. Nem lembrar José Américo, o melhor deles e de todos nisto de modelar emoções.

Li meu trabalho de voz apagada, quase afônico, eu que sempre tentei me mostrar em público como o antigo revisor de leitura alta de A União, recém-chegado de Campina, lendo as provas tipográficas naquele timbre radiofônico da antiga Rádio Borborema.

Cansaço da idade, acredito que não, pelo menos na voz.

Perdi o tom, uma hora antes da gravação, com a notícia da morte de Clodoaldo Muniz, admiração de infância, da mesma cruzada, do mesmo grupo escolar e, diferente dos outros, preso em si mesmo, contido.

Fomos irmãos dois anos somente, de 1943, quando vim morar na rua principal de nossa cidade, a 1945, quando tive de ficar interno no Pio XI para o admissão, não só ao ginásio, mas ao seminário. Clodoaldo ia também ser padre, por vocação, mas ficou se preparando como pôde, por si mesmo, em Alagoa Nova. Viera do sertão, penso que de Catolé, tangido pela seca.

Meus outros colegas eram para as traquinagens de rua, as safadezas, eu no meio deles. Com Clodoaldo, não, era um menino que pensava, entretinha-se com a cabeça, vendo o mundo sempre bem lá fora, do batente de casa, e aprendendo na escola pública e na cruzada de padre Borges. Aprendemos juntos a ajudar a missa em latim, Teodomiro, o sacristão, na parte prática, D. Antonina, minha mãe, no dizer das palavras do acólito. Minha mãe fora criada por freiras ministradas por um padre antigo da história da terra, o padre Antunes.

Foram apenas dois anos, volto a dizer. Os setenta e seis que a vida veio nos oferecer depois foram de ausência quase completa, um sabendo do outro por ouvir dizer. Ele diácono, não chegara a padre, professor, construtor de colégios e mentor espiritual de duas freguesias, em Campina Grande e Alagoa Nova. A nota de pesar da Diocese expressa seu labor e suas virtudes.

Há um poeta, creio que Rimbaud, de quem gravei de alguma leitura uma exclamação solta, que, por isso mesmo, vem calhar em certas situações: “Como os pássaros e as nascentes ficam longe!”

Eu estava com Raimundo Asfora numa homenagem de Alagoa Nova a Luiz Avelima, poeta e militante cultural de minha terra, ele vendo e lendo tudo de São Paulo, onde se aninhou, quando Clodoaldo me avista no discurso que fazia, merecidamente, a nosso conterrâneo. E sai dele um instante: “Estou vendo daqui o filho de dona Antonina, nosso irmão.” Ora, fazia uns cinquenta anos que não nos víamos. E como o pássaro distante que vinha de longes céus e remotas fontes posar no microfone, não se contém e canta: “Dona Antonina não, corrijo-me, Santa Antonina”.

Engoli o choro, Asfora ombreando-me ao lado, chamando-me ao aperto, para desafogarmos logo depois, no primeiro bar, sem Clodoaldo, que não bebia.

Agora, nesta semana, faltando uma ou duas horas para gravar um pouco dos meus guardados de admiração e amizade a Tarcício Burity, o telefone toca. Avelima, de São Paulo, me dá a notícia, e não teve água com sal que, daí em diante, limpasse meu discurso.

Não é fácil ler a Divina Comédia Abandone toda esperança de leitura fácil, você que adentra o território de Dante . Mas a leitura é algo...

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Não é fácil ler a Divina Comédia

Abandone toda esperança de leitura fácil, você que adentra o território de Dante. Mas a leitura é algo possível e bom, uma experiência rica. Busque um lugar calmo e silencioso, concentre-se e mergulhe nas palavras e imagens de Dante. Se o seu cérebro anda acostumado a séries infantilizadas e textos que nada lhe exigem, não espere que ele entre em contato com o refinamento de Dante sem que haja algum estranhamento. É natural. Portanto, persista. Você vai se deslumbrar. O modo medieval de entender o mundo está ao seu alcance, traduzido por um grande poeta. Não se prive disso. Leia o micro resumo abaixo e veja, ao final, os links para ler o texto completo, em Português e no original, além de pinturas sobre Dante e sua obra.

No ano passado não me avisaram quando começou a Primavera, mas agora fui avisado de sua chegada pela mudança do vento e da chegada de pequ...

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No ano passado não me avisaram quando começou a Primavera, mas agora fui avisado de sua chegada pela mudança do vento e da chegada de pequenas flores no jardim suspenso de minha casa.

A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus pendurada na parede da biblioteca apontava o dia 22 de setembro como início dessa estação, então comecei a prestar a atenção em flores e o vento da tarde durante minhas caminhadas vespertinas.

A história a seguir me foi contada pelo meu muito querido e saudoso irmão, João Neto. Ele jurava que havia presenciado o “diálogo”, pois e...

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A história a seguir me foi contada pelo meu muito querido e saudoso irmão, João Neto. Ele jurava que havia presenciado o “diálogo”, pois estava no assento de número 20. É um retrato da índole do sertanejo, de uma forma geral, e do habitante do Vale do Piancó, de forma especial.

Nos idos dos anos 50 e 60 os principais transportes coletivos para o alto sertão eram o trem e umas poucas companhias interurbanas, que arriscavam seus ônibus em estradas pouco melhores do que carroçáveis.

Um dos muitos livros que li na juventude foi "O ovo apunhalado", de Caio Fernando Abreu. Nem de longe é o seu livro mais conhec...

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Um dos muitos livros que li na juventude foi "O ovo apunhalado", de Caio Fernando Abreu. Nem de longe é o seu livro mais conhecido, mas ainda hoje lembro do conto que falava de um hippie que se sentava numa calçada e, todos os dias, desenhava o rosto de um burocrata engravatado que morava no prédio ao lado. O homem observava tudo e não dizia nada. Apenas passava em silêncio. Depois de algum tempo sua curiosidade virou inquietação. Pediu para ver os desenhos e foi prontamente atendido. A sequência de retratos mostrava o tal engravatado envelhecendo.