casa dos 70 (ao amigo e compadre Luciano morais e outros companheiros que se foram na casa dos 70 anos de idade). a casa dos...

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casa dos 70
(ao amigo e compadre Luciano morais e outros companheiros que se foram na casa dos 70 anos de idade).
a casa dos 70 é uma casa mortuária esquife mortalha jazigo casa de repouso dos muitos amigos que cruzaram os seus umbrais para nunca mais nunca mais nunca mais

Ao virar a última página do livro “1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite” de W.J. Solha , uma frase do bruxo do Cosme Velho, co...

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Ao virar a última página do livro “1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite” de W.J. Solha, uma frase do bruxo do Cosme Velho, como já foi chamado Machado de Assis, assaltou-me a mente: “Ninguém se fie da felicidade presente; há nela uma gota da baba de Caim.” Expliquemos como a minha mente, certamente excitada pela leitura, foi capaz de fazer uma tal conexão entre a diminuta frase de Machado e o prodigioso poema de Solha que tem o subtítulo de: “o quinto, de seis tratados poético-filosóficos”.

Vi na internet e juro como vou fazer. É assim: ponha gelo no liquidificador e o triture o quanto possa. Despeje-o, assim pulverizado, num ...

nostalgia como fazer raspadinha ki suco
Vi na internet e juro como vou fazer. É assim: ponha gelo no liquidificador e o triture o quanto possa. Despeje-o, assim pulverizado, num copo e jogue por cima o refresco preferido. Li que isso fica bom com qualquer desses envelopes de refresco em pó. É preciso que o xarope seja muito forte e doce, pois vai encharcar o gelo e ser por ele diluído.

A noite cai como uma lâmina fria para os tipos esquecidos. A máquina de produzir sonhos agora tem a função decorativa, não é mais ser viv...

solidao esquecimento sombras noite
A noite cai como uma lâmina fria para os tipos esquecidos. A máquina de produzir sonhos agora tem a função decorativa, não é mais ser vivo, pulsante, que firma opinião, gera documento, contribui, conta e marca a história. Os tipos esquecidos se perdem no tempo, nos espaços. A caixa onde eram zelosamente armazenados está vazia, corroída pela ferrugem. Seu próprio coração esvaziou. Dali já não sai mais a soma da transformação das letras em palavra, frases, parágrafos, páginas.

Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do ro...

Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do rodeio.

Clic... e surge como um óleo de cores fortes sobre tela que lembra Frans Post, tão exuberante de luz e de força quanto muitas que os pintores holandeses deixaram, nos meados do 1600, para fazer o que David faz neste século exageradamente fotográfico.

Dizem que o pincel de Post não era bom de closes. Nisto, era superado pelo seu parceiro Albert Eckhout, que carrega de rubro os rostos, se excede nos gestos, no detalhe do comportamento ou no tumulto de músculos e de força dilatados num lance extraordinário de dança canibal.

A Astier Basílio, enfrentando com denodo o frio e os escritores russos Raskólnikov procura uma taberna, experimentando a novidade de ...

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A Astier Basílio, enfrentando com denodo o frio e os escritores russos

Raskólnikov procura uma taberna, experimentando a novidade de “certa sede de gente” (p. 18), apesar de não estar habituado a multidões e sentir repulsa e desconforto se estranhos o abordam ou nele tocam. Em lá chegando, ele é abordado por um funcionário público decadente, Marmieládov, que inicia um solilóquio sobre o seu alcoolismo, a doença da sofrida esposa, a prostituição da filha, falando de sua miséria. Tendo abandonado o emprego e se desfeito da roupa decente que a mulher e a filha lhe compraram, para que ele pudesse desempenhar as suas funções, Marmieládov, buscando a atenção de Raskólnikov e tagarelando sem parar, disse que foi pedir dinheiro a filha para beber,

Hitler imaginou um Terceiro Reich de Mil Anos. Durou doze. Francisco, il Poverello d´Assisi : O Pobrezinho de Assis - , ao voltar da...

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Hitler imaginou um Terceiro Reich de Mil Anos. Durou doze.


Francisco, il Poverello d´Assisi:
O Pobrezinho de Assis - , ao voltar da peregrinação à Terra Santa, deu com sua ordem religiosa burocratizada, dotada de cofres-fortes e arquivos. Perdera-se o fundamental voto de pobreza e o despojamento absolutos que pretendera estabelecer.


'Vô' Genésio! Lembro que passei várias vezes debaixo do caixão dele. Literalmente um rito de passagem, ou apenas o melhor caminho...

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'Vô' Genésio!

Lembro que passei várias vezes debaixo do caixão dele. Literalmente um rito de passagem, ou apenas o melhor caminho que encontrei para transitar na sala lotada. E numa dessas idas e vindas alguém me ergueu para vê-lo pela última vez. Acho que era uma tentativa de explicar para um menino de 7 anos o que estava acontecendo.

Lembro bem do seu rosto sereno, pletórico e com um discreto sorriso, ele estava seguro de encontrar um bom lugar do "outro lado".

Minha rua não tem o esboço da tradição, mas é minha rua. Sou estrangeira de cinco anos para cá no lugar onde moro. Desde às cinco da manhã...

cotidiano vizinhanca rua convivencia
Minha rua não tem o esboço da tradição, mas é minha rua. Sou estrangeira de cinco anos para cá no lugar onde moro. Desde às cinco da manhã, vizinhos fechados em salas abafadas e escuras. Janelas fechadas para o mundo, roupas surradas. Uma das casas tem a voz calada pela morte do filho. A mulher é clara, olhos azuis, delgada. Nunca responde a chamados no portão ou chamadas telefônicas. Deslinkou-se do mundo. Quer copiar o filho. Enquanto aguarda na fila da autorização Suprema, raramente abre o portão e se alimenta de focos de luz solar. Fecha depressa a fresta pro mundo. Ignora-me.

Como seria bom se pudéssemos apagar da História a noite do dia 09 de novembro de 1938. Nessa data se iniciou a onda de agressões contra ju...

politica brasileira
Como seria bom se pudéssemos apagar da História a noite do dia 09 de novembro de 1938. Nessa data se iniciou a onda de agressões contra judeus na Alemanha e na Áustria. O “pogrom” foi o processo de destruição de patrimônios judaicos, como lojas, casas e sinagogas dos judeus. O termo “pogrom”, de origem russa, quer dizer destruição, extermínio. Cerca de trinta mil pessoas foram enviadas para os campos de concentração. O acontecimento ficou conhecido como a “noite dos cristais quebrados”. Teve esse nome por causa dos estilhaços das vitrines das lojas dos judeus que

Os pabulosos dirão que a melhor maneira de começar o dia é fazendo sexo. Isso é coisa de cinema. O casal acorda e sem escovar os dentes, s...

lorota conversa mole dia a dia caminhada matinal
Os pabulosos dirão que a melhor maneira de começar o dia é fazendo sexo. Isso é coisa de cinema. O casal acorda e sem escovar os dentes, sem tirar as remelas e o mingau das almas começa uma conversinha de pé de orelha e logo emenda na tentativa de fazer mais um filho, se é que vocês entendem minha sutileza.

Uma visita às raízes sempre alegra a alma, porque a identificação com as características dos antepassados, justifica a vida, na contínua t...

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Uma visita às raízes sempre alegra a alma, porque a identificação com as características dos antepassados, justifica a vida, na contínua transmissão de afinidade. Talvez, o nome dessa sensação seja saudade, ou mesmo, reparação do elo quebrado, quando não só as fotos antigas são suficientes para encher a casa grande de risos, brincadeiras e união. É necessário caminhar pelos mesmos lugares, ver as mesmas imagens, guardar momentos que ainda se podem encontrar... e colar na memória recente, a história que foi contada.

Todo homem público, gente de todos os poderes, deveria passar pelo menos uma temporada andando a pé e de ônibus — inclusive em dia de agua...

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Todo homem público, gente de todos os poderes, deveria passar pelo menos uma temporada andando a pé e de ônibus — inclusive em dia de aguaceiro ou de calor de rachar. Se tiver carro, deverá dirigir seu próprio carro, isto é, o automóvel de sua propriedade, jamais veículo comprado, locado ou abastecido pela “viúva”.

Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a de...

Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a denominação do nosso aeroporto. Há pouco, a mudança foi suscitada de raspão por uma das vozes legislativas. Afinal, quem foi esse vulto que a placa do aeroporto tenta lembrar? Dei um depoimento de segunda mão, impressionista.

Mas gravei seu nome desde que li a “Epítome de História da Paraíba”, escrita por um dos filhos ilustres de Alagoa Nova, Manuel Tavares Cavalcanti, “mandada escrever na Administração do Exmo. Snr. Dr. João Pereira de Castro Pinto”. Nisto fui precoce, li nas férias de 1946 na biblioteca local, sem ninguém que me afirmasse onde caía a tônica da tal epitome

No dia 10 de novembro de 1891, o mundo da poesia ficou mais triste. Aos trinta e sete anos, Arthur Rimbaud encerrou sua temporada de poe...

130 anos rimbaud poesia literatura classica
No dia 10 de novembro de 1891, o mundo da poesia ficou mais triste. Aos trinta e sete anos, Arthur Rimbaud encerrou sua temporada de poeta, iniciando no Paraíso celestial uma nova estação de sonhos e poesia. No óbito foi identificado como negociante e o diagnóstico – carcinose generalizada.

Triste sina de poetas que nem na morte como tal são identificados. As vezes na lápide se faz constar com esse nome. Nem sempre! Mas de Rimbaud ficou a imagem de um poeta genial, construtor de uma poesia irrefutável. Poesia que sempre será reconhecida, e novas gerações vão lembrar dele pela sua dimensão de qualidade inquestionável.

Quando Giovanni Boccaccio escreveu “O Decamerão”, a história dos jovens cercados, sitiados, pela desolação provocada pela peste que matara...

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Quando Giovanni Boccaccio escreveu “O Decamerão”, a história dos jovens cercados, sitiados, pela desolação provocada pela peste que matara grande parte da população florentina e dizimara um terço da população europeia, ele nos remete à narração e ao registro de cem pequenas histórias contadas ao longo de dez dias para um grupo de sete moças e três rapazes que se abrigam num castelo perto de Florença. Boccaccio provavelmente iniciou Decamerão após a epidemia de 1348 e o concluiu em 1353. O Decamerão, porém, não é apenas uma obra que marca a fundação da narrativa moderna, escrita com humor
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Flavio Tavares em seu ateliê, durante a elaboração da obra "O Claustro" ▪ 2021
e muita ironia e que documenta uma época na história da Europa. Trata-se de um retrato cultural, cotidiano e social de uma sociedade que migrava do feudalismo em direção à consolidação da burguesia.

Quando Flavio Tavares, em sua casa sitiada pelo vírus, se isola ele conta, para si mesmo (e para o possível futuro espectador), muitas das nossas histórias também. Do nosso momento. E utiliza as mídias para mostrar seu processo artístico. E regista suas narrativas para que hoje possamos também olhar a cidade, o país, o mundo em um momento de pandemia, em uma época de nossa história, que só com muito humor e ironia podemos suportar no isolamento do claustro de cada um, no contexto de uma peste agora global.

A partir de seu olhar de artista ele ilustra nosso momento político desesperador, obscurantista, em contraposição à cenas de sua memória de infância. Ele nos fala de sua mitologia pessoal baseada no inconsciente de uma cidade onde seu olhar se habituou a mergulhar como flaneur de seus próprios mitos , sonhos e pesadelos. Ele nos aponta o caminho desse espaço/ cidade/mundo que ele elegeu como fonte de pesquisa e vivência. Gabriel Garcia Marques criou sua Macondo, Tavares sua Parahyba (com y). Os dois a viam fantástica em suas situações mais banais tornadas ora sublimes, ora surreais.

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Carnaval e política são retratados em dois dos paineis principais que compõem "O Claustro" (2021), em exibição na Galeria Archidy Picado, no Espaço Cultural José Lins do Rego ▪ Parahyba do Norte
Como nos diz Saramago: “Se podes ver, repara!” Porque pode ser grande a diferença para um artista entre ver (associado ao sentido físico, biológico da visão) e olhar que implica em uma apreciação demorada, profunda, interrogativa, poética e política.

O ato de vasculhar memórias e sensações é o produto de uma luta constante contra a anestesia do próximo minuto, do próximo ano... Em um contexto de apatia política e existencial onde a clausura de cada um de nós interrompeu bruscamente a velocidade das imagens própria de nossa sociedade de consumo, de nosso cotidiano pleno da superficialidade das percepções Flavio se torna o seu cronista que, sitiado, analisa o mundo distante e a si mesmo.

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"Flavio Tavares passa horas dirigindo seu tempo a registrar os nossos e os seus fantasmas com uma imaginação que atravessa telhados, paredes ou muros que venham a deter o seu olhar."
Flaneur de almas, Flavio Tavares passa horas dirigindo seu tempo a registrar os nossos e os seus fantasmas com uma imaginação que atravessa telhados, paredes ou muros que venham a deter o seu olhar sobre ladeiras, becos , ruas, praças, quartos e quintais da cidade de Nossa Senhora das Neves. Nasce uma cidade surreal sobre a qual podia nos falar Aragon: “Nossas cidades são assim, povoadas por esfinges desconhecidas que não detêm o passante sonhador” A cidade de Flavio é território da memória, da fantasia e da história mesmo que ora esta seja contada por cegos ou surdos. Assim, ele atua como demiurgo aproximando deuses e homens, anjos e gente... no seu universo fantástico onde cria humanos híbridos, personagens trágicos ou satíricos que provocam dor ou riso pelo conhecimento ou pela tristeza. Nunca a indiferença.

Esses registros do inconsciente da cidade (e do mundo pois que uma cidade é um mundo, um pequeno povoado é um universo) se espalham em telas, papeis, pedras,
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"O artista utiliza as mídias para mostrar seu processo artístico. E regista suas narrativas para que hoje possamos também olhar a cidade, o país, o mundo em um momento de pandemia".
madeiras, enfim, em todos os suportes que o artista possa tomar emprestado para contar suas histórias, as nossas histórias. Elas estão também espalhadas pelas paredes criadas por Flavio em seu claustro, na instalação que ele nos apresenta hoje presencialmente para que com ela possamos interagir.

A pandemia o isolou, mas não deteve o seu olhar. Do claustro pessoal ele continuou a fazer o retrato cultural de uma sociedade que migra de uma democracia doente para uma possível teocracia iconoclasta onde não há lugar para as imagens do artista, mas para todas as inquisições que vêm a reboque. Boccacio saía do medievo... nós, parecemos entrar.

Talvez por isso, para nos tornar cumplices de suas visões ele seduz o espectador que também é personagem de suas histórias. Aos poucos ele nos faz abandonar a posição de simples observador e a mergulhar no realismo fantástico de suas cenas. E sentimos então (ou não) o quanto a arte (como nos lembra Frederico Morais) além de armar o braço é, ao mesmo tempo, o mais confessional dos meios, diário intimo, eletrocardiograma, rebeldia travada no meio da noite: solitariamente. Obrigada Flavio pelo espelho que você coloca em frente ao nosso rosto.

Obrigada Flavio, por esse espelho.