Sábado passado, os diretores da Fundação Cultural de Joâo Pessoa – FUNJOPE, com assinatura do Sr. Prefeito, me convocaram ao Pavilhão do Ch...

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Sábado passado, os diretores da Fundação Cultural de Joâo Pessoa – FUNJOPE, com assinatura do Sr. Prefeito, me convocaram ao Pavilhão do Chá para fazer-me entrega de registro da instituição “por sua permanente contribuição à cultura da cidade”. Ao mesmo tempo me presentearam com um retrato em acrílica, pintado por Davi Queiroz, de ar e cores muito vivas e mesmo generosas com “o poeta” (assim me trata) que já não tem muito a ver, em carnes, com o ancião que se apresentava.

Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem,...

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Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem, ainda assim transformados em “parquinhos” modernosos, como fizeram com a Lagoa e a Bica, aqui em João Pessoa.

Me abraçou, me acordou com a força de 15 braços, me esmagando de forma imensurável, perfurando meu coração com a faca “do não tê-los fisi...

Me abraçou, me acordou com a força de 15 braços, me esmagando de forma imensurável, perfurando meu coração com a faca “do não tê-los fisicamente aqui”.

Já sentido fugir as forças para a caminhada de mais um dia, veio ao meu auxílio o amor. Ele me colocou em seus braços e, lentamente, me fez navegar pelo oceano das lembranças.

O choro não evaporou, mas as lágrimas, como vagalumes, foram iluminando o rosto de cada cena que vinha me abraçar.

Desde que mudei de vez para o Nordeste - e lá se vão trinta e sete anos – muitas coisas me encantam. Especialmente o jeito de falar, os...

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Desde que mudei de vez para o Nordeste - e lá se vão trinta e sete anos – muitas coisas me encantam. Especialmente o jeito de falar, os sotaques, as expressões. Tudo me aqui apaixona. É muita riqueza e diversidade num só povo. Certamente, um dos lugares mais apaixonantes é a minha Paraíba “réa”. Nos primeiros tempos, lembro de ir a uma bodega perto de casa comprar algo e a pessoa dizia: “tem não”. Acostumado ao sim e ao não, ficava sempre com o verbo seco e derrapava no entendimento. Por exemplo:

I A existência deste objeto justifica minha narrativa. É um vaso de bordas pretas bordado de cores por todos os lados. Este vaso é uma ...

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I

A existência deste objeto justifica minha narrativa. É um vaso de bordas pretas bordado de cores por todos os lados. Este vaso é uma ilha que me persegue. Estou ilhado. Daqui para adiante é recolher os restos que sobraram do meu processo de desertificação e seguir. Pego as folhas secas, interrogações e interrogatórios. Símbolos atemporais guardados na gaveta me acompanham na ocupação do solo.

Esperança Espera alma querida com confiança e otimismo as negras brumas da noite darão lugar ao abrigo do sol a te clarear Il...


Esperança
Espera alma querida com confiança e otimismo as negras brumas da noite darão lugar ao abrigo do sol a te clarear Iluminar teus sentidos! Espera, não desfaleças diante dos obstáculos das perseguições infrenes tolhendo teus firmes passos. Descansa, aguarda um pouco recupera as energias a lama negra no poço já dessedentou um dia

Trinta anos de casamento, Nicanor pensou em fazer uma surpresa à mulher: – Que tal a gente voltar ao motel em que dormimos juntos pela pri...

Trinta anos de casamento, Nicanor pensou em fazer uma surpresa à mulher:

– Que tal a gente voltar ao motel em que dormimos juntos pela primeira vez?

– Motel?! Que ideia!

– Por que não? Vai ser gostoso relembrar a sensação daquele encontro.

Tanto insistiu, que Matilde terminou concordando. Meio a contragosto, é certo, mas não custava satisfazer esse capricho do marido, que ainda veio com outro:

Em 1938, Neville Chamberlain era o primeiro-ministro britânico. No auge da popularidade, do poder e da influência, ele lutava desesperadam...

historia segunda guerra churchill chamberlain
Em 1938, Neville Chamberlain era o primeiro-ministro britânico. No auge da popularidade, do poder e da influência, ele lutava desesperadamente para evitar a guerra com a Alemanha de Hitler. Havia visto e sofrido tantas perdas na Primeira Grande Guerra, acontecida há apenas vinte anos, que jurara fazer o possível – e o impossível – para não permitir outro conflito armado, até porque o país e seu povo ainda não tinham se recuperado totalmente da tragédia anterior. Daí entender que seu papel de estadista, naquele momento, era o de perseguir a paz a qualquer custo e até mesmo a qualquer preço.

Paraíba, 8 de maio de 2022

Paraíba, 8 de maio de 2022

Fiz Direito, mas não fiz muito direito. Minha praia sempre foi a literatura, tanto que a lecionei na Universidade Federal da Paraíba, on...

Fiz Direito, mas não fiz muito direito. Minha praia sempre foi a literatura, tanto que a lecionei na Universidade Federal da Paraíba, onde defendi dissertação de mestrado sobre Manuel Bandeira e tese de doutoramento a respeito de Mario Quintana, poetas que possuem muito em comum, pois na obra de ambos “as pequenas grandezas do universo”, as coisas simples, os sobejos de Deus, possuem um lugar cativo, um lugar de destaque. Isso sem contar que investem na linguagem coloquial, prosaica, além de mesclarem a tradição com a renovação, embora esta última, por não serem pirotécnicos, a exemplo de Oswald de Andrade, tenha tudo para passar despercebido pelo leitor e até mesmo pelo crítico menos atento.

Já escrevi — e muito — sobre o espinhoso assunto da Maternidade. Sim, das delícias e dos sofrimentos solitários do ser mãe e criar filho...

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Já escrevi — e muito — sobre o espinhoso assunto da Maternidade. Sim, das delícias e dos sofrimentos solitários do ser mãe e criar filhos, independentemente do estado civil. O parto, a amamentação, a solidão, a carga mental, o complexo de perfeição, as culpas intermináveis e a transformação da simbiose de se ser um para depois ser dois, a partir do momento que se gera um filho. A sociedade sempre só ressaltou o lado do sagrado, do sacrifício inerente e da plenitude. Interessava essa exaltação. Criar um posto, um pódio para que o privado, os silêncios

Ao iniciar a segunda metade do século 19, as cidades paraibanas ainda não tinham nenhuma organização urbanística, o que se pode constatar ...

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Ao iniciar a segunda metade do século 19, as cidades paraibanas ainda não tinham nenhuma organização urbanística, o que se pode constatar pela situação da própria capital da Província. Ao assumir, em 1858, a Presidência da Paraíba, Henrique de Beaureupaire-Rohan apresentava em relatório a situação em que encontrara a Cidade da Paraíba:

Hoje tenho 65 anos. A pele quase toda branca do vitiligo. Antes, minha pele era bronzeada. Gostava de ver o seu brilho depois de um dia ...

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Hoje tenho 65 anos. A pele quase toda branca do vitiligo. Antes, minha pele era bronzeada. Gostava de ver o seu brilho depois de um dia todo na praia.

A minha geração era assim. Não existia protetor solar e, sim, os bronzeadores. Os importados, então, um sucesso: Rayito de Sol, Coconut e Coppertone. Também havia as misturas caseiras com urucum, óleo de coco e até coca-cola. Estranho, mas tinha gente que passava. Eu não gostava de me lambuzar, mas para entrar na onda passava óleo no corpo, para fazer a marquinha do biquini. Era a sensação! Nunca tive paciência de ficar deitada bronzeando.

Não tive a honra e o prazer de ser aluno do Prof. Flóscolo da Nóbrega. Cheguei a conhecê-lo abatido, magérrimo, mumificado em vida. Logo d...

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Não tive a honra e o prazer de ser aluno do Prof. Flóscolo da Nóbrega. Cheguei a conhecê-lo abatido, magérrimo, mumificado em vida. Logo depois, partiu e deixou um vácuo no ensino da “Introdução ao Direito”.

Saída da calourada, nossa turma foi recebida pelo inesquecível Prof. Edigardo Soares que andava ereto, postura elegante. Conforme ele mesmo dizia, era por conta de um desvio na coluna. Foi o próprio saudoso Prof. Edigardo Soares que nos contou, num desses saborosos amenos, no recreio, duas passagens antológicas do velho e respeitado Flóscolo da Nóbrega. Este sisudo, reservado, ateu e admirador de Santo Agostinho.

Continuamos nesta semana o assunto das edições anotadas, cuja discussão foi iniciada com o texto da semana passada – “Edições anotadas (Pa...

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Continuamos nesta semana o assunto das edições anotadas, cuja discussão foi iniciada com o texto da semana passada – “Edições anotadas (Parte I)”. Diferentemente de uma edição crítica, que se destina a levar a público um texto que se aproxime do animus auctoralis, de modo que o estudioso se sinta mais à vontade pela sua fidelidade, as edições anotadas ou comentadas devem ficar atentas não só ao que precisa de esclarecimento, mas também, na medida do possível, deve apontar, no seu comentário, algum lapso que o autor tenha cometido. Fiquemos com uma passagem de “O Homem”, em que Euclides da Cunha confunde equinócio de primavera com o equinócio de outono:

AVESSO Quem é que se esconde no outro lado da porta, na ponta do fino fio, na base da tela opaca? O que é que há na parte opos...


AVESSO
Quem é que se esconde no outro lado da porta, na ponta do fino fio, na base da tela opaca? O que é que há na parte oposta da ponte, no extremo do arco-íris, na vértice inversa da corda?