Dias desses, fui a uma feirinha de artesanato, e no meio de cadernos feitos à mão e velas aromáticas, dei de cara com algumas bancas recheada de discos de vinil — Gal Costa, Beatles e até trilhas sonoras de novelas antigas. Ao lado, camisetas com estampas de desenhos dos anos 90, chaveiros
do tempo da escola, cds, dvds e revistas sendo comercializados. Eram chamados de vintage, quase tratados como relíquias.
"Não é só moda; é memória" ⏤ dizia um dos feirantes. Eu vou além, é o presente, cada vez mais, flertando com o passado. E o mercado entendeu a necessidade nostálgica de parte da população e vem investindo pesado: campanhas publicitárias com filtro retrô, trilhas sonoras nostálgicas, vídeos emocionais que prometem devolver “a sensação de antes”. Pintam tudo com cores sépia ou vibrantes, como nos anos 80 e 90.
Há um nicho — e, como todo bom nicho, virou alvo de consumo.
Mas será só isso? Uma tendência? Ou há algo mais profundo por trás dessa onda? Recordar é uma delícia, é bem verdade. Mas, quando tudo de ontem parece melhor
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Recordo-me so filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen. O personagem mergulha encantado em outra época, julgando-a superior — até perceber que até ali, havia quem achasse que o melhor tempo era anterior. A falsa ideia de que a felicidade mora sempre num ontem idealizado, melhor que o hoje.
Mas nem todo mundo se rende a essa armadilha.
Certo dia, meu pai — com seus quase 80 anos — me deu uma lição. Disse que não estava assistindo mais televisão. Estranhei. E ele explicou: “Vejo no TikTok.” Repare bem, um homem que viveu o tempo dos engenhos de cana de açúcar, o regime militar, os anos 80 e 90… decide viver com os olhos no presente, consumindo o que é de agora, não de séculos passados.
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Talvez o passado seja um bom lugar para visitar, mas por alguns instantes, como recordações. Mas viver — viver mesmo — só dá pra fazer no presente.