Mini Labubu, bebê reborn, chupetas, revistas para colorir e toda sorte de brinquedos e apetrechos têm “invadido” o mercado como forma de dar amparo emocional a adultos. Isso revela uma tendência: a infantilização dos adultos. Homens e mulheres, mesmo em plena vida produtiva, se engajam em práticas, consomem produtos e cultivam hábitos e comportamentos associados à infância. Esse movimento revela aspectos sociais, culturais e psíquicos da contemporaneidade.
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Zygmunt Bauman, ao falar da modernidade líquida, lembra que vivemos sob a lógica do consumo imediato, no qual a busca por gratificação instantânea se sobrepõe a projetos de longo prazo. A infantilização, nesse sentido, pode ser um reflexo de grupo considerável de pessoas que não transitaram bem pela infância e mantiveram o narcisismo primário elevado, reforçando a preferência pelo “aqui e agora” e tendência a birras constantes no ambiente de trabalho e em relacionamentos amorosos.
No campo psicológico, essa tendência pode ser lida como tentativa de enfrentar a ansiedade e a solidão típicas do mundo contemporâneo. Donald Winnicott (1975), ao desenvolver o conceito de objeto transicional, mostrou como crianças utilizam brinquedos ou panos de apego para lidar com a ausência da mãe e elaborar sentimentos de segurança. Quando adultos recorrem a pelúcias, cores vibrantes ou mesmo a hábitos infantis,
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Essa compensação indica que vivemos em uma era marcada pelo hedonismo, pela valorização do presente e pelo culto à juventude eterna. O adulto infantilizado não busca apenas diversão, mas também uma identidade menos pesada diante das exigências sociais. Entre os fatores que alimentam esse cenário estão a precarização do trabalho, a instabilidade das relações afetivas e a crescente medicalização da vida. Em uma cultura marcada pela velocidade e pelo excesso de demandas, a tentação de refugiar-se em práticas infantis é grande.
Somado a isso, a profusão de imagens, o consumismo e o entretenimento difundidos pelas redes sociais, principalmente TikTok e Instagram, produzem uma realidade na qual o “ser adulto” tende a ser constantemente adiado em favor de uma performance lúdica, em que o jogo, as dancinhas, as caras e bocas artificiais estampadas nas fotos e vídeos mascaram a dureza do neoliberalismo, gestor do sofrimento psíquico, como diz o psicanalista Christian Dunker.
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A infantilização dos adultos é um fenômeno multifacetado. Pode ser vista como resposta legítima a uma sociedade ansiogênica, que legitima o brincar e a ludicidade como recursos de bem-estar, mas também pode se tornar sintoma de alienação e irresponsabilidade, quando chamam homens de meninos e mulheres são chamadas de meninas.
É preciso encontrar um equilíbrio: cultivar a leveza da infância sem abdicar da maturidade que sustenta a vida em comunidade. Afinal, como lembra Bauman: ser adulto é aprender a viver com a incerteza sem perder a capacidade de construir o futuro.