Nisso está a sua nota feminista, que já aparece no início numa magnífica paráfrase de “2001, uma odisseia no espaço”. No filme de Kubrick, um macaco descobre as possibilidades da sua inteligência esmagando com um osso a carcaça de um animal; é a “aurora do homem”, como chamou o diretor. No de Greta Gerwig, é uma menina que, também ao som de Richard Strauss, usa a boneca para destruir as versões bem-comportadas nas quais o machismo (embutido nas próprias mulheres) se acostumou a representá-la.
Barbie (filme, 2023) Warner
O filme faz uma crítica bem-humorada ao machismo. Os machos são ridicularizados na sua inépcia até para fazer coisas tradicionalmente próprias deles, como distinguir uma onda em que podem surfar. Chamam-se todos “Kens” – um bom recurso do roteiro para sugerir a padronização do comportamento e a falta de individualidade.
Warner
Outro alvo de crítica no filme são as corporações industriais, tipificadas na Mattel, empresa que fabrica a boneca. De olho apenas no lucro, os magnatas se desesperam quando veem a Barbie invadir o mundo real para tentar encontrar o responsável pelas “imperfeições” que de repente apareceram em seu corpo e na sua alma. Como ficariam as vendas com essa Barbie humanizada?
Warner
“Barbie” é um filme inteligente e divertido. Fascina pela ousadia da sua proposta e por nos fazer refletir sobre o mecanismo que rege a criação de certos ícones do mercado. Sobretudo, mostra como são falsas e frágeis as fantasias que buscam nos afastar da realidade.