Ver a caliente espanhola Carmen na valente exuberância de feminilidade que é a ópera com seu nome, faz com que a gente estranhe que um...

Doze Cantigas de Amigo

hildeberto barbosa filho opera literatura paraibana
Ver a caliente espanhola Carmen na valente exuberância de feminilidade que é a ópera com seu nome, faz com que a gente estranhe que um homem, ... e francês — Prosper Mérimée — tenha concebido sua história como uma novela, que outros dois homens... franceses — Henri Meilhac e Ludovic Halévy transformaram num libreto, que um quarto varão... francês — Georges Bizet — , intensamente musicou.

hildeberto barbosa filho opera literatura paraibana
Georges Bizet Bibliothèque Nationale de France
E lá está – como contraste — Maria Callas como Gilda, na meiga ária “Caro nome” — da ópera “Rigoletto”, o que me leva a versejar, no livro que estou escrevendo:

“e a gente se lembra, merde! que a obra é do libretista Francisco Piave e Giuseppe Verdi.”

Bem, apesar da fama que isso lhe vale, não foi Chico Buarque o inventor dessa história de homem compor como se fosse mulher.

E, no caso de Hildeberto Barbosa Filho, não se trata, em alguns casos, de qualquer mulher, mas de figuras literárias do porte da Penélope — a grande criatura de Homero — na Cantiga V, assim como na X ele fala como se fosse Clarice Lispector e Silvia Plath e Adélia Prado e Cecília Meireles, até uma Virginia Woolf.

hildeberto barbosa filho opera literatura paraibana
Penélope e Odisseu Johann Heinrich Wilhelm
Ao ler, agora, o “Doze Cantigas de Amigo”, pensei, pela milésima vez, que Shakespeare escreveu sonetos sob soldo para um tal de Mr. WH, mas isso não me diz que fosse homossexual, como tanto já se divulgou (certamente por influência de ser o caso de gente de porte igual ao de um Miguelângelo, um Leonardo).

Nada contra, mas o criador de doces personagens femininas como Julieta, Ofélia e Desdêmona, ou terríveis como Lady Macbeth, orgulhosas como Cleópatra, espertas como Portia, conhecia as mulheres. E pense na ágil e brilhante Rosalind (de “Como Gostais”), personagem na qual o dramaturgo dá um show na sua área, pois mulheres, na sua época, não podiam ser interpretadas por mulheres, no teatro, o que faz com que ela (vivida por um homem) se disfarce de homem, em cena, homem que, ... disfarçado de mulher, ensine seu amado Orlando a seduzi-la.

hildeberto barbosa filho opera literatura paraibana
Hildeberto Barbosa Filho TV UFPB
Ao criar suas “Doze Cantigas de Amigo”, Hildeberto se obriga a peripécias iguais. Como na Cantiga de amigo IV, em que a pobre, no caso, se apaixona por um cara que ama cavalos. “Nem as éguas”: cavalos.

“Mas te amei como uma mulher que ama e sabe amar um homem que só amava os cavalos.”

Ponto pra Hildeberto, poeta que se disfarça de crítico que se disfarça de poeta, e — assim — mostra a que veio.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também