A posse justa, meritória, tal como se inscreve na letra estatutária de uma entidade acadêmica, não só merece como cobra a presença solidária, sobretudo de todo um plenário de confrades a se sentir prestigiado.
Fui conferir e vi ter sido dessa ordem a posse, terça-feira passada, do escritor Gil Messias na nossa APL. Mas chovia lá fora, fazia frio e, mesmo encapotado, com camisa de forro, rendi-me às sequelas do enfisema, contentando-me em aceitar, da janela do carro, o imprensado de guarda-chuvas querendo entrar de vez pelas ombreiras coloniais de uma casa comum, há mais de oitenta anos convertida em portal sem ornatos, simples como o calcário do seu interior.
Oscar de Castro Ramalho Leite
Então pedi ao confrade José Nunes que me assegurasse a leitura dos discursos, já que o rádio e a televisão de hoje — e de sempre, aqui e talvez no resto do mundo, fora uma Bruxelas — não veem Ibope no palco das academias. E já não digo na ópera, mas mesmo nas sinfônicas. Dos três ou quatro canais de televisão que temos, dois deles passam a tarde inteira com a câmara nas taras, nos ladrões pequenos, nos pequenos bandidos, dada a inviabilidade de formar um público para coisas mais edificantes. A Academia, mesmo a Brasileira, só entra em pauta quando o imortal não pode mais dar seu recado ao vivo — ou aos vivos.
Gil Messias
@fatoseletrasculturaparaibana
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Leitores enfadados como eu, que julgava conhecer Sobral Pinto até parar na página que Gil lhe dedica. E assim a sucessão de páginas do seu livro mais recente, de texto no papel, que é o que não me foge aos olhos e à paciência. Só me vem um porém: por que o título O redator de obituários? Quantos mortos ou insertos no anonimato deixei em seu livro?
Eu não encontraria jamais, na minha esquina — e não vou ao cinema desde que o Municipal fechou suas portas —, a livraria sonhada por uma viúva entediada, perdida numa cidadezinha inglesa que olha com estranheza o que vem de fora. Isso deu filme e veio cair entre as ocorrências mais requeridas pelo meu gosto particular. É óbito? É não.
Falei muito de mim, mas até nisso estava previsto, à página 158: “Retrato do cronista”. E vem de presente uma de Freud: “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.”
Então recordei aqueles que juram contemplar apenas o texto puro de Augusto dos Anjos, sem ouvir a dor do homem que o escreveu. E pensei nos que diminuem Lima Barreto porque, em sua obra, pulsa a confissão de sua própria vida. Mas talvez não compreendam que a poesia e a prosa nascem da alma e, toda vez que o autor se entrega a elas, é o humano que floresce, eterno.