Desde a infância tenho comigo a imagem das colunas de sustentação existentes na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de Serraria, como a lembrança mais constante de monumentos históricos de minha cidade. Imagens que se misturam com velhas moradias perdidas no meio do mato e nos canaviais.
A primeira imagem que me chegou durante a palestra do professor Marcílio Franca, quando falou do sentido da arte na construção da sociedade, por ocasião das homenagens ao artista plástico e acadêmico Flávio Tavares, patrocinadas pelo Tribunal de Contas do Estado, foi lembrar do imponente prédio religioso neoclássico no meio da rua, em Serraria, que de longe se avista. É uma edificação contendo mensagem de paz e de beleza, sempre a renovar o sentido de pertença que muito nos alegra.
Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus (Serraria-PB) >João Rosa
Com uma explanação magistral, para falar do que aconteceu na cidade de Siena, localizada ao sul da Itália, em 1309, o professor Marcílio apontou os conceitos do belo e da arte como sinais para o prazer e o deleite das pessoas, do crescimento e da prosperidade das comunidades urbanas.
Em carta magna, os sienenses apontavam que o gestor público deve se preocupar com “a arte, a cultura e o patrimônio cultural de sua comunidade”. A arte e a cultura como pertença de um povo. Nesse sentido, o professor assinalou que quando uma obra de arte, um trabalho literário e outras manifestações artísticas chegam ao conhecimento do povo de outros lugares, isso ajuda tornar todos mais cidadãos, porque “estabelece o prazer e a felicidade”.
Marcílio Franca
O professor Marcílio ressaltou que, quando o produto de um talento é apresentado em outro país ou mesmo em lugares próximos onde vivemos, “joga luz sobre a discreta Paraíba e chama a atenção para a importância de tantos outros artistas, poetas, cantores, escritores, músicos, repentistas, cozinheiras, artesãos, heróis, feitos históricos e produtos de exportação”.
Se os gestores públicos alertassem para isso, certamente investiriam nos talentos, porque “a promoção da arte e da cultura vocaciona-se ‘para prosperidade e o crescimento da cidade e dos seus cidadãos’, ou seja, há ainda um valor econômico no fomento público à arte e aos artistas”.
A imagem que carrego das casas grandes dos engenhos e fazendas de café do lugar onde nasci e vivi a minha infância, do prédio da Igreja, com suas imponentes colunas, seus
Matriz Sagrado Coração de Jesus
@pascomscj_serraria
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Cada pessoa que chega àquele lugar sagrado se projeta na sua história, uma história de paz, de esperança e de fé; alimenta e rejuvenesce o espírito.
Tarde percebi que os frutos da beleza rústica edificada naquelas colunas e nos frontispícios das residências suscitam a construção de harmoniosa convivência entre pessoas e seres que povoam a minha terra.
A arte nas mais diversificadas vertentes, a pintura e a música, assim como a poesia e a literatura de um modo geral, contêm ingredientes indispensáveis para o aprofundamento do conhecimento da vida interior. São expressões que ajudam à vivência do homem, constroem alegrias que se demora encontrar em outras situações.
Porto da Saudade Flávio Tavares
Nas pinturas de Flávio Tavares, na sua maioria, apontam para uma reflexão sobre a renovação espiritual e social ao retratar épocas da História da Paraíba.
As palavras de Marcílio Franca naquela noite no TCE, revelam os caminhos transformadores da arte. O professor afiança que as artes criam possibilidades se buscar “abordagens igualmente criativas para alcançar uma sociedade livre, justa, solidária e harmoniosa”.
Quadros como “No Reinado do Sol”, “Claustro”, “Terra das Riquezas”, e o “Porto da Saudade” de Flávio, por exemplo, são de uma dimensão transformadora, fazem refletir sobre os caminhos para a construção da identidade de um povo.