Quando retornei ao sítio onde nasci, recentemente, era uma manhã em que as folhas das árvores e as poças de água refletiam os raios do sol e com o barro da estrada grudado na sola dos pés, entrei na casa que me serviu de abrigo desde quando mamãe deu à luz a mim e ali permaneci até aos quinze anos de idade.
Como que flutuando, andei em círculo pela sala e outros cômodos de mesmo piso grosso, desgastado, cimentado há mais de sessenta anos. Na lateral havia uma janela, mas foi tapada e recamada vultosa caliça. As paredes tinham a caliça original. As mesmas vigas de madeira postas sobre a meia parede apoiam as linhas de madeiramento roliças, caibros e ripas sustentam as telhas-vãs que nos protegeram das invernadas e do sol de verão.
Como que flutuando, andei em círculo pela sala e outros cômodos de mesmo piso grosso, desgastado, cimentado há mais de sessenta anos. Na lateral havia uma janela, mas foi tapada e recamada vultosa caliça. As paredes tinham a caliça original. As mesmas vigas de madeira postas sobre a meia parede apoiam as linhas de madeiramento roliças, caibros e ripas sustentam as telhas-vãs que nos protegeram das invernadas e do sol de verão.
Antônio David Diniz
Na manhã, quando entrei em nossa antiga casa, com a vista percorri a paisagem das duas salas e da cozinha, caminhei lento de um lado para o outro e sem que percebessem, derramei duas gotas de lágrima pelo canto dos olhos. Percebo o lugar do fogão a lenha inalterado, a tisna na parede e no telhado não foi totalmente apagada. Os seis armadores de ferro enferrujados fixados nas paredes, imediatamente, trouxeram imagens de quando repousávamos nas redes em noites intermináveis.
Seguro o armador de rede que tantos sopapos aguentou quando nos balançávamos, ainda em perfeito estado de conservação. O que fica perto da janela, papai pendurava o bornal de caçador e a espingarda de soca-soca, sem munição.
Acervo do autor
O novo morador abriu para mim a janela fechada com tramela de tábua, a mesma janela onde tantas vezes me debrucei para olhar as primas, filhas de Nita e José Nunes, quando passavam com destino a cidade para as missas nos domingos ou vindo da escola. Janela de onde se avistava as paisagens de Arara, de imponente beleza quando o sol poente avermelhado desce sobre os montes. Próximo estava o pé de mulungu aonde pássaros faziam ninhos e também os quatro pés de coco-catolé no aceiro do curral, transformados em pouso de canários-da-terra que cantavam ao amanhecer, numa peleja com o galo, dono do terreiro.
Acervo do autor
Haviam noites para observar as estrelas antes de dormir ou, em alguns períodos do mês, deitado na rede, olhávamos o clarão da lua pelas aberturas no telhado.
Reconstruo aquele remoto ambiente familiar, relembro as paisagens de Tapuio e seus arredores, todos salvos pela poesia. Nesta curta visita reencontrei os heróis que me criaram, construídos na forja de poucos afagos silenciosos, mas reforçados na fé para tê-los perto. Cada retorno a este lugar é motivação para buscar a poesia escondida, mesmo que seja um velho armador de rede na parede.
Sítio Tapuio, Município de Serraria (PB) Antônio David


















