Getúlio Vargas foi, de longe, o político mais completo da nossa história. Por qualquer parâmetro que se pretenda medir a atividade ...

O político completo

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Getúlio Vargas foi, de longe, o político mais completo da nossa história. Por qualquer parâmetro que se pretenda medir a atividade política no Brasil, ele ganha fácil de qualquer outro que tenha se dedicado a essa nem sempre tão nobre atividade. Esqueçam os 19 anos na presidência. Menos importa a sua capacidade de recuperação. Até amantes ele teve. Ou seja, tudo que os outros políticos fizeram, ele fez mais e melhor — inclusive traindo os colegas.

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GD'Art
Faz tempo que eu me convenci de que a arte da política é a arte de trair, porém sabendo o momento certo para trair e a maneira mais “correta” de efetuar essa traição. Getúlio era mestre nesse metiê. Aquele lheguelhé supostamente atribuído a Maquiavel sobre os fins justificarem os meios — que, na verdade, é de Ovídio, em Heroides (exitus acta probat, que todo mundo está careca de saber que significa “o sucesso valida o ato”) — deve ter sido o mantra de Gegê.

Vou dar exemplos do que trato.

Lembrem que Vargas chegou à presidência apoiado pelas elites de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Logo que assumiu, ele centralizou o poder e deixou seus apoiadores no sereno.

Apesar de ter permitido a atuação da esquerda organizada, terminou por prender Luís Carlos Prestes e entregar Olga Benário Prestes aos nazistas, onde morreu num campo de extermínio. Depois de ter aproveitado o apoio dos integralistas para combater os comunistas, emburacou neles também. Plínio Salgado, “semideus” da Ação Integralista Brasileira, considerou-se traído — o que não trouxe uma única ruga de preocupação a Getúlio. E olha que Vargas paquerara por muito tempo com os alemães (inspiração dos integralistas) até ver para onde os ventos da 2ª Grande Guerra estavam soprando.

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Olga Benário e Luiz Carlos Prestes UFSCar
Tenho para mim, entretanto, que a maior traição de Getúlio foi um caso pouco conhecido. Oswaldo Aranha era seu ministro das Relações Exteriores e gozava da amizade pessoal do presidente Roosevelt, que pretendia convidá-lo, em nome do Brasil, para integrar “somente” o Conselho de Segurança da ONU, que seria criado pouco depois. Vargas temeu o prestígio crescente de Aranha e forçou sua saída do governo. Fora do Itamaraty, Oswaldo se tornava “inelegível”. O resultado é que, em vez do Brasil, foi a China quem entrou no Conselho — vaga até hoje mendigada por nós.

Tudo isso pelo poder. Ah, Gegê!

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