As situações mais atrapalhadas podem virar lembranças deliciosas para rir depois. Afinal, rir de si mesmo é um remédio poderoso. Um d...

O show de Reginaldo Rossi e eu no meio

reginaldo rossi musica brasileira
As situações mais atrapalhadas podem virar lembranças deliciosas para rir depois. Afinal, rir de si mesmo é um remédio poderoso.

Um dia, meu companheiro apareceu com dois ingressos para um show numa famosa casa noturna do Recife. Disse que eu deveria caprichar na roupa, porque seria um evento requintado. Depois disse solenemente: “Vamos assistir ao show do Reginaldo Rossi.” Cai na risada, achando que era brincadeira. O “rei do brega”? Achei que fosse piada.

Cristina Porcaro
Mas meu espírito aventureiro falou mais alto, e eu não perderia aquela oportunidade por nada. Meu gosto musical merecia uma nova experiência.

Me preparei com cuidado. Escolhi meu vestido da sorte, aquele que sempre me levava a bons divertimentos e nunca me deixava passar vergonha.

Ao chegar, fiquei encantada. Luzes, cores e mulheres deslumbrantes em vestidos brilhantes, maquiagens impecáveis e cabelos que claramente haviam passado por ótimos salões de beleza.

De repente, as luzes se apagam. O palco explode em vermelho vibrante, e surge o cantor. A casa inteira se transforma numa massa pulsante, agitada, de gente em pé, vibrando junto. A orquestra começa a tocar “Mulher de Vermelho” — que descobri ser a história de um homem amargurado por perder justamente a mulher vestida de vermelho. Todos cantavam em coro, com a mesma intensidade do artista.

Matheus Cabral
Olhando ao redor, só via paixão e entusiasmo. Depois da terceira música, eu já estava tão envolvida quanto qualquer fã. Não sabia as letras, mas cantava os refrãos com gosto, me divertindo como nunca.

Reginaldo Rossi ganhou instantaneamente uma fã. Naquele momento, esqueci os shows de rock que adorava, deixei de lado os 12 anos de piano com D. Dinah Mendonça e até as músicas clássicas que ela me ensinou a apreciar.

Naquele momento, Reginaldo superava qualquer Arnaldo Antunes ou Freddie Mercury da minha vida.

Foi mágico. Entendi a sedução das músicas, o charme dos dançarinos e a simpatia irresistível do cantor. Era impossível não se deixar contagiar por aquela energia.

Poucos meses depois, Reginaldo Rossi faleceu. Lamentei não ter ido a outros shows.

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Reginaldo Rossi em show no Recife (PE) @recife.pe.gov.br
Mas uma coisa ficou clara: meu preconceito com um gênero musical que eu mal conhecia terminou ali. Hoje, quando alguém chama um cantor ou estilo de “brega”, respondo que não é questão de gostar ou não; é que cada gênero pode despertar sentimentos intensos de alegria e, por que não, paixão.

Viver o momento e entrar na sintonia pode causar estranhamento, mas se estamos dispostos a experimentar algo novo, tudo faz sentido.

E o melhor de tudo é que ganhamos histórias maravilhosas para lembrar e rir depois.

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