Como acentuei na crônica passada, o ingresso de Rubens Nóbrega na imprensa se deu quando dei as costas ao batente das redações, da afa...

O batente de Rubens (2)

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Como acentuei na crônica passada, o ingresso de Rubens Nóbrega na imprensa se deu quando dei as costas ao batente das redações, da afanosa responsabilidade com a notícia, dificilmente isenta por completo do julgamento velado do repórter ou redator, por mais que busque a exatidão. Fica explícita, na ressalva que faço, a experiência particular de quem fez tudo para seguir o manual, mas precisaria cortar as mãos para cobrir, com isenção, o conflito agrário que se estendeu às portas da nossa capital desde a criação das Ligas Camponesas, abafado pelo golpe de 1964. Com João Manuel, Adalberto Barreto, Severino Ramos, Hélio Zenaide, vivemos situações absurdas para quem tem noção dos direitos alheios. E só depois daquela manhã abençoada de 1973, quando Marcone Gois, sem motivo relevante, me despachou desses cuidados, alguns tormentosos, é que vim saber do verdadeiro significado do chamado “bilhete azul”.

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Nas suas memórias (custa acreditar que o jovem, o rapaz das nossas conversas, minhas e de Vicente Nóbrega, já se apresente como autor de memórias!), revivi ou passei a limpo muita coisa que acompanhei livre da responsabilidade de levá-la ao leitor, endereço supremo da notícia. E, assim desobrigado, na condição de leitor, recolhi-me à subjetividade, licença da crônica de visgo literário. Fugi do que me constrangesse, menos da tragédia que trucidou Paulo Brandão, saindo do seu trabalho na fábrica, e que abre o último capítulo do novo livro de Rubens. Como ex-colega de Wilson, vivendo três anos juntos na Casa do Estudante, ainda que de afinidades diferentes, constrangia-me, não o jornalismo de oposição aos “desvios, desmandos e desmantelos” do governo de Wilson, mas a criatura, a pessoa que tivera na maioria dos companheiros de convivência a grande família. Político vocacionado, creditou-se a aspirações a partir da presidência da Casa, quando apareceu a comida, antes sempre escassa ou inexistente. Rendi-me quando soube da represália terrorista sofrida pelos redatores do jornal, com destaque para Rubens. Eu, por minha vez, tinha levado a pecha de vendido por censurar, sem ofensa, o exagero de parentes no governo.

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Frutuoso Chaves
Surgindo e logo se afirmando na fase em que a computação e a impressão mudam de processamento, Rubens Nóbrega faz com que o leitor viva por dentro essa mudança, inclusive quem, como eu, se orgulhava de ter passado a pronto, desde cedo, no sistema tipográfico herdado de Gutenberg.

Rubens, Frutuoso, Agnaldo têm muito a ver com o nível técnico e a consciência profissional da geração de hoje, boa parte bem visível nas páginas de A União, a maioria no rádio, na televisão e no jornalismo de suporte volátil das chamadas redes sociais. Vivência que ele reparte com Carmélio Reynaldo, prefaciador e personagem; Duda Moura Teixeira de Carvalho; Fred Seixas; a competente e solícita Livramento; Pedro Moreira; o time que jogou com ele em sua estreia em O Norte. Não esconde como chegou a chorar com sua demissão da editoria do Correio, em 1988, o jornal que ele e equipe levaram “a arrebatar do ‘associado’ a liderança de circulação na Paraíba”, O Norte que, a partir de 1970, mercê da equipe que eu, com orgulho, havia aglutinado com Aluísio Moura, alcançou por quase 20 anos essa situação de liderança, embora eu tenha permanecido por poucos anos.

Com o tempo, resta-nos, isto sim, o conforto edificante dessas memórias, ainda que chorando diante das ruínas que restam hoje do prédio da Pedro II.

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