Dando continuidade ao perfil do jornalista e escritor Adalberto de Araújo Barreto, vamos contar como se deu a sua ascensão à presidênci...

Adalberto Barreto, entre fugas, fichas, prisões e pichações

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Dando continuidade ao perfil do jornalista e escritor Adalberto de Araújo Barreto, vamos contar como se deu a sua ascensão à presidência da Associação Paraibana de Imprensa. Creio que se trata de uma atualização importante, sobretudo se levarmos em conta que a API completou nove décadas no último dia sete de setembro. Ao longo desses 90 anos, Adalberto esteve à frente da entidade por menos de quatro — entre 1960 e 1964 — tempo suficiente para deixar sua marca na história da Associação, como veremos nas linhas que seguem.


Por 20 anos, entre 1940 e 1960, José Leal Ramos, decano da imprensa paraibana, havia presidido API, entidade que ajudou a fundar em 1933. Jornalista da “velha guarda”, ele havia atuado em diferentes órgãos de imprensa, pontificando com mais destaque no jornal O Norte, do qual havia sido diretor, e onde assinou as colunas A margem da atualidade e Minuta. Para muitos, a API era sinônimo de José Leal, e ele estava fadado a ser o “eterno presidente” da Associação.
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DG'Art
No entanto, começou a surgir um movimento de renovação da diretoria, articulado por uma nova geração de jornalistas, que já não se conformava com a “postura imobilista” de Leal, tido como “líder do grupo conservador”, como escreveu Fátima Araújo em História da API (1985), um livro fundamental para a história e a memória do jornalismo local.

A obra O jogo da verdade: revolução de 64 30 anos depois (1984) é outra referência documental indispensável para que se saiba como se deu a ascensão de Adalberto Barreto à presidência da API, em 1959, no lugar de José Leal. Numa entrevista concedida a Nonato Guedes[1], um dos organizadores do livro, Adalberto afirmou que sua eleição começou a ser articulada por Gonzaga Rodrigues[2], que, muito embora não fosse comunista, havia recebido orientações
Notas [1] A entrevista teve a colaboração de Gonzaga Rodrigues, Biu Ramos, Sebastião Barbosa, Agnaldo Almeida e Naná Garcez.
[2] Hoje, Gonzaga Rodrigues se penitencia por ter sido o “mentor” da manobra, uma vez que ele começou no jornalismo pelas mãos de José Leal, atuando como revisor no jornal O Norte, no qual publicou sua primeira crônica em 1954.
do “Partidão” para organizar uma chapa que renovasse a API:

⏤ O pessoal se reuniu, sob a liderança de Luiz Gonzaga Rodrigues, para derrotar José Leal, sem, aparentemente, causar um choque maior, já que ele era respeitado e tido por muitos, na categoria, como um “patriarca” ⏤ declarou Adalberto.

Articulou-se, então, uma composição através da qual José Leal seria reconduzido à presidência, como uma forma de reconhecimento e homenagem, mas a vice-presidência ficaria com Adalberto. Além da vice, todos os demais cargos da diretoria seriam ocupados por integrantes da nova geração de jornalistas, mais alinhados à esquerda. Era uma espécie de “chapa camarão às avessas”, como observou Nonato Guedes. Essa composição só foi possível porque não havia registro prévio de chapa. Assim, o próprio José Leal foi pego de surpresa com a “dança das cadeiras” no comando da API.

⏤ Mais surpreso ainda ele ficou quando constatou que a “velha guarda” da API — seu principal reduto eleitoral — havia sido arrebanhada por Gonzaga e outros militantes da nova geração, para dar apoio à chapa ⏤ registrou Nonato Guedes.
Nonato Guedes
Isolado, Leal renunciou à candidatura. Adalberto, então, foi alçado à cabeça de chapa, e o jornalista José Souto foi o escolhido para ocupar a vice. A partir de então, “a API tomou de fato, novos rumos, experimentando uma guinada de 180 graus”, segundo Nonato.

Em depoimento à Fátima Araújo, Adalberto citou algumas de suas realizações à frente da Associação:

"Nesse primeiro mandato foi fundada a biblioteca da Associação Paraibana de Imprensa, quando adquirimos mais de 1.500 volumes, mediante contribuição de entidades diversas.
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Adalberto Barreto ▪ Acervo: Nereida Barreto
Esse patrimônio se acha hoje praticamente destruído. Conseguimos financiamento para máquina de escrever própria para os jornalistas, através de Newton Rique, do Banco de Campina Grande. Foram 40 unidades financiadas, com prazo longo para pagamento. Do Governo do Estado, conseguimos a doação de terreno para construção de casa própria, no bairro 13 de Maio. E promovi a campanha para fundação do Jornal dos Jornalistas, através de um grande bingo estadual, que forneceria recursos para a compra de equipamento. Os bingos foram proibidos por Jânio Quadros, logo depois que assumiu a presidência da República. A API então teve que devolver o dinheiro de todas as cartelas vendidas e o sonho do jornal sofreu um golpe mortal."

Em 1961, houve nova eleição para presidência da API. Adalberto, como era natural, apresentou seu nome para disputar a reeleição. Mas, ao que parece, ele se cercou de cuidados para que seus opositores não articulassem a mesma manobra que havia destituído José Leal do poder dois anos antes: a ausência de registro prévio de chapas.
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Reprodução da notícia do Diário de Pernambuco sobre a reeleição de Adalberto Barreto, em 1961 ▪ Fonte: Hemeroteca Digital
É o que atesta uma reportagem do Diário de Pernambuco, datada de nove de agosto de 1961:

[...] A eleição prendeu atenção de tôda [sic.] a classe, já que desde alguns dias corria rumores de que associados contrários à chapa encabeçada pelo jornalista Adalberto Barreto iriam pedir a nulidade do pleito sobre a alegação de que os Estatutos da API não determinam que seja obrigatório o registro de chapas, como anunciava a nota oficial da entidade.

Após longas discussões, o plenário concordou que poderiam concorrer ao pleito todos os associados sem que para tanto fosse obrigatório o registro de chapas.

Mesmo sem haver o registro prévio de chapas, como ele queria, Adalberto foi reeleito “por esmagadora maioria de votos”, com 83 sufrágios, ainda segundo o jornal. Gonzaga Rodrigues ficou em segundo, com 19 votos, e Benedito Souto e Otacílio Queiroz tiveram 1 voto cada.

José Souto foi reconduzido à vice-presidência, com 64 votos. João Manoel de Carvalho recebeu 35 sufrágios, Luiz Gonzaga teve 3 votos, e Hermano Sá, 15.


A Campanha da Legalidade e a primeira prisão de Adalberto

A primeira prisão de Adalberto Barreto aconteceu em 1961, durante a Campanha da Legalidade, que visava dar posse ao então vice-presidente João Goulart, no vácuo da renúncia de Jânio Quadros, ocorrida em agosto daquele ano, apenas sete meses depois de assumir o poder. A campanha era liderada por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, e cunhado de Jango. Brizola articulou a Cadeia da Legalidade, uma rede nacional de rádios que defendia o cumprimento da Constituição, com a ascensão de Jango ao poder.

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Leonel Brizola falando na cadeia de rádio da Legalidade no porão do Palácio Piratini.
Fonte: Acervo Fotográfico e Audiovisual do Palácio Piratini.
Além de presidente da API, Adalberto era diretor da Rádio Tabajara. Como não poderia deixar de ser, a emissora oficial passou a integrar a Cadeia da Legalidade, juntamente com a Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, as rádios Guaíba e Farroupilha, do Rio Grande do Sul, e várias outras espalhadas pelo país.

Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a União Brasileira dos Estudantes (UNE) aderiram à campanha, assim como os sindicatos, que organizaram greves e manifestações por todo o país. Na Paraíba, a API, liderada por Adalberto,
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Movimentos sociais em 1961 ▪ Fonte: Memorial da Democracia
também se integrou a essas entidades, inclusive delegando poderes aos associados para que percorressem as cidades do interior em busca de adesões à Campanha da Legalidade. A API também organizou uma vigília cívica diante de sua sede, na rua Visconde de Pelotas, como lembrou o próprio Adalberto, em depoimento à Fátima Araújo:

— A API declarou-se em sessão permanente, com a instalação em seu edifício dos alto-falantes para transmitir a marcha do Movimento pela Posse. Uma delegação da Associação Paraibana de Imprensa procurou o comandante do Grupamento de Engenharia, coronel Augusto Fonseca, que se manifestou solidário com o nosso Movimento. Após a posse de Jango, o presidente da API veio a ser o presidente da Frente de Mobilização Popular do Estado, entidade que congregou os Sindicatos, as Ligas Camponesas e outras entidades engajadas no grande movimento de reformas de base, consolidando-se a sua posição de liderança dentro do movimento político da época. Em sua sede, reunia-se frequentemente a cúpula do Movimento, atraindo sempre a participação do público, principalmente dos jovens estudantes.

Apesar da pretensa solidariedade do comandante do Grupamento de Engenharia, a sede da API foi invadida por uma patrulha do Exército, comandada pelo major Ubirajara Maribondo Vinagre. Além de Adalberto, foram conduzidos para interrogatório os jornalistas Jório Machado, José Pessoa de Carvalho (que usava o pseudônimo Nicodemus Pessoa), Malaquias Batista e Paulo Pontes. O comandante do 15º Batalhão de Infantaria Motorizado era o coronel Sílvio de Melo Kaú.

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Malaquias Batista
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Paulo Pontes

Adalberto e seus companheiros passaram dois dias recolhidos no quartel do “Quinze”, sendo liberados pelo delegado Ednaldo Dias de Barros, chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que era condescendente com os jornalistas e amigo pessoal de Adalberto. O governador Pedro Gondim também teve atuação decisiva na soltura dos jornalistas, uma vez que Adalberto era diretor da Tabajara.

⏤ A gente ia para a prisão alegremente, festivamente, porque sabíamos que éramos heróis da transformação ⏤ afirmou Adalberto a Nonato Guedes.

A “solução” encontrada para a Crise da Legalidade foi a mudança do sistema de governo, que passou do presidencialismo para o parlamentarismo. Jango aceitou o acordo que lhe garantia a presidência, mas esvaziava seus poderes, transferindo-os para um primeiro-ministro. A API também se levantou contra essa manobra,
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João Goulart Gov.BR
e “exultou” com o retorno do presidencialismo, via plebiscito, em 1963.

A Associação Paraibana de Imprensa também teve papel decisivo na organização das Ligas Camponesas, dando apoio moral e material aos trabalhadores rurais. Por tudo isso, não demorou muito para que a API começasse a ser olhada com certa desconfiança pelas classes dominantes, a exemplo dos usineiros, “quase sempre unidas às elites militares”, como observou Fátima Araújo.

Para que o leitor tenha uma ideia do clima de perseguição e constrangimento que imperava naquela época, reproduzimos uma notícia do Diário de Pernambuco, de 17 de fevereiro de 1962, que trazia a manchete: “Pichadas com slogans anti-comunistas residências de personalidades paraibanas”. O texto foi assinado pelo repórter Ivonaldo Correia:

[...] As legendas deixadas nos muros envolvem [...] pessoas de destaque na vida paraibana. Na maioria dos letreiros aparece, ora, o nome da Associação Paraibana de Imprensa, tachada de sucursal de Cuba, ora do seu presidente,
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Pichação do Movimento Anticomunista (MAC) ▪ Fonte: Memorial da Democracia
jornalista Adalberto Barreto, diretor da Rádio Tabajara, emissora oficial do Estado.

Ao que se diz, as entidades de classe, que congregam os pessoenses envolvidos na campanha, tais como Ordem dos Advogados do Brasil, União Brasileira dos Escritores, secção da Paraíba, Associação Paraibana de Imprensa, União Estadual dos Estudantes e outras, divulgarão, a qualquer momento, notas de protesto.

Entre os citados como comunistas, estão o desembargador João Santa Cruz, deputado Osmar de Aquino, jornalista Adalberto Barreto, professor Leonardo Leal e o professor Assis Lemos, deputado Heraldo Gadelha, o estudante Antônio Augusto e muitos outros. Levanta-se a hipótese de haver começado em João Pessoa a ação do MAC [Movimento Anticomunista].

Em 1963 houve nova eleição para renovação da diretoria da API. Mesmo com as perseguições que vinha sofrendo, e, ainda por cima, ausente do Estado — no Rio de Janeiro — Adalberto foi reeleito presidente da entidade, desta vez com Gonzaga Rodrigues na vice.

Adalberto contra o golpe militar

Na noite de 31 de março de 1964, estudantes, camponeses, sindicalistas e jornalistas se reuniram na sede da API para discutir formas de resistência ao golpe militar, sob a liderança de Adalberto. A reunião prolongou-se até a noite de primeiro de abril e converteu-se numa verdadeira “vigília cívica”. Entre as sete e oito da noite, contudo, chegou à sede da Associação um aparato de viaturas pró-golpe, lideradas pelo major José Benedito Montenegro dos Magalhães Cordeiro. Rifles em punho, os soldados do “Quinze” subiram as escadarias da API e deram voz de prisão a todos os que estavam ali.

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1960s ▪ Fonte: Memorial da Democracia
No artigo Algo do que a imprensa viu (e não viu) entre o pré-golpe de 64 e o ano de 68, presente no livro O jogo da verdade, o jornalista Evandro Nóbrega afirma que, ao invadir a API, o major Cordeiro tinha uma lista de jornalistas subversivos, que deveriam ser presos naquela noite, entre os quais Adalberto estava incluído, além de Biu Ramos, Gonzaga Rodrigues, Nathanael Alves, João Manoel de Carvalho, Jório de Lira Machado, Malaquias Batista, Wills Leal, Paulo Pontes, Paulo Melo, entre outros. Os que estavam na sede da API naquela noite foram entregues à Polícia Civil, comandada pelo coronel Pedro Belmont.

Em depoimento ao jornalista Nonato Guedes para O jogo da verdade, Adalberto recordou que, sob a liderança de Belmont,

[...] a Polícia Civil passou a se divertir conosco, correndo pelas ruas da cidade com aqueles caminhões fechados, intimidando a todos.

Já em História da API, Fátima Araújo afirma que, “no momento em que o Exército prendeu os associados da API, [...] a expectativa militar era a de que a Associação dispunha de armas e iria oferecer resistência. Segundo figuras participantes daquela cena, o prédio inteiro foi vasculhado até as adjacências”.

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Slgc
No dia seguinte, a sede da entidade foi arrombada por um grupo de jornalistas, sob a liderança de José Leal. Com o apoio dos militares, eles destituíram Adalberto e toda a diretoria, e organizaram uma nova eleição. Naquele dia, as atas da entidade foram destruídas, além de outros documentos importantes.

Horas antes da invasão, na madrugada do dia dois de abril, Adalberto e seus companheiros foram soltos por ordem do delegado Eduardo Dias de Barros, que foi demitido em consequência desta decisão. A partir daí, Adalberto iniciou uma alucinante rotina de fugas:

— Passei três meses em fuga por aí a fora, em regime de desemprego total, com pessoas amigas se cotizando para fazer a feira de minha família — declarou a Nonato Guedes.

Ao lado de João Manoel de Carvalho, Adalberto tomou um jipe com destino ao Ceará. Depois seguiu para sua terra natal, Catolé do Rocha, no Alto Sertão da Paraíba, onde ficou na casa de parentes. Enquanto estava escondido ali, um amigo da família entregou-lhe uma intimação para comparecer à 7ª Região Militar. Era o mês de junho de 1964 quando Adalberto se apresentou ao 1º Grupamento de Engenharia, em João Pessoa, de onde não sairia pelos 100 dias seguintes.

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1º Grupamento de Engenharia, na capital da Paraíba ▪ Fonte: Exército Brasileiro
A prisão de Adalberto estava sendo acompanhada de perto pelo governo norte-americano. O Relatório Final da Comissão Estadual da Verdade (CEV), trouxe a transcrição de um aerograma datado de dois de junho de 1964, intitulado Political Prisoners in Paraíba (Prisioneiros políticos na Paraíba), que foi enviado para o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Em tradução livre, o documento tinha o seguinte teor:

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Fonte: National Archives and Records Administration. Brown Digital Repository.
As seguintes pessoas, aparentemente todas da Paraíba e detidas em João Pessoa foram formalmente colocadas em “custódia preventiva” pelas autoridades da Sétima Região Militar. Os membros do Partido Comunista, e aqueles que se acredita serem membros, são marcados com um asterisco.

Dentre as acusações contra Adalberto, as mais notáveis eram: (1) Transformar a API num centro subversivo; e (2) Ter provocado a transferência do comandante do 4º Exército, General Costa e Silva, por causa do trabalho desenvolvido na API.

Nonato Guedes afirma que, segundo testemunhas da época, havia uma diferença no tratamento dispensado aos presos políticos que ficavam no Grupamento de Engenharia e os que eram detidos no quartel do “Quinze”, o que foi confirmado por Adalberto:

⏤ Não havia tortura no Grupamento. Chegaram até a me oferecer — e ao juiz Ximenes, de Rio Tinto — salas especiais. Eu recusei, ele aceitou. Quem comandava o inquérito no Grupamento era o major [Ney de Oliveira] Aquino, que tinha uma visão diferente das coisas. Ele ridicularizava as acusações que pesavam sobre nós. Lembro bem no meu depoimento: “Então você foi o homem que demitiu Costa e Silva do IV Exército? — indagou-me o major Aquino. Constava nos autos que eu tinha colaborado para a demissão de Costa e Silva, por conta do trabalho desenvolvido na API. O próprio Costa e Silva chegou a dar entrevista no Diário de Pernambuco dizendo que a API era o grande centro de subversão do Nordeste.

As “regalias” oferecidas a Adalberto no Grupamento chegavam ao ponto de permitirem-no fazer as refeições no restaurante dos oficiais e até confabular com eles:

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Adalberto Barreto
⏤ Eu dei, inclusive, um curso de marxismo para um sargento. Tinha lido um tratado de economia marxista a um sargento. Tinha lido um tratado de economia marxista elaborado na União Soviética e havia decorado o manual todo. Então resolvi dar um cursinho [...] E o sargento participou ⏤ recordou Adalberto na entrevista a Nonato Guedes.

O relatório final do major Ney de Oliveira Aquino foi pela “impronúncia” dos que estavam recolhidos no Grupamento, incluindo Adalberto. Mas, até refazer sua vida, ele se envolveu numa espiral de fugas e depoimentos, com outra passagem pela prisão. Um dos esconderijos encontrados por Adalberto foi a casa dos meus avós, Idevaldo e Salete, na Avenida Pedro II, onde ele se abrigou com João Manuel de Carvalho, como mencionei no texto anterior.

Por fim, ao encerrar seu depoimento a Nonato Guedes, Adalberto relembrou as consequências do golpe militar em sua vida:

⏤ A impressão que tenho, agora, é de que tudo era um belíssimo sonho. E, de repente, houve o despertar cruel, desesperante, do golpe. O golpe nos afundou na maior depressão, na maior penúria de espírito, de crença. Foi um desastre psicológico para toda uma geração. Foi inteiramente sufocante, arruinante, espiritualmente, para todos nós...



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