“Bastou-me dar um passo para dentro das muralhas para vê-la em toda a sua grandiosidade sob a luz lilás das seis da tarde, e não pude reprimir a sensação de ter renascido”.
Foi o que disse Gabriel Garcia Marquez, ao chegar pela primeira vez a Cartagena das Índias, em maio de 1948.
E essa foi uma sensação semelhante à que experimentei, quando na Calle del Curato com Zerrezuela encontrei, enfim, a casa de Gabo, com seus muros altos, como a guarnecer a história e a solidão de um dos maiores da literatura.
Muralha de Cartagena das Índias (Colômbia) Hélder Moura
Mas, e aquela imensa casa florentino-alaranjada, defronte ao mirador das muralhas, onde para além está a imensidão do Mar do Caribe? Foi a casa que ele mandou construir, mas só em 1982, depois de ter ganho o Prêmio Nobel.
Casa de Gabriel García Marquez (Colômbia) Larry B
Estava nestas reflexões, quando fui surpreendido por uma voz:
“Sim, essa é a casa do escritor Gabriel Garcia Marquez, onde ele vinha passar umas temporadas. Hoje, quem mora aí é seu irmão e está sempre fechada, não dá pra visitar.”
Era Gabriel, um simpático vendedor de souvenirs, que ficou muito feliz quando eu revelei ser fã de Gabo..
E não parou mais de falar, me presenteando com uma pulseira, segundo ele, de pedras vulcânicas: “É um regalo, senhor. É sua!” Hesitante, peguei o mimo, que ele já se apressou em colocar no meu braço. “Quanto custa?”, indaguei desconfiado. Ele: “Já disse: é um regalo, um presente.”
Hélder Moura
“Mas, você sabe, ele morreu no México, onde morava nos últimos anos de sua vida”, disse com certo amargor. O falante Gabriel, recomposto, seguia, citando personagens dos romances de Gabo, como Florentino Ariza, o coronel Aureliano Buendia, Úrsula Iguarán, o cigano Melquíades e mais falaria, se eu não interrompesse, para dizer que estava para a apresentação de meu livro no Espaço Cultural Claustro de La Merced.
Hélder Moura em visita à Casa de Gabriel García Marquez e Espaço Cultural Claustro de La Merced (Cartagena das Índias Acervo do autor
Então, enquanto eu já me despedia, ele me estendeu a mão e disse: “É apenas 40 mil pesos…” Eu, surpreso, indaguei: “Mas, você me disse que era um regalo, um presente a um escritor e leitor de Gabo!” Ele, com aquele riso caribenho um tanto malandro:“A pulseira é um presente. O dinheiro foi pelo meu trabalho de guia!”
Que não pedi...
























