Desejo
Os raios
Da manhã
O som da concha
Morta
A liberdade
Dos peixes no mar
E o vento que sustenta
As asas dos voantes
Desejo a rocha
Que forma montanhas
Águas que se somam mares
E as estrelas que fazem
Sistemas solares
Luas que regulam poemas de amores
Além das escalas das marés
Um banco de praça
E uma poesia para a alegria dos cornos
Desejo a imensidão
De eus
Desejos
E revoltas
Alegrias
E a porta aberta
Para todas as outras portas
Que se banhem de sol
Absinto
Tonto
Átomo
Como coisa
Única
Universo
Um átomo
Embriagado
Meu reino
Meu cão leal
Minha alma
As cores que vejo
Os véus que me
Envolvem
Tiáras
Meias-luas
Bengala como cetro
Meu reino
De humano
Coroa raspada
Trono de rodas
Cadeira flutuante
E o governo do tempo
Tempo
Meu cão leal
A minha alegria
As cores dos homens
Estão em suas almas
Em seus deuses
Em seus desejos
As cores dos homens
Moram mais em bandeiras
Que em suas peles —
As convenções dos homens
Mas a cor preta nos homens
É um caso à parte,
Porque sua cor
Custou a maior das dores:
Dor de existência,
De servidão,
De estigma,
De exclusão.
A cor dos homens
Não é única,
E minha alma
É negra.