Começo dos anos 40. Getúlio Vargas no poder e na corda bamba, sem querer decidir quem apoiaria na 2ª Guerra Mundial. Os ingleses descob...

Uma história arretada

Começo dos anos 40. Getúlio Vargas no poder e na corda bamba, sem querer decidir quem apoiaria na 2ª Guerra Mundial. Os ingleses descobriram que a empresa aérea italiana Lati usava seus aviões em voos Rio/Roma/Rio para contrabandear, principalmente, matérias-primas como diamantes industriais, platina e espiões — para alegria de Mussolini.

Eram voos de 23 horas de duração e transportavam também as malas diplomáticas brasileiras para a Europa, sistematicamente violando toda a correspondência, fotocopiando os documentos e depois lacrando novamente os envelopes. A operação estava acima de qualquer suspeita porque um brasileiro era o diretor técnico da empresa: o oficial da Aeronáutica Rui da Costa Gama, casado com Jandira, filha mais velha de Getúlio; ou seja, era genro do homem.

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O que mais irritou os ingleses foi que a Lati, pouco antes da declaração de guerra dos EUA contra a Itália, usou seus aviões para transportar toneladas de notas de cem dólares sacadas dos fundos italianos até então depositados nos bancos de Nova York. Getúlio foi avisado pelos ingleses, porém, além do genro querido que era diretor da empresa, seu filho Lutero era amigo do pessoal da Lati. Nada fez. Então, os ingleses resolveram agir através de seu serviço de inteligência, dirigido por William Stephenson.

Avião italiano da LATI tokdehistoria.com.br
O que fizeram daria um bom roteiro de filme. Roubaram uma carta da Lati assinada por um alto dirigente da empresa e fabricaram o papel, os tipos da máquina de escrever e a assinatura. Montaram uma carta destinada ao diretor da Lati no Rio, Vicente Coppola, em que desancavam o povo brasileiro e o próprio Getúlio. Microfilmaram a tal carta e enviaram o microfilme a um agente brasileiro que trabalhava para eles.

Redação da United Press
Library of Congress
O agente entrou pela janela da casa de Coppola, roubou alguns objetos e, no dia seguinte, o italiano deu queixa à polícia — notícia que saiu em todos os jornais. Ato seguinte: o tal agente entrou em contato com a United Press, informou que era o ladrão e se propôs a vender o microfilme, que ele disse estar entre os objetos roubados e que não lhe servia para nada. Fechado o negócio, o repórter levou o microfilme para o embaixador americano, que o entregou a Getúlio. O texto chamava Gegê de gordinho (Il grassoccio), dizia que ele já se vendera aos americanos e que os brasileiros eram macacos (una nazione di scimmie). Getúlio ficou possesso, ainda mais porque o americano sabia do texto. Sua autoridade estava em jogo. Cassou a licença da Lati, que voltou latindo para a Itália.

O embaixador americano passou a se considerar herói, enquanto os ingleses saboreavam a verdadeira vitória. Em silêncio.

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  1. Marcos, parabéns por apresentar tão bem esse curioso episódio. Ele se soma se soma a outros ocorridos no Rio de Janeiro, então a nossa metrópole capital da república, na época da segunda guerra mundial (e mesmo nos anos imediatamente anteriores), reunidos por Rui Castro em seu novo livro "Trincheira tropical", que acabo de ler e recomendo com entusiasmo.

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  2. Quando Getúlio Vargas morreu eu era uma menina vi meus país abraçados chorando a Morte dele,na entendi nada, depois fiquei sabendo que infelizmente ele matou_ se

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  3. Lastimável

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  4. Muito interessante

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  5. Muito interessante

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