As sereias existem? Na mitologia grega, inicialmente as sereias seriam metade pássaro, metade mulher e não possuíam tanta beleza. Depois vemos a evolução da figura para metade peixe, metade mulher. O fato é que, não apenas no Brasil, mas em outros lugares do mundo, há depoimentos sobre a existência de monstros marinhos com metade do corpo peixe e a outra metade semelhante a um primata, antes mesmo do que foi registrado em 1564.
O Ipupiara Pero M. Gandavo
No litoral paulista da antiga Capitania de São Vicente, no ano de 1564, houve um fato envolvendo um desses “monstros” marinhos, conforme relata Pero de Magalhães de Gândavo em A Primeira História do Brasil. História da província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. A foto da gravura ao lado corresponde ao original da obra quinhentista de 1576.
O que disse Gândavo sobre a insistência de uma jovem indígena que, de forma assustada, comunicou a visão horrenda aos demais, dentre eles Baltazar Ferreira, filho de um capitão:
“Foi coisa tão nova e tão desusada aos olhos humanos a semelhança daquele fero e espantoso monstro
Leonildo Ferreira (Pinterest)
marinho que nesta província se matou no ano de 1564, que ainda que por muitas partes do mundo se tenha já notícia dele. (...) O retrato desse monstro é este que no fim do presente capítulo se mostra, tirado pelo natural. Tinha quinze palmos de comprido e semeado de cabelos pelo corpo, e no focinho tinha umas sedas mui grandes como bigodes. Os índios da terra lhe chamam, em sua língua, ‘ipupiara’, que quer dizer ‘demônio d’água’.
Alguns como este se viram já nestas partes, mas acham-se raramente. E assim também deve haver outros monstros de diversos pareceres que no abismo desse largo mar se escondem, de não menos estranheza e admiração; e tudo se pode crer, por difícil que pareça: porque os segredos da natureza não foram revelados todos ao homem para que, com razão, possa negar e ter por impossíveis as coisas que não viu, nem de que nunca teve notícia.”
Estátua do Ipupiara (São Vicente/SP) Daniel Gonzalez
O mar e seus mistérios. Mas não só o mar possui suas “sereias”. Lendo o verbete “Iara”, na Enciclopédia Delta Universal, a Iara, na forma de sereia (metade mulher, metade peixe), seria uma releitura do romantismo empregada à nossa Mãe d’Água. É o mais provável, porque a “ipupiara” era um “demônio d’água” e não seria a forma original da Yara como Mãe d’Água. Mas, para que os povos étnicos tivessem já denominado a “ipupiara”, é porque, com certeza, deviam ter avistado outros indivíduos dessa espécie. Nos tempos atuais, fica mais difícil saber.