Nesta idade de releituras, trago às mãos uma obra de Balzac e vem-me à lembrança o esforço da antiga editora Globo, de Porto Alegre, para editar a versão brasileira da “Comédia Humana”.
A importância dessa editora na admissão do leitor brasileiro no ciclo restrito dos clássicos da Literatura universal ainda está por ser avaliada. Tire-se pelo caso de Balzac, que antes nos chegava através de traduções de uma ou duas obras,
Henrique Bartaso Luferom
Partindo de uma lista de clássicos universais, a editora organizou o que veio se chamar depois de escola de tradutores, entre os quais se destacavam Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Herbert Caro, Cassemiro Fernandes, a quem se deve a leitura brasileira de toda a Comédia Humana, de todo o Proust, de todos os títulos erigidos pelo tempo em obras-primas da literatura de tradição ocidental.
O que era feito de forma esparsa, numa vaga de tempo dos Machados de Assis ou de outros escritores famosos, foi realizado de forma sistemática e empresarial. E por especialistas, quer dizer, por gente que não apenas sabia a língua a traduzir, mas que tinha a intimidade possível com o texto literário.
Livraria e Editora Globo (Porto Alegre)
Ricardo André Frantz
Ricardo André Frantz
Na cabeça do meu grupo, liderado por Geraldo Sobral de Lima, passava-se uma revolução. Os dois meses de espera do volume seguinte eram o tempo de leitura do livro em nossas mãos. Tempo de febre. E não recebíamos o romance isolado, como coisa caída do céu. A cada obra antecipava-se uma introdução ao tempo e às circunstâncias do escritor e da sua criação. Um monumento que o Brasil de minha geração ficou devendo aos Bertaso, ao Rio Grande, e que o preço de balcão de cada volume nunca chegará a ser pago.