Mostrando postagens com marcador Raul Tartarotti. Mostrar todas as postagens

O despertador toca, insistente, cortando o silêncio da madrugada. Um braço pesado sai debaixo do cobertor e silencia o barulho. Mais ...

tempo ampulheta
O despertador toca, insistente, cortando o silêncio da madrugada. Um braço pesado sai debaixo do cobertor e silencia o barulho. Mais cinco minutos, pensamos. Sempre mais cinco minutos. É nosso primeiro ato de negociação com o tempo, um bem que julgamos ter em abundância, mas que escorre entre os dedos como areia fina.

Mesmo que lá se vá mais um dia, o crepúsculo se despeja sobre a cidade com a mesma ternura dourada de sempre. Observo da janela os tran...

introspeccao nostalgia reflexao interior
Mesmo que lá se vá mais um dia, o crepúsculo se despeja sobre a cidade com a mesma ternura dourada de sempre. Observo da janela os transeuntes, cada um carregando seu fardo invisível de horas, e me pergunto se também sentem isso: a estranha persistência de uma paisagem interior que o tempo não consegue erodir. Os cabelos embranquecem, a pele marca seu território, os joelhos reclamam de subidas que antes eram voos. O corpo, ah, o corpo é um relógio de areia implacável. Mas há algo dentro dele que não aceita a contagem.

Há uma certa ironia no modo como me vejo, às vezes, diante do espelho. Roupas confortáveis, xícara de café ao lado, silêncio no ambient...

cansaco mental
Há uma certa ironia no modo como me vejo, às vezes, diante do espelho. Roupas confortáveis, xícara de café ao lado, silêncio no ambiente. Nada que lembre o suor de um operário na construção civil, o ritmo acelerado de um médico no pronto-socorro ou o cansaço físico de quem carrega um peso significativo o dia todo. Meu trabalho parece, aos olhos desatentos, um luxo. Um mero passar dos olhos sobre letras, um divagar da mente.

O maior ladrão da sua vida não é o tempo. É a espera. Sim, porque o tempo, coitado, não tem culpa nenhuma. Ele segue firme, sem p...

tempo espera paciencia
O maior ladrão da sua vida não é o tempo. É a espera.

Sim, porque o tempo, coitado, não tem culpa nenhuma. Ele segue firme, sem parar, cumprindo o seu papel de caminhar para frente. Mas a espera... esta, sim, sabe roubar com astúcia.

A moça da loja de materiais artísticos olhou para a minha lista com uma sobrancelha levemente arqueada. “Só essas cores?” ⏤ perguntou, ...

arte impressionismo pintura
A moça da loja de materiais artísticos olhou para a minha lista com uma sobrancelha levemente arqueada. “Só essas cores?” ⏤ perguntou, num tom que era mais curiosidade do que crítica. Eu havia anotado um azul ultramarino vibrante, um amarelo ocre terroso e um carmim profundo. Faltavam o branco puro e o preto absoluto, os extremos, os julgamentos fáceis.

Há uma solidão que não é feita de quartos vazios ou de noites sem companhia. Ela é mais sorrateira, mais insidiosa. Mora no meio da m...

solidao
Há uma solidão que não é feita de quartos vazios ou de noites sem companhia. Ela é mais sorrateira, mais insidiosa. Mora no meio da multidão, no coração da cidade que nunca dorme, no grupo de amigos que ri alto no bar. É a solidão que nasce não da falta de pessoas, mas da falta de conexão. Da absoluta, e por vezes brutal, falta de empatia.

Imagine que você tem a oportunidade única de entrar em um elevador mágico, cujos botões não são números, mas sim épocas e sentimentos. ...

fantasia ilusao energia
Imagine que você tem a oportunidade única de entrar em um elevador mágico, cujos botões não são números, mas sim épocas e sentimentos. Cada parada é uma viagem no tempo, um portal para um momento de pura felicidade. Para onde você gostaria de ir?

Você é uma pessoa agradável para sentar e conversar com amigos ou familiares? Que tipo de assunto você trás para mesa de lazer com quem...

sonho reflexao
Você é uma pessoa agradável para sentar e conversar com amigos ou familiares? Que tipo de assunto você trás para mesa de lazer com quem surgir em sua caminhada? Eu, por vezes tenho vontade de ouvir, ou falar amenidades, procuro tirar um sorriso do outro que apareceu naquele momento.

Era uma manhã comum no ônibus lotado quando uma senhora de cabelos grisalhos segurou-se com dificuldade no corrimão, enquanto um jove...

cena urbana empatia indiferenca
Era uma manhã comum no ônibus lotado quando uma senhora de cabelos grisalhos segurou-se com dificuldade no corrimão, enquanto um jovem de fones de ouvido ocupava o assento preferencial, fingindo não vê-la. Ninguém disse nada. Alguns olhares se cruzaram, rápidos, discretos, como se a invisibilidade alheia fosse contagiosa.

Tempo é moeda rara na vida adulta. Os dias se comprimem entre relógios de ponto, contas a pagar, filhos com febre e metas profissionais...

amizade cotidiano idade tempo
Tempo é moeda rara na vida adulta. Os dias se comprimem entre relógios de ponto, contas a pagar, filhos com febre e metas profissionais que insistem em fugir. Nesse turbilhão, há uma coisa que vai ficando encostada no canto da agenda, como um móvel antigo que prometemos restaurar: a amizade.

Há quem pense que filosofia é coisa para grandes salões, debates intermináveis sobre a existência ou livros poeirentos escritos por h...

licao desprendimento filosofia
Há quem pense que filosofia é coisa para grandes salões, debates intermináveis sobre a existência ou livros poeirentos escritos por homens de barbas impressionantes. Mas eu acho que a melhor filosofia cabe numa xícara de café, de preferência, acompanhada de um biscoito.

No meio do cotidiano apressado, onde celulares pipocam notificações e a correria se torna um segundo idioma, surge a eterna pergunta: ...

pintura grega terracota escolhas amorosas
No meio do cotidiano apressado, onde celulares pipocam notificações e a correria se torna um segundo idioma, surge a eterna pergunta: o que é de fato, o bem viver? A canção que toca ao fundo, quase inaudível, parece sussurrar que a resposta está nas pequenas coisas, mas como as palavras antigas dos filósofos poderiam iluminar essa busca?

Muitas passagens de nossas vidas ficam no tempo, não deixam rastro marcado no sentimento se não buscarmos o fio que nos une a elas. L...

Muitas passagens de nossas vidas ficam no tempo, não deixam rastro marcado no sentimento se não buscarmos o fio que nos une a elas. Livros, cadeiras, fotos, roupas, objetos que despertem o abrir de emoções, guardadas em algum espaço especial de nossa memória. O próprio vento pode despertar histórias e momentos somente seus,

O sol bate na janela, e eu me pego pensando na vida. Não na vida que se mede em batimentos cardíacos ou em anos no calendário, mas na...

natureza passaros rio
O sol bate na janela, e eu me pego pensando na vida. Não na vida que se mede em batimentos cardíacos ou em anos no calendário, mas naquela força que nos empurra para frente, a potência. Essa energia misteriosa que faz uma semente rachar o concreto, uma criança aprender a andar, ou um velho sábio acender os olhos ao falar de amor.

Há um café na esquina onde costumo parar não pelos croissants, porque são apenas razoáveis, nem pelo café que é muito forte. Vou para...

pessoas barcos ruas amor odio causa perdida
Há um café na esquina onde costumo parar não pelos croissants, porque são apenas razoáveis, nem pelo café que é muito forte. Vou para observar as pessoas. Sim, aquelas que se sentam sozinhas com olhos vidrados no celular, as que riem alto com seus grupos digitais atraentes e desordenados, as que trocam palavras breves com o garçom de crachá manchado, afável, de barba branca, avental no braço e olhos servís.

O senhor Antônio, aposentado, observa a fila do supermercado. Enquanto aguarda, seu olhar perde-se na prateleira de arroz. Não calcul...

O senhor Antônio, aposentado, observa a fila do supermercado. Enquanto aguarda, seu olhar perde-se na prateleira de arroz. Não calcula preços, não compara marcas. Ele rememora, num lampejo súbito, uma discussão antiga na oficina: "O que é o Justo?".

Há dias em que acordo com uma pergunta ecoando dentro de mim: quem sou eu quando ninguém me vê? A pergunta soa filosófica, quase ped...

cotidiano paris desafio viver
Há dias em que acordo com uma pergunta ecoando dentro de mim: quem sou eu quando ninguém me vê? A pergunta soa filosófica, quase pedante, mas desce rápido para o chão do cotidiano quando me deparo com o espelho do elevador. Ali, antes mesmo de eu me arrumar, já estou me ajustando: endireito os ombros, suavizo a expressão, preparo um rosto que não é exatamente mentira,

A felicidade é, talvez, a mais inútil das invenções humanas. Não serve para nada. Não constrói pontes, não paga contas, não resolve co...

harmonia utopia paul signac ilusao felicidade
A felicidade é, talvez, a mais inútil das invenções humanas. Não serve para nada. Não constrói pontes, não paga contas, não resolve conflitos, não salva ninguém de um dia ruim. Ela é como a água que escorre entre os dedos de quem tenta segurá-la: quanto mais se esforça, mais se perde.

Há uma caixa no centro da mesa. Você a conhece bem: é quadrada, de paredes rígidas, com cantos precisos. Dentro dela cabem todas as r...

abstrato cubismo pensa fora caixa
Há uma caixa no centro da mesa. Você a conhece bem: é quadrada, de paredes rígidas, com cantos precisos. Dentro dela cabem todas as respostas que você aprendeu a repetir, os "porquês" que não precisam mais ser questionados e os caminhos que todos já pisaram. O pensamento dentro da caixa é seguro, previsível, quase um ritual. Mas e se, em um dia comum, você resolvesse escalar suas paredes e olhar para além das quinas?

Algumas pessoas têm a notável habilidade de se doar. Sentem, em sua condição profundamente humana, que há mais espaço para acolher o...

escrever escrevendo escrita doar-se
Algumas pessoas têm a notável habilidade de se doar. Sentem, em sua condição profundamente humana, que há mais espaço para acolher os interesses do outro do que para cultivar suas próprias dores cotidianas. São indivíduos que comovem pela generosidade com que estabelecem vínculos, oferecendo presença, escuta e palavras — sem carregar pedras nos bolsos. Essa leveza no convívio, rara e preciosa, torna-os verdadeiros bálsamos num mundo cada vez mais árido de afeto.