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Dia de eleição na Academia Paraibana de Letras é muito gostoso. Uma oportunidade para a confraternização, e confraternização é reunião de amigos. Andamos cada vez mais distantes, portanto, viva a oportunidade dos reencontros. Fui com meu filho Germano, que também é cronista, e gosta muito da Academia.

E vamos á eleição: Dois candidatos fortes para ocupar a cadeira deixada pelo nosso Wellington Aguiar: o erudito Evandro da Nóbrega e o jornalista Abelardo Jurema. O desfecho foi a vitória de Abelardo que, quando ouviu o resultado do pleito, dando-lhe maioria, chorou, copiosamente, comovendo a todos. E disse mais Abelardo: estou feliz por que mais uma vez estou perto do meu pai, pois, como se sabe, o Ministro Abelardo Jurema, há muito que se imortalizou.

Aquelas lágrimas que molhavam o rosto do nosso escritor e colunista-mor, podemos classificar de “lágrimas da imortalidade. E bonito foi o abraço que Evandro deu no candidato vitorioso.

Repito: foi uma beleza a eleição. De parabéns a comissão julgadora, dirigida por Ramalho Leite, e de parabéns a bela administração que Damião está realizando, na Academia.

O nosso arquiteto Germano, encantado com o clima de confraternização, elogiou os ambientes da Academia, e foi convidado por Gonzaga Rodrigues para ver de perto o Memorial Augusto dos Anjos, criado na sua gestão como presidente daquela casa de cultura.

Valeu a presença de José Mário Silva, que veio de sua Campina Grande para cumprir o dever previsto pelo Estatuto.

Lembremos de que o importante numa eleição é a oportunidade de uma confraternização entre os imortais. E não faltou a mesa cheia de deliciosas guloseimas.

Mas, o comovente mesmo foram as lágrimas de Abelardo, comprovando sua reconhecida sensibilidade. Lágrimas da imortalidade.

O ntem, foi Dia dos Mortos, em homenagem aos que, para muita gente, se encontram em posição horizontal, até que tudo vire pó. Há, ainda, que...

Ontem, foi Dia dos Mortos, em homenagem aos que, para muita gente, se encontram em posição horizontal, até que tudo vire pó. Há, ainda, quem ache que somos apenas restos mortais, para gáudio dos vermes. E, assim mesmo, vão, com suas velinhas, seu choro e suas orações, prestar homenagem aos que se foram desta vida... Se foram não, pois, para a maioria dos vivos, os mortos continuam vivos, embaixo da terra.

O grande compositor francês, Saint-Saëns, compôs uma curiosa e genial composição a que ele deu o nome de Dança Macabra. Segundo a música, quando dá meia-noite, os mortos saem de suas catacumbas e vão dançar, até que surge a madrugada, os mortos saem, espavoridos, correndo de volta às suas covas. A composição do compositor francês é uma maravilha de criatividade. “Dança Macabra”, não esqueça de ouvi-la.

No Hamlet, do nosso Shakespeare, um personagem pergunta: “Cadê Polônio?” Sabe qual foi a resposta que lhe deram? Ele está num banquete, onde não come, mas é comido. “Ele referia-se ao cemitério”.

Nós não vamos a cemitério porque sabemos que os nossos, erroneamente, chamados mortos, não estão mais ali.

O filósofo tibetano, Milarepa, construiu sua casa vizinha ao cemitério para não perder de vista a fugacidade e a precariedade da vida.

E vale um lembrete: Os nossos entes queridos não estão debaixo da terra, e sim, cada vez mais vivos. Oremos para eles sempre, e não apenas no chamado Dia de Finados.

Mas, visitar um cemitério para reflexões, não é mau. Houve tempo em que eu, toda vez que ia a Paris, fazia uma visitinha turística ao famoso cemitério Père Lachaise, onde estão sepultados mortos ilustres, inclusive Chopin. E não esquecer Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, em cujo túmulo se lê este belo epitáfio: “Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”.

Acontece que, numa dessas visitas, demoramos mais. Aí começamos a ouvir o grito dos corvos. Escurecia, e nós, com um certo medo, fomos saindo. Mas, nos perdemos. Mais à frente, encontramos o vigia do cemitério, a quem indagamos sobre a saída, e ele, com muito humor, disse: “Ici, celui qui entre ne peut pas sortir”. (Aqui, aquele que entra não pode mais sair).

Aqui para nós, o túmulo de Kardec, no Père Lachaise, é uma lição de vida. Veja o que está, ali, escrito: “Nascer, viver, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”. Um resumo de nossa viva.

Mas, o importante não é apenas viver, mas conviver. Conviver com o próximo. Lembre-se que o outro é o nosso teste. Daí grande máxima da Doutrina Espirita: “Fora da caridade não há salvação”.

Agora me lembro, no Cemitério da Boa Sentença, quando fiz uma oração junto ao túmulo de meu pai e terminei dizendo: Adeus, papai, até breve”, O governador Pedro Gondim, presente, não se conteve: “Mas que religião é esta que lhe dá tanto conforto?”...

Dia de finados... Dia dos Mortos... Isto já era. Fica a pergunta: você já imaginou o que sente um espírito querido vendo você chorando no seu túmulo? Acho que o desejo dele é dizer: “Sai daí, seu bobo, estou mais vivo do que você”

J á entro na crônica com sede. E há coisa melhor do que ter sede para poder matá-la? Sem ela, para que serviria a água? Antigamente, os desc...

Já entro na crônica com sede. E há coisa melhor do que ter sede para poder matá-la? Sem ela, para que serviria a água? Antigamente, os descobridores de terra gritavam: “Terra! Terra!” Mas o nosso sertanejo, vez por outra, está gritando: “Água, água, água”.

Alaurinda, mal eu me levanto do leito, manhã cedo, ela chega com um copo d'água para eu beber. Diz que isso dá muita saúde. O organismo precisa de uma lavagem, vez por outra. Lembrei agora de um ditado inglês que diz “An apple, each day, keeps the doctor away”, que significa “uma maçã todo dia mantém o médico distante”. Decerto, um copo d'água em jejum, também.

Agora uma reflexão filosófica: que seria do mundo, da vida, sem a água. Quando descobrem um novo planeta, a primeira preocupação é se tem água.

Existe a água que mata a sede, a água do trabalho, que é o suor, a água da dor, que é a lágrima. E o que dizer do sangue? Dizem que setenta por cento do nosso corpo é feito d'água.

E você já fez hidroginástica, numa piscina? É uma maravilha! A gente, dentro d'água, se sente mais leve. Eu e o meu filho Germano não perdemos essa oportunidade de ganhar mais saúde e mais amigos.

Voltemos à água. Já imaginaram o mundo sem ela? Não existiria.

Aqui prá nós, mas há pessoas que gostam mais é da aguardente. Dessas que o sujeito fecha os olhos e estala o dedo. Mas, se a aguardente é boa por que faz careta? Meu pai tinha um amigo que quando o visitava pedia aguardente com sal...

Já imaginaram a revolta do nosso organismo quando a aguardente lhe entra pela boca?

Chamam bebedor de aguardente de cachaceiro. Meu pai tinha um empregado, de nome Vitorino, que só vivia bêbado.

Mas louvemos a água que não arde. A água que passarinho bebe.

Antes de sair para surfar, velejar ou, simplesmente, para pegar aquela brisa na praia, dê uma olhadinha nesse site . Ele mostra os ventos ...

ventos wind


Antes de sair para surfar, velejar ou, simplesmente, para pegar aquela brisa na praia, dê uma olhadinha nesse site. Ele mostra os ventos que sopram nos diversos quadrantes da Terra, trazendo ondas, chuvas, polinizando, renovando, produzindo energia e, muitas vezes, devastando...

E le chegou tão rápido, saiu tão rápido, como se viesse a negócios... ou fugindo. E me lembrei dele, outrora... No tempo em que dizia deseja...

Ele chegou tão rápido, saiu tão rápido, como se viesse a negócios... ou fugindo. E me lembrei dele, outrora... No tempo em que dizia desejar ter um milhão de amigos. Roberto Carlos chegou correndo, saiu correndo, como que se escondendo. Nada de vê-lo na TV ou publicamente, junto do busto de Tamandaré. Em uma de suas músicas, está, sim, aquela em que ele diz que deseja ter muitos amigos.

Não vi Roberto Carlos, pois para vê-lo e ouvi-lo a gente tinha que ir a um lugar privado, onde tinha de se pagar ingresso, 250 reais sentado, e 80 em pé. Mas, aqui para nós, tanto faz ouvir o cantor sentado ou em pé. De qualquer maneira eu não me arriscaria a tanto.

A verdade é que Roberto Carlos veio diferente. Quase não se deixou ver. Lembro-me que o cantor de outrora era mais simples. Ele tinha qualquer coisa de sagrado. Era mais romântico. Tinha um toque religioso. Mas lembrar que isso era, antigamente.

Hoje o negócio é faturar. Os milhões de amigos que ele desejava, para vê-lo e ouvi-lo, tinham de pagar ingresso caro. E foi um sucesso.

Roberto Carlos veio e saiu, certamente, muito eufórico. Cantou bem, faturou bem e os milhões de amigos que ele desejava não faltaram. Estou certo de que o nosso Roberto deve ajudar muitas instituições de caridade.

Não gostei de não ter visto e ouvido o cantor dos amigos. O Roberto que tinha qualquer coisa, repito, de religioso, de romântico, de sonhador.

Mas, o importante, hoje, é faturar. Roberto faturou bem, graças aos seus milhões de amigos. E não tenho dúvida de que ele cantará, da próxima vez, gratuitamente, para os garotos com câncer, para os que não podem ver, mas podem ouvir.

Roberto, não sei se é religioso e se sabe daquela advertência evangélica: a quem muito foi dado, muito será exigido.

É isto, a Federação Espírita Paraibana, instituição máxima do movimento espírita paraibano, está completando 100 anos. 100 anos ensinando e...

É isto, a Federação Espírita Paraibana, instituição máxima do movimento espírita paraibano, está completando 100 anos. 100 anos ensinando e divulgando a Doutrina codificada por Allan Kardec. Doutrina que tem como slogan: “Fora da caridade não há salvação”.

A casa Mater do Espiritismo na Paraíba começou a funcionar na rua 13 de maio, num prédio espaçoso, que, no fundo, lia-se a máxima, a que já referimos. Uma máxima que define o ecumenismo de uma Doutrina. Seja católico, seja protestante, a caridade é, sem favor, uma virtude essencialmente cristã.

O prédio da Federação funcionou por muitos anos na Treze de Maio e muito concorreu para a expansão do movimento espírita. Grandes oradores, principalmente, do sul do país, ocuparam sua tribuna. As reuniões, quer doutrinárias, quer mediúnicas funcionaram muito bem.

A Casa Mater já tinha como presidente José Augusto Romero, que muito contribuiu para o desenvolvimento da Doutrina, em nosso estado.

Lembrar José Pereira da Silva, alto funcionário da Alfândega, que, com muita dedicação, organizou o serviço de homeopatia. Logo à entrada do prédio uma longa mesa cheia de jornais e revistas espíritas. E a Federação promovia, todos os anos, o Natal dos Pobres.

A Federação ainda instituiu o Catecismo Espírita, com a participação de muitas crianças, e o livro adotado era o Catecismo de Leon Denis.

O tempo foi passando e houve a necessidade de se procurar um melhor lugar para a instituição. E foi um paraibano, que morava no Paraná, onde negociava com madeiras, Artur Lins de Vasconcelos, que comprou um terreno no Parque Sólon de Lucena, onde construiu o novo prédio da Federação, por sinal moderno e espaçoso.

Mas, os anos foram passando e a Federação cada vez mais contribuía para a expansão da Doutrina, codificada por Allan Kardec.

Chegou o tempo de a Federação sair do Parque para ocupar um prédio ainda maior, onde funcionava o Lar da Criança, dirigido pelo confrade Laurindo Cavalcante, e que ocupou a presidência por muito tempo, assim como José Raimundo de Lima, a quem se deve a ida da Casa Mater para este outro espaço. . E não esquecer a administração serena do atual presidente da Federação, Marco Lima, que, a exemplo de como o célebre astrônomo Camille Flammarion descreveu Kardec, é “o bom senso encarnado”.

A verdade é que a instituição, que hoje comemora os seus cem anos, merece todo nosso respeito. Grandes oradores, a começar por Divaldo Franco, Pietro Ubaldi, Raul Teixeira, ocuparam seu microfone. E lembrar que o arcebispo Dom Aldo Pagotto e o pastor Estevam Fernandes, vez por outra, estão visitando a Federação, dando, assim, uma eloquente prova de ecumenismo.

José Augusto Romero presidiu a Federação durante 44 anos consecutivos. A Federação era a sua segunda casa. Com sua cultura, sua mansidão, seu amor à Doutrina, ele saiu deste mundo com a consciência tranquila. Como deve se sentir todo aquele que pratica a verdadeira caridade.

É com grande emoção, que, vez por outra, assisto à caminhada deles em busca do mar, que fica um pouco longe de suas moradas. E o que mais m...

É com grande emoção, que, vez por outra, assisto à caminhada deles em busca do mar, que fica um pouco longe de suas moradas. E o que mais me comove é a alegria das crianças que os pais levam, muitas delas no braço.

A avenida é a Monsenhor Odilon Coutinho, final da Beira Rio. Fica defronte de nossa residência. E é por ela que os buscadores passam, numa alegria que emociona. Quase todos vão sorrindo. Sorrindo, sim, pois buscam o mar. De suas casas até o mar, bem que é longe, mas pouco importa. Devagar, vai-se ao longe, como diz o ditado. Ninguém está triste. Com suas chinelinhas japonesas, lá se vão, que a vida não é só sofrimento. E a caminhada ocorre sempre nos dias feriados e domingos.

À medida que andam, cresce a alegria. A alegria de ver o mar bem perto. O mar que nada lhe cobra pelo banho, pela corrida na areia. Caminharam muito, suaram muito, mas valeu o esforço. Nas águas esquecem tudo. Esquecem até que são pobres. Ainda bem que o mar não é comprado. Ainda bem que o mar é de todos.

E assim, eles passam horas e horas esquecidos de seus problemas. Mas, o tempo passa rápido, o dia já vai escurecendo e acabou-se o que era doce. Daí a grande tristeza da volta. Vêm cansados, mal humorados, as crianças chorando.

Comparo esta caminhada em busca do mar a uma imagem da vida. Pois o que é a vida, senão uma incessante busca do prazer?

A avenida agora está escura, o mar, certamente, dorme. Mas amanhã é outro dia... Viva a busca do prazer. Sem ele, que seria da vida?

O prazer de amar, o prazer de se alegrar com a vida, o prazer de perdoar, o prazer de viajar, o prazer de ler, o prazer...

Mas o prazer dos meus caminhantes da avenida é ver o mar, é mergulhar no mar, brincar no mar, esquecer a vida carente que andam levando.

O mar da Córsega, essa ilha do Mediterrâneo que meus pés pisaram recentemente, mostra-se logo ao visitante. De cima dos penhascos todos pod...

O mar da Córsega, essa ilha do Mediterrâneo que meus pés pisaram recentemente, mostra-se logo ao visitante. De cima dos penhascos todos podem contemplá-lo. Uma beleza de paisagem. Dá impressão que, sendo mais visível, está mais perto da gente. E olhar o mar provoca uma sensação de paz. Aliás, Deus fez o mar para embelezar o mundo e alegrar as pessoas.

E como valeu a pena parar, vez por outra, nos mirantes e acostamentos e ficar com os olhos passeando pelas ondas que se desmanchavam em espumas, nas rochas claras da bonita ilha. Espumas que valem por um sorriso. Sim, as espumas são sorrisos do mar.

E não esquecer que tudo na vida ensina. As ondas se desmancham em espumas, mas depois elas voltam a ser ondas. Já repararam? Pois é, a vida também é assim. Não se extingue na morte, como muitos pensam. Se fosse assim, que sentido teria a vida? Onde estaria a nossa responsabilidade de viver? Que adianta a moral se não prestamos conta dos nossos atos? Morre o corpo físico, mas fica a consciência. Esta, sim, nos acompanhará eternamente.

Mas, voltemos ao mar Mediterrâneo, visto da Córsega. Que maravilha! E saber que muita gente já não se espanta mais diante da Natureza, diante de uma imensidão azul como essa, que os homens jamais construirão. Os homens constroem piscinas. Mas que diferença entre uma piscina e o mar! A piscina não tem ondas, ondas que se diluem em espumas. A piscina precisa de cloro, senão sua água apodrece. A piscina não recebe a visita diária dos rios. A piscina é limitada, é humana. O mar é divino – repito. A piscina não tem peixes. E não tem peixes porque sua água é morta. O mar é todo vida. E há quem o contemple sem entusiasmo, sem admiração, sem espanto.

Ora, o mar pede olhos de criança para vê-lo, olhos de poeta. Há pessoas que passam por ele sem nenhuma emoção. Passam como máquinas. Não escutam o seu marulho. Falei em marulho, não confundir com barulho.

Fazia tempo que eu não via um mar assim, sem barracas, sem espigões, que nos impedem avistá-lo de longe. E aqui, as praias são, sobretudo, locais de contemplação. Sem aquelas barracas que vendem espetinho, cachorro quente, cerveja, cigarro e as pessoas ficam de costas para a imensidão oceânica...

Nas nossas praias de Tambaú, Cabo Branco, Jacumã, Seixas, grande parte é tomada pelas barracas. Uma verdadeira muralha tapando a visão do mar. Que pena! Dir-se-ia que o barraquismo é uma espécie de moléstia. Talvez um câncer em estado de metástase. A praia de Manaíra, felizmente, livrou-se dessa enfermidade. E a visão límpida de seu mar vale por uma autêntica terapia. Faz bem ao espírito passar por lá e ficar olhando o mar se desmanchando em espumas. Dá gosto contemplar a linha do horizonte, lá longe nos dando adeus... E viva o mar!

S ó há pouco tempo, vim a saber o significado da palavra “entusiasmo”. E o contrário da palavra entusiasmo é o desânimo. Que o leitor se liv...

Só há pouco tempo, vim a saber o significado da palavra “entusiasmo”. E o contrário da palavra entusiasmo é o desânimo. Que o leitor se livre dele, pois nunca criou nada. Goethe, já perto de fechar os olhos para o mundo, gritou, entusiasmado: “Luz! Mais luz!”

Recuando no tempo, lembremos de que o físico Arquimedes, quando tomava banho numa banheira, sentiu que seu corpo, mergulhado no líquido, baixava de peso. E gritou entusiasmado: “Achei, achei!” Sim, ele descobrira a lei da hidrostática. E dizem que saiu correndo nu pela rua, dada a força do entusiasmo.

E o que vem a ser entusiasmo? Significa “Deus em nós”. E como ter entusiasmo? Procure a Música, procure a boa leitura, as boas amizades, o bom trabalho, uma religião saudável, procure a Natureza. Veja o mar sorrindo, através das ondas e espumas, veja as crianças brincando, cheias de entusiasmo, e Jesus abraçando-as, dizendo: “Vinde a mim as criançinhas por que delas é o Reino dos Céus. Entusiasmo é luz. Goethe tinha razão.

A Natureza é a maior fonte de entusiasmo. Você sai dela renovado. E se você quiser se entusiasmar com a Música, ouça a Nona Sinfonia.

Visitei, recentemente, paisagens estrangeiras, que me deram lições de entusiasmo, a começar por aquela cachoeira, descendo a montanha, sem medo de cair.

Entusiasmo e nada de desânimo, que é Deus fora de si.

Um famoso psicoterapeuta disse que três coisas fazem o homem alegre: a boa música, uma boa notícia e uma religião saudável. E diz o ditado popular que tristeza não paga dívida. Vamos, diga como o mestre Rabelais: Ria, ria, só o homem é o animal que ri.

Desejo concluir com um exemplo de entusiasmo. Trata-se de um animal, um pássaro. É só se levantar, manhã cedinho, e ei-lo saudando a vida, o nosso querido bem-te-vi. Mas, muita gente prefere ser urubu... Vestido de preto e procurando a carniça.

D esculpem-me o truísmo, mas nós não somos nada sem outros. Os outros são que dão vida à nossa vida. Quer ver uma prova? Suponhamos que você...

Desculpem-me o truísmo, mas nós não somos nada sem outros. Os outros são que dão vida à nossa vida. Quer ver uma prova? Suponhamos que você vá visitar algumas cidades do primeiro mundo, com todas as suas belezas turísticas, a exemplo das que visitamos recentemente como Lugano, Bonifácio, Olbia, Menaggio, e não encontre ninguém nas ruas, nos cafés, nos bares, nas praças... Um verdadeiro cemitério. Será que você continuaria sua viagem? Evidente que não. Mesmo com o sol desfilando nas avenidas, mesmo com os bosques, os lagos, as ruas e monumentos históricos, os museus... você, imediatamente, sairia correndo desses centros urbanos. E mesmo que fosse ao teatro, completamente vazio, evidente que seria grande a sua frustração.

Como foi lindo, há poucos dias, quando depois de visitar cidades da fronteira da Suíça com a Itália fui chegando em Lisboa ensolarada, com aquela sua simpatia, com toda aquela gente na Rua Augusta, pra lá e pra cá, confesso que fiquei emocionado. Gente sorrindo, conversando, passeando, dando “bom dia”. É que o outono se aproximava e com o outono, as cidades se renovam.

Mas já imaginou se eu chegasse em Lisboa e não visse ninguém nas suas belas avenidas? Ninguém no Chiado, no Bairro Alto? Seria um inferno. Daí a grande verdade: A presença humana em nossa vida é tudo. Somos os outros, repitamos. Até os cemitérios se animam com a presença das pessoas. Por que os cemitérios são tão tristes? Porque são desertos. Sem ninguém, mesmo que seus mausoléus sejam belos, mesmos que os túmulos estejam cheios de flores, a sensação que temos é uma sensação de morte.

A vida só é bela por causa da presença dos outros. E estupidamente esquecemos esta verdade: os outros somos nós. É neles que nos refletimos, que nos identificamos. É verdade que, vez por outra, precisamos de ficar sozinhos. É bom ficarmos numa praia deserta, a exemplo de nossa Tabatinga, a contemplar suas pedras sendo beijadas pelas ondas... É gratificante esse momento de solidão, mas que ele não demore muito. Sem a presença humana as coisas perdem significação.

Mas se sabemos disso, por que não somos mais solidários, mais fraternais, mais amigos? Por que não procuramos conhecer melhor as pessoas e, conhecendo-as, compreendê-las? Aliás, este é o maior problema de todos os tempos. Daí a recomendação do mestre dos mestres: “Ama ao próximo como a ti mesmo”. Ele achou pouco e ainda veio com aquela outra recomendação: que amássemos os nossos próximos inimigos. E o que fazem as religiões que se dizem cristãs? Só sabem matar os que discordaram delas. Daí as cruzadas, as inquisições, a guerra dos 100 anos e agora essa fuga triste dos imigrantes assombrados com as misérias das guerras “santas”, que não têm nada de santas, entre os próprios cristãos.

Acho que o pior dos infernos é você sozinho no mundo. Não há coisa mais bela do que a multidão nas ruas. Ah, Lisboa, como estavas bela naquela manhã ensolarada com gente por todos os lugares!...