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POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE” (Editora Mondrongo – 2019) Nota do autor Crise do soneto ou crise do poeta? Falamos da imp...

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POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE”
(Editora Mondrongo – 2019)

bacharach dietrich
Nota do autor
Crise do soneto ou crise do poeta? Falamos da imperfeição métrica, da inacurácia do esteta ou da pobreza técnica?
Impor-se a necessidade das formas fixas, de por “amarrados” os versos que se firmaram como libertos ao longo dos anos de produção poética – este o objetivo do poeta.

POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO” (Editora Cousa – 2018) CUMULUS Quero te dizer de uma nuvem acontecida, das l...

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POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO”
(Editora Cousa – 2018)

CUMULUS
Quero te dizer de uma nuvem acontecida, das luzes de uma cidade distante, – companheira – desses derradeiros dias, da última idade antecipada,

POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO” (Editora Cousa – 2018) EU ME APRESENTO Há que se entender ou não o ornitorrinco d...

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POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO”
(Editora Cousa – 2018)

EU ME APRESENTO

Há que se entender ou não o ornitorrinco do pau oco?

Eu, por exemplo, vivo em busca de algum autoentendimento. Só recentemente, relendo uma definição do Breviário da decomposição de Emil Cioran, é que me descobri um pessimista entusiasmado.

POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO” (Editora Cousa – 2018)     BESTAS, BEATS E BEATOS Na me...

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POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO”
(Editora Cousa – 2018)

 
 
BESTAS, BEATS E BEATOS
Na medida em que o olhar poético flui do verde para o concreto, muito se perde. Cabe devastar a poesia, arrancar a relva, desgastar a terra, impregnar de concreto a carne e esparramar ao sol a pele tatuada dos homens? O non sense, em dizer: Maldito deus.

Vida e Poesia “Sem poesia não há salvação”, escreveu Mario Quintana. Sem dúvida, uma das pessoas que têm plena consciência desta ...

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Vida e Poesia

“Sem poesia não há salvação”, escreveu Mario Quintana. Sem dúvida, uma das pessoas que têm plena consciência desta sabedoria é Jorge Elias Neto, que vem há muito se dedicando à poesia. Neste O ornitorrinco do pau oco, traz-nos ele uma coletânea de seus primeiros quatro livros publicados e poemas inéditos. Segundo Carlos Nejar, o poema de Jorge Elias Neto é “feito de chispas”, o que é uma observação perfeitamente correta. Mas também de sua composição fazem parte – como Nejar também nota – o sonho, assim como o lirismo e, claro, a condição humana de um modo geral.

  Os pés dentro da ilha Falar da superfície, o que envolve, encharca e afoga, o que gruda nos pés – mangue e areia –, o cinz...

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Os pés dentro da ilha
Falar da superfície, o que envolve, encharca e afoga, o que gruda nos pés – mangue e areia –, o cinza absoluto, o verde disperso nas frestas e espelhos,

    Cansaço Amor: quantas palavras necessárias para que um gesto se torne inscrito no tempo? Hilton Valeriano Não me pre...

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Cansaço
Amor: quantas palavras necessárias para que um gesto se torne inscrito no tempo? Hilton Valeriano Não me presta, não me cabe o alforje de palavras, a pretensão de um discurso; supor que a obviedade de um soluço ocupe mais que um segundo de um tempo que se desfaz e não cabe nesse cabedal polvilhado de tolices;

    Um resto de sol no desalento Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, r...

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Um resto de sol no desalento
Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, rir do descomunal segredo da vida ... Mas não nessa noite gelada

No fue un sueño, lo vi: la nieve ardía. Ángel González Compondo o sítio arqueológico A vastidão é uma pedra ...

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No fue un sueño, lo vi: la nieve ardía. Ángel González



Compondo o sítio arqueológico
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A vastidão é uma pedra redonda e fria. Grande esfera onde deslizam e desabam as criaturas. O horizonte ‒ gelo intransponível. Daí esse tatear – essa procura. A obscura arqueologia de esconder-se.

  Por que o boxe? Porque é o homem. Prefácio Há que se entender o to be para exprimir em versos o que se cultua com punhos.

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Por que o boxe? Porque é o homem. Prefácio
Há que se entender o to be para exprimir em versos o que se cultua com punhos.

  70 metros* Na perspectiva da ponte O pássaro solitário não volta. Bom sentar aqui... Gera um desvio do olhar, um tor...

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70 metros*
Na perspectiva da ponte O pássaro solitário não volta. Bom sentar aqui... Gera um desvio do olhar, um torcicolo súbito diante da emanação do absurdo. Ver do alto a evolução das águas: sem o murmúrio do bocejo das ondas, sem o grito ruidoso do rasgar do mar. Imagino os que trafegam às minhas costas ... Nas gaiolas de metal, guardam as intenções dos gestos.

  Uma carteira e seus sentidos às crianças de Realengo Observe essa carteira vazia – ociosa – desocupada. Entr...

 
Uma carteira e seus sentidos
às crianças de Realengo Observe essa carteira vazia – ociosa – desocupada. Entre na dimensão do absurdo – no que se contorce – e resvala, e desperta, e nos cala. Observe essa carteira vazia –ruidosa– maculada. Ventre da omissão confusa – que nos paralisa – e enoja, e perpassa , e retalha. Observe essa carteira vazia – poderosa – enfeitada. Lembre-se da profusão do sangue – que se dispersa – e tinge, e respinga, e nos entala. Observe essa carteira vazia – fervorosa – devotada. Sinta a celebração da loucura – que consente – e trucida, e cega, e nos abala. Observe essa carteira vazia – tenebrosa – malfadada. Sinta a emanação do ódio – que se alastra – e devora, e abraça, e nos trespassa. Observe essa carteira vazia – silenciosa – abandonada. Crente na devassidão do mundo – que surpreende – e ignora, e reproduz, e nos arrasa. Observe essa carteira vazia – deliciosa – delicada. Prenhe de ilusão confusa – que consente – e insinua, e seduz, e nos agarra. Observe essa carteira vazia – espaçosa – desejada. Ciente na criação do sonho – que compreende – e ama, e perdoa, e nos concede a graça.


 
O poema acima de mim
Se disser tudo, me restará a última mentira. Mas, rente ao chão, toda mentira resvala na inutilidade.


  Os ossos da baleia A arte permite um legado sem tragédia I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse ra...

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Os ossos da baleia
A arte permite um legado sem tragédia
I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas.

Rascunhos do Absurdo encontrava-se pronto, a boneca do livro entregue a Miguel Marvilla para a preparação da edição. Minha expectat...

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Rascunhos do Absurdo encontrava-se pronto, a boneca do livro entregue a Miguel Marvilla para a preparação da edição. Minha expectativa era grande, todos em nosso meio sabem do soberbo editor de livros que Miguel sempre foi.

    Pólos Para Gabriel Meu pai vestia uma pele de sonhos amarrotados. Tardava horas campeando pequenos nadas. Grande ...

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Pólos
Para Gabriel Meu pai vestia uma pele de sonhos amarrotados. Tardava horas campeando pequenos nadas. Grande colecionador de figurinhas, trazia colada nos olhos sua fortuna de desejos.


    Dimensões As palavras estão sempre lá, com seus olhos atentos a me observarem do silêncio.

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Dimensões
As palavras estão sempre lá, com seus olhos atentos a me observarem do silêncio.


      Verdes Versos I O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara. Vegetariano...

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Verdes Versos I
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.


Vegetariano
O esquecimento jamais devolve seus reféns. FABRÍCIO CARPINEJAR

      A poesia começa assim Emprenhar-se de miudezas; deixando as mãos rendidas aos gestos costumeiros. E, quando a luz...

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A poesia começa assim
Emprenhar-se de miudezas; deixando as mãos rendidas aos gestos costumeiros. E, quando a luz se aperceber, desmembrada pelo estalo da palavra, jogar-se nos trilhos para salvar a flor.

      Marco Zero Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e do...

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Marco Zero
Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e dos desencantados. Recolhamos a vela — sudário santo — que há de ser lenço e manto aos que choram e perecem sobre as rochas.

      SONETO EM CRISE O perdido traz a marca na testa, esboço do nome, falso retrato, um corno - caligrafia da besta -, revol...

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SONETO EM CRISE
O perdido traz a marca na testa, esboço do nome, falso retrato, um corno - caligrafia da besta -, revolta e um perfil de semblante amargo. A fala que se esforça em verso, ofensa, um desmentir inútil do absurdo que transpassa o ser fútil e enlaça a criatura com seu silvo agudo,