Quando o poeta voltou seu olhar para a mãe que se encontrava distante, ele iniciou a composição da canção que nunca concluiu. Recorda...

Uma canção para mãe

mae amor materno lembrancas
Quando o poeta voltou seu olhar para a mãe que se encontrava distante, ele iniciou a composição da canção que nunca concluiu. Recordando as canções de ninar que escutava quando menino, no aconchego do colo, silenciosamente tentou compor o poema que se perdeu na imensidão das metáforas e do sonho. Mas não desistiu, persistiu na composição poética que dedicaria para ela, mas jamais terminou o trabalho porque nunca se conclui a canção a ser dedicada às mães.

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Angélica Nunes, mãe do autor Acervo do autor
Como na louvação do poeta de Itabira para as mães, eu também tento compor um poema para todas as mães que seja um hino de louvor para a minha mãe, para a mãe de meus filhos e a avô de meus netos, que chegue à minha filha e noras. Enfim, em que as mães se encontrem. Construo apenas um verso dolorido que arranca de mim as lágrimas retidas desde quando mamãe fez sua passagem à eternidade.

Para viver junto da minha mãe que já fez a longa viagem, recorro às imagens que dela guardei. Imagens que trazem a brisa suave das manhãs carregando consigo o alvorecer com luminosos raios que estão afluindo no entardecer dos meus dias.

O menino de Serraria guardou tudo na memória. Todas as vezes que eu quero escrever uma poesia que tenha paisagens humanas ou da natureza, reencontro as vozes que se espalhavam por entre os arvoredos nas manhãs de Tapuio, com o cheiro do café quente no bule, servido com cuscuz de milho moído cedinho, misturado com leite ou com a raspa de coco.

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Paul Hermann Wagner
Eu quero preparar um poema para as mães que contam histórias ao seu filho antes de dormir, repetem canções de ninar com ele ao colo, ensinam a rezar, louvar e agradecer a Deus pelo dom da vida. Mas continua branco o papel porque o verso não consigo transpor além da imaginação.

As lembranças do abraço e das mãos leves penteando meus cabelos, fazendo cafuné ou catando piolhos, limpando as unhas, ensinando as primeiras letras ou dando palmadas no meu traseiro, levam-me até a doce imagem de mamãe, retardando a concepção do poema, retido pela emoção. Talvez porque o “Deus te abençoe” antes de dormir e a voz suave dando boa noite, apesar de tão distante no tempo, me façam engasgar o verso que teimosamente afasta-se do papel.

Fico com os versos de Drummond, que arrebentam conosco. “Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho”. A mãe nunca morre porque sua graça é eterna.

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Carlos Drummond de Andrade Marcel Gautherot / Acervo IMS
O sim de minha mãe permitiu que eu fosse gerado, iniciando uma mística constelação familiar; amamentando-me e educando-me com carinhos e afagos, deu-me oportunidade para que eu contemplasse a beleza do universo. Foi por meio dela que posso me banhar no rio, admirar as paisagens de minha terra, contemplar o mar azul e tantas coisas que me fazem mais próximo das pessoas.

Foi seu leite o primeiro alimento, seu rosto que meus olhos primeiro contemplaram, suas mãos me seguraram nos primeiros passos e seus conselhos moldaram os degraus por onde tenho caminhado. Mamãe trouxe até a mim as luzes de todos os solares, ensinou a ter humilde e mansidão, e que lentamente, como convém, erguesse o edifício da constelação familiar.

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