Culpa de Flash Gordon, o herói dos quadrinhos criado em 1934, sem que eu sequer existisse, pelo escritor Don Moore e pelo ilustrador Alex Raymond para as edições impressas abastecidas pelo King Features Syndicate, o studio americano. A ideia era suplantar a popularidade das tiras de Buck Rogers. E a suplantaram.
Em princípios de 1960, Flash Gordon, a namorada Dale Arden e o Dr. Zans Zarkov conduziam-me ao adverso planeta Mongo e, assim, àquelas incríveis aventuras intergaláticas. Foi, então, por culpa de Gordon e de seus amigos que eu já quis
MundoHQ
ser astronauta. Desisti dessa bobagem quando o velho Einstein me garantiu, e à torcida do Flamengo, que tudo é relativo: o espaço, o tempo, a matéria e a energia, desde que, em qualquer lugar, corramos à velocidade da luz, algo próximo dos 300 mil quilômetros por segundo.
Foi quando também desejei viajar no tempo. O diabo é que eu pretendia alguns mergulhos no passado, coisa mais difícil do que embarcar para o futuro, ao que asseguram os físicos teóricos. Na minha santa ignorância, eu pressupunha que isso fosse mais fácil. Vejamos: uma viagem de 100 quilômetros a 100 por hora dura, evidentemente, 60 minutos. Dobremos a aceleração e o tempo se reduzirá à metade. Sempre assim: quando a velocidade aumenta, a duração do percurso decresce. Haveria, então, por tal lógica, o momento em que em que não se gastaria nada para ir-se de um ponto a outro. A partir daí, pensava o menino que eu fui, bastariam acelerações mais profundas para a chegada a cada destino ontem, anteontem, 15 dias atrás, 15 anos e por aí vai...
MundoHQ
É que eu mal sabia de Einstein. Acreditava menos nele e mais nas histórias em que se via envolvido. Uma delas: Nosso físico parou, na hora do almoço, no meio do caminho entre o laboratório e sua casa, para conversa ligeira com um amigo, ao cabo da qual perguntou sobre o lado da rua em que transitava quando ambos se toparam. Ao ouvir “do lado esquerdo”, deu por si: “Ah, então já almocei”. E voltou para o trabalho.
GD'Art
Eu compreendo, hoje em dia, com os dois pés no chão, os que suspeitam da sanidade de um sujeito crente na possibilidade da viagem no tempo, por mais títulos acadêmicos de que disponha, das muitas especializações, ou dos decênios de cátedra em universidades famosas. Entre estes, há os que dão pela impossibilidade, apenas, da viagem ao passado, mas não ao futuro. Isso, em razão de coisas como o “paradoxo do avô”. Sabem não? Então, imaginem um camarada disposto ao regresso no tempo, a fim de matar o pai do seu pai antes de este último haver sido gerado. Como poderia fazer isso, se sequer existiria?
Atualmente, ando com raiva dos físicos teóricos, pois me põem minhocas na cabeça. Melhor dizendo, põem “buracos de minhoca” no espaço, atalhos para viagens cósmicas num átimo. É conceito que substancia a Teoria da Relatividade Geral, de Einstein. De novo, ele.
GD'Art
Existentes nos cálculos desses gênios, nos seriados e filmes de ficção científica, tais atalhos seriam túneis no tecido espacial feito, em 95%, de matéria escura que nada nem ninguém pode esticar, ou dobrar, se não dispuser de uma impulsão com a energia e a densidade equivalentes às de uma estrela de nêutrons. Comigo, não, violão. Pronto, acabo de pousar nos confins de 1950, quando isso era expressão popular de uso largo. A juventude americana, àquela época, assim se despedia: “See you later, aligator”. Revejam “American Graffiti”.
Fonte:Imdb
Então, assunto morto? Claro que não, pois, agorinha mesmo, lá vem Michio Kaku para garantir que a viagem no tempo deixou de ser uma exclusividade da ficção científica para ser, verdadeiramente, uma questão de engenharia. Está doido esse cidadão? Sei lá... Só sei que não serei eu a discutir com ele.
O camarada é uma fera. As enciclopédias o retratam como um dos físicos mais importantes em atividade no planeta. Já próximo dos 80 anos, costuma travar conversas compridas com jornais, revistas, blogs e tevês sobre universos paralelos, dilatações e dobras espaciais,
Michio Kaku, físico teórico norte-americano, professor da Universidade de Nova York. ▪ Fonte: YT
sobre a chance de toparmos com civilização alienígena (acha ridícula a ideia de que estejamos sozinhos num universo com uma infinidade de galáxias) e, notadamente, sobre “A Equação de Deus”, tema em que projeta sua busca pela “Teoria de Tudo”. Trata-se, neste caso, de fórmula destinada a unificar os ramos diversos da física. Com muito mais passado do que futuro, Kaku espera que algum jovem estudioso do assunto termine o que Einstein começou e ele e outros dão continuidade.
Observemos que o quase octogenário Kaku tem um quê de pop, a exemplo de Stephen Hawking e Carl Sagan, dos quais também detém a capacidade de traduzir para o público conceitos complexos. Acho que isso me levará à compra do livro que lançou, há dois anos, no Brasil, com o selo da Editora Record.
Repito. Tal como Einstein, ele entende que o tempo é algo que pode ser influenciado pela gravidade e pela velocidade. Sua manipulação dependeria apenas de tecnologia e recursos ainda não disponíveis. Não há disso, é claro, para vender no armazém da esquina. Mas a engenharia já estaria pronta. Estaríamos, assim, como engenheiros com o projeto de edifício para cuja construção somente nos falta o material necessário. Será mesmo?
GD'Art
Seja como for, eu não desejo ver o futuro e, nele, meu neto velhinho. Eu o quero com seus doze anos e quero a mulher e os filhos do jeito como estão. Mas voltaria, de bom grado e por breves momentos, ao aconchego de pai e mãe, às brincadeiras com os irmãos pequenos e ao quintal com as frutas e os pássaros que um dia tive. Pode isso, Seu Kaku?