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Sou dos que resistem a aceitar como igreja a edificação da Universal que faz vizinhança ao prédio onde moro. Fala-se da imensa for...

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Sou dos que resistem a aceitar como igreja a edificação da Universal que faz vizinhança ao prédio onde moro. Fala-se da imensa fortuna do seu dono e fundador, da sua mitra inventada, e sem ser um religioso praticante, sem brigar por religião, olho com indiferença, o enorme edifício que vem servindo de templo e de referência ao meu endereço. Nossa antiga empregada, mãe de dois filhos, estava entre os seus adeptos. Morava num fundo de quintal alheio, esfalfava-se em “extras” para mantê-los regularmente na escola pública, mas não relaxava o “dízimo” que, analfabeta, ela dava graças a Deus satisfazer e pronunciá-lo com todas as letras e acentos.

Por que um autor é consagrado e outro mestre do mesmo ofício é esquecido?” Quem fez a pergunta há muito tempo, com acento forte em “me...

literatura paraibana jose vieira ivan bichara
Por que um autor é consagrado e outro mestre do mesmo ofício é esquecido?” Quem fez a pergunta há muito tempo, com acento forte em “mestre do mesmo ofício”, foi um leitor-escritor de profunda vivência cultural, o saudoso Ivan Bichara Sobreira, intrigado com o desconhecimento do público e a negligência da posteridade letrada em relação às obras do paraibano José Vieira, tornado romancista brasileiro a partir de 1923 com o romance “O Livro de Thilda”.

Estava escrevendo para hoje motivado pela criação da Secretaria do Meio Ambiente, quase no mesmo dia em que a TV Cabo Branco serviu, no ...

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Estava escrevendo para hoje motivado pela criação da Secretaria do Meio Ambiente, quase no mesmo dia em que a TV Cabo Branco serviu, no café, a ruína, desde muito exposta, do lugar descrito como nosso Ponto Zero, o Porto do Capim. Porto que serviu à fundação, ao estabelecimento da cidade com o desembarque e embarque de seus possuídos até 1932, quando Gratuliano Brito inaugurou o de Cabedelo.

A nossa Academia de Letras, como não podia ser diferente, dispõe de uma boa biblioteca de peso literário. E reflete a cultura dos se...

tarcisio burity paraiba
A nossa Academia de Letras, como não podia ser diferente, dispõe de uma boa biblioteca de peso literário. E reflete a cultura dos seus fundadores e primeiros ocupantes, pródiga de clássicos portugueses e das celebridades de todos os tempos que os editores brasileiros do século passado puderam traduzir.

Em “Mar do olhar” vem esta dedicatória de Juca Pontes ao amigo-irmão Milton Nóbrega: “Para Milton Nóbrega, amigo-irmão, com quem apren...

Em “Mar do olhar” vem esta dedicatória de Juca Pontes ao amigo-irmão Milton Nóbrega: “Para Milton Nóbrega, amigo-irmão, com quem aprendi a enxergar o mundo com as cores do infinito.”

Com meu tanto no ramo gráfico, acompanhei essa harmoniosa parceria. Com inveja, às vezes, não da harmonia, como desse infinito que eles juntos enxergavam. O que não chegava a um chegava ao outro. E se completavam, contrariando aquela ansiedade sem fim feliz do negro Cruz e Souza:

Na semana passada, um desses cachorros que conduzem seus donos pelas praças e calçadas, parando a cada poste e sendo atendidos em to...

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Na semana passada, um desses cachorros que conduzem seus donos pelas praças e calçadas, parando a cada poste e sendo atendidos em todas as suas necessidades, por pouco não me pegou na batata da perna.

Não sei se é meu sangue ou meu suor, mas nunca nos demos bem. Tarde da noite, quando tinha de arrastar a pé pela Almirante Barroso até alcançar a Torre, onde morava, ia pelo meio da rua temendo a bocanhada dos pastores alemães que guardavam os ricaços daquele tempo. No Censo de 1950 sofri com os “os amigos do homem” na zona rural. No seu ciclo evolutivo urbanizaram-se e se dividiram em classe: há os que no passeio fazem cocô na mão da madama, que já dispõe de papel de pet para isso, e há o vira-lata largado como os sapiens na classe dos coletores e caçadores primitivos. Escreveram que o cachorro foi o primeiro animal a ser domesticado pelo homem. De modo que é inútil estranhar essa sua ascensão aos cuidados burgueses, superior, a certas sensibilidades, ao amparo à criança pobre.

Em 1968, a lista castrense de punidos da UFPB deu-me a conhecer de nome o jovem professor José Jackson Carneiro de Carvalho, da Faculd...

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Em 1968, a lista castrense de punidos da UFPB deu-me a conhecer de nome o jovem professor José Jackson Carneiro de Carvalho, da Faculdade de Filosofia e Letras. Quatro anos antes, o capitão com quem a ditadura substituiu o civilista Mário Moacyr Porto já havia me penalizado atando-me a um clipe e devolvendo-me ao quadro de redatores do Estado.

O relojoeiro me fez viver um contentamento de menino, uma alegria de camisa nova, ao devolver-me recuperado um Mido de corda que dois a...

O relojoeiro me fez viver um contentamento de menino, uma alegria de camisa nova, ao devolver-me recuperado um Mido de corda que dois amigos inesquecíveis me deram de presente.

Nesse tempo, o do presente, o Banco Indústria e Comércio, dos herdeiros de Flávio Ribeiro Coutinho, tinha uma agência na Duque de Caxias, ao lado da velha A UNIÃO, hoje Assembleia. Era a agência de Edmundo, tio do poeta e escritor Geraldo Carvalho, pessoa tão comunicativa que fazia desaparecer o nome do banco; para toda a cidade o banco era dele, de Edmundo.

Cultivo um ponto de vista estranho e mesmo confuso ante o significado humano do progresso. Talvez seja o dicionário Aurélio o que ma...

Cultivo um ponto de vista estranho e mesmo confuso ante o significado humano do progresso. Talvez seja o dicionário Aurélio o que mais concorra para a babel que o assunto assanha em minha cabeça. Diz lá como primeiros significados: “Progresso - Movimento ou marcha para a frente; desenvolvimento; aumento; adiantamento em sentido favorável”. Sem acrescentar o harmonioso. Deve ter sido este o sentido perseguido na divisa positivista da bandeira.

O dorso magrinho e sumido de um livro entre dezenas da estante a um canto da recepção de um consultório me desconcentra do que possa re...

O dorso magrinho e sumido de um livro entre dezenas da estante a um canto da recepção de um consultório me desconcentra do que possa resultar, daí a pouco, da consulta. Começo a distinguir, de alguma distância e já meio desbotado, um episódio bem particular do meu trajeto.

Indicam-me a farmácia de manipulação “que fica defronte do jornal O Norte”. Como gostei, como me senti agradado! Reparei na menina, n...

Indicam-me a farmácia de manipulação “que fica defronte do jornal O Norte”. Como gostei, como me senti agradado!

Reparei na menina, não a vi com idade para fazer de um jornal fechado há quatorze anos um ponto de referência. Menina, recepcionista, se muito nos seus 20 aninhos.

E lá me vou, a memória se encarregando de povoar as casas hoje fechadas ou transtornadas da velha Pedro II.

Não devo ter sentido diferente de minha cronista predileta ao ver a Turquia desabar inteira, não sobre seus irmãos vizinhos, por ambiçã...

Não devo ter sentido diferente de minha cronista predileta ao ver a Turquia desabar inteira, não sobre seus irmãos vizinhos, por ambição eslava de riqueza e poder, mas sobre suas próprias carnes e suas próprias almas, como se o céu e a terra se conjugassem contra sua milenar existência.

Faz tempo! Tarcísio Patrício de Araújo conseguiu salvar das coisas perdidas uma meia dúzia de contos de Robério Toscano, um afici...

literatura pernambucana contos
Faz tempo!

Tarcísio Patrício de Araújo conseguiu salvar das coisas perdidas uma meia dúzia de contos de Robério Toscano, um aficionado do gênero que não frequentava as rodas convencionais dos nossos literatos. Tarcísio é um paraibano de formação técnica, que integrou, salvo engano, a equipe do governo Jarbas Vasconcelos e que não perdeu os vínculos com a Paraíba, menos ainda com a cultura da terra. Nosso Cartaxo, paraibano de Cajazeiras há décadas morando em Recife, poderá conhecê-lo.

A crônica, a que é fruto da subjetividade, infunde bem mais vivência (e certamente por isto) do que a sua versão historiográfica. Co...

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A crônica, a que é fruto da subjetividade, infunde bem mais vivência (e certamente por isto) do que a sua versão historiográfica. Coriolano de Medeiros, corógrafo que escrevia tão seguro quanto o mestre B. Rohan, identifica-nos com a alma da terra, com o nosso jeito um tanto desligado de ser, mais pela crônica do “Tambiá”, do “Sampaio” e dos ensaios mais breves deixados pelos jornais e revistas do Instituto Histórico e da Academia do que mesmo pelos seus elaborados estudos e pesquisas.

Estão me deixando para o fim sem levar em conta a vertigem dos dias na minha idade. Registra-se que o Censo na Paraíba alcança os 90 ...

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Estão me deixando para o fim sem levar em conta a vertigem dos dias na minha idade. Registra-se que o Censo na Paraíba alcança os 90 por cento. O bairro dos Expedicionários ou a rua onde moro ainda não foi visitado. E desejo constar com a minha própria voz, a mesma do agente recenseador no Censo de 1950.

Foi meu primeiro emprego às custas federais. A 40 centavos a casa, mansão ou casebre, e 20 centavos por pessoa. Peguei a parte mais enladeirada, a que bate de testa com as serras de

Para Hildeberto Barbosa Filho De palavra em palavra sai brotando o poema. No negro maior que foi Cruz e Souza basta, absoluta, a pala...

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Para Hildeberto Barbosa Filho

De palavra em palavra sai brotando o poema. No negro maior que foi Cruz e Souza basta, absoluta, a palavra, a bólide. Em Casimiro de Abreu ela desanuvia em “Meus oito anos”, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais. Em nosso Augusto é música, número, estalactite, filosofia, verme, energia, o eu e o cosmo. Nenúfares? Não, longe de Augusto os nenúfares.

Várias vezes deixávamos juntos o escritório de Assis Camelo, na Associação dos Procuradores, motivados a recompor uns anais políticos...

waldir santos lima politica paraibana
Várias vezes deixávamos juntos o escritório de Assis Camelo, na Associação dos Procuradores, motivados a recompor uns anais políticos a partir dos anos de Pedro Gondim, sequenciados pelo contingenciamento do regime militar, de quando Waldir foi testemunha de vista e de convivência política.

Não tem sido fácil escrever fora do meu tempo. Não só escrever, viver mesmo. Não é de hoje esta minha dificuldade. Começa com o comport...

jornal tecnologia paraiba
Não tem sido fácil escrever fora do meu tempo. Não só escrever, viver mesmo. Não é de hoje esta minha dificuldade. Começa com o comportamento externo ao meu, a desatualização no dia-a-dia, e se agrava com a linguagem, que é outra, de outro mundo, outra cultura, tanto para ler, ouvir, andar e mesmo ver. Quem é aquele? Que significa “streaming”? Vocês entregam em domicílio? A moça não sabe que entrega é essa.

Já adolescente, pude ver, sim, toda a cidade de Alagoa Nova numa lapinha geral, felizes todos, nem tanto pelos três Reis Magos, como p...

alagoa nova historia sisal agave
Já adolescente, pude ver, sim, toda a cidade de Alagoa Nova numa lapinha geral, felizes todos, nem tanto pelos três Reis Magos, como pela adoração de todas as gentes, pobres e ricas, novas e velhas, todas como uma só criança. A cidadezinha inteira um presépio de peregrinos a darem trégua ao trabalho de fardos, fusos, pinhões e desfibradeiras para festejar o nascimento de Jesus. E, por que não dizer, o deles.

Fazia-se questão de saber com quem se falava. Quem eram os outros, quem éramos. Chegado à Capital, ao estrear na praça que às oito d...

paraiba joao pessoa antiga
Fazia-se questão de saber com quem se falava. Quem eram os outros, quem éramos.

Chegado à Capital, ao estrear na praça que às oito da manhã já se via repleta em suas mais diversas rodas de conversas, minha ânsia era entrar na roda. Conhecer e dar-me a conhecer com a mesma ingente necessidade de quem buscava o abrigo.

Já haviam me deixado armar a rede num quarto da Casa do Estudante. De forma precária, enquanto o sócio ocupante terminava as férias em Taperoá.