Não tem sido fácil escrever fora do meu tempo. Não só escrever, viver mesmo. Não é de hoje esta minha dificuldade. Começa com o comport...

Teimosia

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Não tem sido fácil escrever fora do meu tempo. Não só escrever, viver mesmo. Não é de hoje esta minha dificuldade. Começa com o comportamento externo ao meu, a desatualização no dia-a-dia, e se agrava com a linguagem, que é outra, de outro mundo, outra cultura, tanto para ler, ouvir, andar e mesmo ver. Quem é aquele? Que significa “streaming”? Vocês entregam em domicílio? A moça não sabe que entrega é essa.

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A princípio tentei me valer do dicionário ou mesmo dum pequeno glossário de informática. Chegaram a editar alguns poucos que logo passaram a on-line. Como não navego nessas águas, só não saí da vida e da história comum porque a natureza ainda se mantém segura e coerente nas suas estações e propriedades: a festa de dezembro continua sendo mais das suas flores e dos seus frutos do que da mente e do coração do gênero humano.

Isto vem garantindo minha sobrevivência. A rapadura que eu trincava nos dentes ao pé do pote de Alagoa Nova continua ao pé do filtro de hoje, só que raspada de mistura com o queijo de coalho que imita o que nos chegava de Boa Vista pelos tropeiros de Pocinhos. Vivo ou sobrevivo dessas coisas, que são as que entraram no meu sangue e, no geral, na minha natureza.

Mas o público do jornal de hoje, mesmo o limitadíssimo do impresso, é mais universal, é outro. Entende e conversa noutra linguagem, na pegada digital com José Maria Mendes e tantos outros confrades e confreiras que vêm emprestando juventude e modernidade ao jornal que me escaldou na linotipo, hoje um ferro velho que não só me lembra como ainda me causa emoções.

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Pensei em parar, manter-me leitor diário, entrar na procissão apenas como devoto de um jornal, de um ofício hoje ainda celebrado com o mesmo fervor dos que o fizeram chegar até aqui, Naná Garcez entre eles.

“Não, não largue a crônica, fique aos domingos.” – interveio Naná, a menina de riso espontâneo que ingressou no jornal por aclamação da redação ao tempo em que o resignante de hoje se mexia entre os diretores. Quis mostrar que uma coisa pouco tem a ver com a antiga e pôs a culpa em Rubens Nóbrega: “Rubens me telefonou, é dele a sugestão”.

A teimosia fica, então, para o domingo.

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  1. Thalia Seixas11/1/23 11:08

    O importante é ter o Gonzaga Rodrigues sempre escrevendo belas crônicas, nos proporcionando lindos momentos e inigualáveis lembranças!! Essa sua "teimosia" faz um bem enorme pra todos nós!!

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