C omeço engatilhando a seguinte pergunta: Se, num cercado, houvesse um rebanho de cem ovelhas, e uma delas conseguisse pular o cercado, quan...

Começo engatilhando a seguinte pergunta: Se, num cercado, houvesse um rebanho de cem ovelhas, e uma delas conseguisse pular o cercado, quantas ovelhas ficariam? Certamente responderá o leitor, muito entendido em aritmética: "Ora, cronista, restariam noventa e nove". Errado. Você pode saber de aritmética, mas nada entende de ovelhas, decerto nunca foi pastor. Pois fique sabendo que quando uma ovelha pula um cercado todas as outras a acompanham... Ovelha é um bicho muito bobo, vai na onda dos outros.

Ora, ora, mas acontece que há muita gente por aí exatamente com esse espírito de ovelha. Não tem vontade própria. Está sempre seguindo a maioria. São chamados popularmente de “Maria vai com as outras”. São totalmente influenciáveis e acreditam em tudo o que os outros dizem. Possuem cabeça, mas não a usam. Sua vontade é a vontade do pastor.

A propósito, narra o Evangelho que, certa vez, Jesus estava olhando a multidão indo pra lá e pra cá, e teve pena dela, pois lembrava ovelhas sem pastor. Acontece que o pastor aí não é uma pessoa, mas a consciência. Muita gente pensa que pensa, mas não pensa. Vai na onda, não reflete, não examina, não sabe escolher. É, como disse, chamada “Maria vai com as outras”.

Paulo de Tarso ensinou que devemos examinar tudo e escolher o que for bom. Veja bem: examinar tudo. Todavia, o espírito de ovelha não sabe escolher por conta própria. Deixa que o líder religioso escolha por ele. Ah, meu leitor amigo, haverá maior subserviência do que isto? Lembrar que quem não escolhe por si não tem responsabilidade na escolha feita.

Estamos constantemente abdicando do ato de escolher. Que vergonha! Não seja ovelha. Tenha vontade própria. Não abdique desse privilégio que é dado ao homem. Não se deixe levar pela maioria, não seja um ser passivo diante da televisão. Aceitando tudo que dela sai. Seja um ser pensante. Use com sabedoria o seu poder de escolha, seu livre arbítrio...

Que a criança ou o idiota sejam manobrados, está muito bem. Mas você, não. Examine tudo e escolha o que for bom. Use esta coisa maravilhosa que se chama discernimento. Ora, discernir é escolher bem, e escolhe bem quem usa de sabedoria. E a sabedoria vem do conhecimento, da experiência. Daí a importância do estudo. Não tenha medo de pensar por você mesmo.

Continuo advertindo: Tem muita gente por aí com o espírito de ovelha. Veja se a raposa ou a serpente vão na onda. Até mesmo com relação à moda, é preciso ter certo bom senso. Eu jamais botaria uma calça desbotada e esfarrapada, ou um bermudão lá em baixo, somente por que é moda... E não venha me dizer que é uma questão de idade. Minha mãe, com seus 90 anos, nunca deixou de usar um vestido todo colorido. Valia a sua vontade. E com esse ânimo ela atravessou os 100 anos sorrindo. Dizia sempre: “a moda quem faz sou eu".

Nada, portanto, de viver sem reflexão. Nada de espírito de ovelha.

S im, o meu conterrâneo e amigo Wills Leal, ao que soube, e que não me surpreendeu, derramou lágrimas com saudade do nosso Virginius da Gama...

Sim, o meu conterrâneo e amigo Wills Leal, ao que soube, e que não me surpreendeu, derramou lágrimas com saudade do nosso Virginius da Gama e Melo, o nosso menestrel, o nosso príncipe das letras, um homem-anjo, que veio para este mundo por descuido.

Faço questão de juntar as lágrimas de Wills com as minhas. Lembremos que chorar nem sempre é sinal de fraqueza, mas de sensibilidade.

Também tive o priviégio de ser amigo de Virginius, cuja palavra sempre me extasiou e me encantou. Fui seu amigo e também vizinho. Ia muitas vezes bater papo com ele lá no sítio de Tambiá, onde não faltavam lindas mangas-rosa, que ele me oferecia sorrindo.

Virginius escrevia quase todos os dias, nos jornais. Uma prosa límpida, elegante, gostosa de ler. Dizem que o nosso menestrel, numa conferência escrita, proferida no Recife, achou de abandonar o papel que tinha nas mãos, e pôs-se a falar de improviso. E foi bastante aplaudido.

Ninguém escreveu melhor sobre a Revolução de Trinta do que ele, no seu romance “Tempo de Vingança”. Bom também na crônica, o nosso menestrel é nome para estar sempre lembrado seja de olhos enxutos ou não.

Personalidade admirável, seja na fala, seja na escrita. Um homem bonito, elegante, culto, incapaz de matar uma mosca. Logo cedo perdeu seus pais e passou a ser criado pelas tias. Em carta escrita a Gilberto Amando desabafou: “Não cheguei a conhecer mãe, perdia-a no primeiro ano de vida. Pai mesmo, pouco conheci”.

As lágrimas de Wlls eu as tomo para mim. Os bichos não choram. O choro é do homem. Jesus, que é Jesus, chorou.

Mas a vida é isto. Choro é saudade que se liquidifica. E é belo, belo ver lágrimas correndo num rosto. Gostei, meu amigo e conterrâneo Wills Leal. O choro é próprio do homem. Mais do que do homem, o choro é divino.

Mas agora estou imaginando Virginius sabendo de suas lágrimas... Vá ver que choraria também.

D esculpem-me o truísmo, mas é conversando que a gente se entende. E aqui para nós, fazer o mal é uma desgraça. Fazer o mal é criar o infern...

Desculpem-me o truísmo, mas é conversando que a gente se entende. E aqui para nós, fazer o mal é uma desgraça. Fazer o mal é criar o inferno dentro de nós. Não pense que o inferno é um lugar pegando fogo. O fogo do inferno é o do remorso, do arrependimento. O remorso leva muita gente ao suicídio. Eis aí uma dor que não se cura nem com anestesia.

Continuando, lembremos que só uma coisa diminui ou extingue o remorso: o arrependimento. Acompanhado do pedido de perdão.

E o que é arrependimento? Arrependimento é voltar atrás. É refletir, fazer um exame de consciência. É uma espécie de marcha a ré. Felizmente, sempre que faço uma retrospectiva na minha vida, sinto que ela está limpa de remorsos, de arrependimentos. Não existe maior céu, nem um travesseiro mais macio do que a paz de consciência.

Agora estou me lembrando de um homem que estava cheio de sofrimento. Ele tinha câncer nos ossos, em fase terminal. Tudo nele doía, da cabeça aos pés. Sua filha, muito consternada, certa vez, perguntou-lhe: “Papai, está doendo muito?”. E ele respondeu: “Minha filha, quase tudo dói em mim, da cabeça aos pés, menos uma coisa”. “Que coisa?” - ela indagou. Ele, sereno, disse: “A minha consciência”.

Não tenham dúvida que, se você está em paz consigo mesmo, você é um homem feliz.

E não esqueçam o título da crônica. Feliz é quem faz o bem. Que frase terapêutica! Se você faz o bem, duvido que haja melhor terapia. Se você perdoa, compreende o seu próximo, estará sempre com a consciência leve, terá o Reino dos Céus dentro de você, aquele estado de espírito a que o Mestre de Nazaré se referiu aos seus discípulos. Ele, sim, que soube ensinar a perdoar com o próprio exemplo.

Mas, há quem diga: “Eu perdoo mas não esqueço”. Não adianta. O perdão deve ser total, livre, Incondicional.

Mas, sublime mesmo, em matéria de fazer o bem, foi Jesus: Com o suor e o sangue derramando pela face, crucificado entre dois ladrões, ainda teve ânimo para dizer, olhando para o alto: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”...

O famoso estadista romano, Cícero, uma das mentes mais versáteis da Roma antiga, cujos discursos eletrizaram multidões, teve em Catilina um...

O famoso estadista romano, Cícero, uma das mentes mais versáteis da Roma antiga, cujos discursos eletrizaram multidões, teve em Catilina um terrível adversário, no senado romano, a quem expulsou da cidade, apenas com a palavra. Mas não desejo falar do político, e sim do sábio. Cícero escreveu um belo livro sobre a velhice. E é sobre ele que desejo expor algumas de suas observações e reflexões.

Ele começa o livro alinhando três razões que, para muitos, tornam a velhice detestável: afasta da vida ativa, enfraquece o corpo, priva-o dos melhores prazeres, e aproxima da morte. Com muita sabedoria e bom humor Cícero vai desfazendo tais argumentos. Para ele, é na velhice que o homem adquire sabedoria, clarividência e discernimento. Tanto é assim que as grandes assembléias eram confiadas aos idosos. E cita o exemplo de Esparta, "onde os magistrados mais importantes são velhos".

Quanto à memória – argumenta o autor – “ele nunca soube de um velho que esquecesse o dinheiro guardado..." E explica: "os velhos se lembram sempre daquilo que os interessa, sobretudo os seus devedores..."

A reflexão, um dos atos de inteligência que nos difere dos animais, na velhice é muito acentuada. Abaixo, portanto, a assertiva de que os idosos são esquecidos.

Cícero informa também – e nisso ele foi precoce –, que quem exercita a mente, no estudo e na leitura, jamais enfraquece a memória. E acrescentaremos: assim como exercitamos os músculos do corpo, por que não fazer o mesmo com o nosso intelecto?

E vão, aqui, algumas do velho estadista: "É preciso, na velhice, estar sempre ocupado, sempre botando a cabeça para funcionar". Velhice, como a lâmpada, precisa de óleo. Naquele tempo as lâmpadas necessitavam de combustível.

Mais adiante, Cícero faz esta reflexão: “a velhice é honrada, na medida em que resiste". Nada, portanto, de entrega. Quanto à morte, ela tanto chega para o idoso como para a criança e o jovem. E a estes, até com muito mais frequência.

Eis mais um conselho dado por aquele sábio a fim do idoso melhorar a memória: "toda a noite, antes de dormir, procure lembrar-se de tudo que fez durante o dia. É um ótimo exercício".

Cícero escreve que festas, embriaguez, exagero na comida e na bebida só fazem comprometer a saúde. Ah, as dolorosas ressacas dos jovens! Não é de invejá-las. E que tal esta conclusão do mestre romano?: “Por que temeria a morte se, depois dela, não sou mais infeliz, quem sabe até mais feliz? Aliás, quem pode estar mais seguro, mesmo jovem, de ainda estar vivo até o anoitecer? E quem duvida que os jovens correm mais o risco de morrer do que nós?”...

É isto, estejamos sempre atentos, senão, como diz o ditado popular, “Cochilou, o cachimbo cai”. E lembremos de que Jesus estava sempre nos ...

É isto, estejamos sempre atentos, senão, como diz o ditado popular, “Cochilou, o cachimbo cai”. E lembremos de que Jesus estava sempre nos advertindo quanto à necessidade da vigilância. A começar pela oração do Pai Nosso, em que ele adverte: “Não nos deixeis cair em tentação”.

Mas a tentação vem de dentro ou de fora? Segundo Tiago, o apóstolo, ela se origina de uma coisa chamada concupiscência, uma palavra que significa “desejo imoderado de satisfazer o apetite sensual”. Logo, é um impulso que vem de dentro. A sujeira é interior.

Mas são várias as tentações, a tentação do sexo, a tentação do poder, a tentação do dinheiro, a tentação da vaidade, do orgulho, a tentação de roubar, locupletar-se, que anda tão frequente nos meios políticos. E a tentação da maledicência, a mania de falar mal dos outros? Curioso é que ninguém fala mal de si, ninguém faz uma auto-reflexão, sobretudo, à noite, quando vai se deitar para dormir. Mas acusar, julgar, condenar os outros, é só o que se vê.

E a melhor receita para estar vigilante é com a oração. A prece é um grande remédio, excelente, gratuito e eficiente. Mais ainda: Mantém-nos em sintonia com as boas vibrações, os bons pensamentos.

Sejamos juízes de nós mesmos. Estejamos atentos à nossa concupiscência, à lama que há dentro de nós. Lembrando que para isso, há o remédio da oração que é o remédio da vigilância.

E estando vigilantes, também aprendemos a conviver. Afinal, viver é fácil. O difícil é conviver. Mas viver plenamente é transcender. E orando você transcende. Que beleza! E lembrar que Jesus orava muito.

Jesus, um dia, resolveu visitar Lázaro, numa certa manhã, onde se encontravam as filhas Marta e Maria. Para não perder tempo, lá chegando, o Mestre começou falar sobre coisas da vida eterna. Mas, Marta, irmã de Maria não prestou muita atenção, pois estava ocupada em cuidar da casa. Enquanto Maria, se embeveceu com aquelas palavras, e, absorta, ouvia Jesus, atentamente. Foi então quando o sublime visitante advertiu Marta, dizendo: ”Marta! Marta! Você se ocupa de muita coisa, no entanto, só uma é necessária. E esta Maria absorveu. Sim, naquele momento, Maria transcendera.

Ler e ouvir a história de grandes personalidades é uma excelente forma de praticar inglês. Confira abaixo algumas biografias, trasmitidas ...

Elvis Aaron Presley


Ler e ouvir a história de grandes personalidades é uma excelente forma de praticar inglês. Confira abaixo algumas biografias, trasmitidas em 'Special English' pela rádio Voice Of America, narradas com uma pronúncia simplificada e pausada, bem fácil de compreender.

P or que a lembrança destra tríade? A junção de um sentimento, de uma fruta e de uma doutrina? É por que tudo isso me faz lembrar meu pai, J...


Por que a lembrança destra tríade? A junção de um sentimento, de uma fruta e de uma doutrina? É por que tudo isso me faz lembrar meu pai, José Augusto Romero, que foi seminarista, plantador de café, lá nos Cariris Velhos, e, por fim, professor. Ele preparava os alunos que iam estudar na capital. Deu-se bem na nova profissão. Ensinava Português, Matemática, Física e Astronomia. Ele sempre teve os olhos para cima, maravilhado com a beleza muda e mística do Universo.

Adolescente, seu pai Agostinho tratou logo de cuidar de sua educação religiosa, internando-o no Seminário desta Capital, que ficava ao lado da Igreja de São Francisco, pois desejava muito ter um filho padre. Dava status. E o pai, num tom seco e imperioso, lhe disse: “Você vai ser padre. A família precisa de uma batina”. O menino, que vivia solto no sítio onde se cultivava o café, só fez dizer um simples e humilde: “Sim, papai”.

A vida rígida do Seminário foi uma mudança da água para o vinho, Exagerada disciplina, muito silêncio, muitos estudos, inclusive do Latim, que era uma espécie de idioma de batina. A saudade de casa era profunda e lhe trouxe muitas lágrimas nos olhos. Saudade do sítio, saudade da vida livre, saudade da família. E aconteceu que o menino foi, mas não gostou. Começou logo dizendo a um monsenhor que não acreditava em inferno, nem em satanás. Terminou deixando o Seminário, voltando a respirar o ar puro do campo.

E lá soube muito bem cultivar a terra para o plantio do café. Chegou até a dizer, certa vez, à esposa, que foram os galhos do cafezal que destruíram sua vasta cabeleira, o que fez minha mãe cair na risada. O velho tinhas suas vaidades. Tanto cultivava o espírito quanto o corpo físico. Vi-o, várias vezes, praticando uma ginástica sueca de um tal Muller.

Um certo dia, levaram-no para assistir a uma sessão espírita, lá em Alagoa Nova, quando se manifestou o espírito de uma prima querida, trazendo uma mensagem com detalhes que muito o impressionaram. Daí tornou-se espírita até os ossos, cuja crença foi reforçada com a leitura do livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis, lido com muito entusiasmo. E não ficou nisso. Tratou logo de fundar um Centro Espírita em Alagoa Nova, para desespero do padre daquela localidade.

Quando completei 4 anos, ele já era espírita. Casou-se com uma viúva bonita, de chamar a atenção, Pia de Luna Freire, na intimidade Piinha. Ficou encantado com a beleza da viúva, com quem teve oito filhos.

Então chegou a vez de se mudar para a Capital, onde comprou um sítio na Lagoa, hoje Parque Sólon de Lucena. Seus moradores o chamavam de Zé, e muito o respeitavam. Até o padre Zé Coutinho, o extraordinário missionário, que foi seu colega de seminário, quando se encontrava com ele, sabedor de sua nova crença, indagava sorrindo: “Zé, como vai teu Espiritismo?”

Espírita até os ossos, dedicou a sua vida à Federação. Sereno, responsável, boníssimo, o ex-plantador de café não quis mais outra coisa na vida. Uma vida marcada pela fé, café e Espiritismo.

E ste mês de Agosto nos trouxe uma grande novidade. Até os jornais andaram noticiando. Trata-se de uma saudável e agradável companhia, que n...

Este mês de Agosto nos trouxe uma grande novidade. Até os jornais andaram noticiando. Trata-se de uma saudável e agradável companhia, que nos ensina muita coisa: A presença do vento, deste curioso vento forte que vem desde o mês de Julho, e que é um fenômeno inimigo da rotina, do desânimo e da sujeira. Onde ele está, tudo se renova, tudo muda. E viva o vento que anda assanhando os cabelos das pessoas, mexendo com as folhas, varrendo o chão, fazendo as árvores dançarem, espalhando os perfumes das flores e do mar, expulsando tristezas e acariciando o nosso rosto.

Como é salutar a presença desse amigo que a gente não vê, mas sente. Lembremos que nem tudo que não se vê, inexiste. Pelo contrário, é no invisível que está a essência da vida. As aparências estão sempre enganando os nossos olhos, os nossos limitados sentidos, Outrora, dizia-se que não havia micróbios, somente por que não se viam, que o nosso planeta era imóvel e que só o Sol girava em torno dele. Que mentira! Mas a verdade, como sempre, termina se impondo.

Mas é do vento que eu desejo lhes falar, é a ele que eu quero saudar. Quantas lições nos ensina este inimigo da rotina, da mesmice, da ociosidade, do conservadorismo inócuo. Ele está sempre nos advertindo que é preciso mudar, que a vida não pode ficar parada, porque tudo que pára cria ferrugem, mofa e morre. Vida é renovação. E o vento está sempre renovando, mudando, limpando o céu, limpando as árvores, as ruas. É ele que anima a paisagem, que transporta a vida no pólen das flores. O vento é entusiasmo. E ai daquele que perdeu o entusiasmo de viver! Se você perdeu o entusiasmo, se perdeu interesse, se você não vibra mais, você está morto e não sabe. O desânimo, como disse um grande pensador espiritualista, é como a praga que destrói a plantação.

Liberdade, entusiasmo, alegria, renovação, eis as lições que o vento nos dá. Até o mar se agita com a sua presença. Até as nuvens ensaiam um balé na passarela azul do firmamento. Até os pássaros voaram mais leves.

Mas, será que todos estão dando conta de sua presença? Vivemos tão mergulhados nos nossos problemas, nas nossas mesquinhas e prosaicas ocupações e preocupações, que esquecemos ou ignoramos a grande lição das coisas que nos rodeiam. A lição muda da vida que sempre muda...

S e me perguntassem qual o episódio da história que eu gostaria de ter testemunhado, eu ficaria relutante. São tantos. Dois, porém, aguçaram...

Se me perguntassem qual o episódio da história que eu gostaria de ter testemunhado, eu ficaria relutante. São tantos. Dois, porém, aguçaram o meu desejo: o da cena bíblica no Monte Tabor, em que o Mestre se transfigurou e conversou com dois espíritos: Moisés e Elias, e o primeiro sermão com que ele inaugurou a caminhada da evangelização.

Depois daquela festa de casamento, em que transformou a água em vinho – realizando, assim, o seu primeiro milagre - Jesus proferiria o maravilhoso Sermão da Montanha.

Minha imaginação, portanto, leva-me àquele momento sublime, em que o Mestre sintetizou toda sua Doutrina. E eu tenho muita pena daquele que nunca leu essa peça oratória. Tão grande é o Sermão da Montanha que Gandhi, que não era cristão, disse: “Se toda a literatura ocidental se perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido”. Veja a grandeza daquele sermão proferido ao ar livre, no templo sem telhado da Natureza, sem ar condicionado, pois a brisa abrandava o calor, sem microfone, sem celulares tocando, sem cadeiras, sem conforto, porquanto o Mestre vivia em contato com o campo. O templo de pedra não atraía a sua atenção. Tanto é assim que nunca edificou uma igreja.

E fico a imaginar Jesus, com a voz suave, o semblante sereno, pregando a sua Doutrina Consoladora que teve como intróito as chamadas bem-aventuranças. E quem eram os bem-aventurados ou felizes, segundo ele? Os ricos, os poderosos, os religiosos hipócritas, os orgulhosos e vaidosos? Não, ele se referia aos humildes, aos pacificadores, aos puros de coração, aos mansos.

Sermão da Montanha!... Nele Jesus resumiu toda doutrina. Procure lê-lo. Mais do que lê-lo, procure praticá-lo na medida do possível. Cada frase é seguida de uma reflexão.

Eis, portanto, o episódio que eu gostaria de ter visto. Agora só através da imaginação que substitui a visão. E lembrar que fomos bater em Jerusalém, para ver de perto a montanha, que Jesus usou como tribuna, numa certa manhã de sol. Mas, que sol? O Sol era ele. O sol que os homens quiseram apagar, e que está cada vez mais vivo.

Sermão da Montanha! Não deixem de lê-lo, e relê-lo. Mesmo que você seja um materialista ferrenho, que pensa que a vida termina no túmulo...

E sta mulher não existiu? Existiu, sim, leitor descrente. Vou te contar, em ligeiras pinceladas, um pouco de sua maravilhosa vida. Ela nasce...

Esta mulher não existiu? Existiu, sim, leitor descrente. Vou te contar, em ligeiras pinceladas, um pouco de sua maravilhosa vida. Ela nasceu numa cidade pequena. Ela que adoraria viver numa grande metrópole. Sempre foi seu sonho. Casou-se duas vezes. Do primeiro marido, teve dois filhos. O primeiro morreu quando, ao abrir a porta, de madrugada, recebeu no peito uma pancada de vento. Dele só teve dois filhos. O primeiro era o poeta Eudes Barros. E ela descobriu que ele era poeta quando, no jardim, gritou para mãe: “Mamãe, olhe uma flor chorando”... O diagnóstico da mãe funcionou.

Ela fez coisas extraordinárias: Fez um de seus partos, sozinha. Quando a parteira chegou, bastou cortar o umbigo do menino. Candidatou-se a um concurso público federal de telegrafista e tirou primeiro lugar, isto numa época em que era censurada a mulher empregada fora de casa. O preconceito da época era mulher dentro de casa para tratar do marido e cuidar dos filhos. Ela fez concurso para os Correios e Telégrafos e se saiu muito bem. Nasceu na cidadezinha de Canafístula, que terminou se chamando Caldas Brandão, mudança que ela não gostou. Canafístula é o nome de uma planta.

Foi a primeira mulher a cortar o cabelo comprido, muito usado na época, e passou a usá-lo curto. Veio à Capital, gostou da novidade, e novidade era com ela, ei-la em plena moda. Todas as mulheres de Alagoa Nova depois a imitaram. Imitaram dona Piinha. Sim, este era o seu nome, Pia, nome que ela dizia ser “de rainha”.

Não demorou muito e dona Piinha veio morar em João Pessoa, onde se deu muito bem e onde teve a segunda filha, Iracema.
Como filho, não sei como agradecer a ela tudo que sou e tudo o que ela fez por mim. Fui seu caçula por muito tempo. Cem por cento mulher das letras, ela era uma exímia decifradora de charadas e palavras cruzadas. E o de que ela gostava mesmo era de contar histórias para eu ouvir. Seu repertório era rico.

Saiu deste mundo com mais de cem anos. Fumou muito quando era mocinha, mas largou o vício logo. Dizia que o fumo sujava os dedos e os pulmões. Regime: comia pouco e nunca dispensou o suco de cenoura com laranja e beterraba, toda manhã.

Admirável era o seu otimismo. Sempre com o sorriso nos lábios. Um dia, chegou a estirar a língua para o espelho, que não lhe mostrava uma boa aparência.

Otimista por natureza, sempre risonha, ela não gostava daqueles velhos relaxados, que não se cuidavam. Daí costumava dizer: “Velhice quer trato”.

E ela caprichava no rosto, no vestido, no cabelo, no seu saudável modo de ser. Tristeza demorava pouco em seu espírito.
Outra coisa: Dona Pia não conhecia o medo. Sempre confiante na vida, sempre ouvindo os grandes mestres da música, muitas vezes vi lágrimas molhando o seu rosto enrugado. Música, sobretudo a de Chopin e Beethoven.

Maria Pia foi tudo na minha vida. Mãe, amiga, professora, uma mulher de muita fé. Não tinha medo da vida, não tinha medo da morte. Só tinha medo, e muito medo, era de rato. Avistava um rato, e ei-la trepada numa cadeira.

Minha mãe não foi mãe. Foi um anjo. Um anjo caído do céu por descuido...