Após sentir fortes dores no ombro e recorrência de febre, fui a um ortopedista que, para obter um diagnóstico mais preciso, solicitou q...

Da Ressonância

ressonancia magnetica claustrofobia
Após sentir fortes dores no ombro e recorrência de febre, fui a um ortopedista que, para obter um diagnóstico mais preciso, solicitou que eu fizesse uma ressonância magnética1.

Eu já tinha feito uma dessas há alguns anos e deu tudo certo. O único imbróglio à época foi que o médico pediu imagens do ombro e da coluna e pensei que tudo seria feito de uma vez só. Porém, após alguns intermináveis minutos, ao sair do tubo, que mais parecia uma urna funerária cibernética, fui informada de que deveria voltar, pois precisava mudar a posição para o segundo exame. Isso foi marcante e desanimador. Mas tirei de letra.

Agora, bem mais velha e com o efeito fobia ativado, comecei a sentir medo de me submeter ao procedimento. Não dormi bem na noite anterior, mas procurei confiar na informação de que o processo era indolor e necessário. Também não optei por fazê-lo sob efeito de anestesia. “É apenas um exame”, pensava eu, na tentativa de me tranquilizar.

No dia do exame, logo cedo, recebi uma mensagem aleatória de uma amiga que, do nada, trazia a oração do Santo Anjo. Seria já um presságio sobre o que viria pela frente?!

Cheguei à clínica ao meio-dia, vinte minutos antes do horário marcado. Se tivesse sido atendida assim que cheguei, creio que não teria ficado tão nervosa. No entanto, esperei minha vez por cerca de mais sessenta minutos. O pior era ouvir, de onde eu estava, o barulho do monstrengo em funcionamento. Parecia uma máquina de lavar em centrifugação ou o som de um avião no modo Cruzeiro, quando o ruído diminuía.

A atendente me olhou de cima até embaixo para averiguar se eu tinha algum metal em alguma parte do corpo. Disse que eu poderia entrar daquele jeito, com roupa e tudo, apesar de eu ver que tinha uma bata à disposição. Por inspiração divina, ao cruzar as pernas, percebi que a calça que vestia tinha lá na barra uma pequena argola prateada com a marca do produto. Fiquei apavorada com a possibilidade de entrar no aparelho e algo me acontecer. Decidi que o melhor era usar o modelito, tamanho único, bem ao estilo mortalha. E essa deveria ser a conduta correta para todos a serem atendidos ali: ficar apenas com a roupa íntima de baixo e vestir o tal roupão.

Enquanto aguardava, fui ao banheiro umas seis vezes, intercalando, em cada volta, perguntas cujas respostas me chegavam frias e impessoais pela secretária que me recebeu em princípio. Demora muito? Alguém fica lá comigo? E se faltar energia?

Até que, por fim, chegou minha vez. A funcionária que colocava as pessoas no aparelho, curta e grossa, impassível ao que eu pudesse estar sentindo, mandou que eu subisse na caminha estreita e que me deitasse olhando para cima. Para minha surpresa, havia no teto uma imagem de um céu azul cheio de nuvens. Imaginei que era assim, decerto, que se viajava para o outro mundo. Quem terá tido a fenomenal ideia de colocar aquele cenário ali?! Seria na esperança de acalmar a pessoa? Ledo engano.

A moça pareceu ter percebido minha aflição, pois disse que o melhor era eu fechar os olhos e pensar só em coisas boas, como se isso fosse possível naquela situação passiva de estar nas mãos dela e de quem estava acionando o equipamento.

Fui sendo abduzida para dentro do tubo estreito, tendo que respirar normalmente, conforme orientação deles, e não me mexer em hipótese alguma, sob pena de demorar mais, caso eu atrapalhasse as manobras técnicas exigidas.

Foi uma eternidade aqueles trinta ou quarenta minutos, não sei ao certo, em que fiquei ali. Comecei a rezar um pai nosso umas trezentas vezes sem conseguir concluir um deles sequer. Migrei para a Ave Maria e depois tentei um Salve Rainha, reza que nunca consegui aprender, mesmo no tempo do catecismo ministrado em Pocinhos pela competente Rita Rodrigues. Eu só sabia ir até o “eia, pois, advogada nossa”.

Os momentos de silêncio entre uma sessão de captação de imagens e outra eram os piores, porque eu ficava imaginando que havia terminado e que tinham esquecido de me içar dali de dentro. Mas a barulheira recomeçava e eu, pelo menos, ficava imaginando que alguém sabia que eu estava trancafiada naquele pequeno espaço sideral.

Finalmente, o martírio terminou e, vitoriosa por não ter apertado a bolinha mágica que avisaria que eu entrara em pânico e que queria desistir, saí com vida daquele sarcófago modernoso.

Agora é esperar o resultado e torcer para que o que tenho não seja tão grave ou que me leve a ter que fazer outros exames parecidos com esse. Que Deus me ouça. Amém!


1 A ressonância magnética é uma técnica de imagem médica usada em radiologia para formar imagens da anatomia e dos processos fisiológicos do corpo, tanto na saúde como na doença. Os scanners de RM usam campos magnéticos fortes, ondas de rádio e gradientes de campo para gerar imagens dos órgãos no corpo (Wikipédia).

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Simplesmente fantástica definição, nos mínimos detalhes da dura realidade desse exame , muitas vezes necessário. A autora descreve de uma forma real mais engraçada esse momento. Parabéns 😍❤️👏👏👏

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo comentário.😀🌷

      Excluir
  2. Parabéns pela forma sui generis de relatar sua experiência. Prende a atenção do leitor, que fica curioso de saber como terminará sua saga.🙏🙏

    ResponderExcluir
  3. Parabéns por ter conseguido fazer na totalidade, eu fui menos corajosa, quando entrei no assombroso túnel, quando apertaram o botão me levantei procurando sair do forno, o rapaz saiu do outro ambiente apavorado perguntando o que aconteceu, respondi que estava bem, voltaria um outro dia, moral da história, só em pensar de voltar a dor sumiu, estou aqui reflexiva no pavor que um simples scanner provoca emocionalmente, sobretudo quando não temos informações prévia das etapas do procedimento.

    ResponderExcluir
  4. Fiz 2 na mesma hora não via a hora q terminasse era mta zoada nos meus ouvidos... e pensava meu Deus ainda falta a outra .Graças a Deus tinha feito as duas sem parar! Foi pra mim um grande tempo pensava q não terminar mais

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada por comentar meu texto

      Excluir

leia também