Com atraso, soube da homenagem que o Pôr do Sol Literário prestou ao querido amigo Chico Viana . Teria comparecido se tivesse sabido a...

Chico Viana

Com atraso, soube da homenagem que o Pôr do Sol Literário prestou ao querido amigo Chico Viana. Teria comparecido se tivesse sabido a tempo. E certamente teria gostado de abraçá-lo e de ouvir as palavras de saudação de Hildeberto, que, estou certo, falou por todos os presentes com o talento de sempre. Uma ocasião memorável da qual gostaria de ter participado. Um preito justíssimo ao qual apreciaria ter me associado presencialmente.

Denise Carvalho e Chico Viana
Conheci Chico, há muitos anos, creio na UFPB, ele docente e eu procurador. Às vezes ele me procurava em busca de alguma informação/orientação jurídica e aí a gente aproveitava para conversar sobre outros temas, de tal modo que naturalmente foi surgindo uma afinidade que só tenderia a crescer com o tempo. Uma afinidade de pensamentos e de gostos, e até na maneira de ser de cada um, ambos razoavelmente tímidos e reservados, mais da sombra que do sol, parecidos, imagino, com o anjo torto de Drummond, em sua inadequação congênita ao mundo competitivo e cruel.

Logo identifiquei outro vínculo definitivo com ele: a sua (e também minha) devoção a Antônio Carlos Villaça, o imenso homem de letras carioca, um ser literário por excelência, a cuja obra autobiográfica e memorialística Chico dedicou sua dissertação de mestrado, dela resultando um precioso livrinho (apenas 64 páginas), A Travessia do Mosteiro, Edições Tagore, Rio de Janeiro, 1992. E só isso bastaria para que eu visse nele um irmão querido, companheiro de uma seita quase secreta, dedicada ao culto silencioso daquele gordo quase monge que viveu exclusivamente para e da literatura, um caso extraordinário, raro mesmo, aqui e no mundo.

Chico e Denise Viana
Sua célebre coragem de abandonar o curso de medicina pelo curso de letras, coragem essa que definiu sua vida, é uma de minhas permanentes admirações. Coragem e desprendimento, numa sociedade ambiciosa, carreirista e frívola como a nossa. Coragem para romper com um destino aparentemente já resolvido e desprendimento para renunciar ao universal prestígio dos discípulos de Hipócrates. Como essa decisão deve ter lhe custado noites e noites de sono, imagino. O futuro colocado em risco. Tantas explicações a dar, começando pela família, talvez de repente privada de um sonho longamente cultivado. Tantas expectativas frustradas. Tudo em nome de uma vocação irresistível, um chamado incontornável para um sacerdócio laico, não menos exigente que o religioso. E ainda assim ele foi, de peito aberto, jogando-se de cabeça no desconhecido.

Fez a graduação, o mestrado e o doutorado, cada vez mais confirmando para si mesmo o acerto da opção feita. Ingressou no magistério superior na UFPB e depois no magistério particular, chegando, nesse mister, a ensinar nossa língua e nossa literatura a centenas, talvez milhares de alunos, firmando seu nome dentre os grandes mestres da aldeia. Outra coisa não tem sido na vida a não ser professor, com muito orgulho, aquele dos que não trocam seu escolhido fado por quaisquer outros, por mais atraentes e luminosos que sejam.

Chico Viana
Não à toa, elegeu Augusto dos Anjos para tema de sua tese de doutoramento. Sua abordagem psicanalítica do poeta do Eu é considerada original, tendo enriquecido a fortuna crítica do bardo paraibano. Lembro-me de quando publicou O Evangelho da Podridão, com brilhante apresentação do professor Antônio Carlos Secchin, seu orientador e hoje integrante da ABL. Uma obra de peso, sem dúvida, como não poderia deixar de ser, levando-se em conta a seriedade e a estatura acadêmicas de Chico e de Secchin.


E ao lado do professor foi surgindo o cronista, o saboroso e arguto cronista aldeão, em cujas crônicas revelaram-se, em plenitude, o fino observador da aldeia e do mundo, bem como o consumado escritor, indiscutível senhor da palavra literariamente cultivada, mas sem prejuízo da naturalidade e da fluidez que costumam caracterizar os melhores autores.

E o homem, o cidadão Francisco José Gomes Correia? Desse, seriam necessárias muitas páginas para se falar, tais as suas qualidades pessoais. Homem de bem, correto, modesto e afável. Filho, marido, pai e amigo admiráveis. Tudo isso sei por experiência própria e pelo testemunho fidedigno de outros. Nenhuma mácula e nenhum desvio em sua vitoriosa caminhada pela vida. Literalmente, portanto, uma vida reta, retilínea, pessoal e profissionalmente. Um exemplo a ser seguido, uma admiração que se impõe.

Denise, Chico Viana e os netos
Não ouvi nem li as palavras laudatórias de Hildeberto, mas corroboro-as todas, porque sei do respeito e do carinho que tem pelo amigo. A mim, portanto, resta-me somente escrever estas parcas palavras, como forma de me juntar, modestamente, ao Pôr do Sol Literário nas mais que justas homenagens ao estimadíssimo e grande, muito grande Chico Viana.

Denise e Chico Viana / Helder Moura, Hidelberto Barbosa e Chico Viana
Flashes da homenagem do grupo literário Sol das Letras ao professor Chico Viana

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