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O mundo tá perdido. Minha avó também já dizia isso, enquanto coava café e benzia a testa com o dedo molhado. Eu nem sabia o que era in...

garota jovem sonho era digital
O
mundo tá perdido. Minha avó também já dizia isso, enquanto coava café e benzia a testa com o dedo molhado. Eu nem sabia o que era inflação, mas sentia na barriga, quando a carne sumia do prato. Só vinha feijão e arroz sem mistura. Agora eu sei. É o mercado. É o governo. A miséria ensina coisas que a escola não explica. “Não existe almoço grátis”.
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O homem não busca mais ajuda de Deus, busca da IA, da Alexa. Hoje todo mundo quer milagre, mas não se ajoelha. Só posta. Dança. Faz story. No domingo igreja lotada. Dízimo no cartão. Aleluia no Pix. Tudo o que é tocado pelo humano, um dia se corrompe. Na segunda passa a perna no próximo. Eu também já passei a perna. Também sou filha de Deus. Também sei ser ruim e sou ótima nisso. Engulo o choro, engulo sapo, mas às vezes explodo por nada. Me pego falando sozinha. Que saudade de uma tarde sem notificação. Será que a vida tá amarga? Ou o mundo ficou sem açúcar? Amor virou artigo de luxo. “... por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará. Minha avó fazia sopa com o que tinha. mas sobrava abraço. Hoje sobra ego. Falta emprego. Eu só queria um pedaço de bolo e um café quente. 30 reais. Trinta? Garçom, traz um refrigerante! Dizem que o ser humano evoluiu. Mas ainda mata. Por território, por ego, por ciúme. Não me assustam as porradas da vida, eu tenho medo das tapinhas nas costas. Tempos difíceis. Nem o algoritmo ajuda. Eu só queria nascer herdeira. Comer sem engordar, ter quem cozinhar, ter alguém pra conversar, presencialmente.
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Não corro mais atrás de ônibus. Nem compro sapato que machuca. Só vou onde tem cadeira pra sentar, nem faço questão de fazer parte de grupo. Será que virei uma velha ranzinza... ou só evoluí? Segunda volto à dieta, à academia. Comi pão com mortadela escondida. Comi também a maçã, tomei um chop. Já tô no pós-pecado. Desculpa, Adão. Derrubam pessoas e ainda sorriem da queda. Todo mundo em crise. Tarja preta. Acordo otimista. Durmo ansiosa. Não assisto mais essa droga de jornal. Caos. O mundo sempre foi confuso. Só ficou mais rápido. Agora tem App para tudo. O trabalho não acaba quando bate o ponto — continua no grupo do WhatsApp. Eu silencio, confesso. Agora tem de tudo: coach, mentor, pseudosmilitantes... Mas o circo só terá espetáculo se você der palco ao palhaço. Tem gente pedindo esmola na calçada. Gente fazendo vaquinha na internet. Gente surtando no mercado. Por causa da margarina. Ontem quase chorei no caixa. Não pela margarina, quebrei minha unha de gel quando fui ajudar alguém, que nem disse obrigado.
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Seja gentil, não imbecil. Se não se posicionar, alguém falará no seu lugar. Algumas pessoas que estão ao nosso lado são as que mais nos limitam, não nos incentivam. Como diz meu pai: A vida é uma escola, casa dia uma lição diferente. Em busca de alguém que me ame, mas deixe meu psicológico em paz. Meu ex mandou mensagem. Outra vez. Sempre quando tô quase esquecendo. Reaparece. Tipo boleto. Gosto de homem safado, não de macho escroto. Fui ignorar. Cliquei sem querer. Deu visualizado. Agora já era. Tô presa! “Pane no sistema alguém me desconfigurou”: Pix. Chip. QR code, senha Digital. Liberdade? Durmo bem. Acordo travada. Guerra no Oriente. E eu aqui pensando em uma vaga na manicure. “Penso, logo existo”. Às vezes não quero nem pensar, já basta o que já penso sobre mim. Na internet todo mundo tem alguma opinião formada sobre tudo. Desculpa, Raul. O Brasil não tem povo, tem seguidores. Tive um sonho estranho: Tiradentes arrependido. Cleópatra influencer e Jesus cancelado na primeira postagem. Acordava sorrindo. Vergonha alheia: assalariado se passando por aristocrata. Odeio passar pano.
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Jogo tudo no ventilador. Detesto o capitalismo. Meu sonho? Viajar aos Estados Unidos... de primeira classe. Demaquilando a sociedade: Como economizar, se meu salário continua o mesmo? Velhice não é “a melhor idade”. Nem toda criança é anjo, nem todo idoso é um fofo. E maternidade? Está longe de ser um conto de fadas. Cheia de fotos, mas a vida vazia. Tenho 100 mil seguidores. E uma vontade danada de excluir meu perfil. Sumir. Ficar boa, vendo TV, mas até para assistir filme tenho que abrir uma conta, aceitar os termos, assinar streaming. Liberdade? “Sorria, você está sendo filmada”. E olhe que nunca gostei de reality show. Será que eu sou a Sofia? Como ela, tenho a sensação de estar sendo observada. Não por olhos humanos — mas por algo maior, invisível. Meus passos parecem vigiados, minhas escolhas antecipadas. O celular sabe o que vou fazer antes mesmo de eu decidir. Assim como Sofia, começo a desconfiar da realidade. Será que estou mesmo no controle da minha vida? Ou será que sou só mais um personagem de um roteiro que não escrevi? O mundo sempre foi um caos. Só que antes era idade da pedra. Agora é era digital.

Dias desses, fui a uma feirinha de artesanato, e no meio de cadernos feitos à mão e velas aromáticas, dei de cara com algumas banc...

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Dias desses, fui a uma feirinha de artesanato, e no meio de cadernos feitos à mão e velas aromáticas, dei de cara com algumas bancas recheada de discos de vinil — Gal Costa, Beatles e até trilhas sonoras de novelas antigas. Ao lado, camisetas com estampas de desenhos dos anos 90, chaveiros

– A vida é um pouco acelerada A população sempre busca uma alternativa para escapar do transporte público, e não faltam razões: ôn...

moto uber transporte alternativo
– A vida é um pouco acelerada

A população sempre busca uma alternativa para escapar do transporte público, e não faltam razões: ônibus e metrôs lotados, trânsito caótico, e a eterna pressão de chegar no horário para não levar bronca. Recordo que, quando criança, já havia alternativas na minha cidade natal, que era rural. Primeiro surgiram os “alternativos” – aqueles Opalas, Monzas –, e a gente pagava uma quantia próxima à da passagem de ônibus e dividia a corrida com outros quatro passageiros. As crianças, claro, iam no colo. Depois vieram as vans, as kombis.

Deixe de lado as razões e os culpados, compreenda que não é possível controlar tudo — especialmente o coração de alguém — e que tudo t...

rompimento separacao fossa
Deixe de lado as razões e os culpados, compreenda que não é possível controlar tudo — especialmente o coração de alguém — e que tudo tem um início, meio e fim. Para tudo existe um tempo. Um relacionamento é uma conexão entre duas pessoas que se amam e optam, por um período, permanecer juntas. Não há motivo para desespero, mas sim para viver essa separação da maneira mais positiva possível. Afinal, se não houver retorno, por quanto tempo você ficará lamentando?

Os séculos passaram, impérios se levantaram, outros caíram, civilizações surgiram e outras se apagaram do mapa. O mundo mudou, as t...

leitura kindle
Os séculos passaram, impérios se levantaram, outros caíram, civilizações surgiram e outras se apagaram do mapa. O mundo mudou, as tecnologias evoluíram, novas formas de leitura foram criadas. Kindle, tablet, celular, computador... O conhecimento se digitalizou,

“Em minhas derivas, observando os mobiliários de iluminação pública, detectei algo que sempre me incomodava esteticamente nos centr...

arte daniel hora
“Em minhas derivas, observando os mobiliários de iluminação pública, detectei algo que sempre me incomodava esteticamente nos centros mais urbanizados: a completa desordem neste tipo de equipamento, especialmente no que tange aos fios e cabos que compõem as várias redes: elétrica, telefonia, internet, etc. Dessa forma, este caos me fez refletir esteticamente sobre ele e sublimá-lo, me dando as bases que eu precisava para expurgar essa minha ojeriza pelo aspecto mal acabado dos postes e instalações elétricas tão presentes.”

Existe um sentimento mais intenso no ser humano do que o amor? Por ele, muitos poemas, cartas, hinos e canções foram escritos. Por caus...

amor cancao musica poesia
Existe um sentimento mais intenso no ser humano do que o amor? Por ele, muitos poemas, cartas, hinos e canções foram escritos. Por causa dele, muitos ídolos foram levantados, chegaram ao poder e posteriormente derrubados. Em nome dele, muitos têm lutado, matado e morrido.

"As pessoas não querem ouvir sua opinião, querem ouvir a opinião delas saindo da sua boca". Ouvi essa frase de uma psicól...

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"As pessoas não querem ouvir sua opinião, querem ouvir a opinião delas saindo da sua boca". Ouvi essa frase de uma psicóloga que me levou a refletir sobre o tema: dar e ouvir opinião.

O Natal chegará, mesmo que ninguém mais saiba sua data exata, mesmo que alguns não acreditem, mesmo que não possuam árvore ornamentada...

natal jesus decoracao natalina
O Natal chegará, mesmo que ninguém mais saiba sua data exata, mesmo que alguns não acreditem, mesmo que não possuam árvore ornamentada para recebê-lo. Ele chegará.

A primeira vez que ouvi falar sobre o Apocalipse, o mundo para mim era pequeno demais, resumia-se apenas ao quintal da casa dos meus pa...

apocalipse juizo final
A primeira vez que ouvi falar sobre o Apocalipse, o mundo para mim era pequeno demais, resumia-se apenas ao quintal da casa dos meus pais. Pessoas morrendo, o planeta aquecendo, prédios desabando, tornados, ciclones, doenças, fome, nada disso cabia no meu universo infantil.

Viralizou na internet uma trend — algo que é repetido por várias pessoas nas redes sociais. O trecho do livro Memórias Póstumas de Brá...

Viralizou na internet uma trend — algo que é repetido por várias pessoas nas redes sociais. O trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, se espalhou rapidamente: "ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver", frase que ressalta a visão irônica do personagem-defunto do livro.

Essa trend aconteceu devido ao compartilhamento de um vídeo de uma influenciadora norte-americana que teceu elogios ao romance e afirmou que é a melhor obra de todos os tempos: "Por que vocês não me avisaram que esse é o melhor livro já escrito?" Disse encantada.

Depois desse hit nas redes sociais, o livro liderou a vendas nas livrarias físicas e virtuais do Brasil. Confesso que não fiquei nada surpreso com a admiração de um gringo com a qualidade de uma obra brasileira, porque de fato temos artistas fabulosos. O que me surpreendeu foi uma "bolha da internet" ficar admirada com a grandeza dos artistas brasileiros.


Será mesmo que precisamos de uma "certificação" norte-americana para que possamos valorizar nossa cultura, nossa arte, nossos talentos? Será que ainda nos comportamos como colonizados que anseiam o aval dos colonizadores? Quantos YouTubers brasileiros já devem ter feito vídeos em redes sociais encantados com o romance machadiano, mas não viraram hit, por não terem o peso do aval de um gringo? Ou será tudo uma jogada mercadológica, uma estratégia de vendas, um publipost para aumentar a vendas de livros?

Deixando de lado os questionamentos e a trend — já que tende a ser passageira e possivelmente nas próximas semanas os caçadores de likes e views já terão esquecido até dos vermes do cadáver — passemos para um ponto altamente relevante desta reflexão: a atemporalidade de uma obra.

Para vocês terem noção, o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicado pela primeira vez em 1881, é um dos livros mais traduzidos no mundo e há séculos é considerado um clássico da literatura brasileira, sendo estudado em escolas e universidades, e, ainda assim, segue sendo redescoberto por novas gerações. Esse é o lado positivo dessa trend: o acesso à literatura, uma vitrine democrática, apresentar os clássicos aos jovens leitores.

Recordei-me até do trecho de uma entrevista de Ariano Suassuna, em que ele faz a diferenciação entre êxito e sucesso. Faço questão de transcrevê-lo:

Ariano Suassuna
"Então, eu acho que a pessoa não deve procurar o gosto da moda. Eu faço muito a distinção entre êxito e sucesso. Pegue qualquer banda de rock atual que ela faz mais sucesso que Euclides da Cunha, mas Os Sertões é um livro que é um êxito muito maior, porque no século seguinte, no século XXII, ninguém vai mais se lembrar da banda de rock, mas se lembrarão de Os sertões”.

O Brasil tem o livro como esteio para seu povo e para sua identidade como nação. Memórias Póstumas de Brás Cubas não é só uma trend, uma visualização, não é só sucesso de vendas, é um êxito, é nosso esteio, a identidade do povo brasileiro e será sempre redescoberta por gerações e gerações, mundialmente. Como bem diz nosso dito popular brasileiro: para gringo ver.
SOBRE O AUTOR
babel babilonia
Paulo Henrique é mestre em Relações Internacionais, especializado em Linguística Aplicada, licenciado em Letras e graduado em Economia. É autor de vários livros, disponibilizados na Amazon, entre eles: "Poemas para Apaixonados, Magoados e Iludidos", "O Prazer nas Palavras", "O Amor se Acaba com o Tempo?" e "Fantásticas Estórias com 6 Palavras".