Não são tão fáceis de serem vistos como em tempos passados: os bilhetes da Loteria Federal. A moçadinha — os mais jovens — provavelmente não conhecem essa modalidade de aposta. Ao que me consta, foi nosso Dom Pedro II que, em 1844, resolveu por ordem no pedaço e regulamentou uma modalidade de jogatina que já existia, mas não oficialmente. Com a chegada da República, o governo deu um jeito de abocanhar sua parte e a arrecadação obtida nas apostas dessas loterias começou a fazer parte do orçamento federal.
Bilhetes de loteria do Brasil Imperial, datados de 1882 e 1883. ▪ Fonte: O Colecionador
Bilhetes da loteria federal das décadas de 1960 e 1970. ▪ Fonte: O Colecionador
E por que todo esse exórdio, essa preparação para chegar ao assunto? Muito simples, eu senti ser de bom alvitre deixar bem claro o que vem a ser um bilhete de loteria. Por uma razão muito simples, é que ando me sentindo um bilhete corrido. Perdi a validade.
Dias atrás foi o maior sufoco apagar as velinhas naquele bolo que a diabetes não me permitiu degustar. Acendê-las já foi também uma complicação, mas apagar... Já pensaram? Setenta e cinco daqueles canudinhos de cera com o pavio pegando fogo eu ali soprando como um javali furioso. Numa soprada não conseguia apagar todos de uma vez. Apagava alguns e quando ia apagar os outros, “os uns” acendiam novamente. Quem inventou esse artefato enfeitiçado pensou em três ou quatro unidades para serem colocadas fora de combate, mas setenta e cinco? Haja pulmão.
Tenho vontade de enforcar a criatura que inventou essa história de “melhor idade”. Melhor, onde? A única vantagem é o cartão de idoso para estacionamento. Fora isso, nada que me seduza.
GD'Art
Ah, os amigos! Dirão vocês que estão lendo este desabafo. Aí outro problema, vira e mexe tenho que tirar o nome de uns e de outros da minha agenda. Deus, quando cisma, vem buscar alguém de minhas proximidades. Para Ele não se lembrar de mim fico quietinho, na minha, como dizem. Evito levantar os braços com medo Dele me puxar.
Ainda me resta ler bastante, escrever um pouco. Já esgotei o cardápio da Netflix e não quero mais ver uma película que me assuste ou me aborreça. Passei da idade e do peso de levar susto assistindo a um filme. Coisa como Psicose, de Hitchcock, estou pulando fora.
GD'Art
Sinto falta dos amigos de sonhos e de copos, daqueles que enriqueceram minha juventude - o melhor dos meus tempos. O que não me falta é história para contar. Num sábado, fim de tarde, me vieram essas lembranças, essas constatações. Um tanto desconexas. E o que puxou por elas? Vou contar.
Estava eu aqui, no quintal de casa, sob esse pé de jambo, tomando solitariamente minha cervejinha, sem amigos por perto, constatei que beber sozinho, longe de um botequim é como dançar com a irmã. Não tem graça. É coisa só para um bilhete corrido. Como eu.



























